(Publiquei alguns comentários na cronologia do Grupo Lamego, a propósito das obras do Eixo Barroco, no centro urbano da nossa cidade. Como os comentários passam e depois será difícil reencontrá-los no conjunto dos sucessivos "posts" que se vão colocando todos os dias, entendi que seria oportuno mantê-los de fácil acessibilidade e leitura, para quem quiser ler, concordar ou contraditar. Por isso aqui os deixo exactamente como os escrevi, apenas omitindo os nomes dos destinatários e fazendo uma breve nota preambular quando o comentário corresponde a uma resposta a alguém.)
Esta foi a minha resposta a um comentário, colocado por um outro cidadão lamecense que argumentou em defesa da obra mas utilizando, em meu entender, argumentos enviesados na sua construção.
Talvez fosse bom existir um pouco mais de seriedade em algumas das considerações aqui feitas, a saber:
- O facto da Câmara não “gastar” os 3 milhões de euros não dá à Câmara o direito de desperdiçar recursos públicos em obras que não são prioritárias, como esta não é. A Câmara de Lamego não tem sequer o dinheiro para assumir a responsabilidade da contrapartida nacional, a não ser pelo aumento do endividamento bancário;
- Talvez fosse melhor aplicar o dinheiro, nos mesmos termos, para realizar a circular externa a Lamego, tão necessária, em vez de estragar o que de bom e bonito esta terra tem. Mas isto é apenas uma opinião...;
- A questão do aumento das árvores é irrelevante porque esse aumento irá dever-se essencialmente à continuidade pelo Largo de Camões e Rua do Regimento de Infantaria. O que é verdadeiramente descaracterizador da zona, e serão um verdadeiro obstáculo à visualização do plano da escadaria de Nossa Senhora dos Remédios, vista que é imagem de marca da nossa cidade;
- Não vão retirar as taças da avenida porque houve logo um coro de protestos a essa hipótese, mas chegaram a equacionar essa possibilidade. E quanto às estátuas ainda não é certo que fiquem, pelo que seria desejável algum esclarecimento sobre esse aspecto;
- Já quanto à destruição do Jardim Visconde Guedes Teixeira, é claro que vai ser totalmente destruído, sendo substituído por um arranjo que não se percebe muito bem o que é, ou o que vai ser mas que, em termos gerais, se configurará numa enorme extensão de assentamento em granito, e pouco mais.
Seria bom perceber que o desenho das duas avenidas são datadas, históricas e foram construídas numa lógica de circulação urbana que integrava harmoniosamente a circulação pedonal e rodoviária. Assim, o tal corredor pedonal contínuo que parece agradar tanto a certas pessoas e que servirá para o lazer de poucos tem, como contrapartida:
- O estreitamento da via rodoviária em todo o eixo vai, obrigatoriamente, dificultar ainda mais o trânsito rodoviário, que não tem alternativa nenhuma de circulação, porque a variante ainda não está feita;
- A extinção da rotunda do Soldado Desconhecido, vulgo Chico do Pinto, não é só uma questão de “hábito” que se resolverá com o tempo – é um estrangulamento sem alternativa e que resultará num aumento de pressão nas vias secundárias, sem necessidade nenhuma. Basta perceber o que será o trânsito de pesados e ligeiros nessas vias alternativas e concluir pela fragilidade da opção;
- Plantar árvores nas faixas laterais dos monumentos é um disparate completo porque precisamente vai tapar a visibilidade dos mesmos, como as árvores plantadas à frente do Teatro irão retirar visibilidade tanto ao Teatro, como à Sé de Lamego, inviabilizando a vista de fundo quando se está a olhar para os Remédios no largo de Camões, junto à estátua de D. Miguel de Portugal. Basta fazer um pequeno esforço de imaginação para perceber o que se vai perder;
- O mobiliário urbano é matéria já secundária, bem como toda a melhoria na Rua do regimento de Infantaria nº 9, onde não há nada a criticar.
Achar portanto, que um benefício de passeio pedonal, meramente circunstancial e limitado, é suficientemente válido para se gastar tanto dinheiro público, com prejuízo nítido para tudo o mais que se possa equacionar, é ser muito redutor.
Mas há um benefício que não foi equacionado – o da melhoria efectiva das infraestruturas básicas (água e saneamento) que de facto é positivo. Mas isso podia ser feito sem estragar o que existe.
Agostinho Ribeiro
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