quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Município de Lamego – a derrocada final!



Tendo chegado ao meu conhecimento que o Senhor Vice Presidente da Câmara Municipal de Lamego, o meu prezado amigo Eng.º José Pereira, pediu a suspensão do mandato para que foi eleito nas últimas eleições autárquicas do Concelho de Lamego, ocorre-me dizer o seguinte:

1º – Confesso que estranhei muitíssimo mais o facto do Eng.º José Pereira ter anuído à sua integração numa lista liderada pelo atual Presidente da Câmara, do que estranho agora a sua saída, ainda que provisória, do palco suicidário que se chama, ironicamente, “Viver Lamego com alma e coração”;

2º – Como eu só me posso, e devo, apresentar a mim mesmo em qualquer comparativo que possa fazer, no que respeita ao exercício de cargos políticos, acho que o Eng.º José Pereira fez mal em suspender o mandato – deveria manter-se em funções e pugnar, por dentro, a favor dos princípios e valores que eu sei que defende e pratica. Respeito a sua legítima decisão, mas discordo dela;

3º – Seja qual for a razão “oficial” que possa apresentar para justificar tal suspensão, todos sabemos já qual é ela. Espero e desejo que o Eng.º José Pereira seja consentâneo com a sua postura pública, e com a ideia de homem impoluto que dele todos fazemos;

4º - O Município de Lamego, a cidade e o concelho, degrada-se dia a dia, não só na materialidade das obras megalómanas que não servem para nada, e muito menos servem os interesses legítimos dos lamecenses, mas também e sobretudo, na moralidade (ou falta dela) dos atos e procedimentos que nos arrastam a todos para a miséria das dívidas e para as dúvidas da legalidade em tantos dos mesmos;

5º - Que os lamecenses de bem, independentemente das suas convicções político partidárias, se não fiquem pelo silêncio tacanho perante tamanho grito inconsolado, que a ninguém que tenha um mínimo de sentido e noção do “bem público” pode deixar de ser ouvido, e a todos deve obrigar a percebê-lo nas suas mais profundas motivações.

O “fim de festa”, quando a festa esteve repleta de excessos e de abusos, só pode ser o que sempre foi – amargo e doloroso!

Da minha parte, tenho a consciência tranquila – alertei, antes, para os perigos que iríamos correr; chamei a atenção, durante, para as asneiras que se estavam a cometer; continuo, agora, no lugar que os lamecenses entenderam que deveria ser o meu, para ajudar no que puder a resolver os problemas que outros criaram à nossa terra.

Exorto o Eng.º José Pereira, e todos os que, como ele, se aperceberam já do logro em que todos caímos, a estar presente na procura das soluções necessárias, e a lutar por elas, porque sobre os desmandos cometidos, já não há nada a fazer…!


Agostinho Ribeiro

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Museu Grão Vasco, a partilhar é que a gente se entende. *



1 - A partilhar é que a gente se entende.

Passados que foram nove meses de 2014, e faltando apenas o último trimestre para o completar, pensamos ser este o momento certo para partilhar com todos os nossos amigos uma breve reflexão em torno das atividades desenvolvidas pelo MGV, pela relevância de algumas ações por nós desenvolvidas durante estes últimos meses, tanto autonomamente como em parceira com outras entidades, e pela importância de tudo quanto estamos a planear para o futuro próximo.
A tarefa não é fácil, tantas e tão diversas foram as atividades em que o Museu esteve envolvido, tornando-se difícil nomeá-las a todas, na tentativa de as tipificar segundo algum critério mais ou menos consistente que não seja o da nossa abertura ao exterior. Abertura que é por nós assumida, conscientemente, como estratégica para captação de parceiros e amigos (instituições e pessoas) que nos ajudem à prossecução dos nossos próprios fins missionários, do mesmo modo que agora lhes vamos criando todas as condições de realização dos seus projetos, quando para isso somos convidados. A razão mais invocada para justificar a escolha do nosso museu, fundamenta-se no facto de serem os nossos espaços os mais adequados e apelativos às realizações que pretendem concretizar, sob a égide institucional do Museu Grão Vasco, que assim empresta o seu prestígio de museu de referência para qualificar ainda mais tais ações de serviço público cultural.
Quem nos tem vindo a seguir aqui <https://www.facebook.com/pages/Museu-Gr%C3%A3o-Vasco/577283282362259?ref=hl>, na nossa página oficial do facebook, certamente já se deu conta da enorme quantidade de parcerias que assumimos ao longo destes primeiros seis meses do ano. Muito por força de termos fechado protocolos de colaboração com cerca de 20 entidades públicas e privadas viseenses, aquando das comemorações do Dia Internacional dos Museus, a 18 de maio, e também porque temos ainda em carteira quase outras tantas entidades, pensando assinar os respetivos protocolos muito em breve. Dificilmente se encontrará melhor adequação do ato de assinatura de protocolos ao lema de 2014 do Dia Internacional dos Museus: “Museus, as coleções criam conexões”. Isto porque o ato de assinatura não constituiu uma mera formalidade sem conteúdo, mas antes serviu para aprofundar e estatuir as relações institucionais que já vinham a ser desenvolvidas entre todos e o museu, em prova inequívoca da importância que a sociedade viseense reconhece ao seu museu e da vitalidade que este tem demonstrado possuir na captação de um número cada vez maior de amigos e parceiros para o futuro.

2 – Nem só de estatísticas se vive.

Um dos mais graves equívocos que poderemos estar a viver atualmente prende-se com a perceção, redutora mas muito generalizada, de que apenas contam os “números” que as estatísticas nos vão fornecendo, sem cuidar devidamente dos valores qualitativos que deveriam estar sempre, e em todas as circunstâncias, em primeiro lugar na linha das nossas preocupações gestionárias. Uma iniciativa de alta qualidade jamais será inferior a dez de qualidade duvidosa, residindo a essência da questão em sabermos como é que a “qualidade” de uma qualquer iniciativa é medida. Quais são os padrões avaliativos que estão na base das nossas medições; que métodos adotamos para o fazermos sem correr o risco de sermos injustos na apreciação feita; que avaliações fazemos, cruzando as nossas apreciações com as apreciações dos outros, os diretos envolvidos e os diretos beneficiários…?
A qualidade dos eventos em que estivemos particularmente envolvidos, nas áreas da nossa atuação mais visíveis ao exterior, como sejam as exposições temporárias, os congressos, concertos, instalações, lançamento de livros, performances, atividades pedagógicas, visitas guiadas ao circuito permanente e temporário, permite-nos admitir o conforto do reconhecimento generalizado, por parte dos nossos parceiros e da opinião pública em geral, o que muito nos satisfaz. Mas o museu não se esgota no conjunto das ações que promove (ou colabora) diretamente para o exterior. Os estágios pedagógicos, o trabalho de investigação científica, o permanente esforço técnico de inventariação do acervo e das espécies bibliográficas e documentais, a sempre presente preocupação na monitorização e controle ambiental dos espaços museológicos, o apoio humano, técnico e científico, prestado a outras instituições e entidades públicas, são vertentes da nossa atuação menos percetíveis ao cidadão comum, mas tão ou mais importantes para o cumprimento integral das nossas obrigações fundamentais de preservação do património que está sob a nossa guarda.
Basta percorrer esta nossa página do facebook, onde vamos dando conta das nossas diversas ações e colaborações, para ficarmos sabedores da enorme quantidade e multiplicidade dos projetos realizados, aferindo ainda da grande recetividade que temos vindo a beneficiar por parte de todos os que nos têm brindado com a presença em tantos e tão diversos momentos da nossa vida institucional.
E se é verdade que nem só de estatísticas vivemos, não podemos deixar de sublinhar que o Museu Grão Vasco foi, no comparativo entre o primeiro semestre deste ano e do ano transato, (no universo dos Museus da Direção Geral do Património Cultural), o terceiro museu com maior aumento percentual do número de visitantes, e o segundo museu com maior aumento absoluto de visitantes. Esta realidade estatística dá-nos bem conta das boas prestações que estamos a ter, para benefício de todos, situação que só nos pode orgulhar.

3 – O desígnio da designação “Nacional”.

E é também por estas razões sumariamente apresentadas, que entendemos ter chegado a hora de requerer superiormente a designação “Nacional” para o nosso museu, tendo em conta a boa recetividade prévia que, oportunamente, percebemos junto da tutela, que o mesmo é dizer, junto do Senhor Secretário de Estado da Cultura e da Direção Geral do Património Cultural.
As razões históricas, artísticas, técnicas, científicas, territoriais e até mesmo estatísticas, justificam plenamente a pretensão, que não pode ser jamais entendida como uma veleidade sem fundamento, um capricho momentâneo ou uma leviandade imprudente. Pelo contrário, podemos asseverar que em todos os itens em que se pode basear a justificação e fundamento do estatuto de museu nacional, o nosso Museu Grão Vasco cumpre com distinção, permitindo-nos assim a clareza concetual de considerarmos injusta a ausência da designação que agora se pretende obter.
Sem querermos entrar pela via de uma linguagem mais tecnicista e elaborada, que não é a função deste apontamento, sempre diremos, e deixamos aqui nota para memória futura, que o Museu Grão Vasco é uma instituição de cultura (quase) secular; dotada de um acervo único no panorama artístico nacional; usando o nome de um pintor que é único e incontornável para a compreensão do pré-renascimento e renascimento em Portugal; e que foi o criador (individualmente considerado), do maior número de obras de arte classificados como bens de interesse público, vulgarmente designados por Tesouros Nacionais; possuindo, precisamente, um número significativo destes tesouros e, por via disso, colocando a cidade de Viseu como sendo a terceira com maior número de bens assim classificados e; finalmente, colocando Viseu como a segunda cidade que mais visitantes tem no seu museu (no universo dos museus da Direção Geral do Património Cultural), logo a seguir à capital!
Parece, portanto, muito pouco provável que exista, e possa ser esgrimido, algum argumento que contrarie a justiça da designação de Museu Nacional, pelo que acalentamos a indisfarçável esperança de o sermos brevemente.
Obrigado

Agostinho Ribeiro

* Texto retirado da página facebook do Museu Grão Vasco, intitulado A Palavra ao Diretor | 03.

domingo, 14 de setembro de 2014

Museu Grão Vasco, fonte inspiradora *



Do motivo inspirador.

VISIBILA é um projeto criativo que resulta da interação estabelecida entre a artista plástica Ema M. e algumas obras do Museu Grão Vasco que, pela sua própria natureza ou por razões exógenas à sua valia, menos visibilidade possuem no discurso expositivo do museu, habitando, por agora, as suas reservas. Mas não são obras indiferenciadas ou atípicas. Tão pouco são obras sem merecimento para serem expostas em permanência. Apenas se não enquadram totalmente no discurso expositivo, de essência museológica, assumido pela instituição ou, por razões ainda mais prosaicas, por não estarem nas devidas condições de apresentação ao público, pelo menos em quantidade suficiente que justifique uma alteração substantiva ao referido discurso.
Mas o elemento diferenciador, e certamente o mais decisivo, dos modelos inspiradores da artista é, sem dúvida, o da sua específica tipologia - o retrato. A artista parte de alguns retratos de personagens mais ou menos conhecidos, existentes no museu, e em particular dos retratos de D. João VI e de D. Carlota Joaquina de Bourbon, ambos de autores desconhecidos, para construir um notável conjunto pictórico que é, ao mesmo tempo, memorial e arte, história e lenda, materialidade e imaterialidade, como se de uma narrativa real e fantasiosa, a um tempo, se tratasse. E trata.

Da obra realizada.

E assim chegamos ao conjunto harmonioso que dá corpo à presente exposição – setenta e sete obras notáveis que, num primeiro relance, nos levaria a considerar como sendo os retratos de todos os reis e rainhas de Portugal, que são. Mas não só. Porque são mais que isso e, sobretudo, são criações diversas da tipologia comummente adotada para as classificar, no nosso sempre tão estranho, quanto impulsivo, afã de tentar meter todas as coisas nas caixas certas que se encontram depositadas no lado mais lógico e racional do nosso pensamento. Mas é compreensível que assim seja, porque faz parte da nossa natureza fazê-lo, na tentativa permanente, e quantas vezes inconsciente, de sobrepor alguma ordem e harmonia ao caos provocado pela infinidade de sensações e perceções que o nosso intelecto vai absorvendo ao longo das horas, dos dias, dos anos de uma vida…
Retratos que não são retratos, já que são rostos propositadamente fantasmais, aqueles que se nos apresentam pela frente e, no entanto, encontramos neles os traços identitários da personagem representada, não suscitando qualquer dúvida sobre a identidade individual de cada rei ou rainha, numa singularidade escrupulosamente demarcada, mas que só possui a plena razão da sua existência no contexto global do coletivo simbolizado. Vale por si, porque é retrato, mas só se explica plenamente, porque é obra de arte integrante de um conjunto criativo e original que ultrapassa decisivamente as fronteiras das mais arcaicas definições concetuais.
Esta irreverente forma de ser uma coisa e, depois, ser ainda mais qualquer coisa que essa coisa que se é, procurando ser múltiplo no potencial discurso interpretativo, faz-nos pensar nos motivos, ou melhor, nos mecanismos intelectuais que estiveram na base da construção deste projeto artístico. A marca impositiva é a da dicotomia, no sentido da lógica, enquanto modelo de abrangência agregadora de duas partes concorrentes para a unidade, mais que no sentido da oposição, que não existe, nessas duplicidades propositadamente construídas, e muito bem, pela artista.
É que, curiosamente, Ema M. trata sempre o simbólico na base das cumplicidades dicotómicas que poderíamos avocar à exaustão, ficando-nos aqui pela mais evidente: são retratos reais, da realeza portuguesa, onde precisamente todas as rainhas se encontram também figuradas - reis e rainhas, masculino e feminino, não em oposição mas em complementaridade natural, o que dá uma consistência inaudita ao conjunto realizado.

Da museologia à museografia.

Do ponto de vista museológico, a particularidade deste projeto, ainda na linha da dicotomia congregadora (e não opositora), reside no facto de o Museu Grão Vasco poder apresentar ao público uma obra independente, original e única, mas feita a partir da feliz inspiração da autora, Ema M., em obras de arte do próprio museu. Algumas delas, aliás, patentes na própria exposição. O Museu assume-se aqui como fazendo parte integrante e indissociável do próprio ato criativo, por intermédio de um prévio estudo e apreciação de Ema M. que, confrontada com as diversas fontes artísticas inspiradoras, se sentiu impelida à materialização dos seus impulsos criativos. Como só os artistas sabem e podem fazer…
Mas ao optar pelos retratos (que já sabemos que o não são apenas), de todos os reis e rainhas de Portugal, e da forma como o fez, a artista introduziu algumas mais-valias museológicas que não podemos deixar de referir aqui: desde logo o valor pedagógico da coleção exposta, ao dar visibilidade a aspetos muito concretos da nossa História, apresentando pequenos detalhes que escapam ao conhecimento atual de muitos visitantes. Referimo-nos, em concreto, à identificação das personagens em causa, em forma criativa e simbólica, certamente, mas ainda assim complementada com dados concretos que ajudam à perceção do todo – os anos de cada reinado; os cognomes dos reis; as respetivas consortes; a sucessão cronológica das dinastias, matizadas em diversas colorações; tudo conferindo uma linearidade natural ao próprio discurso expositivo.
Também por isto, a museografia desta exposição é extremamente simples, tão simples quanto original e apelativa, uma vez que as legendas substituem com vantagem as tabelas informativas e o percurso da visita pode ser feito em ambos os sentidos que, espacialmente, delimitam o campo expositivo. Depende apenas do nosso particular interesse na abordagem cronológica do tema, iniciando a visita pelo Condado Portucalense, nas figuras tutelares de D. Henrique e de D. Teresa de Leão e Castela ou, ao invés, pela Quarta Dinastia, apreciando os retratos de D. Manuel II e de D. Augusta Vitória de Hohenzollern-Sigmaringen.
A escolha é nossa.
O Museu Grão Vasco tem todo o gosto em apresentar ao público esta exposição de Ema M., VISIBILIA, à qual está indissoluvelmente ligado por ter sido a fonte inspiradora de tão impressivo, belo e original trabalho criativo, e por intermédio da qual também pretende dar maior visibilidade às suas coleções.
Agostinho Ribeiro
Diretor do Museu Grão Vasco
14 de setembro de 2014.


* In Catálogo da exposição “Visibilia, de Ema M”, Museu Grão Vasco, Viseu, 2014.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Aquilino Ribeiro e o Museu Grão Vasco *




De Aquilino Ribeiro sei o que a maior parte dos portugueses, de uma maneira geral, sabem. Menos do que deveria, portanto. E tanto de Aquilino Ribeiro como de todos os outros escritores portugueses, clássicos ou não, integrados já no imaginário literário nacional, ou ainda à espera de um reconhecimento mais consistente, confesso as minhas limitações e penitencio-me por elas.
Dito isto, sinto-me mais tranquilo em escrever algumas generalidades sobre um texto de uma das personalidades que mais me marcou no tempo fabular em que eu consumia livros até à exaustão, como agora o faço no consumo desregrado da informação rápida, fácil e acessível (ainda que por vezes pouco fiável), por via da internet.

Os tempos mudaram, não haja dúvida nenhuma sobre isso, e isso nem sequer é dramático, como muitos pensam ser. Mas há coisas que convinha preservarmos, como outras há que mesmo sem disso nos darmos conta já existiam no tempo dos que hoje achamos velhos, como se a verdadeira culpa de o sermos, ou de os outros assim considerarmos, fosse do tempo, e não de nós. Não sei porquê, mas dou comigo a pensar bastas vezes sobre quem será mais velho: se um jovem que não faz uma pálida ideia de quem foi Aquilino, ou Torga, ou Camilo, ou Eça, ou Camões, ou Pessoa…, ou um qualquer “velho”, como eu, na dificuldade tacanha que tenho em enfrentar e dominar um smartphone que insiste em ser tão meu adversário no uso que dele teimo em pretender dar; ou como aliado servil doutrem, odioso para mim (roído de inveja), nos dedos desses jovens que nem para ele precisam de olhar, quando o manuseiam com o à vontade da escrita fácil e abreviada dos “kapas”. Mas é um pensamento mentiroso, e até mesmo intelectualmente desonesto da minha parte, mea-culpa, porque não me sinto velho, embora pressinta que muitos jovens me olham como se o fosse, e eu, sorrindo interiormente, percebendo perfeitamente porque assim me olham, já que tenho memória, e ainda me lembro bem de como olhava eu, na minha infinita impreparação para a vida, os que então não andariam longe da idade que hoje me traz vivo.

Adiante, que de lamúrias não se faz história, e muito menos se faz conhecimento, como naquele dia em que uma das senhoras conservadoras do nosso museu, a Dr.ª Graça Marcelino, responsável pela biblioteca e arquivo, me fez chegar gentilmente às mãos, ufana, uma cópia de um escrito de Aquilino Ribeiro, no velho Almanaque Bertrand de 1937, a propósito, precisamente, do Museu Grão Vasco. Assim mesmo, sem outra qualquer denominação de Museu, regional que fosse pela construção preambular do diploma legal que o fundou, e que por essa altura fazia a designação oficial do Museu; nem tão pouco sequer com a preposição “de”, que perdurou quase até à atualidade na legenda titular que o identificava. Não por mero acaso, certamente, mas propositadamente, Aquilino Ribeiro não esteve com meias medidas, como tantas outras vezes também não esteve, e escarrapachou o título que lhe servia na perfeição à intenção do escrito, simples e direto – O Museu Grão Vasco!

O homem era mesmo levado do tal que emprestou o nome à terra onde nasceu, e percebe-se o desígnio das tergiversações iniciais, como que a preparar os incautos leitores para a visão da ferida que ele haveria de tocar ao fim. Mas lá iremos quando a linha de pensamento aportar no que me traz à pretensão judiciosa destas linhas… A verdade é que andava eu embrenhado nuns arremedos de ideias a propósito do encontro sobre o centro histórico de Viseu, na insana preocupação de pretender dizer em escassíssimos minutos o que um qualquer ser minimamente consciente sabe não poder fazer devidamente numa comunicação séria, estruturada, com princípio, meio e fim, quando a senhora conservadora, salvífica, me brinda com aquele delicioso texto, tão aquiliano quanto Aquilino sabia ser.

Salvífica, porque me permitiu usar um poderosíssimo argumento a favor do que verdadeiramente me motivava para aquela breve intervenção, já que poderia partilhar com todos uma pretensão que nem sequer era nova no desejo de a concretizar – a ideia de que o Museu Grão Vasco era tão importante, enquanto instituição museológica, como excelente na valia do seu acervo, que não o designar com o título “nacional” era, no mínimo, um deselegante desrespeito à extraordinária qualidade da instituição.

Aquilino sabia do que escrevia e, além do mais, sabia perfeitamente como alcançar o objetivo da sua escrita, tendo em atenção as circunstâncias do tema, do tempo e até mesmo do lugar. O texto é singular, na medida em que parte de uma consideração geral a propósito da visita de Raczynski a Viseu, em tom muito próximo do coloquial, para de seguida se centrar no Museu Grão Vasco e no que, de facto, o levou à sua escrita. A propósito do devaneio “raczynskiano” pelas terras beirãs, tece então sentenciosas considerações de uma não disfarçada incomodidade pelo que ainda não estava resolvido no “casco” antigo da cidade. E passa, de seguida, à fundação do Museu. Tudo isto sem deixar de enquadrar o fenómeno, de inspiração republicana, “no movimento que teve em José de Figueiredo um dos primeiros impulsores”, a que acrescentou, sem pestanejar, que tal movimento “consistia em criar em Portugal o gosto da arte e cada cidade ir arrecadando convenientemente o que, no seu âmbito, se recomendava pela beleza, carácter, cunho histórico” [1].

Já, por várias vezes e em diversos textos meus, enfatizei estes princípios fundamentais de base republicana, que levaram à edificação de alguns museus espalhados pelo todo do território nacional [2]. A Primeira República foi responsável pela instituição de 13 museus, entre 1912 e 1924, o que nos dá bem conta da preocupação e do afã em construir o que agora designamos, pomposamente e bem, uma rede de museus, cuja missão era a de salvaguardar e valorizar o que de mais precioso existia em Portugal.

Mas temo que haja por cá, precisamente por Portugal, muita boa gente que, propositadamente ou não, pretenda continuar a confundir a constituição de uma rede de museus harmoniosamente distribuídos pelo todo do território nacional, para elevar a cultura nacional por via da “educação do povo” e da salvaguarda e valorização do património artístico português (os tais princípios muito genéricos, velhinhos, dos republicanos de boa cepa), com a construção de museus regionais no sentido restritivo do termo, que o mesmo é dizer, museus que representam uma parcela constrita do território, cuja valia do acervo não alcança o patamar da importância e visibilidade nacionais e, como tal, apenas se deve confinar ao local ou, quando muito, à região onde está instalado… Importantes, sem dúvida alguma, mas outros que não estes que estiveram na base da construção da nossa história e tessitura museológicas. E, por via desta ínvia pretensão, abdicarem pura e simplesmente das suas obrigações constitucionais, transferindo as tutelas destas instituições para setores da administração pública mais consentâneas com a natureza “regional” ou “local” destes museus. A confusão teórica é consciente e propositada, porque serve a intenção das desqualificações orgânicas e funcionais, a pretexto de um argumentário baseado em dados quantitativos indevidamente analisados e incorrectamente apresentados à opinião pública nacional.

É curioso constatar então, que afinal nem o problema é de hoje, nem as soluções são tão inovadoras como nos querem alguns fazer crer… Aquilino Ribeiro, em 1937, apercebeu-se muito bem desse logro em que nos quiseram fazer cair, porque ao escrever este aparentemente inofensivo texto, nada mais estava a fazer do que a criticar asperamente o elitismo despropositado, muito típico do complexo provinciano de que a capital nos dá, amiúde, sinais de possuir (e exercitar). Para além de outras razões de natureza ideológica, que não temos espaço, agora, para tratar, e que se prendem com a postura intelectual e política de alguns membros do 7º Governo da ditadura, nomeadamente de Gustavo Cordeiro Ramos, Ministro da Instrução Pública ao tempo da produção do documento legislativo que esteve, seguramente, na origem do texto que Aquilino Ribeiro escreveu.

Refere ele o seguinte, já em fase de arrematação: “O que é o Museu Grão Vasco? O Museu Grão Vasco não é Viseu; não é Beira. É Portugal. Mais que Portugal é o mundo, pois que a arte tem feição ecuménica. Regional é o apenas no rótulo que oficialmente lhe deram. De facto, museu regional implica arte regional, arte particular, sui generis. Em país uno, indiviso, nada de nada compósito como o nosso, poderá florir esta planta? Ainda que se confinasse no papel de repositório etnográfico, à parte a explicação que lhe poderia trazer a geografia, seria coisa impossível.”[3] O que pode parecer, à primeira vista, um despropósito de consideração, mesmo porque já se vivia num tempo em que ninguém teria coragem de por em causa a valia do património artístico ínsito ao Museu Grão Vasco, é facilmente explicado à luz do diploma legal então em vigor, e que tinha estruturado os museus portugueses em três grupos – nacionais, regionais e, simplesmente, “museus, museus municipais, tesouros de arte sacra e outras mais colecções oferecendo valor artístico, histórico ou arqueológico.” [4] É claro que o Museu Grão Vasco estava incluído no segundo grupo, e era essa precisa constatação que motivou, e explica, o conteúdo do texto agora em evidência.

Era, certamente, contra esta organização tipológica desprovida de sentido (técnico, científico e até mesmo ideológico) que Aquilino afinou o intelecto e, no uso seguro do seu bisturi, delimitou o campo da intervenção cirúrgica para conter a doença que propagaram a estes museus, pela introdução de níveis diferenciadores onde havia semelhanças, pela marcação de alteridades onde havia similitudes, fazendo então, nos idos dos anos trinta do século passado, o que agora se está a tentar fazer de novo… e agora, de forma ainda mais imprudente, não perscrutando o pensamento dos mais insignes museólogos portugueses, perdidos que andamos na inexistência de outros “Aquilinos” que, no tempo certo, nos soubessem usar o peso da sua personalidade e o poder da palavra que produzem, para defender a razoabilidade e a racionalidade na alteração ao modelo vigente, que se vê cada vez mais próximo dos idos de 1937, com a agravante de as diferenças serem ainda mais gravosas do que então…

Infelizmente, Aquilino Ribeiro já não pôde observar a primeira grande alteração conceptual que se produziu na classificação dos nossos museus, depois do célebre decreto que invetivou. Isto porque foi apenas dois anos após a sua morte que, por força da publicação do importante Regulamento Geral dos Museus de Arte, História e Arqueologia, em 1965 [5] (resultado seguro dos inestimáveis contributos de João Couto para a causa da museologia nacional), se iniciaram profundas alterações que haveriam de construir um corpo teórico consistente, e uma práxis consentânea (ainda que com muitas lacunas, erros pontuais, avanços e recuos) até 2011, finalmente interrompido com as últimas alterações legislativas do sector, em 2012, que, como se pode facilmente demonstrar, promovem o retorno (e a regressão) ao modelo criticado por Aquilino Ribeiro.

“Percorrer as salas do Museu Grão Vasco, tão inteligentemente alfaiadas (…) é sentir-se, diríamos, em boa e afamada galeria europeia. Depois das Janelas Verdes é do melhor que se pode apontar a dedo.”[6]

Pelos vistos, defendemos em 2014 exatamente o mesmo que Aquilino Ribeiro já defendia em 1937, como se o tempo, afinal, não tivesse tido tempo de mudar as velhas ideias de uma forma tão consistente e estruturante, que as entendêssemos completamente sedimentadas no coletivo das elites intelectuais portuguesas e, por via disso, fossem essas mesmas velhas ideias coisas do passado, mortas e enterradas, apenas recordadas por nós como interessante tema de discurso e abordagem historicistas, e não questões da contemporaneidade que nos obrigam a tentar perceber o que correu mal, nos últimos 49 anos desta nossa existência museológica, em Portugal.
Ou não (não correu mal), e apenas estamos a manusear agilmente o telefone que se diz ser inteligente, pensando nós que isso nos basta para sermos vistos como génios criativos e inovadores, prontos para as grandes mudanças de paradigma que a sociedade moderna nos exige promover, apontando caminhos que, afinal, mais não são que trilhos antigos há muito abandonados… Basta ler algumas coisas de Aquilino Ribeiro, e de outros como ele, para ficarmos com essa certeza.

Agostinho Ribeiro
Viseu, 31 de Julho de 2014.

* Publicado nos Cadernos Aquilinianos, nº 22, Série 3, CEAR (Centro de Estudos Aquilino Ribeiro), Pgs. 83-88, 2014.



[1] RIBEIRO, Aquilino – O Museu Grão Vasco, in Almanaque Bertrand, 1937, pg. 78.
[2] RIBEIRO, Agostinho – Um Museu para a Região do Douro, fundamentos e proposta de organização, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2002, p. 34 e segs.
[3] RIBEIRO, Aquilino – ob. cit., pg. 79.
[4] Artº 49º, c) do Decreto nº 20:985, de 7 de Março de 1932.
[5] Decreto nº 46 758, de 18 de Dezembro de 1965.
[6] RIBEIRO, Aquilino – Ibidem.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Das vantagens do compadrio!

Breve elucidário (em três imagens), de uma das vantagens em se ter um compadre mercenário a dirigir um serviço público, ali colocado por designação pessoal e arbitrária, claro…

I



II



III







Este breve elucidário destina-se exclusivamente ao concelho de Lamego, uma vez que não tenho conhecimento de em mais lado algum tal coisa acontecer!

Agostinho Ribeiro

domingo, 13 de julho de 2014

Tenham vergonha!




Dar visibilidade mediática, apoiar desavergonhadamente, permitir cobertura institucional, e o mais que ainda por aí virá, a um indivíduo indiciado pela prática de um ato grave de benefício próprio ilegítimo, que ainda está, ao que se espera, em averiguação junto das entidades competentes, é mais uma pouca vergonha que nos deveria obrigar a repensar todo o sistema público, institucional, em que nos movemos.
O pretexto será sempre o da valorização da instituição, (que já sabemos não ter nada a ver com o caso) como se a instituição precisasse de ser valorizada, precisamente e sobretudo no momento em que ela é dirigida pelo protagonista em questão.

Tenham vergonha!

Agostinho Ribeiro

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Jardins Efémeros, 2014.*



Efémeras são todas as coisas da vida… Está na nossa natureza lidar com o transitório porque, precisamente, é nessa mesma transitoriedade que reganhamos a força e o entusiasmo para construir o novo; reinventamos modos de estar no mundo; voltamos a sonhar os velhos sonhos, mil vezes revistos, mil vezes reinterpretados, revisitados, modificados e, de novo, reapresentados em atos de genuína criação, puros, autênticos, sentidos, singulares ou coletivos, profundos… Como profundas devem ser as raízes que do chão fazem brotar as plantas dos jardins, nos jardins que todos os dias nos conseguem surpreender pela variedade das formas e beleza dos conteúdos. Em suma, é na efemeridade dos nossos atos que ganhamos o direito à perenidade!
Nestes jardins que agora tratamos, as formas são múltiplas, ousamos mesmo dizer que são tipologias, ao jeito diversificado, que os artistas usam nos seus percursos muito próprios de cada ato criador. Apelo aos sentidos, aos sentimentos certamente, mas também à reflexão em torno das causas maiores e dos valores que nos são caros, este ano transpondo as barreiras da imaterialidade e da invisibilidade para o plano do fazível, construindo tangibilidades como só as almas grandes o sabem fazer, que o mesmo é dizer, como só os criadores de arte (vulgo artistas) o sabem produzir e realizar. Para nosso deleite, para nosso encantamento, para nosso desassossego, para nosso bem…
Os jardins são criações dos humanos, na incessante busca da perfeição inalcançável de querer dialogar e interagir com a natureza, e com os outros... É a nossa própria perceção do belo, seja lá o que isso for, feito chão, refletida na mente e nas mãos dos jardineiros que os concebem e constroem para nós. Aqui, em Viseu, agora, um deles como resultado da ideia, do cuidado e da perseverança de uma admirável jardineira, que porfiadamente vai criando jardins efémeros de excelências, e já vamos no quarto ano de (seu) cultivo.
O Museu Grão Vasco tem todo o gosto em ser, também ele, cúmplice nestas intenções de sermos mais, e irmos mais longe, feito breve canteiro destes efémeros jardins, que se hão-de eternizar na memória de todos.
Agostinho Ribeiro

Diretor do Museu Grão Vasco

* Texto publicado na edição especial do Jornal do Centro, "Jardins Efémeros 2014".

terça-feira, 1 de abril de 2014

ICOM - Portugal, novos Corpos Gerentes.



Corpos Gerentes da Comissão Nacional Portuguesa do ICOM
para o triénio 2014-2017
Linhas Programáticas

Direcção
Presidente – José Alberto Ribeiro
Secretário – Joana Sousa Monteiro
Tesoureiro – Mário Nuno Antas
Vogal - Dália Paulo
Vogal - José Gameiro
 
Assembleia- Geral
Presidente - Clara Camacho
Vice-Presidente - Maria de Jesus Monge
1º Secretário – Ana Carvalho
2º Secretário - Pedro Pereira Leite
 
Conselho Fiscal
Presidente - Agostinho Ribeiro
Vogal - Alexandre Matos
Vogal - Manuel Oleiro
 
LINHAS PROGRAMÁTICAS 2014-2017

OBJECTIVOS:

  • Continuar a afirmação do ICOM PT como organização atenta e actuante às questões da museologia e da comunidade museológica em Portugal;
  • Afirmar a relevância dos profissionais de museologia;
  • Incentivar os processos de comunicação museológica em Portugal e no mundo Lusófono.
1. Para os profissionais de museus
 
Esta é a nossa linha programática prioritária, dado que o momento actual que os profissionais de museus portugueses atravessam requer uma atenção particular sobre as suas carreiras ou percursos, as possibilidades presentes de trabalho e as oportunidades futuras de desenvolvimento. No conjunto das funções museológicas e do seu cumprimento, as questões da gestão e dos recursos humanos impõem-se como as preocupações fundamentais na conjuntura presente, de forma a conseguirmos colocar os museus na agenda política e social.
 
Enquanto ONG especializada e independente, pretendemos reforçar o papel do ICOM PT como interlocutor privilegiado dos decisores políticos na defesa dos interesses e da credibilidade dos profissionais e dos museus. Queremos ainda promover a discussão dos assuntos da actualidade museológica, com vista a que as tomadas de decisão da Comissão Nacional Portuguesa do ICOM possam resultar de uma visão alargada dos profissionais dos diferentes museus que a compõem.
 
Pretendemos incentivar a realização de encontros, de debates, de palestras e de sessões práticas, não só sobre as grandes questões que influenciam os museus e os seus profissionais no nosso País, como também sobre assuntos técnicos relativos às especificidades das várias funções museológicas e tipologias de museus. É nossa intenção manter a realização anual das Jornadas da Primavera, num modelo descentralizado, com temáticas prementes e que espelhem as preocupações e necessidades dos profissionais. Assim como promover encontros técnicos, na senda dos Encontros de Outono, de forma a permitir a reflexão e a partilha de opinião entre profissionais de museus e outros técnicos.
 
Vamos dar continuidade ao programa de incentivos à participação de sócios em reuniões, encontros e conferências do ICOM. Queremos dar início a uma linha editorial para publicação de teses de doutoramento, possivelmente em colaboração com uma editora, porque consideramos ser uma carência no panorama nacional. Queremos igualmente fomentar o aumento de membros portugueses do ICOM para ganhar uma representatividade cada vez maior. Queremos, ainda, dar continuidade ao trabalho de organização interna e documental da última CNP do ICOM, valorizando a história do Comité Nacional e dos seus profissionais.
 
Promoveremos a participação dos membros dos Corpos Gerentes do ICOM PT em encontros nacionais e internacionais de forma a dar visibilidade à museologia nacional, regional e local, assim como tentaremos fazer uma articulação entre os vários intervenientes, de modo a reforçar a voz dos museus.
 
Por último, queremos também promover e dinamizar estudos, em parceria com o meio académico, em áreas de investigação sobre os museus e a museologia.
 
Queremos, ainda, dar continuidade ao trabalho de organização interna e documental da última CNP do ICOM, valorizando a história do Comité Nacional e dos seus profissionais.
 
2. Comissão Nacional e Comités Internacionais
 
Nesta linha programática é nossa intenção dar continuidade ao trabalho sério, rigoroso e atento da anterior CPN do ICOM, promovendo níveis de confiança e de credibilidade no plano nacional e internacional, junto do Conselho Executivo do ICOM e de outras comissões nacionais e comités internacionais.
 
É nosso desígnio promover o reforço da participação activa dos membros portugueses do ICOM nos comités internacionais, tanto através da sua presença nos respectivos órgãos dirigentes, como por meio da divulgação a nível nacional do trabalho mais relevante que aqueles comités desenvolvem e que é, certamente, do interesse de muitos dos profissionais nacionais.
 
Os membros da actual lista incluem profissionais com presença activa nos comités AFRICOM, CAMOC, CECA, CIDOC e DEMHIST. Comprometemo-nos a estender a pertença de outros membros dos corpos gerentes àqueles ou a outros comités internacionais, promovendo a interligação entre a comissão nacional e os comités internacionais, regionais e ainda grupos de trabalho especiais do ICOM, como o Blue Shield, já tentado desde 2008 mas sem concretização.
 
Dando seguimento ao trabalho realizado pelas anteriores comissões nacionais, queremos fomentar a realização de conferências anuais de comités internacionais do ICOM em diferentes pontos do nosso País, bem como de reuniões das suas direcções executivas, fomentando a partilha de conhecimento e a divulgação de experiências e realidades museológicas dentro de cada área científica e profissional que os comités internacionais representam.
 
3. Parceria e colaboração institucional
 
Nesta linha programática pretendemos dar atenção às questões nacionais e internacionais, reforçando as parcerias e a colaboração institucional com as várias  direcções e tutelas de museus, assim como dar máxima atenção e prioridade ao estreitamento dos laços institucionais com profissionais de museus de Países e Comunidades Lusófonas.
 
Em relação à Administração Central, que tem como missão definir a política museológica nacional, pretendemos continuar a ter uma presença activa na Secção de Museus da Conservação e Restauro e do Património Imaterial do Conselho Nacional da Cultura.
 
Por outro lado, relativamente à ligação institucional entre a CNP do ICOM e os Países e Comunidades Lusófonas, já iniciada pelas anteriores CNPs, pretendemos agora reforçar os laços com outros organismos que tenham influência directa nos museus desses Países e Comunidades, tais como as comissões nacionais do ICOM existentes ou em fase de criação em países da África e da Ásia, o AFRICOM, a CPLP, a UCCLA, entre outros.
 
O trabalho em parceria com a APOM, a Comissão Nacional do ICOMOS e outras associações de defesa do património, é, de igual modo, uma linha de acção a continuar na esteira do efectuado pela CNP anterior. Para além das instituições do sector, pretendemos desenvolver plataformas colaborativas com outras entidades na sociedade portuguesa para ampliar a ação do ICOM, tais como academias, associações ou institutos que actuem nas esferas várias por onde perpassa o trabalho museológico.
 
Outro dos nossos desígnios é a concretização de uma articulação regular e profícua entre a CNP do ICOM e as universidades e outras instituições de ensino, nomeadamente as que dispõem de unidades lectivas de museologia e património. Pretende-se que o ICOM PT possa ser um dos parceiros úteis no diálogo sobre questões prementes referentes à formação de recursos humanos, à sua empregabilidade, ou à formação ao longo da vida, bem como estimular os estudos académicos com interesse para a museologia em Portugal.
 
Será também contemplada a cooperação com grupos de profissionais dos múltiplos sectores de actuação dos museus, desde historiadores e historiadores de arte a arqueólogos, gestores da cultura a curadores de arte contemporânea, conservadores-restauradores a arquivistas, antropólogos a arquitectos, e ainda com os grupos de amigos dos museus e os grupos informais de cidadania que se pautem por princípios comuns de apoio às causas museológicas e patrimoniais.
 
É nossa intenção iniciar um trabalho de sensibilização na área da responsabilidade social e cultural das empresas, assim como um trabalho de sensibilização para o mecenato para as instituições museológicas. Trata-se de uma questão premente que poderá colocar os museus nas agendas e levar a uma mudança da Lei do Mecenato Cultural.
 
4. Comunicação e Divulgação
 
É nossa intenção reforçar a área da comunicação, de forma a que o ICOM PT tenha mais visibilidade entre os profissionais e disponha de ferramentas fáceis de entre-ajuda que facilitem o diálogo entre o ICOM e os museus, bem como entre os próprios museus.
 
Portugal tem um défice de publicações periódicas (e não só) na área da museologia, pelo que se pretende refrescar e dar continuidade ao Boletim ICOM, como instrumento fundamental de comunicação e de reflexão para os profissionais dos museus.
 
É nossa intenção reforçar a atualidade e a atualização do site do ICOM PT, tornando-o num espaço de partilha de informação sobre o que acontece a nível internacional na área da museologia e num portal de referência a nível nacional.
 
Queremos fomentar a participação da CNP do ICOM nas redes sociais, através da criação de uma página de Facebook que nos permita um diálogo regular e uma maior interação com os profissionais de museus. Nesta linha, pretendemos criar uma actividade para dar voz aos visitantes dos museus, um diálogo com o exterior que consideramos essencial para contrariar os deficitários índices de interesse e de visita a museus a nível nacional, apontados no último relatório europeu “Cultural Access and Participation” (Novembro 2013) e para o qual não podemos ficar indiferentes.
 
Pretendemos continuar a ligação do ICOM PT ao Dia Internacional dos Museus, enquanto momento de divulgação único dos inúmeros trabalhos realizados nos museus, da sua originalidade, força criativa e de coesão social. Para isso iremos trabalhar na concretização de uma parceria com um órgão de comunicação social nacional que durante o mês de maio dê especial atenção aos museus.
 
Pretendemos, ainda, dar utilização à plataforma internética que o ICOM criou, o ICOMMUNITY.

quinta-feira, 27 de março de 2014

“Museus: as coleções criam conexões” *



I

Que conexões conseguimos criar?

Encontramo-nos na fase final do processo de contatos com as diversas entidades públicas e privadas da cidade e região de Viseu.
Grosso modo, estes contatos serviram para uma apresentação informal de cumprimentos, como mandam as regras da boa educação institucional, e do protocolo que prezamos respeitar, para além de procedermos à análise mais circunstanciada da situação existente nas relações bilaterais que vamos mantendo com cada uma destas entidades.
O resultado não podia ser mais positivo, uma vez que se traduziu em mais de três dezenas de contatos estabelecidos, tomando consciência de que muitas destas importantes parcerias assentaram em planos informais e avulsos de colaboração, e que agora entendemos necessário que se valorizem e revitalizem, através da assinatura de protocolos específicos, com o intuito de regulamentar e normalizar tais relações.
Aliás, no ano em que o ICOM, Conselho Internacional dos Museus, estabelece como tema central das comemorações do Dia Internacional dos Museus e, por extensão, como temática fulcral do ano que corre, a lúcida constatação de que “as coleções criam conexões”, nada melhor que dar amplitude concetual a esta legenda, e projetar tais relações, ou conexões, no grande desiderato funcional que vai muito para além do sentido, mais contido, que damos às relações promovidas pelo acervo museológico, “tout court”, de que somos fiéis depositários.
E é aqui que voltamos sempre à pergunta primeira, na certeza de nunca a sabermos responder integralmente – para que serve um museu? Neste caso concreto, para que serve o nosso Museu, se para além de (salva)guardar um património artístico de eleição, não procura permanentemente dar visibilidade a tais coleções e, por via dessa procura, não contribui para o enriquecimento individual e coletivo da sociedade que serve…?


II

Que sentido tem sermos mais do que somos?

A questão é sempre pertinente. Se o sentido utilitário das coleções, no plano da mera fruição hedonística, transporta consigo uma parte essencial da razão de ser do museu, ou melhor, das coleções que fazem o museu, então será sempre importante não nos esquecermos que as coleções a todos servem, porque a todos toca, de forma mais intelectualizada ou mais sensorial, consoante o que sabemos e o que somos, nos planos da mundividência em que cada um de nós se situa… A todos, não por igual, porque todos somos indivíduos diferenciados, na igualdade de sermos humanos, mas de forma desigual, porque devemos perceber que esse tal direito a ser diferente é, ou deve ser, intrínseco à nossa construção do bem social comum!
“Museus – as coleções criam conexões”… Num convite para o olhar atento ao cartaz destas comemorações, verificamos quanta riqueza de conceitos, de valores, de comportamentos, de descobertas, de atitudes, de resultados, nós podemos encontrar ao olhar para uma peça, para uma coleção, ou até mesmo para alguém que, ao nosso lado, as olha também com o seu olhar especial de ser, precisamente, igual a nós no direito de olhar, e diferente do nosso, no direito de as interpretar e fruir segundo os padrões que lhe serão próprios!
Portanto, a 18 de maio, mas também e tanto no antes, como no depois, o nosso Museu Grão Vasco continuará a criar conexões, por reforço às existentes, e continuará a construir novas parcerias e relações, através das quais pretendemos atingir maiores e mais diversificados públicos, precisamente porque cada instituição ou entidade representam e significam diferentes beneficiários na fruição do nosso magnífico património artístico.
Que permanentemente convidamos a (re)visitar…!
Obrigado.

Agostinho Ribeiro

* Texto retirado da página facebook do Museu Grão Vasco, intitulado A Palavra ao Diretor | 02.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O Museu Grão Vasco *


Ao iniciarmos um novo ciclo na vida desta nossa instituição de cultura viseense, assiste-me o grato prazer de partilhar, com todos os amigos e colaboradores do Museu Grão Vasco, algumas considerações que considero oportunas fazer neste momento, para memória futura.
São breves estas primeiras notas, e elas resultam da necessidade que, hoje em dia, todas as instituições públicas têm de prestar informação aos cidadãos que as suportam, por razões de transparência e rigor no exercício das nossas obrigações funcionais, tanto mais que se trata de expressar, junto da comunidade que servimos, os nossos propósitos de levar a bom termo os projetos culturais que pretendemos realizar ao longo dos próximos anos.
Mas antes de mais, e até porque somos uma entidade que valoriza, por definição, o passado (que pretendemos manter sempre presente), nas suas múltiplas e diversas componentes, não podíamos deixar de expressar publicamente o nosso reconhecimento pelo excelente trabalho desenvolvido pelo anterior diretor do Museu Grão Vasco, o Dr. Sérgio Gorjão, que emprestou a esta casa, e à causa museológica nacional, todo o seu saber e competência técnica e científica a favor da realização dos diversos projetos que deram sentido e projeção à vida do Museu Grão Vasco durante estes últimos anos.
Esforçado, sistemático, rigoroso e perseverante, com uma perceção muito clara de que os Museus não vivem apenas do fogacho momentâneo e fugaz de um qualquer mediatismo que nos catapulta para as páginas dos jornais, apenas e somente porque estamos a fazer o que devemos fazer (e quantos o fazem sem a preocupação das luzes permanentes dessa ribalta, tantas vezes motivada por propósitos esconsos), Sérgio Gorjão desenvolveu um profícuo trabalho de organização interna dos nossos serviços, de gestão dos nossos espaços técnicos e de um bem fundamentado e sustentado conjunto de atividades, que muito projetaram para o exterior a riqueza, o valor, a importância e o significado da nossa instituição museológica e, por via disso, afirmando o Museu como uma instituição incontornável no panorama cultural da nossa urbe.
Em perfeita sintonia e interlocução com os cidadãos que entenderam beneficiar dos nossos serviços, devemos ainda acrescentar.
Por isto, e pelo muito mais que seria fastidioso aqui e agora enumerar, deixamos publicamente expresso o nosso bem-haja por tudo o que fez à frente dos destinos do Museu Grão Vasco.
É claro, por outro lado, que nenhum destes propósitos e realizações seriam possíveis sem o permanente empenho, dedicado e zeloso, de uma equipa de colaboradores do museu que, no dia-a-dia desta instituição, tudo fazem para que o Museu Grão Vasco se engrandeça no desígnio missionário e, engrandecendo-se, engrandeça também a cidade e a região que servimos e a que pertencemos – Viseu!
A esta equipa de colaboradores do Museu Grão Vasco, expressamos também o reconhecimento por tudo o que têm vindo a fazer, no exercício exemplar das suas funções profissionais, e na certeza de que tais procedimentos e desempenho terão a sua continuidade normal, como todos pretendemos e desejamos que aconteça.
É, pois, chegada a hora de iniciarmos uma nova fase na vida do nosso Museu, que continuará igual a si mesmo em tudo quanto represente, signifique e valorize as boas práticas museológicas e museográficas; técnicas e científicas; éticas e deontológicas, procurando as melhores soluções para os velhos problemas que ainda nos afetam operativamente, mas agora projetando o seu desígnio maior para o ano centenário que se avizinha – 2016.
Mas sobre isso, teremos tempo e oportunidade de refletir em conjunto, num processo de partilha com as pessoas e com as instituições públicas e privadas que assim o desejarem fazer.
Da nossa parte, apenas queremos deixar, para já, um registo público de apreço pelo muito que já se fez pelo Museu Grão Vasco, e pelo muito que ainda se fará a seu favor, que o mesmo é dizer, a favor de todos nós, porque o Museu Grão Vasco é uma casa de cultura onde todos têm lugar, por direito próprio e inalienável de cidadania.
Obrigado.
Agostinho Ribeiro

* Texto retirado da página facebook do Museu Grão Vasco, intitulado A Palavra ao Diretor | 01.