quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

“O bajulador”



O bajulador é aquele tipo de pessoa que nunca olha a meios para atingir os seus insondáveis fins.
Especialista na exploração da vaidade humana, não se poupa a lisonjas excessivas para assim obter as benesses pessoais que, de outra forma, nunca conseguiria obter.
Todos nós conhecemos a espécie. Ela pulula em todos os sectores da actividade humana e não deve haver uma única pessoa neste mundo que não conheça, pelo menos, um triste exemplar deste calibre.
Desde que lhe interesse, ou seja, desde que uma determinada pessoa se encontre em situação de o poder alcandorar (normalmente de forma indevida e imerecida) a um patamar ou situação de maior visibilidade ou poder, bajouja servilmente o seu destinatário, na expectativa de obter a tão almejada benesse, e trabalha arduamente na lamechice ridícula do exagero e do excesso, sempre com o fito do emolumento injusto, do reconhecimento impróprio ou do favor despropositado.
Porque se fosse justo, próprio ou propositado, não precisava de recorrer à baboseira fácil, e as pessoas saberiam distinguir e reconhecer os méritos próprios de cada um.
O bajulador insinua-se no seio dos mais desprevenidos e desatentos, faz-se passar por amigo do peito, cria o ambiente adequado para fazer crer que sempre foi, é e será, fiel a quem lhe interessa no momento.
Os mais cuidadosos e ajuizados cedo se apercebem do logro que caracteriza este burlão, e logo se afastam de tão nefastos exemplares da natureza humana, e por isto é que verificamos que os bajuladores apenas têm palco e assistência, repetida e continuadamente, no seio dos vaidosos. A jactância destes não lhes permite perceber que apenas estão a ser alvo de encómios exagerados e falsos, e acarinham com a soberba desmedida que só a bazófia consegue produzir, este género de pessoas, convencidos que estão da justeza dos elogios repetidamente recebidos.
Para esta gente, emissores e receptores, aduladores e gabarolas, o mundo parece resumir-se ao umbigo de cada um, e tudo o que possa pôr em causa esta virtualidade egocêntrica, como se o mundo inteiro girasse, apenas e exclusivamente, em torno deles próprios, é ridicularizado e desprezado.
Mas o bajulador é, por natureza, traidor. Traidor aos princípios e valores que supostamente elogia nos efémeros destinatários; traidor às causas que, aparentemente, abraça, apenas por saber que os receptores são sensíveis a tais causas; traidor aos próprios destinatários que lisonjearam, logo que estes deixem de ser importantes ou necessários à obtenção do benefício procurado. É vê-lo a elogiar hoje e a desprezar amanhã; a atacar desmesuradamente agora e a gabar ridiculamente depois; a jurar fidelidade canina num momento e a atraiçoar o “melhor amigo” no momento seguinte.
Por esta razão, a mais das vezes perde a noção das realidades, mergulha no mundo da irrealidade que construiu e um dia dará conta que está sozinho na sabujice servil e na futilidade vã que construiu e que o caracteriza e identifica. Pior que tudo, para ele próprio, é que olhará então à sua volta e não encontrará nenhuma mão verdadeiramente amiga na disposição de o ajudar.
É esta a triste sina do bajulador, que não se sabe circunscrever à sua própria dimensão, e projecta na vaidade dos outros as suas próprias ânsias e desejos de protagonismo fácil, sem qualquer base ou mérito que o possa justificar.

Agostinho Ribeiro

As “invejas” e os “interesses políticos” da oposição concelhia…



Quando num artigo da revista Focus, há algum tempo atrás, fomos confrontados com declarações infelizes do Sr. Eng. Francisco Lopes, a propósito de “denúncias” provenientes da oposição democrática, tais declarações levaram-me, na Assembleia Municipal seguinte (de 18 de Dezembro de 2006), a pedir esclarecimentos fundados que nos permitissem avaliar a veracidade de tais afirmações.
Como sou dos que pensam que os assuntos não devem ficar pelas meias tintas, tomo hoje a liberdade de transcrever parte da comunicação por mim proferida nessa Assembleia (*), a este propósito, nos termos que seguem:

“Por outro lado, tivemos oportunidade de ler, na revista Focus, um artigo intitulado “Uma casa bem portuguesa…” a propósito da avaliação patrimonial da casa do senhor Eng. Francisco Lopes, actual Presidente da Câmara Municipal de Lamego. Para além das considerações sobre o valor patrimonial da vivenda em causa, e seus reflexos no cumprimento, ou não, das devidas obrigações fiscais dali decorrentes, que nos deixaram verdadeiramente incrédulos, pelos artifícios das declarações produzidas, somos confrontados com afirmações do visado, em que diz que as “denúncias partem de pessoas da oposição no concelho”, referindo-se ainda às “invejas” e “interesses políticos” dessas mesmas pessoas.
Denúncias? Mas a que denúncias se refere o senhor Presidente, a propósito de uma matéria que é pública, com elementos que estão ao alcance de todos e que está à vista de toda a gente? Apenas entendemos estas afirmações no caso de existir algo mais, em termos de alguma cumplicidade existente anteriormente, que não decorra directamente do que é perceptível a todos os cidadãos e, nesse caso, queremos saber se alguém da oposição terá porventura participado em acto lesivo contra o senhor Eng. Francisco Lopes, nomeadamente por interferência, directa ou indirecta, na venda, compra ou, de qualquer forma ou por qualquer meio ilegítimo, terá influenciado nas transacções de algum dos apartamentos que diz ter vendido, para adquirir a referida vivenda e, em caso afirmativo, se tal interferência foi no sentido declarado de o prejudicar.
Do mesmo modo, gostaríamos de saber se alguém da oposição democrática interferiu deliberadamente na aquisição do terreno, na escolha do arquitecto, na construção da vivenda ou na sugestão do valor patrimonial declarado, de forma a prejudicar ou influenciar negativamente o discernimento do senhor Eng. Francisco Lopes, levando-o ao ponto de afirmar o que afirmou no artigo da revista Focus.
Também aqui o Partido Socialista tudo irá fazer para que todos os aspectos relacionados com estas matérias sejam devidamente esclarecidos junto da opinião pública, e das entidades competentes, para assim podermos concluir sobre as interferências irregulares, “invejosas” e de mero “interesse político”, eventualmente protagonizadas por alguém da oposição democrática ao actual Presidente da Câmara Municipal de Lamego.”

E pronto, cá ficamos à espera de se saber se há ou não interferências ilegítimas ou ilegais de alguém da oposição democrática, cumprindo nós o que tínhamos afirmado, de que tudo iremos fazer para que estes aspectos sejam bem esclarecidos junto da opinião pública, exortando daqui todas as entidades competentes para que nos ajudem a averiguar sobre a natureza inadequada de tais interferências…

Agostinho Ribeiro

(*) Só agora divulgo o teor da comunicação, porque a respectiva acta apenas foi aprovada na última sessão da Assembleia Municipal de Lamego, que ocorreu no passado dia 28 de Fevereiro.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

A nossa identidade cultural.



Sou dos que pensam que o desenvolvimento, enquanto processo de construção do bem-estar colectivo, deve andar sempre de mãos dadas com a cultura de um povo, de um grupo ou de um lugar.
O desenvolvimento não se deve processar contra a história ou contra o passado de uma qualquer comunidade. Antes pelo contrário, ele valida-se correctamente se souber integrar e respeitar devidamente as componentes identificativas que caracterizam esses grupos e espaços de vida, sendo adequado propugnar por melhorias e benfeitorias materiais nesses espaços, e não pela destruição, pura e simples, de tais monumentos da memória colectiva de uma dada comunidade.
Os exemplos que pululam por esse mundo fora, sobretudo nos países mais desenvolvidos, onde os espaços e valores da memória colectiva são cada vez mais protegidos, acarinhados e valorizados, demonstram bem que os verdadeiros intérpretes dos desejos de desenvolvimento sustentado são também os mais fiéis depositários e defensores das riquezas patrimoniais, artísticas e monumentais, materiais e imateriais, que identificam uma nação, um conjunto de nações (na perspectiva civilizacional) ou, tão simplesmente, um pequeno lugar, uma vila ou cidade, uma região…
Parece pacífico que as identidades culturais se afirmam mais na preservação da distinção e na valorização da diferença, e menos na criação de cópias redutoras ou na fobia insana de construção de semelhanças ou parecenças. Ou seja, destruir algo que é singular e único, verdadeiramente diferente de tudo o mais que conhecemos para, em seu lugar, construir um híbrido e descaracterizado espaço granítico, ou estacionamento para automóveis, igual a tantos outros, é acto criminoso de lesa património que deve ser repudiado e rejeitado por todos nós.
Não nos podemos esquecer que o que verdadeiramente nos distingue das outras cidades é a monumentalidade do tecido urbano da zona histórica, a tipicidade dos nossos bairros de características mais populares, os belos espaços ajardinados (infelizmente cada vez menos), a nossa história política, militar e religiosa, patente na globalidade do ambiente que se vive e respira em Lamego, diferente de todas as outras cidades. É essa a marca da nossa diferença, da nossa singularidade, da nossa própria identidade cultural…
Destruir valores patrimoniais que identificam a nossa cidade para, em sua substituição, se construir um qualquer benefício que poderia (e deveria) ter outras alternativas válidas, é um acto que não pode ser sancionado pelos lamecenses. Existem formas de resolução dos problemas de acessibilidade e estacionamento sem que se tenha de passar pela destruição do nosso património, porque optar pelas soluções mais fáceis de destruir para construir, apenas nos reforça a convicção da fragilidade, mediocridade e insensibilidade dos responsáveis por tais opções.
E depois, quanta legítima suspeição se não levanta a qualquer lamecense, pelo método seguido para se atingir tão insensatos objectivos, de se tentar fazer obra a qualquer preço, rapidamente e em força, sejam quais forem as nefastas consequências que daí possam advir… Não faz muito sentido e é estranho tal comportamento!
Nesta matéria, como em muitas outras que têm vindo a público em alguns órgãos de comunicação social, local e nacional, sou de opinião que todos deveríamos estar mais atentos ao que se passa em Lamego, já que em termos políticos, apenas podemos desejar, a quem opta por nos destruir e descaracterizar, que não sejam merecedores de uma segunda oportunidade!
Simplesmente porque a não merecem…

Agostinho Ribeiro

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

O Jardim do Campo.



Também conhecido por Jardim da República, ou Campo do Tablado, este espaço verde é, e será sempre, um espaço referencial para todos os lamecenses ou não lamecenses que, de alguma forma, o usufruíram e “viveram” em algum momento particular das suas/nossas vidas.
O Jardim do Campo foi “campo do tabolado”, no tempo em que os godos por aqui andaram, como podemos perceber pela leitura do breve texto que o lamecense de alma, coração e génio, Francisco J. Cordeiro Laranjo, escreveu em 1989, no seu maravilhoso repertório de memórias, que dá pelo nome de “Lamego Antiga”, e cuja leitura exaustiva, e repetida, aconselhamos aos “lamecenses” de pacotilha, sejam eles os da novíssima adesão ou os de mais antiga filiação, uns e outros a necessitarem de alguns “cuidados de saúde informativa sobre o património lamecense”, que evite a possibilidade de nos virem cometer verdadeiros crimes de lesa património, como parece que querem fazer.
Foi por iniciativa do Visconde de Guedes Teixeira (mais um lamecense de excepção) que o Jardim do Campo haveria de ter uma configuração próxima da actual, passando a ser designado por “Passeio Público” ou, como aconteceu em 1895, “para louvor à Rainha de então,” com a designação de Passeio da Rainha Regente Dona Amélia.
Que lamecense não sentirá que o Jardim da República é um símbolo histórico, cultural e urbanístico de Lamego, um ex-libris e uma referência desta cidade, que tanto se orgulha dos seus espaços públicos?

Porém, a empresa LamegoConvida, administrada pelos senhores Eng. Francisco Lopes, actual presidente da Câmara, Dr. Paulo Correia, ex-chefe de gabinete do actual Presidente da Câmara e Arq. Joaquim Miguéis, ex-director do Departamento Técnico da Câmara de Lamego, prepara-se para intervir de forma abusiva nesse espaço público, sem ao menos nos consultar previamente, a todos nós, lamecenses, sobre as razões e fundamentos que poderão justificar este verdadeiro atentado ao património público lamecense.
Faço aqui questão de os nomear para que, depois, não restem quaisquer dúvidas de quem tem a primeira responsabilidade sobre o que pode vir a acontecer naquele espaço referencial, sem contudo nos podermos esquecer de quem, na retaguarda e por omissão, possa vir a ser corresponsabilizado por tão nefasta opção urbanística, que leve à destruição total ou parcial do nosso Jardim do Campo.
O senhor Presidente da Câmara já disse, em sede de Assembleia Municipal, que nada irá acontecer ao Jardim do Campo, sem antes ter passado pelo crivo e análise dos membros da Câmara Municipal e Assembleia Municipal de Lamego. Percebemos o logro da afirmação produzida – o caderno de encargos que foi elaborado já permite e indicia alterações graves à fisionomia do lugar, e adivinhamos a defesa das alterações com o argumento de que, depois dos gastos financeiros já concretizados, seria muito complicado não dar seguimento ao processo decorrente do concurso de concepção-execução, entretanto concluído.
Vamos, pois, ter apenas oportunidade de nos pronunciarmos sobre um “dado adquirido”, para assim sermos defraudados nas legítimas expectativas que são, ao menos, as de podermos manifestar uma opinião contrária a mais este abuso do actual poder autárquico.

Estou contra este projecto, contra este método de actuação, contra os seus responsáveis e tudo indica, pela falta de informação prévia a que devíamos ter tido acesso, que estamos perante um “negócio” de contornos, no mínimo, obscuros e mais que duvidosos.
Logo veremos se o tempo me dará, ou não, razão!

Agostinho Ribeiro

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

A sinalética da A 24.



Tenho andado, de semana para semana, a protelar algumas considerações sobre a sinalética que nos é oferecida sobre Lamego, pelos painéis indicadores de localidade, existentes na A 24.
Duas recentíssimas viagens, uma para sul e outra para norte, reavivaram-me, no regresso, este incontido mal-estar perante a completa e total falta de respeito por uma cidade histórica como é Lamego, a ponto de me questionar sobre as verdadeiras intenções de quem, sendo responsável por tal sinalização, não soube ou não quis colocar Lamego nas referidas placas sinalizadoras, com o destaque e a relevância que a nossa cidade merece.
Por isso, devo confessar que gostaria de confrontar, directa e pessoalmente, o responsável por tal sinalética e aferir, em diálogo franco e aberto, (como gosto sempre de fazer), se estaremos apenas perante uma completa ignorância e incompetência desse mesmo responsável (seja ele uma pessoa singular ou uma equipa de trabalho) ou se, por outro lado, não estaremos perante alguém que, propositadamente, entendeu desprezar a cidade de Lamego.
Se repararmos bem, a primeira referência a Lamego, para quem se desloca de sul para norte, só é encontrada em Castro Daire e, no sentido inverso, apenas junto ao nó da cidade do Peso da Régua.
Isto significa que a cidade histórica mais importante do distrito de Viseu, é tratada, em termos de sinalética, ao nível de um qualquer pequeno lugar do percurso agora em evidência, e por vezes de forma ainda mais afrontosa, quando nos deparamos com sinalização de distância, onde alguns povoados de menor relevância nos surgem como se fossem burgos de enorme importância, perante a completa e abusiva omissão da cidade de Lamego.
Que fique claro que me move algum bairrismo incontido, mas sei submeter esta emoção a critérios objectivos, já que Lamego é a segunda cidade do Distrito de Viseu (em actual rivalidade com Tondela) e, sem sombra de quaisquer dúvidas, a primeira em termos patrimoniais, históricos e monumentais, não só de todo o Distrito, como de todo o interior norte de Portugal!
Só isto seria mais que suficiente para merecermos maior e melhor atenção por parte dos responsáveis pela sinalética em causa, sendo exigível, no mínimo, que Lamego surgisse nas placas informativas, em todo o circuito confluente ao nó de Calvilhe, desde o entroncamento da A 25 à A 24, do lado sul, e da entrada de Vila Real, a partir do lado norte.
Perguntaria, portanto, aos senhores responsáveis pela sinalização deste troço da A 24, se conhecem alguma coisa da cidade de Lamego; se sabem que Lamego possui um invejável património artístico e monumental que a alcandora a uma das cidades mais ricas e interessantes do País; se sabem que Lamego desempenhou um importante papel no período da fundação da nacionalidade, e em tantos outros momentos históricos que se lhe seguiram; se sabem que Lamego é uma cidade incontornável na construção da região demarcada do Douro, uma das poucas que, em Portugal, está classificada como Património da Humanidade…
E quantos mais argumentos poderiam aqui ser esgrimidos a favor de uma maior consideração por Lamego, nada visível nas placas sinalizadoras das saídas da A 24, o que nos leva à constatação de estarmos perante uma de duas situações:
- Ou os responsáveis por este trabalho informativo são desconhecedores da importância de Lamego, e não souberam recolher a informação necessária para uma correcta e adequada informação rodoviária;
- Ou os responsáveis sabiam perfeitamente da importância de Lamego e, mesmo assim, optaram por omitir, na maioria do trajecto em causa, a indicação da nossa cidade, por razões que nos escapam totalmente.

Em qualquer dos casos, é bem patente a desconsideração e o desleixo desses senhores nesta matéria, a merecer uma reparação, tão rápida quanto possível, pelos mais altos decisores que, certamente, não se revêem nesta demonstração de ignorância e de incompetência.

Agostinho Ribeiro