Sou dos que
pensam que o desenvolvimento, enquanto processo de construção do bem-estar
colectivo, deve andar sempre de mãos dadas com a cultura de um povo, de um
grupo ou de um lugar.
O
desenvolvimento não se deve processar contra a história ou contra o passado de uma
qualquer comunidade. Antes pelo contrário, ele valida-se correctamente se
souber integrar e respeitar devidamente as componentes identificativas que
caracterizam esses grupos e espaços de vida, sendo adequado propugnar por
melhorias e benfeitorias materiais nesses espaços, e não pela destruição, pura
e simples, de tais monumentos da memória colectiva de uma dada comunidade.
Os exemplos que
pululam por esse mundo fora, sobretudo nos países mais desenvolvidos, onde os
espaços e valores da memória colectiva são cada vez mais protegidos,
acarinhados e valorizados, demonstram bem que os verdadeiros intérpretes dos
desejos de desenvolvimento sustentado são também os mais fiéis depositários e
defensores das riquezas patrimoniais, artísticas e monumentais, materiais e
imateriais, que identificam uma nação, um conjunto de nações (na perspectiva
civilizacional) ou, tão simplesmente, um pequeno lugar, uma vila ou cidade, uma
região…
Parece pacífico
que as identidades culturais se afirmam mais na preservação da distinção e na valorização
da diferença, e menos na criação de cópias redutoras ou na fobia insana de construção
de semelhanças ou parecenças. Ou seja, destruir algo que é singular e único,
verdadeiramente diferente de tudo o mais que conhecemos para, em seu lugar,
construir um híbrido e descaracterizado espaço granítico, ou estacionamento
para automóveis, igual a tantos outros, é acto criminoso de lesa património que
deve ser repudiado e rejeitado por todos nós.
Não nos podemos
esquecer que o que verdadeiramente nos distingue das outras cidades é a
monumentalidade do tecido urbano da zona histórica, a tipicidade dos nossos
bairros de características mais populares, os belos espaços ajardinados
(infelizmente cada vez menos), a nossa história política, militar e religiosa,
patente na globalidade do ambiente que se vive e respira em Lamego, diferente
de todas as outras cidades. É essa a marca da nossa diferença, da nossa singularidade,
da nossa própria identidade cultural…
Destruir
valores patrimoniais que identificam a nossa cidade para, em sua substituição,
se construir um qualquer benefício que poderia (e deveria) ter outras
alternativas válidas, é um acto que não pode ser sancionado pelos lamecenses.
Existem formas de resolução dos problemas de acessibilidade e estacionamento
sem que se tenha de passar pela destruição do nosso património, porque optar
pelas soluções mais fáceis de destruir para construir, apenas nos reforça a
convicção da fragilidade, mediocridade e insensibilidade dos responsáveis por
tais opções.
E depois,
quanta legítima suspeição se não levanta a qualquer lamecense, pelo método
seguido para se atingir tão insensatos objectivos, de se tentar fazer obra a
qualquer preço, rapidamente e em força, sejam quais forem as nefastas consequências
que daí possam advir… Não faz muito sentido e é estranho tal comportamento!
Nesta matéria,
como em muitas outras que têm vindo a público em alguns órgãos de comunicação
social, local e nacional, sou de opinião que todos deveríamos estar mais
atentos ao que se passa em Lamego, já que em termos políticos, apenas podemos
desejar, a quem opta por nos destruir e descaracterizar, que não sejam
merecedores de uma segunda oportunidade!
Simplesmente
porque a não merecem…
Agostinho Ribeiro
Sem comentários:
Enviar um comentário