quinta-feira, 26 de abril de 2007

O pródigo gestor e a queda do mito (2).



Começo por vos referir que as receitas de 2006 foram as mais elevadas de sempre, em termos absolutos, e que esta realidade ufanou os responsáveis autárquicos, ao tentarem sobrevalorizar em excesso esta vertente. Só que esta é uma verdade que precisa de ser devidamente analisada, sobretudo quando pretende fazer crer que corresponde a um aumento de 6,7% em relação ao ano anterior, como consta no relatório de gestão.
O virtuosismo de um aumento de receita decorre do tipo de proveniência que lhe está na origem, e não na apresentação pura do valor absoluto em causa. Assim, afirmar que a receita total de 2006, no montante de 18.436.381,21 €, é superior em 1.162.558,05 € (6,7%), ao de 2005, cujo valor se ficou pelos 17.273.823,16 €, é dizer uma verdade que não basta para nos convencer sobre a boa gestão dos nossos recursos financeiros, ao nível das receitas arrecadadas.
E não basta pela simples razão de que, se lhe tirarmos as receitas provenientes da contracção de empréstimos bancários (cujos encargos teremos sempre de honrar no futuro), e outras receitas que sejam extraordinárias, talvez o montante deixe de ser assim tão pretensamente favorável. Façamos então essas contas básicas, em nome da verdade orçamental:
- Em 2005, os empréstimos directos, contraídos à banca, somavam 831.406,00 €, e em 2006 somaram 1.785.948,75 €. Logo, se descontarmos esses montantes, em cada ano considerado, teremos de receitas, para 2005, o valor de 16.442.417,16 € e, para 2006, o valor de 16.650.432,46 €. Ou seja, o aumento “saudável” da receita reduz-se a uns insignificantes 208.015,30 €, na ordem dos 1,26%, muito abaixo até dos 3% da inflação estimada para o ano de 2006.
Também no que respeita à dívida à banca, os números estão aí, à vista de todos, e não vale a pena escamotear tais verdades – em apenas um ano de gestão, este executivo mais que duplicou a dívida à banca, sendo certo que a dívida anterior correspondia ao somatório dos empréstimos contraídos nos últimos 10 anos de gestão. É difícil fazer pior!
E já agora, para sermos verdadeiramente rigorosos, se descontarmos a receita proveniente do ressarcimento do seguro, por via do furto da viatura municipal (receita que certamente se não voltará a repetir), no montante de 32.926 €, o aumento da receita fica-se pelos 175.089,30 €, o que perfaz um aumento na ordem de uns míseros 1,06%.
Veja-se, portanto, quão frágil foi o aumento da receita e quão distante está, em boa verdade, dos 6,7% expressos no relatório de gestão.
Mas o mais grave no meio disto tudo é constatarmos que as receitas provenientes de impostos beneficiam de um aumento significativo nos chamados impostos directos, onde se inscreve o IMI, mas sofrem uma quebra para quase metade, em relação ao ano anterior, no que respeita aos impostos indirectos e que são, precisamente, os que nos dão uma ideia da pujança das actividades económicas do nosso Concelho. Neste imposto proveniente das actividades económicas, onde se inscrevem as licenças diversas e taxas de construção, entre outras, passou-se de um encaixe de 187.516,66 €, em 2005, para 96.618,58 € em 2006, a que corresponde uma quebra de 48,5 %.
Não estando em causa os valores absolutos, pela fraca expressão dos montantes considerados, esta realidade significa, no entanto, que o tecido económico de Lamego está cada vez mais pobre, registando a maior queda de que há memória na história económica do nosso concelho, sendo urgente delinear um plano de intervenção municipal que promova a revitalização do nosso tecido empresarial, com o estabelecimento de condições favoráveis à criação de novas empresas, e apoios selectivos à recuperação e/ou reconversão das existentes.
É evidente que o aumento do IMI, protagonizado por este executivo, não ajuda à captação de investimentos privados para Lamego, já que os concelhos limítrofes praticam taxas bem mais aliciantes, perdendo nós em toda a linha perante a capacidade competitiva dos nossos vizinhos.
Sem estes apoios garantidos e acautelados aos empresários que queiram investir em Lamego, bem podem fazer as piscinas cobertas e os pavilhões multiusos que quiserem, que tais investimentos ficarão votados ao meio abandono, por inexistência de pessoas e de condições suficientes para um correcto e pleno usufruto de tais benefícios materiais. Então no que respeita ao pavilhão multiusos, apenas podemos dizer que este executivo se prepara para deixar aos lamecenses um verdadeiro “elefante branco”, com consequências inimagináveis, para ser gerido no futuro.
Mas sobre os valores e a natureza dos investimentos planeados para 2006, tratarei no artigo da próxima semana.

Agostinho Ribeiro

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