domingo, 24 de fevereiro de 2013

Os meus argumentos contra a obra do eixo barroco I

(Publiquei alguns comentários na cronologia do Grupo Lamego, a propósito das obras do Eixo Barroco, no centro urbano da nossa cidade. Como os comentários passam e depois será difícil reencontrá-los no conjunto dos sucessivos "posts" que se vão colocando todos os dias, entendi que seria oportuno mantê-los de fácil acessibilidade e leitura, para quem quiser ler, concordar ou contraditar. Por isso aqui os deixo exactamente como os escrevi, apenas omitindo os nomes dos destinatários e fazendo uma breve nota preambular quando o comentário corresponde a uma resposta a alguém.)



Este comentário, feito na sequência de um alerta para as obras em causa, iniciou um debate deveras interessante sobre o assunto.


Como já devem ter reparado, e como eu sempre disse desde a primeira hora (e a primeira hora é desde que surgiu esta ideia peregrina de destruir o nosso belíssimo centro histórico) as alterações que vão ser introduzidas irão modificar profundamente a fisionomia da nossa inigualável sala de visitas.

Mas parece que, segundo algumas opiniões certamente muito sabedoras do assunto, quem estiver contra esta obra é um Velho do Restelo...! Imagine-se o absurdo!


Esta obra é prioritária? Não, não é. É fundamental para o desenvolvimento de Lamego? Não, não é. Melhora o trânsito no centro da cidade? Não, não melhora. Faz do centro da cidade um espaço urbano mais belo do que o actual? Não, não faz.


Então o que faz? Faz pensar que em Lamego sobra dinheiro para se gastar onde se não deve e não é estritamente necessário, mas não há um tostão sequer para o que mais importa; faz pensar que em Lamego o importante “é fazer”, fazer seja o que for, mesmo que este fazer seja um completo e total absurdo de desperdício de tempo, de dinheiro, de razão ou de lógica integrada num qualquer modelo de desenvolvimento que, para ser sustentado, deveria respeitar a identidade da nossa terra.

Portanto, vai-se gastar dinheiro (muito ou pouco, tanto faz) numa obra que é absolutamente desnecessária, esteticamente penalizadora, patrimonialmente destruidora da imagem de marca e símbolo único e incomparável, porque sim... apenas porque sim... Porque fazer obra é bom, é sinal de progresso, é sinal de modernidade, é sinal de mudança.
Ao que chegamos... Ninguém terá dito a essas pessoas que ter opinião contrária é legítimo e até desejável, num Estado Democrático e de Direito? Não saberão que mudança, por si só, não significa rigorosamente nada, nem é sinal de coisa nenhuma, se a mudança não trouxer mais valias efectivas para todos?

E que mais valias traz esta obra, ao ponto de ser tão necessária a destruição do existente? Traz a mais valia de destruirmos o que os nossos antepassados nos legaram, e que em quase todo o mundo é objecto de precaução, reabilitando sim, mas respeitando o que está feito e não destruindo, pura e simplesmente, o que estava bem. Quase... Porque há algumas excepções e Lamego é uma delas!
Querem fazer obra nova? Pois que a façam que é bem desejável que se faça... Mas não destruindo o que está bem. Façam a variante, que é tão necessária para todos nós, mas não estraguem nem desrespeitem o trabalho dos que nos antecederam e que, ainda por cima, constitui ex-libris da nossa cidade e, como tal, ninguém se pode arvorar ao direito de a destruir como agora vai ser feito.

Mas não façam mais disparates como o do Pavilhão Multiusos, por favor, porque para obra nova como estas já nos bastavam algumas obras velhas que não abonam a favor da nossa urbanidade.
Querem estragar? Estraguem o que é vosso, mas só o que é exclusivamente vosso e que não se reflicta no colectivo que somos, mas não estraguem o que é de todos, para serventia de todos, no respeito pelo edificado lamecense que deu provas de ser já património incorporado e sedimentado no nosso imaginário colectivo, orgulho de todos os lamecenses que sabem e percebem o valor e o significado do termo património.

Agostinho Ribeiro

2 comentários:

  1. Lamento que se dê prioridade a uma obra, cuja execução é muito discutível, à semelhança de outra, o pavilhão multiusos, um autêntico mono, que nada de útil e proveitoso trazem à cidade, em detrimento de outras que melhorariam significativamente as condições de vida dos habitantes das aldeias sem saneamento e outros.
    Mas têm poucos eleitores! Que mundo hediondo este em que vivemos! Onde a dignidade humana é sopeada de forma escandalosa, e só pontifiva o dinheiro, a aparência, fogos fátuos. Este egocentrismo está a precipitar-nos no abismo, no caos.

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    1. Concordo plenamente com a sua pertinente consideração. Obrigado por ter comentado este meu texto.

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