Os museus de
território podem ser considerados como construções teóricas relativamente
recentes, no contexto da história da museologia, uma vez que as suas origens
programáticas surgiram já em finais do séc. XIX, tendo como base de inspiração as
exposições universais que se realizaram nesse século, sobretudo a partir da
Exposição Universal de Paris, realizada em 1867.
Não tenho aqui
espaço para discorrer sobre a relação que se pode estabelecer entre estas
exposições universais e a construção do conceito de museu de território, e da
ecomuseologia, termo que também se utiliza para identificar museus desta
natureza, entre muitos outros que seria fastidioso aqui enumerar. Tive
oportunidade de dedicar um capítulo inteiro da minha tese de Mestrado a esta
problemática dos museus de território, já que o tema da minha dissertação foi,
precisamente, “Um Museu para a Região do
Douro: Fundamentos e proposta de Organização” (Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra, Abril de 2002).
Em todo o caso
convém fixar a noção de que os verdadeiros inventores deste novo conceito tipológico
de museu são os museólogos Georges Henri Rivière e Hugues de Varine, tendo
aquele concebido o Musée des Arts et
Traditions Populaires, e sido o fundador da Société d’Ethnologie Française, e este enquanto extraordinário
investigador na área das ciências sociais, a partir da enorme experiência que
acumulou em torno das problemáticas do desenvolvimento comunitário, que o
ecomuseu de Creusot-Montceau lhe
haveria de proporcionar.
Por todo o
mundo podemos encontrar, hoje em dia, variadíssimas experiências museológicas no
campo desta nova realidade de museus, que os franceses gostam de apelidar como
“musées de société”, já que se
procura actualmente sincretizar um sem número de designações díspares para
identificar realidades idênticas ou muito próximas e similares. São museus que,
independentemente da sua designação, estão especificamente vocacionados para a
representação de uma dada população, num âmbito territorial específico, fazendo
sobressair os traços fundamentais que caracterizam a natureza e a essência
dessa mesma comunidade, diferenciando-a das demais, num processo evolutivo de
permanente descoberta e construção, em simultâneo, da sua própria identidade
cultural.
De tal forma esta
nova realidade museológica adquiriu significado e expressão, à escala mundial,
que existe mesmo uma sua estrutura representativa, afiliada no ICOM, e que se
designa por MINOM – Movimento para a Nova
Museologia, cujos objectivos programáticos se podem sintetizar no esforço
reflexivo para a melhor interpretação destas novas realidades, e de contribuir
para a divulgação desta recente tipologia de museus.
Estes novos
museus têm, como atributos específicos, a sua capacidade especial de nos
traduzirem novos olhares sobre os objectos, convidando-nos a repensar toda a
museografia tradicional, para que possamos reinterpretar a história do
território que serve e representa, na perspectiva do desenvolvimento
sócio-económico das suas populações, aqui percebidas como agentes activos e
dinâmicos na construção das suas próprias realidades materiais e imateriais.
Aliás, é fundamental sublinhar que, na sua relação com a museologia
tradicional, esta nova museologia reinventa alguns dos conceitos mais caros à
museologia clássica, contrapondo com outros de natureza complementar – ao
conceito clássico de colecção
contrapõe-se o de património, ao edifício contrapõe-se o território e ao público contrapõe-se a comunidade.
Para além de
Georges Henri Rivière e Hugues de Varine (França), os genuínos pais e
fundadores deste tipo de museus, um sem número de personalidades, como Mário
Vasquez (México), Jon Gjestrum (Noruega), Lourdes Horta (Brasil) ou V.H.
Bedekar (Índia), Pierre Mayrand (Canadá), Per-Uno Agren (Suécia) ou Maurizio
Maggi (Itália), António Nabais e Graça Filipe, Clara Camacho, Mário Moutinho e
Cláudio Torres (Portugal), entre tantos outros, constituem nomes de referência
na construção e formulação de conceitos em torno de diversas experiências
museológicas deste género, à escala nacional e internacional.
Estes contributos permitem-nos, assim,
constatar que o conceito de museu de território não é propriedade intelectual
singular, exclusiva de uma só personalidade, nem tão-pouco a característica
típica de uma única realidade museológica.
Sem comentários:
Enviar um comentário