Efémeras são todas as coisas da
vida… Está na nossa natureza lidar com o transitório porque, precisamente, é
nessa mesma transitoriedade que reganhamos a força e o entusiasmo para
construir o novo; reinventamos modos de estar no mundo; voltamos a sonhar os
velhos sonhos, mil vezes revistos, mil vezes reinterpretados, revisitados, modificados
e, de novo, reapresentados em atos de genuína criação, puros, autênticos,
sentidos, singulares ou coletivos, profundos… Como profundas devem ser as
raízes que do chão fazem brotar as plantas dos jardins, nos jardins que todos
os dias nos conseguem surpreender pela variedade das formas e beleza dos
conteúdos. Em suma, é na efemeridade dos nossos atos que ganhamos o direito à
perenidade!
Nestes jardins que agora
tratamos, as formas são múltiplas, ousamos mesmo dizer que são tipologias, ao
jeito diversificado, que os artistas usam nos seus percursos muito próprios de
cada ato criador. Apelo aos sentidos, aos sentimentos certamente, mas também à
reflexão em torno das causas maiores e dos valores que nos são caros, este ano
transpondo as barreiras da imaterialidade e da invisibilidade para o plano do
fazível, construindo tangibilidades como só as almas grandes o sabem fazer, que
o mesmo é dizer, como só os criadores de arte (vulgo artistas) o sabem produzir
e realizar. Para nosso deleite, para nosso encantamento, para nosso
desassossego, para nosso bem…
Os jardins são criações dos
humanos, na incessante busca da perfeição inalcançável de querer dialogar e interagir
com a natureza, e com os outros... É a nossa própria perceção do belo, seja lá
o que isso for, feito chão, refletida na mente e nas mãos dos jardineiros que os
concebem e constroem para nós. Aqui, em Viseu, agora, um deles como resultado da
ideia, do cuidado e da perseverança de uma admirável jardineira, que
porfiadamente vai criando jardins efémeros de excelências, e já vamos no quarto
ano de (seu) cultivo.
O Museu Grão Vasco tem todo o
gosto em ser, também ele, cúmplice nestas intenções de sermos mais, e irmos
mais longe, feito breve canteiro destes efémeros jardins, que se hão-de
eternizar na memória de todos.
Agostinho Ribeiro
Diretor do Museu Grão Vasco
* Texto publicado na edição especial do Jornal do Centro, "Jardins Efémeros 2014".
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