quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Um ano depois (3).



Têm-me dito alguns amigos que a oposição socialista deveria ser mais activa e incisiva a denunciar, publica e politicamente, as irresponsabilidades que têm vindo a ser perpetradas pela coligação actualmente no poder autárquico.
Interrogo-me sobre as reais possibilidades que existem em se fazer uma verdadeira e correcta oposição política, no sentido mais nobre e abrangente do termo, em face das gritantes desigualdades de natureza e princípios que caracterizam os diferentes protagonistas deste processo. É que os desmandos desta coligação são mais do foro da Polícia, das Inspecções e do Ministério Público que, propriamente, das denúncias mais ou menos visíveis dos políticos que lhes fazem oposição.
Um ano depois desta coligação ter assumido o poder, e já se perde a conta aos excessos desregrados destes senhores, às tropelias inconsequentes dos seus actos e às permanentes faltas de consideração e respeito que demonstram possuir por muitos lamecenses, em especial pelos que não pensam da mesma forma que eles.
É vergonhosa a forma persecutória com que agem em relação aos que não alinham pelo mesmo diapasão!
Ainda agora, num verdadeiro exercício de insultuoso descaramento, o senhor Presidente da Câmara veio exigir o direito de resposta, para afirmar publicamente que a Câmara não tinha apoiado a festa de comemoração da vitória alcançada há um ano atrás quando, em acta do executivo camarário de 10 de Outubro, se confirma a verdade do apoio ilegal concedido, pela leitura das afirmações nela exaradas, da autoria do seu próprio vice-presidente. É demais! É demasiada petulância para poder passar sem a nossa maior reprovação e repúdio!

Uma sã e digna luta política deveria passar pelo confronto de ideias e de projectos, mas para isso é necessário que existam ideias e projectos, que exista uma linha de rumo, objectivos claros a serem perseguidos e uma estratégia adequada para assegurar a sua concretização. Ora acontece que nem no plano de actividades de 2006, nem no programa desta coligação essa linha de rumo se consegue vislumbrar.
Nem sequer na acção concreta do dia a dia! Não parece haver prioridades sustentadas e fundamentadas – apenas existe uma “navegação à vista”, que o mesmo é dizer que se vai fazendo alguma coisa consoante a maré dos acontecimentos e das disponibilidades financeiras que a cada momento vai existindo nos cofres municipais.
É assim em todos os documentos produzidos por estes senhores, quer se trate do plano anual ou dos objectivos estatutários da empresa municipal, ou até mesmo do seu indescritível plano de acção. De resto, está lá tudo, como se alguém acreditasse que tudo pode ser feito ao mesmo tempo e como se fosse possível haver recursos financeiros inesgotáveis para tudo se fazer.
Quem se quiser deixar enganar com obras menores, de circunstância, mas com enorme visibilidade, que se deixe enganar. Mas aconselho vivamente a que se detenham na reflexão sobre as obras maiores, aquelas que são infra estruturantes para o verdadeiro desenvolvimento do concelho de Lamego e para a sua projecção regional e nacional. É nestas obras que se devem procurar os fundamentos reais para o desenvolvimento sustentado de um concelho com as nossas características, e não na multiplicidade de pequenas obras avulsas, que sendo de méritos aceitáveis, as mais das vezes enformam de métodos pouco claros e transparentes. Insere-se nesta constatação, por exemplo, as obras de requalificação do cemitério de Santa Cruz, onde se vai ter de provar a lisura da metodologia seguida para a sua realização.
Os empedernidos seguidores desta coligação têm vindo a proclamar aos quatro ventos que agora sim, agora é que as obras se vêem, ao contrário do anterior executivo, que nada terá feito no último mandato.
Cegos na sua pior cegueira, não vislumbram a verdade das coisas. Não conseguem perceber que, por exemplo, uma Escola Superior de Hotelaria e Turismo, aposta nuclear do anterior Presidente da Câmara, teria de ser conseguida na altura em que o foi, justificando-se a aplicação de todos os recursos então disponíveis (mais de dois milhões e meio de euros) para a sua implantação em Lamego. Se não tivesse sido naquele momento, perder-se-ia irreversivelmente…
Foi de uma extraordinária visão estratégica a opção então assumida! Daqui a 20 ou 30 anos todos seremos unânimes em considerar a importância incontornável desta infra-estrutura, bem como dos seus principais responsáveis. Será uma das obras ímpares que marcarão a cidade de Lamego nas próximas décadas.
E talvez então esta, como outras obras realizadas, possam ser comparadas com alguns projectos que este executivo pretende realizar, não sendo necessário ser um bom gestor para se perceber, hoje, quão demagógicas são algumas das promessas feitas pelo actual poder autárquico.
É esta a diferença entre um bom gestor que ama a sua terra e se preocupa em fazer o melhor para ela e o mau gestor, que nos vem de fora, e que apenas está preocupado em fazer obra de fachada para tentar enganar o “pacóvio”, custe o que custar, e vai custar muitos milhões de euros aos bolsos de todos nós.
Mas acontece, simplesmente, que os lamecenses não são “pacóvios”, nem ignorantes, e saberemos todos destrinçar o trigo do joio, quando for tempo de o fazer.

Agostinho Ribeiro

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