I
Passados que foram 10 meses sobre
a minha substituição na direção do Museu de Lamego, substituição essa
que se mantém atualmente apenas porque em Portugal o compadrio político é
aceite como “coisa” normal e natural, em vez de ser repudiada e rejeitada por todos, como ato
pestilento que de facto é, ainda que ao coberto da lei propositadamente assim
elaborada para o permitir;
E passados que também foram 7 meses
sobre o tempo em que o imprescindível concurso público para a direção do Museu
de Lamego já deveria ter ocorrido, e que ainda não ocorreu apenas porque em
Portugal as situações de “favor” parecem sempre prevalecer sobre a
preocupação pelo integral cumprimento da lei, na parte imparcial e exigente em que
a mesma se encontra formatada;
E ainda passados que foram já 4 meses
do tempo em que a mesma lei ainda vai admitindo a imoralidade das prorrogações
de prazos por razões extraordinárias que se não vislumbram, nem em lado algum
são enunciadas, e que portanto não deveriam constituir entrave para que os
princípios fundamentais ínsitos na Constituição da República Portuguesa se afirmem,
se respeitem e se cumpram na sua plenitude;
Ou seja, passado este tempo todo em
que estamos sujeitos ao exercício de um poder legalmente precário e moralmente
indigno, começamos agora a estar em condições de tecer algumas considerações políticas
sobre a natureza e o caráter dos serviços e pessoas responsáveis pela gestão da
mais importante e emblemática instituição de arte e cultura de Lamego, e de
toda a região duriense, pelo protagonismo missionário, ou falta dele, que se
pode perceber no exercício de tais funções.
II
Desde 4 de agosto de 2012 até ao
presente dia algumas alterações se verificaram na vida desta instituição, sendo
que a maioria das que se verificaram foram pequenas em tudo, sobretudo porque
nos demonstram a diminuta dimensão dos objetivos globais que se pretendem
atingir; a ausência de uma estratégia adequada e dimensionada para a grandeza
da entidade cultural que se serve; e finalmente pela mesquinhez dos atos técnicos
produzidos com nenhuma outra intenção que não seja a de omitir o passado
recente da instituição, em atropelo descarado aos valores da moral, da ética e
da seriedade públicas.
Em suma, uma completa e total
desonestidade política e intelectual, que deveria obrigar à demissão de quem a concebe e
executa, e à vergonha de quem a apoia e suporta, direta ou indiretamente, por ação
ou omissão.
Assistimos, portanto, no Museu de Lamego, à consumação de uma
postura fortemente criticável, quando analisada de todos os pontos de vista possíveis (técnico, científico, gestionário, político e deontológico), com o conforto indecoroso do apoio que a Direção Regional de Cultura do Norte lhe
concede, ao admitirem ambas (mesmo depois das oportunas reclamações formais por
mim apresentadas), que os textos sobre o Museu de Lamego constantes nos sites
tanto da Direção Regional de Cultura do Norte como do próprio Museu de Lamego,
estejam redigidos de forma a omitir propositadamente o verdadeiro autor
intelectual dos primeiros e a escamotear propositadamente as duas últimas
décadas de vida do Museu de Lamego, no que ao segundo diz respeito.
Quanto ao primeiro caso, já eu
tinha alertado para esta grosseira ausência de honestidade intelectual, por intermédio
de um escrito meu, publicado neste mesmo blogue (Vale a pena tocar assim o rabecão…?, de 25 de setembro de 2012) e em
resultado do qual, para além de uma pequena correção em abono da verdade
histórica, nada mais aconteceu que pudesse colmatar a grave falha de natureza
intelectual e científica de se não evidenciarem as fontes inspiradoras de tal
texto, a saber, os textos públicos de investigação sobre história local, produzidos
pelo saudoso Dr. Francisco J. Laranjo.
Já quanto ao texto que podemos
encontrar no site do Museu de Lamego, onde a História desta instituição de
cultura se transfigura desonestamente numa história (redutora e parcelar) das
obras no edifício, da responsabilidade da antiga Direcção Geral dos Edifícios e
Monumentos Nacionais, para assim se omitir deliberadamente a verdadeira
História do Museu de Lamego dos últimos 20 anos da sua existência, traduz de
novo a mesquinhez e a desorientação de quem, estando ao serviço de uma entidade
pública, não lhe é conferido qualquer direito arbitrário de censurar, por
omissão consciente e assumida, seja que período for da sua história e da sua
quase secular existência.
III
Já em matéria de substância programática,
o que se vai adivinhando pela interpretação dos indícios materiais que se
descortinam, apenas nos pode suscitar imensas preocupações, desde logo pela
quase completa ausência de informação sólida sobre o que se pretende para os
próximo anos desta instituição, apenas percetível pelo ocorrido até ao momento, através
de iniciativas sem qualquer ligação estratégica à comunidade onde o Museu se
insere, muitas delas sem qualquer ligação lógica à própria entidade museológica
que as recebe. Tudo isto numa completa ausência de planeamento visível que não
seja o do casuístico e banal aproveitamento de ofertas díspares e desgarradas, que
vão fazendo a redutora programação do Museu de Lamego, salvaguardadas as sempre
honrosas exceções que, como é evidente, também existem.
Isto para não aprofundarmos a
total irresponsabilidade cometida num dos últimos eventos realizados no Museu
de Lamego que, pela gravidade do ato, apenas deveria ter como consequência, em
modesto entender, o afastamento imediato de quem aceitou e promoveu a sua realização.
Refiro-me, concretamente, ao evento “Há noite no Museu”, que alguns cidadãos alcandoraram
a uma “excelente” iniciativa, mas que não passa de um ato absolutamente
negligente e irresponsável, para quem percebe um mínimo de regras de segurança
a serem cumpridas em qualquer museu.
Ainda em matéria de natureza programática,
começa a perceber-se que o investimento técnico e financeiro feito pelo Estado
Português, nos últimos anos, ao promover a elaboração de um excelente projeto
de ampliação e requalificação do Museu de Lamego, pronto para ser executado,
será deitado ao lixo e substituído pelo arranjo pontual da porta principal,
benefício certamente importante, mas que apenas pretende desviar a atenção dos
lamecenses e visitantes do nosso Museu. Ao procederem assim, sem quaisquer explicações públicas, obliteram conscientemente a premente e
imperiosa necessidade de se proceder à obra geral, que verdadeiramente importa
(e onde o arranjo da porta principal também está incluído), a favor de uma
inexpressiva e irrelevante parcela do muito que há a fazer neste Museu, no que
à sua requalificação física interessa evidenciar.
Significa isto que, ao tentarem reduzir as necessárias intervenções de obra no Museu de Lamego a
arranjos de uma porta, eventualmente à pintura de algumas fachadas e à execução
de pequenos benefícios dispersos pelo edifício, os atuais responsáveis pelo
Museu de Lamego mais não estão a fazer que a tentar desviar a atenção das pessoas, de
forma que me parece muito desleal, em especial aos lamecenses, por pretenderem
transmitir a falsa ideia de que estão a realizar o que é necessário quando, em boa
verdade, nada mais estão a fazer do que a esconder o abandono de um projeto que é
fundamental e imprescindível que se realize no nosso Museu. Mais que não fosse, até por uma questão de igualdade de tratamento e consideração, perante o que já foi realizado noutros Museus do Estado.
Esta incomensurável deslealdade
política, produzida por quem deveria ser, sempre e em qualquer circunstância, leal aos
princípios éticos e deontológicos dos cargos e funções que exercem, obriga agora a que
se declare publicamente a manutenção ou abandono de tal desiderato
museológico e museográfico, e o silêncio envergonhado que sobre esta matéria tem sido patenteado até ao momento não deveria ser aceite pacificamente pelos cidadãos
que são, em última análise, os contribuintes líquidos para a sustentabilidade remuneratória
destes responsáveis, nos cargos que ocupam por decisão exclusivamente política. Pelo menos até ao momento!
IV
Que pena o Senhor Secretário de
Estado da Cultura não ter oportunidade de ler este e outros escritos que, um
pouco por todo o lado, vão sendo levados ao conhecimento público sobre os
desmandos e a falta de sentido de serviço público que alguns dos que ele nomeia
e sustenta em lugares de chefia vão dando mostras de produzir;
Que pena o Senhor Secretário de
Estado da Cultura não ter tido ainda a oportunidade de se debruçar, ouvindo as várias
e diferentes sensibilidades dos profissionais e dirigentes do sector do
património e dos museus, sobre o inqualificável rumo que o sector da cultura
portuguesa, no que a alguns museus diz respeito, está a tomar;
Que pena o Senhor Secretário de
Estado da Cultura não poder dispor de um pouquinho do seu (certamente precioso)
tempo, para tentar perceber o que se passa em alguns dos museus que tutela, e
que já foram orgulhosos símbolos de um Portugal de cultura solidária e
territorialmente equilibrada, justo para com as diversas comunidades que o
constituem, mas que agora não passam de meros instrumentos ao serviço de um
Portugal miserabilista e sectário, elitista, centrado em Lisboa e pouco mais, porque
no restante é deixado ao sabor das arbitrariedades de quem pouco ou nada
percebe e sente no que diga respeito ao real valor cultural, institucional e
simbólico, das entidades que estão a gerir.
Que pena… Talvez então se
percebesse melhor que quem tem o poder de alterar as coisas não se deve ficar
pelo simples lamento retórico sobre a situação existente, quando a reconhecemos
deficitária, mas sim tudo fazer para que ela se altere efetivamente para melhor!
Agostinho Ribeiro
*((Este artigo é escrito por mim
na qualidade de Vereador do Partido Socialista na Câmara Municipal de Lamego, e
diz respeito a uma entidade pública instalada na cidade de Lamego, dirigida atualmente
por responsáveis nomeados pelo poder político, ainda não sufragados por
qualquer concurso público que lhes confira o mérito de o serem por competência estritamente
profissional. A circunstância de ter sido afastado da direção do Museu de
Lamego por razões também políticas (política ideológica e política cultural),
que nada têm a ver com questões de competência ou mérito profissionais, reforça
e aprofunda o sentido político deste texto)).
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