quinta-feira, 10 de maio de 2007

Santos da casa…



Confesso que começo a ficar deveras desiludido com algum provincianismo atávico que se vai descortinando no nosso próprio seio, a fazer prova da secular tendência que, pelos vistos, temos bem interiorizada, de sobrevalorizar em excesso o que vem de fora e menosprezar inadequadamente as capacidades e as competências próprias dos nossos melhores.
Não deve haver zona do País que viva tão intensa, quanto despropositadamente, essa pequenez rancorosa, que me faz pensar sobre as razões que têm levado tanta boa gente, capaz e competente, a procurar noutras paragens as condições ideais para exercitarem os seus talentos, que não entre nós, por manifesto desajuste intelectual e completo desconforto material para com a realidade social vigente.
Tenho a impressão que em lado nenhum, como cá, se deve aplicar com tanta propriedade o velho ditado que nos afiança que “santos da casa não fazem milagres”, porque temos entranhado em nós a desconfiança visceral pelo vizinho que foi mais longe que nós, passando a ser prioridade absoluta destrui-lo e fazê-lo descer ao nosso mais baixo nível, em vez de tentarmos a nossa própria superação, esforçando-nos por ascender ao estádio a que esse vizinho se conseguiu alcandorar.
O que é de fora é que é bom! O que temos cá dentro não presta! Aplaudamos servil e incondicionalmente quem, com boas intenções ou desprovido delas, nos vem mostrar ou apontar os caminhos do progresso e do bem-estar social, económico e cultural, transformando-nos assim em simples amanuenses, reconhecidos perante tanta boa vontade, para nosso descanso absentista e eterna gratidão, obrigada e rastejante!
Como em tudo, também aqui há excepções, e algumas delas até muito honrosas. É certo também que não podemos nem devemos generalizar, porque se é este o nosso genérico destino colectivo, recuso-me a aceitá-lo, já que estou seguro de termos tantas capacidades como os restantes, sobretudo quando vamos verificando que afinal muitos desses messiânicos salvadores que por aqui aportam, não passam de falsos mitos com pés de barro.
Veja-se o que está a acontecer presentemente em Lamego, para termos a noção clara desta realidade deprimente!

E por falar nesta triste realidade de Lamego, quero deixar aqui publicitado que o senhor Presidente da Câmara de Lamego, Eng. Francisco Lopes, intentou uma acção judicial contra mim, acusando-me de difamação e calúnia em quatro artigos que escrevi neste jornal. Como testemunhas de acusação nomeou todos (e apenas) os seus sequazes políticos que, com ele, partilham as responsabilidades executivas, por eleição ou nomeação política.
Terá usado os dinheiros públicos para intentar esta acção contra mim, ou fê-lo a expensas próprias? Era bom que as custas referentes a este processo fossem pagas por ele, e não com os dinheiros da Câmara, já que me custa estar a custear uma parcela dessa despesa em processo que aquele senhor moveu contra mim. E digo isto porque os dinheiros da Câmara são de todos nós, e não devem ser usados em benefício pessoal!
Devo ainda acrescentar que não prestei quaisquer declarações quando fui chamado a pronunciar-me sobre tais acusações, tendo-me sido agora comunicado que o Ministério Público mandou arquivar o processo por não encontrar nesses artigos nenhum ilícito criminal.
A ideia devia ser a de tentarem fazer com que eu me sentasse no banco dos réus, para depois propalarem aos quatro ventos que, afinal, também eu era arguido em processos de ilicitude criminal… Imaginem portanto até onde vai o atrevimento e o descaramento destes senhores…!
Correu-lhes mal o intento, mas pelo que tenho vindo a constatar sobre o carácter destes senhores, estou certo que ainda não foi desta que ganharam um pouco de vergonha!

Agostinho Ribeiro

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