Há exposições
que não se devem perder. A exposição que se encontra patente ao público na Casa
do Poço, inaugurada no passado dia 7 do corrente, e que terminará a 22 deste
mês, é uma delas.
Tentarei
alinhavar algumas ideias centrais que me levam a considerar a importância desta
exposição, no contexto das realizações similares que em Lamego costumam ser
organizadas.
Em primeiro
lugar pela qualidade intrínseca das obras de arte que se encontram em
exposição, e das suas proveniências, já que estamos a tratar de um tipo muito
próprio e especial de obras de arte sacra, que requerem alguma reflexão
conceptual para a sua adequada interpretação.
Provenientes
das designadas “aldeias vinhateiras” da região do Douro, por força do projecto
de apoio ao seu desenvolvimento, em que se integram Barcos, Favaios,
Provezende, Trevões e Salzedas, estas peças simbolizam e representam “um brevíssimo percurso pela expressão
artística ligada à devoção popular e à acção da Igreja no vale duriense”
(*), no dizer esclarecido dos autores do opúsculo relativo à exposição.
Com eles
partilhamos também as interrogações sobre o que poderá haver de comum entre
estas cinco aldeias, suficientemente forte para que na diferença consigamos
notar a harmonia da similitude, e para que na diversidade possamos encontrar o
deslumbramento do que as pode unir… Será “o
Douro que, de tão próximo quase as alcança? A vinha e o seu cultivo secular –
engrenagem de uma máquina que se pôs em marcha para apresentar-se ao mundo? Ou
apenas a condição histórica da solidão e da lonjura, do isolamento só quebrado,
ciclicamente, por conjunturas mais favoráveis? Tudo isto, com certeza, as une…”.
Da força telúrica que lhes prodigaliza o vinhedo, e do vinho que esforçadamente
se lhe solta do fruto, não ficamos indiferentes ao percurso místico que haveria
de produzir tantas e tão belas obras de arte, que mais não são, afinal, que o
resultado sublimado dessa religiosidade com que o duriense se impregna no
quotidiano do seu dia a dia, em três séculos de arte ali esplendidamente retratada.
Não se vêem
todas, porque a exposição é uma curta amostragem do muito que há para ver, “apenas uma brevíssima abordagem da
infinidade de pontes e elos entre a arte religiosa e a vivência no Douro”,
mas o que se pode apreciar é significativo e relevante desse património
artístico e religioso, espalhado por todo o lado desta terra duriense, e só por
si elemento caracterizador, integrante e indissociável desta comunidade a que pertencemos.
Depois, porque
esta exposição se integra nas comemorações dos 250 Anos da Região Demarcada do
Douro, e é nesta felicidade de se verificar que em Lamego decorrem, actualmente
e em simultâneo, três grandes exposições relacionadas com estas emblemáticas
comemorações, que podemos inscrever a letras que o tempo não apague, a nobreza
da verdade de se ser Douro.
Estas
exposições, cujos elos de ligação nos permitem outras tantas leituras sobre a
realidade duriense, pelos olhos de quem cá vive ou viveu, mas também por quem,
vindo de fora, nos sabe olhar como só um artista o sabe fazer nas suas múltiplas
e geniais interpretações, são a prova da vitalidade secular da nossa gente, que
ainda se não perdeu nem perderá.
Aqui se
encontram e aqui se cruzam, aportando a Lamego como quem, depois de um percurso
inspirador e criativo, que do mundo vem a esta terra e desta terra se eleva ao
céu, retorna então ao seio original, ao ventre materno, ao princípio de tudo…
Foi em Lamego
que o Douro começou! Algures entre o céu e a terra…
Finalmente,
porque esta exposição inaugura uma nova era na história da museologia em
Lamego. Patente ao público nas instalações do futuro Museu e Arquivo da Diocese
de Lamego, esta exposição marca o início de um ciclo renovado das nossas
preocupações em inventariar, estudar e classificar, proteger, expor e divulgar
o vasto e rico património artístico e documental da Diocese de Lamego.
Há muito que se
reclamava por esta tão necessária infra-estrutura cultural e a certeza da sua
concretização só pode ser motivo de regozijo e felicidade para todos nós.
Da mesma forma
que o nosso Bispo, D. Jacinto Botelho, soube elucidadamente elogiar e felicitar
o grande paladino desta causa, Monsenhor Eduardo Russo, Vigário Geral da
Diocese de Lamego, na sua intervenção inaugural do evento, também nós nos
associamos a tão justas felicitações, pelo trabalho empenhado e a competência
iluminada com que este ilustre clérigo nos brinda continuamente, desde o início
deste projecto museológico, até à sua já bem sucedida concretização.
Agostinho
Ribeiro
(*) Os aspados em
itálico são citações da Introdução da edição “A Montante do Tempo, Exposição de Arte Sacra | Aldeias Vinhateiras”,
com textos da autoria de Alexandra Braga e Nuno Resende.
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