Um arreliador
lapso técnico truncou-me o artigo da semana passada, omitindo os dois últimos
parágrafos do mesmo.
Como estarão
recordados, discorria eu sobre a formulação do conceito de museu de território,
e seus principais protagonistas, à escala mundial, abordando esta problemática
museológica numa perspectiva tão simples quanto possível, para evitar aborrecer
os leitores com detalhes excessivos de natureza histórica e tecnicista, que se
não enquadram no espírito destes artigos de opinião.
Tentarei agora
concluir a expressão do meu entendimento sobre o assunto, sendo certo que o
faço num contexto de alguma efervescência intelectual que, a propósito do Museu
da Região do Douro, tem vindo a ser debatido no seio da região duriense.
Retomando,
portanto, o fio à meada, devo começar por enunciar um conjunto de
personalidades que têm dado o seu especial contributo para a formatação, diria
universal, deste conceito de museu de território, na sequência do que já foi por
mim explanado anteriormente.
Para além de
Georges Henri Rivière e Hugues de Varine (França), os genuínos pais e
fundadores deste tipo de museus, podemos referenciar um sem número de
personalidades, como Mário Vasquez (México), Jon Gjestrum (Noruega), Lourdes
Horta (Brasil) ou V.H. Bedekar (Índia), Pierre Mayrand (Canadá), Per-Uno Agren
(Suécia) ou Maurizio Maggi (Itália), António Nabais e Graça Filipe, Clara
Camacho, Mário Moutinho e Cláudio Torres (Portugal), entre tantos outros, que constituem
nomes de referência na construção e formulação de conceitos inovadores,
construídos em torno de diversas e ricas experiências museológicas do género, à
escala nacional e internacional.
Estes contributos, que já fazem parte da
história da museologia, permitem-nos, assim, constatar que o conceito de museu
de território não é propriedade intelectual singular, exclusiva de uma só personalidade,
nem tão-pouco a característica típica de uma única realidade museológica, seja
ela qual for. E se não o é no plano da elaboração de um corpo teórico que o
sustenta, muito menos o é na edificação de novas estruturas museológicas
inseridas nesta tipologia, uma vez que partem para a acção com o conforto de um
tirocínio baseado nas importantes experiências já fortemente implantadas no
terreno, e em pleno desenvolvimento.
Por tudo isto,
não deixa de ser abusiva a tentativa de fazer passar a “ideia” de que o
conceito do Museu da Região do Douro, enquanto museu de território, estará
posto em causa com a saída do Professor Gaspar Martins Pereira do cargo de director
deste Museu. Esta postura intelectual, que já li em vários escritos que abordam
o assunto, ou é resultado de uma profunda ignorância dos saberes museológicos,
ou é conscientemente assumida para colocar em maior crise a imagem deste
projecto colectivo. Inclino-me para a conjunção destes dois elementos.
É que não
podemos esquecer, mesmo analisando o projecto do Museu do Douro no contexto
exclusivo da sua construção teórica e operativa, que este conceito já estava
plasmado na lei que o criou (1997); foi formatado conceptualmente por uma Comissão
Instaladora (1998/1999); foi defendido por muita gente nos anos da crise
(2000/2002); foi transposto para o terreno na vigência da Estrutura de Projecto
(2002/2004); e mantido “vivo” pela Associação dos Amigos do Museu do Douro e
pela Delegação Regional da Cultura do Norte, até à instituição da Fundação do
Museu do Douro (2004/2006).
Nomear aqui
todas as pessoas que ao longo deste penoso percurso já contribuíram para esta
causa é correr o risco de ser injusto para com demasiados protagonistas, sem
prejuízo de todos reconhecerem que, a partir de 1998, uma das personalidades
importantes e decisivas em todo este processo foi a do Professor Gaspar Martins
Pereira. Mas todos os outros contributos, e foram muitos, não deixaram de ser,
também eles, decisivos para esta causa comum e todos, sem excepção, jamais
puseram em risco ou em crise a natureza territorial deste Museu.
Constitui
portanto um verdadeiro acto público de má-fé a utilização indevida deste
argumento, apenas e tão simplesmente pelo facto de não corresponder à verdade,
reduzindo-se a uma mera afronta de baixo nível contra todos os restantes
contribuintes activos desta causa colectiva.
Não serve como
argumento e lança a confusão no espírito dos mais desatentos, o que não é nada
abonatório para quem o esgrime. Em todo o caso, não deixa de ser elucidativo
sobre a índole dos seus autores.
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