quinta-feira, 31 de maio de 2007

Museus de Território (2)



Um arreliador lapso técnico truncou-me o artigo da semana passada, omitindo os dois últimos parágrafos do mesmo.
Como estarão recordados, discorria eu sobre a formulação do conceito de museu de território, e seus principais protagonistas, à escala mundial, abordando esta problemática museológica numa perspectiva tão simples quanto possível, para evitar aborrecer os leitores com detalhes excessivos de natureza histórica e tecnicista, que se não enquadram no espírito destes artigos de opinião.
Tentarei agora concluir a expressão do meu entendimento sobre o assunto, sendo certo que o faço num contexto de alguma efervescência intelectual que, a propósito do Museu da Região do Douro, tem vindo a ser debatido no seio da região duriense.
Retomando, portanto, o fio à meada, devo começar por enunciar um conjunto de personalidades que têm dado o seu especial contributo para a formatação, diria universal, deste conceito de museu de território, na sequência do que já foi por mim explanado anteriormente.
Para além de Georges Henri Rivière e Hugues de Varine (França), os genuínos pais e fundadores deste tipo de museus, podemos referenciar um sem número de personalidades, como Mário Vasquez (México), Jon Gjestrum (Noruega), Lourdes Horta (Brasil) ou V.H. Bedekar (Índia), Pierre Mayrand (Canadá), Per-Uno Agren (Suécia) ou Maurizio Maggi (Itália), António Nabais e Graça Filipe, Clara Camacho, Mário Moutinho e Cláudio Torres (Portugal), entre tantos outros, que constituem nomes de referência na construção e formulação de conceitos inovadores, construídos em torno de diversas e ricas experiências museológicas do género, à escala nacional e internacional.
 Estes contributos, que já fazem parte da história da museologia, permitem-nos, assim, constatar que o conceito de museu de território não é propriedade intelectual singular, exclusiva de uma só personalidade, nem tão-pouco a característica típica de uma única realidade museológica, seja ela qual for. E se não o é no plano da elaboração de um corpo teórico que o sustenta, muito menos o é na edificação de novas estruturas museológicas inseridas nesta tipologia, uma vez que partem para a acção com o conforto de um tirocínio baseado nas importantes experiências já fortemente implantadas no terreno, e em pleno desenvolvimento.
Por tudo isto, não deixa de ser abusiva a tentativa de fazer passar a “ideia” de que o conceito do Museu da Região do Douro, enquanto museu de território, estará posto em causa com a saída do Professor Gaspar Martins Pereira do cargo de director deste Museu. Esta postura intelectual, que já li em vários escritos que abordam o assunto, ou é resultado de uma profunda ignorância dos saberes museológicos, ou é conscientemente assumida para colocar em maior crise a imagem deste projecto colectivo. Inclino-me para a conjunção destes dois elementos.
É que não podemos esquecer, mesmo analisando o projecto do Museu do Douro no contexto exclusivo da sua construção teórica e operativa, que este conceito já estava plasmado na lei que o criou (1997); foi formatado conceptualmente por uma Comissão Instaladora (1998/1999); foi defendido por muita gente nos anos da crise (2000/2002); foi transposto para o terreno na vigência da Estrutura de Projecto (2002/2004); e mantido “vivo” pela Associação dos Amigos do Museu do Douro e pela Delegação Regional da Cultura do Norte, até à instituição da Fundação do Museu do Douro (2004/2006).
Nomear aqui todas as pessoas que ao longo deste penoso percurso já contribuíram para esta causa é correr o risco de ser injusto para com demasiados protagonistas, sem prejuízo de todos reconhecerem que, a partir de 1998, uma das personalidades importantes e decisivas em todo este processo foi a do Professor Gaspar Martins Pereira. Mas todos os outros contributos, e foram muitos, não deixaram de ser, também eles, decisivos para esta causa comum e todos, sem excepção, jamais puseram em risco ou em crise a natureza territorial deste Museu.
Constitui portanto um verdadeiro acto público de má-fé a utilização indevida deste argumento, apenas e tão simplesmente pelo facto de não corresponder à verdade, reduzindo-se a uma mera afronta de baixo nível contra todos os restantes contribuintes activos desta causa colectiva.
Não serve como argumento e lança a confusão no espírito dos mais desatentos, o que não é nada abonatório para quem o esgrime. Em todo o caso, não deixa de ser elucidativo sobre a índole dos seus autores.

Agostinho Ribeiro

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