quinta-feira, 3 de maio de 2007

O pródigo gestor e a queda do mito (3).



Darei hoje por concluída a minha análise ao relatório de gestão de contas referentes ao ano económico de 2006, do Município Lamecense, para não incomodar em excesso os meus leitores, uma vez que muito mais se poderia e deveria dizer a propósito destes documentos, cuja interpretação consideramos fundamentais para percebermos os propósitos deste executivo camarário.
No capítulo das despesas, e dos investimentos que lhe são inerentes, podemos constatar que este executivo cumpriu em 85,69% a sua previsão orçamental, no que toca às despesas correntes, mas quedou-se por uns pobres 27,74% na sua capacidade executória ao nível do investimento, já que se ficou pelos 7.187.147,25 € de despesa de capital efectivamente concretizada. Isto significa que gastou demais, em modesto entender, nas áreas em que devia gastar menos, e investiu de menos nas áreas onde devia investir mais.
Para quem se propunha investir mais de 25 milhões de euros (dotação corrigida) não haja dúvida que esta gestão apenas pode ser considerada como a pior de sempre que alguma vez passou pela Câmara de Lamego. Sem apelo nem agravo!
Para quem esteja menos atento, convém ainda dizer que em 2005 foram executados investimentos cujo grau de execução, em relação ao previsto, ultrapassou os 41%, o que nos dá uma ideia bem segura de quem é mais rigoroso e sério nestas questões da gestão financeira e da respectiva execução orçamental dos dinheiros que são de todos de nós.
E quanto aos que esgrimem a quantidade de obras que por aí andam a ser propaladas, devo dizer que ninguém porá em causa a necessidade ou a importância das mesmas, se elas um dia se vierem efectivamente a concretizar, mas em relação ao que se vê, por agora, apenas podemos afiançar que a sua esmagadora maioria já vinham a ser preparadas pelo anterior executivo. Se o actual poder lhes deu seguimento, só temos todos que rejubilar com tal atitude, e não fazermos de conta que nada se fez no passado, o que é uma grande injustiça, porque todos sabemos que muita obra foi realizada, ainda que pouco ou nada explorada em termos mediáticos.
Mas o que nos deve preocupar neste momento é sabermos se a Câmara tem ou não capacidade financeira para assumir os encargos decorrentes das obras que tem vindo a lançar nestes últimos tempos, porque não há pior para a imagem de credibilidade e seriedade de um Município que o não cumprimento dos compromissos assumidos perante os seus fornecedores, sejam eles de bens ou serviços.
Neste particular, recordo-me bem das permanentes críticas que fizeram ao anterior executivo, e agora demonstram-nos que não só não corrigiram esses desvios como ainda os agravaram, e muito, em desabono da boa imagem que a Câmara de Lamego ainda ia tendo junto dos seus fornecedores.
Pergunto a todos os que se interessam e se preocupam minimamente pela boa imagem de Lamego, como é possível que, passados apenas dois meses de execução orçamental, em 2007, e esta Câmara já tenha mais de 19 milhões de compromissos assumidos e não pagos, quando em finais de 2006 tais compromissos não chegavam aos 12 milhões? Sete milhões em apenas dois meses de execução orçamental? Impossível, diremos todos, a não ser que os acasos da gestão tenham feito cair, logo por azar, tanta facturação em Janeiro e Fevereiro de 2007. Para bom entendedor…
É que, se somarmos estes 19 milhões de compromissos assumidos aos mais de 10 milhões de despesas correntes obrigatórias para 2007, facilmente concluiremos que as despesas globais irão ultrapassar os 30 milhões de euros no corrente ano económico, sendo certo que as receitas, a estimar pelos resultados dos anos anteriores, não ultrapassarão os 20 milhões…
E ainda nem sequer estamos a equacionar os célebres “factorings” e outros devaneios políticos, como será o da construção do pavilhão multiusos que pretendem para a nossa cidade, cujo custo nunca será inferior a 10 milhões de euros, calculado muito por baixo, para uma rentabilidade mais que duvidosa, mesmo numa perspectiva de gestão não lucrativa.
Se a lei obrigasse o senhor Eng. Francisco Lopes, e restantes membros que lhe são institucionalmente solidários, a assumir pessoalmente os prejuízos futuros decorrentes da manutenção de uma infra-estrutura desta natureza, ainda que em pequena percentagem do investimento decidido e por alguns anos subsequentes ao seu funcionamento, e talvez estes senhores pensassem duas vezes antes de se meterem em aventuras de nefastas consequências para o bolso e para a vida de todos nós.
Mas já se está mesmo a ver que estes senhores, depois, meterão as mãos nos bolsos e assobiarão para o lado, como se nada fosse com eles, largando para outras paragens…
Os que cá ficarem que o paguem, não é verdade?

Agostinho Ribeiro

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