Os bajuladores
são aquele tipo de pessoas que nunca olham a meios para atingir os seus
insondáveis fins.
Especialistas
na exploração da vaidade humana, não se poupam a lisonjas excessivas para assim
obterem as benesses pessoais que, de outra forma, nunca conseguiriam obter.
Todos nós
conhecemos a espécie. Ela pulula em todos os sectores da actividade humana e
não deve haver uma única pessoa neste mundo que não conheça, pelo menos, um
triste exemplar deste calibre.
Desde que lhes
interesse, ou seja, desde que uma determinada pessoa se encontre em situação de
os poderem alcandorar (normalmente de forma indevida e imerecida) a um patamar
ou situação de maior visibilidade ou poder, bajoujam servilmente o seu
destinatário, na expectativa de obterem a tão almejada benesse, e trabalham
arduamente na lamechice ridícula do exagero e do excesso, sempre com o fito do
emolumento injusto, do reconhecimento impróprio ou do favor despropositado.
Porque se fosse
justo, próprio ou propositado, não precisavam de recorrer à baboseira fácil, e
as pessoas saberiam distinguir e reconhecer os méritos próprios de cada um.
Os bajuladores
insinuam-se no seio dos mais desprevenidos e desatentos, fazem-se passar por
amigos do peito, criam o ambiente adequado para fazerem crer que sempre foram,
são e serão, fiéis a quem lhes interessa no momento.
Os mais
cuidadosos e ajuizados cedo se apercebem do logro que caracteriza estes
burlões, e logo se afastam de tão nefastos exemplares da natureza humana, e por
isto é que verificamos que os bajuladores apenas têm palco e assistência, repetida
e continuadamente, no seio dos vaidosos. A jactância destes não lhes permite
perceber que apenas estão a ser alvo de encómios exagerados e falsos, e
acarinham com a soberba desmedida que só a bazófia consegue produzir, este
género de pessoas, convencidos que estão da justeza dos elogios repetidamente
recebidos.
Para esta
gente, emissores e receptores, aduladores e gabarolas, o mundo parece
resumir-se ao umbigo de cada um, e tudo o que possa pôr em causa esta
virtualidade egocêntrica, como se o mundo inteiro girasse, apenas e
exclusivamente, em torno deles próprios, é ridicularizado e desprezado.
Mas os
bajuladores são, por natureza, traidores. Traidores aos princípios e valores
que supostamente elogiam nos efémeros destinatários; traidores às causas que,
aparentemente, abraçam, apenas por saberem que os receptores são sensíveis a
tais causas; traidores aos próprios destinatários que lisonjearam, logo que
estes deixem de ser importantes ou necessários à obtenção do benefício
procurado. É vê-los a elogiar hoje e a desprezar amanhã; a atacar
desmesuradamente agora e a gabar ridiculamente depois; a jurar fidelidade
canina num momento e a atraiçoar o “melhor amigo” no momento seguinte.
Por esta razão,
a mais das vezes perdem a noção das realidades, mergulham no mundo da
irrealidade que construíram e um dia darão conta que estão sozinhos na sabujice
servil e na futilidade vã que construíram e que os caracteriza e identifica. Pior
que tudo, para eles próprios, é que olharão então à sua volta e não encontrarão
nenhuma mão verdadeiramente amiga na disposição de os ajudar.
É esta a triste
sina dos bajuladores profissionais, que não se sabem circunscrever à sua
própria dimensão, e projectam na vaidade dos outros as suas próprias ânsias e
desejos de protagonismo fácil, sem qualquer base ou mérito que o possa
justificar.
Agostinho
Ribeiro
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