quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

A Quadra Natalícia



Nesta época de Natal assistimos a um desdobramento de votos de felicidades e desejos partilhados de sucessos, de paz e harmonia, de todos para todos, espelhando, cremos nós, os sentimentos mais genuínos e profundos que caracterizam o lado bom que existe em todos os seres humanos.
Ninguém é insensível à época natalícia, e até mesmo os mais empedernidos e austeros concidadãos não escapam a esta áurea admirável que nos costuma enredar e embevecer, por estes dias de Natal.
Como sabemos, o Natal, enquanto festividade cristã comemorativa do nascimento de Jesus Cristo, foi instituída pelo bispo Libério, no ano de 354 d.C., fazendo coincidir esta memória com as festas pagãs que então se celebravam, por esta altura do Solstício de Inverno. Talvez a troca de presentes decorra desse ancestral hábito pagão, e que Roma soube sincretizar de forma prática e inteligente, incorporando alguns rituais pagãos no pujante cristianismo triunfante, que assim soube adaptar e adaptar-se às realidades então vigentes, dada a força mítica que muitos destes cultos gozavam no seio das gentes de então.
Seja como for, a verdade é que hoje o Natal ultrapassou de novo a componente exclusivamente religiosa, ainda presente e evidente nas nossas comunidades cristãs, mas agora para atingir o cúmulo do novo paganismo, a que prosaicamente designamos de consumismo. O mercado explora até à exaustão esta límpida e eclética fusão das antiquíssimas festividades pagãs e cristãs, para se alcandorar como o fim em si mesmo – consumir, consumir, consumir!
O mercado de consumo dita as regras da festividade natalícia, e até mesmo o Menino Jesus é hoje substituído pelo Pai Natal, recentemente inspirado na célebre figura do Bispo de Mira, São Nicolau Taumaturgo, e cujo visual típico está erroneamente associado às campanhas publicitárias da Coca-Cola, uma vez que muito antes destas campanhas (a primeira foi em 1930) já o Pai Natal tinha sido caracterizado mais ou menos desta forma, pelo caricaturista Thomas Nast, em 1886, ou seja, 40 anos antes da campanha desta conhecida bebida.
Mas a essência do Natal, a que verdadeiramente importa realçar e lhe dá a força universal, não será a do próprio mistério da vida? O nascimento de Cristo não será, mesmo para os cristãos, a par do nascimento do próprio Deus Menino, a síntese da glorificação do nascimento de todos nós, humanidade em perpétuo movimento e que, para o melhor e para o pior, há-de sempre ter de contar com as suas próprias forças e fraquezas, misérias e grandezas, no exemplo de alguém que nasceu para, em supremo acto de dádiva completa, morrer por todos nós?
É o júbilo redentor de quem nasceu para nos salvar, de quem se entregou totalmente a todos nós e entregando-se, nos ofereceu a mais admirável, extraordinária e profunda das histórias da humanidade, que há-de perdurar muito para além dos interesses do mercado consumista, das modas transitórias, da efémera lembrança que a fadiga do tempo não se esquecerá de apagar.

E também por isto devemos estar atentos a tamanha explosão de boas vontades, de tantos votos de felicidades, de tantas boas intenções… Elas comovem-nos, tocam-nos, sensibilizam-nos…
Mas se olharmos bem para muitos dos seus proponentes não conseguimos vislumbrar mais que palavras ocas e vãs, ditas na perdulária voz do interesse mesquinho e imediato, apelando à paz e concórdia sem nunca terem feito nada para a sua obtenção efectiva, quantas vezes fazendo crer que é nos outros que está a “culpa” das dissenções e do mal, sem se aperceberem que é no seu próprio seio, ou no seio dos que lhes são próximos, que as rupturas são provocadas, as maledicências proferidas, os vitupérios orquestrados…!
Ou seja, um ano inteiro a provocar e a permitir que o mal seja cometido para depois se arvorarem em defensores do bem, numa qualquer quadra natalícia que, entretanto, cedo passa e logo se esquece… soa a falso!
Porque Natal ainda não é todos os dias, e o espírito imanente desta quadra natalícia ainda não consegue abranger a totalidade verdadeiramente universal que deveria abarcar… ele fica-se, tantas vezes, pelo uso (e abuso) de desígnios indevidos de alguns, para desonra de todos nós!
Que todos saibamos destrinçar o trigo do joio, para que os falsos e enganosos votos que deslealmente nos são proferidos soçobrem de imediato perante as boas e verdadeiras intenções de bem-estar natalícias.

Agostinho Ribeiro

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

O Orçamento e as Grandes Opções do Plano Municipal de Lamego para 2007



A Coligação PSD – CDS/PP, a que devemos acrescentar a CDU, uma vez que já nos é claro que esta força política alinha incondicionalmente com o actual poder autárquico (como aconteceu há bem pouco tempo a propósito das aprovações conjuntas da subida da taxa do Imposto Municipal sobre Imóveis e a criação da empresa LamegoConvida), sob a batuta orientadora do senhor Presidente da Câmara de Lamego, aprovou o Orçamento e as Grandes Opções do Plano para o ano económico de 2007, na sessão da Assembleia Municipal ocorrida na passada segunda-feira.
Numa atitude que nos parece ser de uma enorme irresponsabilidade, esta coligação alargada não se inibiu de aprovar um plano politicamente irrealista e mentiroso, e que ainda por cima nos coloca à beira da ruptura orçamental e financeira, fazendo com que nos aproximemos perigosamente dos índices de endividamento que nos hão-de impedir, num futuro não muito distante, de assumir as nossas mais elementares responsabilidades municipais.
Se as Grandes Opções do Plano copiam mais de 80% do plano do ano anterior, o que nos dá uma ideia razoável da incapacidade de execução deste executivo, onde nem sequer nos demonstram ter o cuidado de “disfarçar” tamanha falta de preparação na elaboração de um documento fundamental para Lamego, a verdade é que o Orçamento não lhe fica atrás, nem na irresponsabilidade dos montantes expressos, nem nas falsidades políticas que espelham, acrescentando-lhe ainda uma série de ilegalidades insanáveis, que atravessam todo o documento.
Uma inspecção que venha verificar as contas e a gestão deste executivo, cedo concluirá que o actual poder autárquico, para além da inaptidão que demonstra possuir na formulação e elaboração dos documentos fundamentais do município, é avesso à legalidade, pela recorrente violação aos articulados do POCAL, Plano Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais.
No plano, a constatação é simples de se fazer para apurarmos a incompetência – basta reduzir a escrito tudo o que é possível imaginar, e que todos gostaríamos de ver realizado, confundindo um programa global com um plano anual, ainda que com reflexos plurianuais, para termos uma ideia da forma como se gizou este documento, como se os lamecenses fossem ingénuos ao ponto de acreditarem na bondade de um documento desta natureza, que tudo diz que vai fazer para, no final, pouco ou nada conseguir realizar.
E basta olharmos para o plano que estes senhores elaboraram para 2006 e verificar o que cumpriram do mesmo, para facilmente acedermos à constatação de que o próximo não lhe será muito diferente.
Mas se nas Grandes Opções do Plano a questão é do foro quase exclusivamente político, e depende apenas da nossa maior ou menor crendice, já no que toca ao orçamento a coisa “pia” mais fino. E “pia” mais fino porque as ilegalidades não se compadecem com crendices, e as leis ainda são para se cumprirem, pese embora alguns senhores desta coligação poderem pensar que não.
Se o desconhecimento das boas práticas orçamentais os fazem cometer os maiores despautérios, os resultados de tamanha irresponsabilidade não só irão recair sobre eles (e esperamos bem que sim, porque foram todos devidamente alertados para as asneiras que estavam e estão a cometer), como recairão sobre todos nós, o que é grave, porque pagaremos todos, sem excepção, pelos disparates cometidos por alguns.
O Orçamento de 2006 já era um completo desvario financeiro, com verbas inscritas na ordem de mais de 34 milhões de euros, para uma expectativa real que nunca poderia ultrapassar, na melhor das hipóteses, os 20 milhões de euros. Agora propõem-nos um orçamento a rondar os 44 milhões de euros, para um encaixe real que não poderá, jamais, ser muito diferente do de 2006. E tudo isto sem suporte legal adequado, sem fundamentação séria e credível, sem qualquer linha de rumo que nos possa esclarecer sobre a bondade destas propostas.
E do que irão fazer, já não se duvida que será mau para Lamego, uma vez que sabemos que já se preparam para destruir o nosso Jardim da República, também conhecido por Jardim do Tablado, e um dos nossos maiores ex-líbris de Lamego, que afirma a imagem da nossa cidade em todo o lado, propondo-se fazer este autêntico disparate de lesa património sem nos darem conhecimento, nem aos cidadãos lamecenses, nem aos seus representantes legais na Assembleia Municipal, para que alterações desta natureza sejam, ao menos, prévia e antecipadamente debatidas entre todos nós.
É claro que o Grupo Municipal do Partido Socialista votou contra estas Grandes Opções do Plano e este Orçamento para 2007. Mas fê-lo por decisão unânime dos seus membros, em consonância total com a Senhora Presidente da Secção de Lamego do Partido Socialista e da quase totalidade dos Senhores Membros da Comissão Política Concelhia do Partido Socialista.

Agostinho Ribeiro

Os bajuladores



Os bajuladores são aquele tipo de pessoas que nunca olham a meios para atingir os seus insondáveis fins.
Especialistas na exploração da vaidade humana, não se poupam a lisonjas excessivas para assim obterem as benesses pessoais que, de outra forma, nunca conseguiriam obter.
Todos nós conhecemos a espécie. Ela pulula em todos os sectores da actividade humana e não deve haver uma única pessoa neste mundo que não conheça, pelo menos, um triste exemplar deste calibre.
Desde que lhes interesse, ou seja, desde que uma determinada pessoa se encontre em situação de os poderem alcandorar (normalmente de forma indevida e imerecida) a um patamar ou situação de maior visibilidade ou poder, bajoujam servilmente o seu destinatário, na expectativa de obterem a tão almejada benesse, e trabalham arduamente na lamechice ridícula do exagero e do excesso, sempre com o fito do emolumento injusto, do reconhecimento impróprio ou do favor despropositado.
Porque se fosse justo, próprio ou propositado, não precisavam de recorrer à baboseira fácil, e as pessoas saberiam distinguir e reconhecer os méritos próprios de cada um.
Os bajuladores insinuam-se no seio dos mais desprevenidos e desatentos, fazem-se passar por amigos do peito, criam o ambiente adequado para fazerem crer que sempre foram, são e serão, fiéis a quem lhes interessa no momento.
Os mais cuidadosos e ajuizados cedo se apercebem do logro que caracteriza estes burlões, e logo se afastam de tão nefastos exemplares da natureza humana, e por isto é que verificamos que os bajuladores apenas têm palco e assistência, repetida e continuadamente, no seio dos vaidosos. A jactância destes não lhes permite perceber que apenas estão a ser alvo de encómios exagerados e falsos, e acarinham com a soberba desmedida que só a bazófia consegue produzir, este género de pessoas, convencidos que estão da justeza dos elogios repetidamente recebidos.
Para esta gente, emissores e receptores, aduladores e gabarolas, o mundo parece resumir-se ao umbigo de cada um, e tudo o que possa pôr em causa esta virtualidade egocêntrica, como se o mundo inteiro girasse, apenas e exclusivamente, em torno deles próprios, é ridicularizado e desprezado.
Mas os bajuladores são, por natureza, traidores. Traidores aos princípios e valores que supostamente elogiam nos efémeros destinatários; traidores às causas que, aparentemente, abraçam, apenas por saberem que os receptores são sensíveis a tais causas; traidores aos próprios destinatários que lisonjearam, logo que estes deixem de ser importantes ou necessários à obtenção do benefício procurado. É vê-los a elogiar hoje e a desprezar amanhã; a atacar desmesuradamente agora e a gabar ridiculamente depois; a jurar fidelidade canina num momento e a atraiçoar o “melhor amigo” no momento seguinte.
Por esta razão, a mais das vezes perdem a noção das realidades, mergulham no mundo da irrealidade que construíram e um dia darão conta que estão sozinhos na sabujice servil e na futilidade vã que construíram e que os caracteriza e identifica. Pior que tudo, para eles próprios, é que olharão então à sua volta e não encontrarão nenhuma mão verdadeiramente amiga na disposição de os ajudar.
É esta a triste sina dos bajuladores profissionais, que não se sabem circunscrever à sua própria dimensão, e projectam na vaidade dos outros as suas próprias ânsias e desejos de protagonismo fácil, sem qualquer base ou mérito que o possa justificar.

Agostinho Ribeiro

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

A Montante do Tempo



Há exposições que não se devem perder. A exposição que se encontra patente ao público na Casa do Poço, inaugurada no passado dia 7 do corrente, e que terminará a 22 deste mês, é uma delas.
Tentarei alinhavar algumas ideias centrais que me levam a considerar a importância desta exposição, no contexto das realizações similares que em Lamego costumam ser organizadas.
Em primeiro lugar pela qualidade intrínseca das obras de arte que se encontram em exposição, e das suas proveniências, já que estamos a tratar de um tipo muito próprio e especial de obras de arte sacra, que requerem alguma reflexão conceptual para a sua adequada interpretação.
Provenientes das designadas “aldeias vinhateiras” da região do Douro, por força do projecto de apoio ao seu desenvolvimento, em que se integram Barcos, Favaios, Provezende, Trevões e Salzedas, estas peças simbolizam e representam “um brevíssimo percurso pela expressão artística ligada à devoção popular e à acção da Igreja no vale duriense” (*), no dizer esclarecido dos autores do opúsculo relativo à exposição.
Com eles partilhamos também as interrogações sobre o que poderá haver de comum entre estas cinco aldeias, suficientemente forte para que na diferença consigamos notar a harmonia da similitude, e para que na diversidade possamos encontrar o deslumbramento do que as pode unir… Será “o Douro que, de tão próximo quase as alcança? A vinha e o seu cultivo secular – engrenagem de uma máquina que se pôs em marcha para apresentar-se ao mundo? Ou apenas a condição histórica da solidão e da lonjura, do isolamento só quebrado, ciclicamente, por conjunturas mais favoráveis? Tudo isto, com certeza, as une…”. Da força telúrica que lhes prodigaliza o vinhedo, e do vinho que esforçadamente se lhe solta do fruto, não ficamos indiferentes ao percurso místico que haveria de produzir tantas e tão belas obras de arte, que mais não são, afinal, que o resultado sublimado dessa religiosidade com que o duriense se impregna no quotidiano do seu dia a dia, em três séculos de arte ali esplendidamente retratada.
Não se vêem todas, porque a exposição é uma curta amostragem do muito que há para ver, “apenas uma brevíssima abordagem da infinidade de pontes e elos entre a arte religiosa e a vivência no Douro”, mas o que se pode apreciar é significativo e relevante desse património artístico e religioso, espalhado por todo o lado desta terra duriense, e só por si elemento caracterizador, integrante e indissociável desta comunidade a que pertencemos.

Depois, porque esta exposição se integra nas comemorações dos 250 Anos da Região Demarcada do Douro, e é nesta felicidade de se verificar que em Lamego decorrem, actualmente e em simultâneo, três grandes exposições relacionadas com estas emblemáticas comemorações, que podemos inscrever a letras que o tempo não apague, a nobreza da verdade de se ser Douro.
Estas exposições, cujos elos de ligação nos permitem outras tantas leituras sobre a realidade duriense, pelos olhos de quem cá vive ou viveu, mas também por quem, vindo de fora, nos sabe olhar como só um artista o sabe fazer nas suas múltiplas e geniais interpretações, são a prova da vitalidade secular da nossa gente, que ainda se não perdeu nem perderá.
Aqui se encontram e aqui se cruzam, aportando a Lamego como quem, depois de um percurso inspirador e criativo, que do mundo vem a esta terra e desta terra se eleva ao céu, retorna então ao seio original, ao ventre materno, ao princípio de tudo…
Foi em Lamego que o Douro começou! Algures entre o céu e a terra…

Finalmente, porque esta exposição inaugura uma nova era na história da museologia em Lamego. Patente ao público nas instalações do futuro Museu e Arquivo da Diocese de Lamego, esta exposição marca o início de um ciclo renovado das nossas preocupações em inventariar, estudar e classificar, proteger, expor e divulgar o vasto e rico património artístico e documental da Diocese de Lamego.
Há muito que se reclamava por esta tão necessária infra-estrutura cultural e a certeza da sua concretização só pode ser motivo de regozijo e felicidade para todos nós.
Da mesma forma que o nosso Bispo, D. Jacinto Botelho, soube elucidadamente elogiar e felicitar o grande paladino desta causa, Monsenhor Eduardo Russo, Vigário Geral da Diocese de Lamego, na sua intervenção inaugural do evento, também nós nos associamos a tão justas felicitações, pelo trabalho empenhado e a competência iluminada com que este ilustre clérigo nos brinda continuamente, desde o início deste projecto museológico, até à sua já bem sucedida concretização.

Agostinho Ribeiro

(*) Os aspados em itálico são citações da Introdução da edição “A Montante do Tempo, Exposição de Arte Sacra | Aldeias Vinhateiras”, com textos da autoria de Alexandra Braga e Nuno Resende.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Aí está a Bienal da Prata!



Para gáudio de quem escreve estas linhas podemos hoje constatar que, afinal, a segunda edição da Bienal da Prata cá se está a realizar, nas instalações do Museu de Lamego.
Como sempre pensei que este projecto é estruturante para o desenvolvimento de Lamego e da Região do Douro, e porque não mudo de opinião com a facilidade do oportunismo, apraz-me registar a realização do evento e congratular-me com a adesão incondicional de quem tinha acabado de dizer “cobras e lagartos” da Bienal, e dos seus mais directos responsáveis.
Que lhes sirva de lição… Será que começam a aprender alguma coisa, nomeadamente que a precipitação das considerações abusivas e insultuosas sobre os outros também lhes pode cair em cima, num retorno mil vezes mais prejudicial?
Para quem disse o piorio da Bienal da Prata e me perseguiu injuriosamente durante os últimos tempos a este propósito, não deixa de ser reconfortante verificar tamanha alteração de comportamento e de posição. Para bem de Lamego, devo dizer! Para bem de Lamego e da respeitabilidade que estas acções, e seus protagonistas, devem ter e demonstrar, não somente quando nos dá jeito, mas sempre e em todas as circunstâncias que rodeiam e caracterizam tais eventos.
Mas é preciso ter cuidado com aquilo que se diz e escreve, com aquilo com que se pactua ou não, com a verdade ou a falsidade das afirmações que produzimos, porque não vale a pena tentar enganar as pessoas e fazer passar ideias e mensagens que não correspondem à verdade, por muito que isso seja mediaticamente relevante para a tentativa de agradar a alguns sectores da sociedade lamecense.
Por exemplo, vir afirmar que o senhor Presidente da Câmara de Lamego propôs a execução de uma coroa de prata para oferecer a Nossa Senhora dos Remédios, quando essa ideia e proposta já existia muito antes dele ser Presidente da Câmara, no seio da direcção da Associação Bienal da Prata, precisamente para ser concretizada no âmbito desta segunda edição, é usurpar a ideia de outros e não abona para a credibilidade dos seus autores.
E que não se pretenda também fazer crer que o projecto do Museu da Prata Civil resulta deste novo bom entendimento entre a Associação e a Câmara Municipal de Lamego, porque também a ideia deste projecto é muito anterior a este entendimento e apenas esperava pelas condições adequadas para o pôr em andamento.
Que aqui fique registado para memória futura, para que ninguém alcance sem direito aquilo que rectamente a outros pertence!
Tudo isto sem prejuízo, evidentemente, das nossas genuínas felicitações a todos os intervenientes no processo de construção de tais projectos, sejam eles os de recentíssima adesão ou os de maior profundidade histórica na sua embrionária formatação.
E já agora… Vi na inauguração o senhor director do Jornal do Douro e os seus correligionários, que me injuriaram sistematicamente a propósito da Bienal, mas não os ouvi perguntar, seja a quem for, pelas contas da mesma… A que se deverá tamanha cambalhota de posicionamento e tamanho silêncio de hoje depois de toda a gritaria de ontem? Pelos vistos estes senhores gostam, de vez em quando, de se fazer passar por gente séria.
Quem navega exclusivamente ao sabor dos ventos do oportunismo cedo se transforma em náufrago da sua errática condução!

Agostinho Ribeiro

P.S. – Houve quem não tivesse gostado de ler o meu artigo sobre o Congresso do PS. Respeito as opiniões dos outros como aprecio que respeitem as minhas.
Mas invectivarem-me por dizer aquilo que, ironia das ironias, poucos dias depois o Senhor Presidente da República haveria de dizer (à sua maneira) numa entrevista nacional, só pode ser interpretado como uma brincadeira de extremo mau gosto e de falta de respeito por quem tem a coragem de expor publicamente as suas ideias.
E que se saiba, o Senhor Presidente da República não é socialista…

quinta-feira, 30 de novembro de 2006

I Congresso Internacional Europae Thesauri



O Museu de Lamego foi convidado a apresentar uma comunicação no Congresso Internacional Europae Thesauri, que decorreu em Beja, nos passados dias 22 a 25 do corrente mês.
Organizado pela Associação Internacional dos Tesouros e Museus de Igrejas, este Congresso contou com o apoio da Diocese de Beja e da Câmara Municipal de Beja, e teve como objectivos primordiais divulgar o que de mais importante se tem feito pela salvaguarda do património religioso europeu.
Subordinado ao tema “Tesouros da Igreja, Tesouros da Europa”, este encontro pretendeu constituir-se como “um fórum pan-europeu destinado a promover uma reflexão interdisciplinar sobre os desafios que se colocam hoje em dia aos Tesouros e Museus da Igreja, tendo em vista a sua integração nas realidades culturais, mas também sócio-económicas, políticas e religiosas, de um continente em rápida transformação”.[1]
É gratificante constatar que, entre mais de 15 países europeus, representados neste Congresso, e num conjunto de mais de 50 comunicações apresentadas, o nosso Museu de Lamego tenha sido expressamente convidado para fazer uma comunicação sobre a temática das relações entre este Museu do Estado e a Diocese de Lamego, por se saber da exemplaridade existente na colaboração histórica que estas duas entidades sempre souberam manter.
Tivemos oportunidade, portanto, de discorrer sobre um passado repleto de bons exemplos, no que respeita ao estudo, inventariação, salvaguarda e divulgação do riquíssimo património existente na nossa Diocese, perante uma assembleia composta pelos mais excelentes quadros europeus (técnicos e científicos) nesta área específica do saber e da actividade patrimonial e museológica.
A partir de uma primeira resenha histórica, em que caracterizamos o Museu de Lamego, ele próprio repositório de um património religioso de excepção, ao longo do seu percurso existencial, partimos para a fase actual do estado de relações mantidas entre a Diocese e o Museu, nomeadamente no que diz respeito à criação do novo museu diocesano. Aqui, fizemos questão de realçar o contributo prestado pelo Museu, ao elaborar o Programa Museológico do Museu da Casa do Poço, e a assunção das responsabilidades de gestão que permitiram, inclusivamente, maior celeridade e eficácia no processo de candidatura deste projecto aos fundos comunitários.
Numa análise retrospectiva, que não deixámos de fazer, focalizamos ainda a nossa atenção nas diversas exposições temáticas, realizadas em parceria com a Diocese de Lamego, desde 1950, com a exposição de Arte Sacra então realizada, até à actualidade, aqui traduzida na continuada colaboração que prestamos ao nível da inventariação do património diocesano e da já referida participação no futuro modelo de gestão do Museu-Arquivo da Casa do Poço.
Aliás, outra atitude não faria sentido, sabendo nós que duas instituições desta natureza apenas podem beneficiar com uma política concertada e harmonizada, de forma a rentabilizar os recursos disponíveis, complementar as suas actividades e responsabilidades técnicas e funcionais, assumindo ambas o seu papel insubstituível na salvaguarda e divulgação do nosso património e na projecção de Lamego (cidade, concelho e diocese) no espaço nacional e internacional, por força dos tesouros religiosos, patrimoniais e artísticos, que orgulhosamente possuimos.
Sob a irrepreensível coordenação do Secretário-Geral deste Congresso, Arq. José António Falcão, director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, este Congresso atingiu a totalidade dos objectivos que se propunha atingir e é sempre gratificante perceber que o fruto do nosso trabalho é reconhecido muito para além das nossas fronteiras.

Agostinho Ribeiro



[1] In http://www.europaethesauri.eu/apresentacao.html

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Questões de carácter.



A natureza humana é ampla e diversa na tipologia dos seres que a compõem, sendo certo que esta amplitude e diversidade constitui, precisamente, a sua maior riqueza. Pobres de nós, seres humanos, se todos fôssemos iguais, pensássemos da mesma maneira, partilhássemos os mesmos gostos, tivéssemos os mesmos comportamentos e a mesma forma de ser e estar na vida…
Que pobreza e monotonia seria esta vida, se assim fosse!
O carácter de cada um de nós é uma marca impressiva que nos identifica pessoalmente e, por isso mesmo, nos diferencia de todos os outros. É a marca da individualidade que, na matriz global da humanidade, nos permite distinguir cada um dos seres humanos que a compõem. É o cunho especial e distintivo que nos concede a possibilidade de diferenciar as pessoas e discernir entre “este” e “aquele”, nas suas virtudes e qualidades, nos seus vícios e defeitos…
Mas a noção que temos do carácter de cada indivíduo não é uma questão meramente física, no sentido material e formal do termo – o carácter que percebemos em cada ser humano traduz também impressões, sentimentos, feitios, e a percepção da índole e do temperamento de dada pessoa, sendo que todos estes atributos concorrem para a formulação da “ideia” que temos sobre essa mesma pessoa, com quem temos de conviver e de nos relacionar.
Um outro elemento a considerar, nas questões de carácter, é a possibilidade das pessoas mudarem de ideias, ou seja, pensarem de forma diferente do que sempre pensaram, a partir de uma reflexão séria que porventura tiveram, levando a admitir como válida uma ideia ou um acto que anteriormente se reprovava vivamente, que se utilizava como arma de arremesso contra os seus antagonistas, ou simplesmente se considerava irrelevante.
É uma virtude esta possibilidade de mudarmos, quando ela se baseia, genuinamente, em argumentos de sã e honesta elaboração mental, constituindo fundamentos que validam a mudança das ideias que temos sobre esta ou aquela matéria.
E quando verificamos que aquilo que defendíamos, convictos das nossas razões, passa a ser também defendido por quem, vigorosa e injustamente, o atacava sem avaliação nem tino, apenas porque somos adversários políticos (e não só), então apenas nos devemos congratular pela mudança operada, já que estamos perante uma admissão de um erro, em más e continuadas horas cometido.
Mas deve ser pura e genuína, esta mudança. Se não for, passa de imediato para o campo da hipocrisia, ou seja, para o campo da impostura e do fingimento, porque apenas tem como fito a transmissão de uma aparência (mentirosa) e não de uma realidade (verdadeira). Para ser pura, verdadeira e genuína, as mudanças operadas devem respeitar, e integrar, os que sempre foram defensores e responsáveis dessas ideias ou projectos, e não provocar o ostracismo, ignorando petulantemente as pessoas e as entidades que sempre estiveram a favor dessa ideia ou projecto.
Neste caso, ignorar as pessoas é falta de educação e dos princípios mais básicos que nos distinguem dos restantes animais, e ignorar as instituições é desconsiderar o colectivo que as entidades representam e, por via disso, não ser merecedor da própria entidade que deveria saber servir.
E por tudo isto que acabei de referir, quem não sabe distinguir estas diferenças de carácter, que nos ajudam a destrinçar o que é bom do que é mau, medindo tudo pela mesma rasa, e fazendo de conta que estas questões são irrelevantes para a boa condução das coisas públicas, também não merece a nossa consideração, porque imerge no mesmo erro das artes do fingimento…

Agostinho Ribeiro

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

O Congresso do PS.



Decorreu, no passado fim-de-semana, o XV Congresso do Partido Socialista, na bela cidade ribatejana de Santarém, terra dotada de um património material e espiritual de excepção, de gente boa e hospitaleira, que tão bem soube receber este encontro magno dos socialistas portugueses.
Não se esperavam grandes surpresas políticas, em resultado deste Congresso, uma vez que é bem evidente, e pública, a perfeita adesão e sintonia da esmagadora maioria dos simpatizantes e militantes do Partido Socialista para com o seu secretário-geral, o Eng. José Sócrates.
De tudo quanto se viu e disse, podemos reter a noção clara da inevitabilidade das reformas encetadas pelo actual Governo, bem expressas nos discursos, lúcidos e competentes, de apoio generalizado às políticas deste executivo, transmitindo a certeza de que os militantes do Partido Socialista sabem bem, e têm plena consciência, das exigências e dos desafios que o futuro próximo a todos nos coloca.
Ninguém tem dúvidas da dureza de muitas das reformas que estão em curso, e dos muitos sacrifícios que agora se pedem aos portugueses, como dúvidas não se terão sobre a premente necessidade de as executar e levar até ao fim, para evitar o total descalabro e desgoverno de Portugal.
A nobreza destas atitudes assenta, portanto, na coragem de se tomarem as decisões adequadas e imprescindíveis para o bom rumo do nosso país, mesmo correndo os riscos de alguma impopularidade e movimentações sociais, sem nunca perder de vista a finalidade última destas reformas – fazer de Portugal, num futuro não muito longínquo, um país mais rico e solidário, mais justo e equitativo, na defesa de um modelo de Estado Social que, para sobreviver, precisa urgentemente de se reformar.
É o que o nosso primeiro-ministro, Eng. José Sócrates, na chefia de um Governo competente e empenhado, tem vindo a fazer ao longo deste último ano e meio de governação, sem embargo de, aqui e ali, alguns pequenos ajustes nos parecerem necessários realizar.
E quando se tem um rumo claramente definido; quando se sabe, com clareza e determinação, qual é o objectivo final de cada reforma; quando nos é transmitido, sem tibiezas nem constrangimentos, os benefícios efectivos que cada medida tomada nos há-de proporcionar; quando somos, portanto, convidados a fazer sacrifícios para o bem comum, sobretudo dos mais desfavorecidos, pergunto-me que português enjeitará a dádiva do contributo, ainda que doloroso em tantas circunstâncias, para que este país possa continuar a progredir e a desenvolver-se?

É como se numa família, o pai e a mãe não aceitassem fazer quaisquer sacrifícios, agora, para que os seus próprios filhos tivessem uma vida melhor, amanhã!
Nenhum pai e nenhuma mãe deixariam de o fazer. E nós somos hoje os pais e as mães que devem correr esses sacrifícios para que os nossos filhos se possam orgulhar de um país mais moderno, competitivo, rico e socialmente mais solidário.
E os primeiros indícios dessa viragem para melhor, que todos desejamos e ansiamos, começam a surgir no nosso horizonte, demonstrando a justeza e a correcção das políticas que têm vindo a ser seguidas pelo Primeiro-Ministro de Portugal.

Agostinho Ribeiro

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Por uma questão de solidariedade!



A Dr.ª Maria João Amaral não precisa de ninguém que a defenda, e muito menos da minha pessoa, pelas evidentes razões que nem sequer aqui vou explanar.
Mas como sempre prezei, e prezo, a solidariedade, pessoal e política, privada e colectiva, atrevo-me a tecer algumas considerações sobre este assunto, não para evidenciar as sobejas qualidades desta Senhora, por demais conhecidas de todos os lamecenses, mas tão simplesmente para colocar aos olhos de todos os cidadãos as diferenças que marcam os estilos políticos entre as duas facções que asseguram, actualmente, a agenda política do concelho de Lamego.
Começando pelo princípio, importa dizer que já não é a primeira vez que alguns senhores da coligação PSD/CDS-PP “ensaiam” tentativas para apoucar a Senhora Vereadora do Partido Socialista, demonstrando, antes de mais e acima de tudo, uma completa falta de educação e respeito pelos “outros”, pelos que não pensam da mesma maneira, pelos que não se deixam enganar por estes verdadeiros trapaceiros da política e que, ainda por cima, são ignorantes e incompetentes nos assuntos que abordam.
De facto, estes senhores só são competentes na maledicência e na difamação, ficando em tudo o mais colocados na mais baixa fasquia da dignidade com que os assuntos de natureza política devem ser tratados.
Nada de novo – já o fizeram, e fazem, com o Prof. José António Santos; já o fizeram, e fazem, comigo próprio; já o fizeram, e fazem, com a Dr.ª Marisabel Moutela; estão a fazê-lo agora com a Drª Maria João Amaral...
Porquê? Apenas porque estes são alguns dos rostos visíveis e conhecidos da oposição socialista e da denúncia das poucas-vergonhas e desmandos deste poder autárquico. Tão simples como isto! Se tivessem um pingo de vergonha na cara, não escreviam o que escrevem, e vindo logo de gente que tem um passado e um presente bem conhecido de todos nós, na forma de ser e estar na política concelhia.
Mulher de reconhecidos méritos e competências, profissional zelosa e política de uma verticalidade e honorabilidade inquestionável, vê-se agora a Drª Maria João Amaral ser questionada por um ignorante (seja ele o director do Jornal do Douro ou outro qualquer da comandita que gravita parasitariamente à volta deste podre poder autárquico) e que, além de ser ignorante, escreve de forma acintosa, como só um desassisado o sabe e pode fazer.
Isto porque tentam por em causa as competências e saberes da Senhora Vereadora, não percebendo sequer a subtileza diplomática, própria de quem tem educação e respeito pelos outros, das questões que a mesma coloca na reunião do executivo camarário.
É claro que ficam incomodados com as questões que a Senhora Vereadora, Drª Maria Joaõ Amaral, lhes coloca...!
É claro que preferiam ter como vereadores da oposição, pessoas desprovidas de capacidade crítica, e despidas de vontade e consciência próprias, para engrossar a fileira desta triste maioria autárquica. Mas de facto não têm, nem terão, essa sorte, por muito que lhes custe esta realidade, e por muito que praguejem contra pessoas que são, acima de tudo e antes de mais, pessoas de bem!
E depois demonstram ignorância, ou má-fé, nas considerações e respostas produzidas. Uma vez mais o próprio Presidente da Câmara está envolvido em afirmações que não correspondem à verdade e à legalidade dos procedimentos, como já vem sendo habitual, engrossando o rol das falsidades que parece constituir a marca de água deste poder camarário.

A Drª. Maria João Amaral não precisa de ninguém que a defenda, porque mulheres da sua estatura e do seu gabarito passam muito bem sem a ajuda seja de quem fôr.
Mas qualquer lamecense que se preze de o ser não pode aceitar ou pactuar com gente tão desprovida de escrúpulos, que não olham a meios para atingir os seus fins e que são, ainda por cima, fins nada aconselháveis ao bem colectivo que nos deve a todos mobilizar.
Nós somos solidários!

Agostinho Ribeiro

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Um ano depois (3).



Têm-me dito alguns amigos que a oposição socialista deveria ser mais activa e incisiva a denunciar, publica e politicamente, as irresponsabilidades que têm vindo a ser perpetradas pela coligação actualmente no poder autárquico.
Interrogo-me sobre as reais possibilidades que existem em se fazer uma verdadeira e correcta oposição política, no sentido mais nobre e abrangente do termo, em face das gritantes desigualdades de natureza e princípios que caracterizam os diferentes protagonistas deste processo. É que os desmandos desta coligação são mais do foro da Polícia, das Inspecções e do Ministério Público que, propriamente, das denúncias mais ou menos visíveis dos políticos que lhes fazem oposição.
Um ano depois desta coligação ter assumido o poder, e já se perde a conta aos excessos desregrados destes senhores, às tropelias inconsequentes dos seus actos e às permanentes faltas de consideração e respeito que demonstram possuir por muitos lamecenses, em especial pelos que não pensam da mesma forma que eles.
É vergonhosa a forma persecutória com que agem em relação aos que não alinham pelo mesmo diapasão!
Ainda agora, num verdadeiro exercício de insultuoso descaramento, o senhor Presidente da Câmara veio exigir o direito de resposta, para afirmar publicamente que a Câmara não tinha apoiado a festa de comemoração da vitória alcançada há um ano atrás quando, em acta do executivo camarário de 10 de Outubro, se confirma a verdade do apoio ilegal concedido, pela leitura das afirmações nela exaradas, da autoria do seu próprio vice-presidente. É demais! É demasiada petulância para poder passar sem a nossa maior reprovação e repúdio!

Uma sã e digna luta política deveria passar pelo confronto de ideias e de projectos, mas para isso é necessário que existam ideias e projectos, que exista uma linha de rumo, objectivos claros a serem perseguidos e uma estratégia adequada para assegurar a sua concretização. Ora acontece que nem no plano de actividades de 2006, nem no programa desta coligação essa linha de rumo se consegue vislumbrar.
Nem sequer na acção concreta do dia a dia! Não parece haver prioridades sustentadas e fundamentadas – apenas existe uma “navegação à vista”, que o mesmo é dizer que se vai fazendo alguma coisa consoante a maré dos acontecimentos e das disponibilidades financeiras que a cada momento vai existindo nos cofres municipais.
É assim em todos os documentos produzidos por estes senhores, quer se trate do plano anual ou dos objectivos estatutários da empresa municipal, ou até mesmo do seu indescritível plano de acção. De resto, está lá tudo, como se alguém acreditasse que tudo pode ser feito ao mesmo tempo e como se fosse possível haver recursos financeiros inesgotáveis para tudo se fazer.
Quem se quiser deixar enganar com obras menores, de circunstância, mas com enorme visibilidade, que se deixe enganar. Mas aconselho vivamente a que se detenham na reflexão sobre as obras maiores, aquelas que são infra estruturantes para o verdadeiro desenvolvimento do concelho de Lamego e para a sua projecção regional e nacional. É nestas obras que se devem procurar os fundamentos reais para o desenvolvimento sustentado de um concelho com as nossas características, e não na multiplicidade de pequenas obras avulsas, que sendo de méritos aceitáveis, as mais das vezes enformam de métodos pouco claros e transparentes. Insere-se nesta constatação, por exemplo, as obras de requalificação do cemitério de Santa Cruz, onde se vai ter de provar a lisura da metodologia seguida para a sua realização.
Os empedernidos seguidores desta coligação têm vindo a proclamar aos quatro ventos que agora sim, agora é que as obras se vêem, ao contrário do anterior executivo, que nada terá feito no último mandato.
Cegos na sua pior cegueira, não vislumbram a verdade das coisas. Não conseguem perceber que, por exemplo, uma Escola Superior de Hotelaria e Turismo, aposta nuclear do anterior Presidente da Câmara, teria de ser conseguida na altura em que o foi, justificando-se a aplicação de todos os recursos então disponíveis (mais de dois milhões e meio de euros) para a sua implantação em Lamego. Se não tivesse sido naquele momento, perder-se-ia irreversivelmente…
Foi de uma extraordinária visão estratégica a opção então assumida! Daqui a 20 ou 30 anos todos seremos unânimes em considerar a importância incontornável desta infra-estrutura, bem como dos seus principais responsáveis. Será uma das obras ímpares que marcarão a cidade de Lamego nas próximas décadas.
E talvez então esta, como outras obras realizadas, possam ser comparadas com alguns projectos que este executivo pretende realizar, não sendo necessário ser um bom gestor para se perceber, hoje, quão demagógicas são algumas das promessas feitas pelo actual poder autárquico.
É esta a diferença entre um bom gestor que ama a sua terra e se preocupa em fazer o melhor para ela e o mau gestor, que nos vem de fora, e que apenas está preocupado em fazer obra de fachada para tentar enganar o “pacóvio”, custe o que custar, e vai custar muitos milhões de euros aos bolsos de todos nós.
Mas acontece, simplesmente, que os lamecenses não são “pacóvios”, nem ignorantes, e saberemos todos destrinçar o trigo do joio, quando for tempo de o fazer.

Agostinho Ribeiro

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Um ano depois (2).



Dando continuidade ao meu artigo da semana anterior, lembro que há um ano a coligação PSD/CDS-PP apresentou-se ao eleitorado lamecense transmitindo a ideia de que era portadora de um gestor muito competente, que iria colocar Lamego no topo dos municípios nacionais.
Só não disse em que circunstâncias isso iria ser concretizado e hoje, de facto, Lamego está no topo dos municípios nacionais mas pelas piores razões que se podem invocar para tal. E da competência dos seus responsáveis, muito já se disse e há-de continuar a dizer, mas bem mais pela falta dela que pela sua existência.
Era previsível, desde logo, que estivéssemos perante um verdadeiro logro eleitoral. Não há memória de haver um grupo que se tivesse apresentado a eleições autárquicas e só mesmo nas vésperas do acto eleitoral ter tornado público o seu programa eleitoral. Só esta atitude, de completo desrespeito pelos eleitores lamecenses, deveria ter levado a um maior cuidado no destino dos nossos votos, mas como a coligação ainda possuía uma margem de manobra suficiente para “absorver” alguns votos perdidos, a verdade é que lá conseguiram o resultado que pretendiam.
É certo que obtiveram menos votos, em coligação, do que os que tinham obtido em separado. É certo também que o PS obteve a maior votação de sempre, mas como as coligações servem para a obtenção de maiorias que, sendo legais, não são objectivamente as mais representativas da realidade, cá temos uma coligação a governar Lamego, sem outro qualquer mérito que não seja esse – o de terem concorrido em coligação.
E basta ler as actas do executivo camarário, basta assistir às Assembleias Municipais, basta perceber o que a coligação fez, e continua a fazer, de ruinoso para Lamego, ao longo deste ano de mandato, para não termos quaisquer dúvidas sobre o negro futuro que paira sobre todos nós, se continuarem a percorrer o caminho que têm vindo a percorrer até este momento.
Sobre as finanças locais, vamos aguardar pelas próximas contas de gerência, para assim podermos analisar devidamente o erro crasso das opções tomadas, quando as compararmos com as contas de gerência anteriores. Mas mais importante que estas contas serão os reflexos objectivos dos gastos efectuados, na sua relação com os projectos pensados e executados. Ou seja, saberemos analisar devidamente os benefícios reais que as opções de plano e orçamento concedem à obra realizada.
Tudo tem o seu tempo. E o tempo de se iniciar uma observação criteriosa do muito que se prometeu e do pouco que, até agora, se realizou, está a começar.
Mas de uma coisa estou certo – nunca, como agora, se assistiu a tanta falta de verdade, a tanta mentira encapotada, a tanta falta de vergonha em enganar os munícipes como neste momento se verifica. Senão vejamos, e dou apenas dois exemplos dos muitos que não deixarei de dar nos próximos tempos:
- Manda a lei que, logo após o recebimento de uma qualquer auditoria, seja ela de que natureza for, deve o Presidente da Câmara dar conhecimento ao executivo camarário e enviar a mesma à Assembleia Municipal. Este Presidente, não só não a remeteu aos membros da Assembleia Municipal, nos prazos legais, como teve a ousadia de dizer que apenas tinha em seu poder um “relatório preliminar” dessa mesma auditoria, quando já estava na posse do documento final. Faltar à verdade aos senhores membros da Assembleia Municipal não é só uma questão de educação, ou falta dela, – é sobretudo uma questão de princípios elementares de um Estado Democrático e de Direito, que não deve ser atropelado seja por quem for, e muito menos por quem tem o dever de dar o exemplo de verticalidade e honorabilidade nas funções que exerce;
- Deixar-se fotografar numa fonte pública, junto de um texto em que se dava conta que a água que jorrava dessa fonte era abundante e boa, quando, afinal, a mesma estava imprópria para consumo é, não só e de novo, uma questão de falta de educação perante o eleitorado que o elegeu, mas uma verdadeira afronta aos cidadãos lamecenses, já que está em causa a saúde pública, matéria por demais importante para ser “usada” despudoradamente como veículo de propaganda política da mais baixa e vergonhosa a que alguma vez assisti.
Nem sei como adjectivar esta situação. Mas tenho para mim que em qualquer país onde os direitos de cidadania, e de saúde pública, são escrupulosamente garantidos e respeitados, este senhor Presidente da Câmara já estaria a prestar declarações no devido lugar e teria, certamente, mais cuidado nas suas atitudes e comportamentos, do que aquele que tem vindo a ter até ao momento.
Os lamecenses merecem mais respeito e consideração do que aquelas que este senhor demonstra ter por todos nós.

Agostinho Ribeiro

Um ano depois.



O actual poder autárquico cumpre um ano de actividade municipal, tendo mesmo organizado uma festa para lembrar o extraordinário feito.
Nada de mais, se tudo tiver sido feito a expensas dos próprios, e não com o nosso dinheiro, entenda-se, da Câmara Municipal de Lamego, que é de todos nós e não apenas de alguns. Mas cada um tem o legítimo direito de festejar seja o que for, da maneira que muito bem entender e se estes senhores acham que para Lamego, uma festa do género é a melhor forma de comemorar um ano de gestão municipal, não serei eu a contrariar esta “original” ideia.

O problema maior é saber se há razões para festejar, já que a “obra” feita neste último ano não parece nada abonatória dos seus promotores, excluindo, obviamente, as obras que já vinham do anterior mandato e que este executivo deu continuidade, como não podia deixar de ser. É claro que agora usam de todos os estratagemas para tentar enganar as pessoas e fazer crer que tudo é obra deles, e de mais ninguém. São disparates do género que retiram credibilidade ao poder local e aos autarcas deste País.
Para além disso, falam-nos de muitos planos, que cá estaremos para analisar no momento devido, e recorre-se ao gasto argumento de que os anteriores executivos deixaram dívidas de montantes absurdos, mas até este momento não provadas, e sistematicamente usadas como argumento de peso para justificar a inépcia deste executivo.
Se fossem sérios no que dizem, não estariam a hipotecar o futuro de Lamego para os próximos 15 ou 20 anos, já que estão a fazer, neste preciso momento, bem pior para as gerações futuras, que aquilo que tanto andam a criticar do passado.
Todos sabemos que existem sempre compromissos que transitam de ano para ano, de mandato para mandato, e todo o autarca que é sensato sabe disso, não fazendo desta realidade a justificação permanente para a sua própria incapacidade realizadora. Aliás, a forma continuada com que se negou o acesso de todos nós à auditoria que mandaram realizar é típica de quem é muito lesto em lançar insinuações e nada sério em admitir as verdades das coisas, quando elas não lhes são favoráveis.
De obras físicas, quando as mesmas estiverem concluídas, cá estaremos para nos debruçarmos sobre elas, mas não posso deixar de referir já o quanto de errado existe na opção, a propósito das obras no Relógio do Sol, de deixar o monumento no meio da rotunda. Está errado do ponto de vista da conservação preventiva do monumento e é a forma mais acertada de ninguém o visitar, e interpretar, pela inacessibilidade evidente de que passa a ser portadora. Todos têm o direito de alterar planos anteriores, mas ao menos que pensem um pouco sobre essas alterações que pretendem introduzir, para que as mesmas constituam mais valias e não o contrário.
Da imagem global de Lamego, não temos dúvidas do quanto este concelho e esta cidade já perderam no decorrer deste ano, em credibilidade e honorabilidade, fazendo com que Lamego se inscreva no anedotário autárquico, sendo usada amiudadamente como mau exemplo, objecto de chacota e de riso nacional.
Desde a primeira notícia que surgiu num jornal nacional, a dar conta que o então novo Presidente da Câmara Municipal de Lamego tinha estado num jantar de uma suposta “associação” cujo nome me escuso aqui de referir; passando pela vergonha do processo, ainda não devidamente esclarecido, do desaparecimento da viatura municipal; do desentendimento que teve pessoalmente comigo a propósito da Bienal da Prata; da desprestigiante intervenção no Programa Prós e Contras, da RTP1, a propósito da maternidade de Lamego; da mentira que deu aos lamecenses, a propósito da água imprópria para consumo da fonte do Almedina, até ao mau exemplo dado com a criação da empresa Lamego Convida.
Em menos de um ano esta Câmara Municipal de Lamego já bateu todos os recordes possíveis e imaginários na colocação pública de Lamego nas ruas da amargura.
Mas há mais… Muito mais para dizer sobre este ano de mandato.

Agostinho Ribeiro