Uma circunstância especial fez-me recordar a péssima sensação que tive ao ler o Guia Turístico do Douro, quando me apercebi da forma nada adequada com que o Museu de Lamego tinha sido tratado naquele roteiro. Devido aos meus diversos afazeres e responsabilidades, fui adiando uma tomada de posição pública sobre o assunto, e confesso que até já estava quase esquecido... quase...
Mas essa circunstância deu-me agora o ímpeto que então me faltou, e como nunca gostei de deixar de dizer o que penso e sinto, enviei esta missiva aos responsáveis pela elaboração deste Roteiro.
Exmos Senhores
Tenho andado a adiar sistematicamente uma imperiosa necessidade que sinto de apresentar a Vossas Excelências os protestos da minha maior indignação pela forma absolutamente redutora e omissa com que trataram o Museu de Lamego no Roteiro do Douro, de Vossa responsabilidade.
Não colocar no texto “Museologia” uma única referência ao Museu que detém o património artístico mais valioso e representativo da região duriense, o único Museu Estatal da Região do Douro, com um acervo de excelência que o coloca ao nível dos restantes museus portugueses mais valiosos para a construção da identidade cultural portuguesa, é atitude que eu jamais esperaria de quem tem a obrigação estrita de saber o que está a escrever, quando aborda a temática dos museus e da museologia no território duriense.
Perante tamanha omissão, não fazendo valer com o destaque necessário algumas das colecções que são referência nacional e internacional, sem expor a datação de algumas das obras mais significativas do seu espólio, como é o caso das tapeçarias flamengas do século XVI, por acaso “apenas” a maior e melhor colecção de panos de armar renascentista, existente em colecções nacionais; ou não referir que as primeiras obras identificadas de Grão Vasco, o maior pintor do pré-renascimento português se encontram, precisamente, no Museu de Lamego, é coisa que não lembra a ninguém, pelo menos a quem tenha um mínimo de conhecimento sobre o património artístico duriense.
Museu quase centenário, o ÚNICO na região que alberga colecções que estão classificados como Tesouros Nacionais, ainda por cima em maior número que a esmagadora maioria dos museus do Estado Português; objecto de interesse e investigação permanentes, tanto por nacionais como por estrangeiros, sobretudo europeus; sem dúvida o ÚNICO Museu clássico de arte antiga sediado no território duriense; inquestionavelmente um dos museus de arte mais significativos de Portugal... e não merece sequer uma referência no texto do vosso Roteiro, estando apenas contemplado com um texto ilustrativo de uma fotografia da fachada, absolutamente redutor e secundário, se relacionado com a importância que o mesmo possui no panorama museológico local, regional, nacional e internacional.
Para que conste, deixo lavrado este meu profundo desagrado, pela forma nada competente nem profissional com que elaboraram este Roteiro, no que à museologia e ao Museu de Lamego diz respeito.
Com os meus cumprimentos
Agostinho Ribeiro
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