A natureza
humana é ampla e diversa na tipologia dos seres que a compõem, sendo certo que
esta amplitude e diversidade constitui, precisamente, a sua maior riqueza.
Pobres de nós, seres humanos, se todos fôssemos iguais, pensássemos da mesma
maneira, partilhássemos os mesmos gostos, tivéssemos os mesmos comportamentos e
a mesma forma de ser e estar na vida…
Que pobreza e
monotonia seria esta vida, se assim fosse!
O carácter de
cada um de nós é uma marca impressiva que nos identifica pessoalmente e, por
isso mesmo, nos diferencia de todos os outros. É a marca da individualidade
que, na matriz global da humanidade, nos permite distinguir cada um dos seres
humanos que a compõem. É o cunho especial e distintivo que nos concede a
possibilidade de diferenciar as pessoas e discernir entre “este” e “aquele”,
nas suas virtudes e qualidades, nos seus vícios e defeitos…
Mas a noção que
temos do carácter de cada indivíduo não é uma questão meramente física, no
sentido material e formal do termo – o carácter que percebemos em cada ser
humano traduz também impressões, sentimentos, feitios, e a percepção da índole
e do temperamento de dada pessoa, sendo que todos estes atributos concorrem
para a formulação da “ideia” que temos sobre essa mesma pessoa, com quem temos
de conviver e de nos relacionar.
Um outro
elemento a considerar, nas questões de carácter, é a possibilidade das pessoas
mudarem de ideias, ou seja, pensarem de forma diferente do que sempre pensaram,
a partir de uma reflexão séria que porventura tiveram, levando a admitir como
válida uma ideia ou um acto que anteriormente se reprovava vivamente, que se
utilizava como arma de arremesso contra os seus antagonistas, ou simplesmente
se considerava irrelevante.
É uma virtude
esta possibilidade de mudarmos, quando ela se baseia, genuinamente, em argumentos
de sã e honesta elaboração mental, constituindo fundamentos que validam a
mudança das ideias que temos sobre esta ou aquela matéria.
E quando
verificamos que aquilo que defendíamos, convictos das nossas razões, passa a
ser também defendido por quem, vigorosa e injustamente, o atacava sem avaliação
nem tino, apenas porque somos adversários políticos (e não só), então apenas
nos devemos congratular pela mudança operada, já que estamos perante uma admissão
de um erro, em más e continuadas horas cometido.
Mas deve ser
pura e genuína, esta mudança. Se não for, passa de imediato para o campo da
hipocrisia, ou seja, para o campo da impostura e do fingimento, porque apenas
tem como fito a transmissão de uma aparência (mentirosa) e não de uma realidade
(verdadeira). Para ser pura, verdadeira e genuína, as mudanças operadas devem
respeitar, e integrar, os que sempre foram defensores e responsáveis dessas
ideias ou projectos, e não provocar o ostracismo, ignorando petulantemente as
pessoas e as entidades que sempre estiveram a favor dessa ideia ou projecto.
Neste caso,
ignorar as pessoas é falta de educação e dos princípios mais básicos que nos
distinguem dos restantes animais, e ignorar as instituições é desconsiderar o
colectivo que as entidades representam e, por via disso, não ser merecedor da
própria entidade que deveria saber servir.
E por tudo isto
que acabei de referir, quem não sabe distinguir estas diferenças de carácter,
que nos ajudam a destrinçar o que é bom do que é mau, medindo tudo pela mesma
rasa, e fazendo de conta que estas questões são irrelevantes para a boa
condução das coisas públicas, também não merece a nossa consideração, porque
imerge no mesmo erro das artes do fingimento…
Agostinho Ribeiro
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