sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Já somos Museu Nacional Grão Vasco *

1 - Fazer de cada dia, um dia especial… no museu.




O que faz, de cada dia, um dia especial no museu? Esta é a pergunta para mil respostas, todas importantes e todas certamente adequadas, consoante a perceção do interlocutor envolvido. E como é humanamente impossível fazer tudo para que todos os dias sejam assim, especiais para cada um de nós, temos que saber gerir as expetativas que aos diversos grupos de pessoas se colocam, quando o dia deles é, também, o dia do (nosso) museu.

Por isso, quando se afirma que determinado evento não cabe na filosofia de ação do museu, convém cuidarmos atentamente do alcance e significado das palavras que usamos, porque estar fora da filosofia de atuação de uma instituição, seja ela qual for, pressupõe o conhecimento pleno e aprofundado que dela temos, desde logo no domínio concetual em torno das funções maiores para que a mesma está destinada. Esta obrigação de conhecimento é fundamental para que tais considerações não sejam, ou possam ser, interpretadas como resultado de um mero complexo preconceituoso em relação a determinadas práticas, ditas culturais por uns, mas que se não encaixam na mundividência (cultural) doutros, apenas porque são modeladas ao sabor do gosto pessoal... Mundividência certamente importante e meritória mas, ainda assim, parcelar e singular no todo que a individualidade transporta para o pensamento coletivo, uma vez que as modas são também, por definição, perenes.

Não nos devemos esquecer que o preconceito (intelectual e/ou filosófico), por muito refletido que seja, transporta em si mesmo o gérmen da intolerância perante a diversidade e a multiplicidade que faz a riqueza do ato cultural. Reduzindo esta postura ao campo que agora nos importa, o da museologia, podemos perguntar sobre o que nos permite garantir e atestar, mas sem fundamentar devidamente com critérios adequados e validados genericamente por uma parte substantiva da comunidade (museológica e não museológica), que uma determinada atividade se enquadra na filosofia de atuação deste ou daquele museu, mas aquela outra, mais fora das baias comuns à atuação corrente museológica, já não?
Do ponto de vista da perceção individual, o que nos faz concluir que o nosso (meu) entendimento, gosto ou tendência é, supostamente, mais válido que o do meu vizinho?
Se é certo que nunca poderemos ter a certeza da validade integral das nossas opções programáticas; e se é certo também que tais opções não podem contrariar os princípios fundamentais que dão razão de ser à existência dos museus; mais certo ainda é a constatação de que nos sobra uma margem de manobra muito grande onde o processo de integração comunitária na vida dos museus pode ser concretizado em profícuo benefício de todos.
Mesmo correndo o risco de parecermos pretensiosos, não escondemos a satisfação pelo trabalho realizado até agora, neste âmbito de grande abertura e cumplicidade com outros protagonistas da criação artística e cultural viseense, sejam eles públicos ou privados, institucionais ou associativos, coletivos ou individuais. Prestamos, portanto, um serviço à comunidade, através da sua integração na vida do museu, que nos parece ser a melhor forma de captarmos e fidelizarmos públicos, na diversidade em que tais “públicos” (precisamente no plural) se constituem e organizam em torno da visita e fruição do quanto temos sabido produzir e oferecer.

2 - Já somos, oficialmente, Museu Nacional Grão Vasco.

E é nessa precisa forma de correspondermos às mais legítimas e genuínas expetativas da comunidade com quem trabalhamos, que alcançamos o feito histórico, neste ano de 2015, de obtermos a designação “Nacional” para o nosso Museu Grão Vasco. A partir de agora, como Museu Nacional Grão Vasco, aumentam as responsabilidades de todos – nossas, porque devemos estar à altura desse magnífico estatuto de Museu Nacional; e de todos os viseenses, que muito poderão fazer para que tal estatuto represente uma indisfarçável e salutar vaidade das nossas gentes, pretendendo nós que signifique um aumento exponencial de visitantes e um crescimento da economia local, por via da divulgação e participação de todos na vida desta instituição de cultura viseense.
Para esta qualificação fundamental, em termos oficiais, não poderia ter havido melhor dia que o passado 18 de maio de 2015, precisamente o Dia Internacional dos Museus, altura em que foi publicado o Despacho nº 5123/2015 do Senhor Secretário de Estado da Cultura, em Diário da República, cerca de nove meses depois de termos requerido tal designação.
A todos os que trabalharam empenhadamente na concretização deste objetivo estratégico, em benefício de Viseu e do Património Cultural Nacional, deixamos aqui lavrado o nosso profundo e reconhecido agradecimento.



Agostinho Ribeiro
Diretor

* Museu Nacional Grão Vasco - A Palavra ao Diretor | 05

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas 2015. Da simbologia da escolha de Lamego.


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Da simbologia da escolha de Lamego

No passado dia 25, segunda-feira, a Comissão Organizadora do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas 2015, da qual me honro de fazer parte, foi recebida em audiência pelo Senhor Presidente da República, seguida de um almoço que nos foi gentilmente oferecido, agora na companhia da Senhora Dr.ª Maria Cavaco Silva, e onde pudemos constatar a enorme e gratificante consideração que ambos (Presidente e Esposa) possuem por Lamego e, de uma maneira geral, por toda a região do Douro.
Confesso que me impressionou muito positivamente o conhecimento aprofundado que demonstrou possuir sobre o território e a sua História, discorrendo magnificamente sobre o papel de Lamego na fundação da nacionalidade portuguesa, e dos contributos posteriores que algumas figuras maiores, ligadas a Lamego, deram a Portugal. Como foi o caso do famoso Bispo nosso Embaixador, D. Miguel de Portugal, que será homenageado num dos momentos mais solenes destas Comemorações.
Aliás, o argumento maior que o Senhor Presidente da República nos ofereceu para justificar inquestionavelmente a razão de ser da opção tomada é a razão maior, e irrebatível, do papel fundamental que a cidade de Lamego teve e tem na construção da Portugalidade, cuja representatividade e valor simbólicos foram tão poderosos, à época em que ocorreu, que chegou ao ponto de ter sido a cidade "escolhida" como lugar onde ocorreram as hipotéticas primeiras cortes do reino, ainda que por documento apócrifo, com base numa cópia supostamente forjada, da autoria de Frei António Brandão.
Referiu o Senhor Presidente da República, muito oportunamente, que no escrutínio das cidades potencialmente adequadas à distinção, não encontrou cidade do interior do país, fora das capitais de distrito e a par de Elvas, que mais e melhor simbolizassem o serviço da cidadania à causa nacional, nos tempos heróicos da fundação e históricos da sua construção, que a nossa vetusta e bela cidade de Lamego! Detentora de uma História notável; possuidora de bens patrimoniais de eleição que fazem da região de Lamego a região do interior do país com maior densidade de imóveis classificados (como Monumentos Nacionais e Imóveis de Interesse Público); para além do património artístico museológico de exceção, bem patente no acervo do Museu de Lamego, uma das mais relevantes jóias detentoras de um património artístico nacional de eleição, tutelado pelo Estado; tudo se conjugando para que a meritória decisão pendesse inquestionavelmente para o lado dos lamecenses.
Não são, pois, necessários mais argumentos a favor desta opção do Senhor Presidente da República, e penso mesmo que esgrimir razões conjunturais, que nada podem ter a ver com as razões primordiais avocadas, será apoucar Lamego na sua importância incontornável que a História de Portugal lhe confere.
O tempo destas comemorações não é o da luta política do presente – tem as suas raízes no passado e será motivo de orgulho no futuro, porque é de um ato simbólico, do maior significado para Portugal, que estamos a tratar. O presente é apenas o momento em que todos, sem exceção, deveríamos estar de acordo, pela simples razão que Lamego é um todo, ainda que feito de partes diversas, tantas vezes necessária e absolutamente antagónicas.
Mas a sua simbologia nacional a todos pertence, de todos é propriedade e a nenhuma das partes lhe é conferido o direito dela se apropriar indevidamente.
Por Lamego, e por Portugal.
Aqui deixo lavrado o meu agradecimento ao Senhor Presidente da República Portuguesa, Prof. Aníbal Cavaco Silva.
Agostinho Ribeiro

* Fotografia copiada do lugar internet da Presidência da República http://www.presidencia.pt/?idc=10&idi=92911 .

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, 2015, na cidade de Lamego.


 
Sobre a minha participação, que muito me honra, como vogal na Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, 2015, a realizar em Lamego, importa esclarecer junto dos meus concidadãos lamecenses, o seguinte:
1 – O Dia de Portugal não é, por essência e definição, propriedade particular de nenhum partido, pessoa ou grupo, nem está refém de interesses estranhos à sua específica natureza e condição, de dimensão nacional e projeção internacional, sempre e em todas as circunstâncias e lugares onde ocorre, e em que têm ocorrido as respetivas comemorações;
2 – O Dia de Portugal não é nenhum detergente ou branqueador que possa servir de pretexto ou razão para “lavar” ou “branquear” seja o que for, porque não é sua função simbólica, do mais alto significado para Portugal, constituir-se como motivo para validar práticas políticas, sejam elas boas ou más, mereçam elas, ou não, a nossa concordância ou adesão;
3 – O Dia de Portugal é o dia de todos os portugueses, independentemente das suas convicções políticas e filiação partidária, e de todo o território nacional e da diáspora, sob a responsabilidade tutelar do mais Alto Magistrado da Nação, como deve ser num País Democrático como é o nosso;
4 – O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas diz respeito a todos os portugueses, e eu sou um deles, com todos os direitos e deveres associados a esta inata e nobre condição.
Por estas razões, integrar a Comissão Organizadora das Comemorações do 10 de junho, em 2015, na cidade de Lamego é, para mim, uma honra e um dever – honra por ter merecido tal distinção, juntamente com outras pessoas que muito estimo; e um dever de cidadania porque, tratando-se de Portugal e dos portugueses, no seu todo e não em qualquer uma das partes que o constitui, a ninguém que defenda os valores da democracia e da república se permitirá furtar a tamanha responsabilidade nacional.
Por tudo isto, agradeço ao Senhor Presidente da República o convite que me endereçou, e agradeço a todos os que tiveram a amabilidade de sugerir o meu nome, na certeza de que as comemorações de 10 de junho de 2015 prestigiarão, uma vez mais, Portugal, no seu território e além-fronteiras, e prestigiam a cidade de Lamego e as suas gentes, como cidade secular e histórica cujo papel relevante na fundação e afirmação da nacionalidade jamais pode ser esquecida ou obliterada, e muito menos amputada na sua nobreza e dignidade, por razões conjunturais e circunscritas a um tempo político de reduzida dimensão, que é o nosso.
É tão simples quanto isto! Obrigado.
Agostinho Ribeiro
 

sábado, 21 de março de 2015

Cultura e Património ao serviço da Economia.*



O título é, porventura, excessivo, mas propositadamente assumido pelas suas implicações conceptuais, que se poderiam resumir a uma simples questão – a cultura deve estar ao serviço da economia ou, pelo contrário, deve esta estar ao serviço daquela?

Já a este propósito, mas reduzindo o âmbito temático da equação, discorri há uns dias atrás, numa comunicação destinada a jovens formandos da área do turismo, na pretensão de se perceber se os museus (uma “parcela” importante da materialidade da nossa cultura) estavam ao serviço do turismo (outra “parcela” também importante, mas agora da economia nacional) ou se, pelo contrário, estava o setor crescente do turismo ao serviço da cultura. E, em qualquer dos casos, tentar saber como poderíamos quantificar tais serviços prestados, de cada um para cada outro.

Ora o turismo, sendo um setor ou domínio (como preferirem) da ciência económica, é também um instrumento de natureza social, pelas razões que todos conhecemos, inserindo-se num contexto mais alargado da economia enquanto ciência social, utilizando cada vez mais, a seu favor, produtos culturais de diversa construção identitária, que vulgarmente designamos por artes. Resulta claro, portanto, que a cultura tem estado ao serviço da economia, mesmo quando a economia, despida dessa abstração teórica dos conceitos e formulações metodológicas de caráter científico, a chamada “economia real”, na sua aplicabilidade prática, nos parece querer demonstrar o contrário. Isto porque, por vezes, somos levados a crer que vultuosos investimentos em setores específicos da área cultural ou patrimonial, refletem um espirito meramente altruísta, sem cuidarmos de perceber o retorno que se espera, e em todo o caso se deseja, desses mesmos investimentos. Mais ou menos distendido no tempo, esse retorno deveria ser sempre esperável, sobretudo quando a origem do investimento é oriundo de um exercício, supostamente pensado, de políticas públicas de investimento na área da cultura.

Infelizmente, em Portugal, nem sempre o exercício é suficientemente refletido, nem o retorno, mesmo que seja de natureza supra financeira, é sequer equacionado. A evidência maior desta lamentável ausência, talvez seja, nos dias que correm, o estranho fenómeno que levou à construção do novo Museu Nacional dos Coches que, em todo o caso, é exemplarmente representativo do deslumbramento serôdio decorrente da falta de pensamento e de reflexão consistente sobre estes assuntos do património cultural, na sua articulação com os recursos financeiros disponíveis, sejam eles intempestivos ou não.

Mas este, e outros casos parecidos com este, não devem ser inscritos nas lógicas dos investimentos na área da cultura onde o retorno se esperava de forma antecipadamente assumida. Penso mesmo, dadas as diversas valências que enformaram todo este processo que, simplesmente, não se esperava nada, numa indigência tamanha de política cultural, que temo bem que se tenha inscrito no quadro da irresponsabilidade com que são tomadas as decisões arbitrárias de alguns governantes. De facto, nada aconselharia o uso de dinheiros públicos, provenientes de contrapartidas únicas do turismo (Casino de Lisboa) na construção de um museu com estas caraterísticas – mais de 35 milhões de euros investidos na sua edificação, a que devemos associar custos permanentes de funcionamento que irão custar ao erário público mais de 3 milhões de euros por ano. Tudo isto feito na maior das tranquilidades, mesmo depois das entidades mais representativas do setor museológico, como foi o caso exemplar do ICOM-Portugal, terem alertado para a total inconsistência e falta de razoabilidade da opção seguida. Qualquer tentativa de estimar receitas próximas destas colossais despesas, para tentar justificar o injustificável, só pode ser considerada por nós um duvidoso exercício de sentido de humor, ou então de pura má-fé…

É claro que se Portugal não pode ser considerado um bom exemplo nestas práticas relacionais, a partir dos mais emblemáticos casos que têm acontecido por cá, isso não significa que não possamos, ao menos, tecer considerações gerais sobre o assunto e admitir que a Cultura tem estado mesmo ao serviço da Economia, sendo desejável que, em contrapartida, os setores que mais beneficiam dos serviços ditos culturais, invistam melhor, e mais, na requalificação do existente e na criação de novos equipamentos ou eventos, como hoje é moda dizer-se. E digo bem, quando priorizo a qualidade para o existente, em detrimento da quantidade para o novo, porque me parece que, antes de irmos mais longe em novos investimentos na área da cultura, precisamos urgentemente de melhorar os critérios e os modelos de financiamento adequados e ajustados, destinados aos já existentes. Retomando o caso exemplar acima descrito, temos o pleno direito de perguntar se fará algum sentido que o Estado invista algumas dezenas de milhões de euros na construção de raiz de uma infraestrutura desnecessária, para substituir outra que cumpria bem a sua função, deixando à míngua dezenas de outras instituições similares que permanentemente se confrontam com prosaicas necessidades de funcionamento, e cujas resoluções são sistematicamente adiadas, “por falta de verbas”!? E, de permeio, fazendo com que uma instituição museológica que até era tendencialmente autossustentável passe a ser altamente deficitária para as finanças públicas nacionais.

Em boa verdade, se a economia tem, em si mesma e do ponto de vista da análise sociológica, associada a ideia da “necessidade”, em contraponto e justaposição à ideia da “liberdade”, que carateriza o saber e a prática culturais, como muito bem a definiram Rita Raposo e João Carlos Graça, em 2004, (Cultura e economia: Um trajecto de afinidades e oposições electivas, in Actas dos ateliers do V Congresso da Associação Portuguesa de Sociologia Sociedades Contemporâneas: Reflexividade e Acção Teorias e Metodologias de Investigação), então não nos parece que possamos ou devamos colocar a tónica numa relação de subserviência, por manifesta inexistência de sentido, antes devendo colocá-la numa lógica de complementaridade, ainda que reconhecendo que faz mais falta à sociedade atual, conjuntural, uma cultura (teórica e prática) ao serviço da economia, que o contrário.

Naquela interessante comunicação, os autores refletem sobre o conceito de cultura que, pela sua “estreita associação à ideia de liberdade”, se opunha diretamente à ideia de necessidade, a que as ciências económicas estavam hipotecadas (e ainda estão, ironicamente, nos tempos de crise que atravessamos), conceito este que só a pós-modernidade transformaria na ideia de uma fusão “economia-cultura”, aqui admitindo a vivência de um “cume de auto consciência societária” que, segundo creio, esbateria a oposição e sublinharia a integração (dos conceitos), altura em que a economia e a cultura andariam de tal modo ligados que se confundiriam totalmente. Talvez por tudo isto, estejamos mais próximos, hoje em dia, de uma noção ideal de complementaridade. Em todo o caso, esta noção ainda tem de amadurecer muito até alcançar a plenitude de o ser, no concreto das políticas públicas definidas para a cultura e no pragmatismo dos agentes económicos que nela encontram um instrumento válido de afirmação e excelência que se não esgote, apenas, na vã glória do mediatismo momentâneo, que faz de qualquer investimento na cultura um ato meramente publicitário.

Agostinho Ribeiro

* Publicado no Suplemento Viseu Económico, Jornal do Centro, nº 674, de 13 de março de 2015.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Museu Grão Vasco, de 2014 para 2015. *

 
 
Em 2014 o Museu Grão Vasco cresceu de uma forma que pensamos sustentada e, por isso mesmo, com fortes probabilidades de continuar nesta linha ascendente, no ano que agora se inicia. Este foi o ano de afirmação da nossa estratégia operativa, nos vetores fundamentais de atuação programática – criar redes e cumplicidades institucionais; valorizar o papel do museu, através de práticas inovadoras de intervenção cultural; abrir os espaços e os serviços a iniciativas conjuntas com os nossos parceiros e amigos, que connosco entenderam por bem interagir.
Em suma, criar conexões no sentido mais amplo e abrangente da temática que o ICOM – Conselho Internacional dos Museus – definiu para o ano que findou.
E porque somos um serviço público, impõe-se um breve balanço crítico, a que o imediatismo das redes sociais agora nos impele, e que nós aceitamos de bom grado, por entendermos que assim se cumpre, também por esta via, um dos maiores desígnios que aos museus se colocam na sociedade contemporânea – a prestação de contas, revista ela a forma mais genérica e sucinta, que aqui se apresenta, ou um modelo mais detalhado e construído com base nos parâmetros superiormente definidos, nos termos regulamentares.
 
I
2014 – Das conexões que se podem estabelecer e dos resultados que se podem obter.
 
A lógica programática, ao longo deste ano, foi a de reforçar e cimentar as parcerias já existentes, acrescentar outras, diversificar áreas temáticas de atuação, interpelar entidades e pessoas no sentido de connosco colaborarem, pedindo o melhor que elas possuem e sabem, em benefícios que nos pareceram evidentes (e significativos) ao acréscimo das vivências culturais da sociedade viseense. Para atingir tais objetivos, contratualizamos com elas acordos de colaboração (com a assinatura de vinte protocolos, em sessão solene, no Dia Internacional dos Museus), a que se acrescentarão outros, em cerimónias específicas para o efeito, mas que já se encontram devidamente firmados desde o ano transato; realizamos e colaboramos na realização de várias exposições temporárias, em ritmo constante de apresentação, algumas vezes mesmo em simultâneo (“Ícones Russos”; “A Doce e Ácida Incisão – A Gravura em Contexto”, da Fundação Caixa Geral de Depósitos; Instalações Sonoras no âmbito dos Jardins Efémeros/Invisible Places Sounding Cities – “Respiro”, de Pedro Tudela e Miguel Carvalhais; “The Work Quartet”, de Mikhail Karikis; “Echo Meditation”, de Hands on Sound -; “A Colecção do Museu do Falso de visita ao Museu Grão Vasco”; “Visibilia” e “Pintura Naturalista na Coleção Millennium bcp”, que agora se encerra). Estivemos também presentes na Feira de São Mateus.
 
Fomos palco, em cooperação e coorganização com outras entidades, de Encontros e Congressos de impacto regional e nacional “Para que Serve um Sítio Património da Humanidade”, do Município de Viseu; “Cultura, Inovação e Valorização dos Recursos Territoriais no Portugal 2020”, da Secretaria de Estado da Cultura, CIM Viseu Dão Lafões e Município de Viseu; e “Habitar [Património] Viseu – D. Miguel da Silva – a obra ao tempo”, organizado pela Projecto Património, Escola Superior de Educação de Viseu, Universidade Católica – Pólo das Beiras e Museu Grão Vasco).
Recebemos ainda várias atividades de distinta temática e tipologia, em que pontificaram múltiplos eventos e as muitas e diversas performances integradas nos projetos artísticos, como foi o caso de “Viseu a…”, do Festival VIRIATUS – Viriatuna, do VISAIUM, da Música da Poesia, do Festival da Música da Primavera, do Festival de Música 2014, organizado pelo PIAGET Viseu, do Concerto de Guitarra Internacional, da comemoração do Dia Europeu da Música com concerto de guitarra clássica, do colóquio "Fake’M: conversas em torno do falso", do “48 Short Media”, dos “Jardins Efémeros”, entre outros, traduzidas em concertos, dj-set’s, instalações vídeo, apresentação de livros, Comemoração do Dia Mundial da Poesia, Dia Europeu da Música, Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, Noite e Dia Internacional dos Museus, estágios profissionais e académicos, visitas guiadas gerais e temáticas às exposições permanentes e temporárias.
 
As entidades associativas, de ensino secundário, profissional e superior, artísticas e de cultura viseense, como o GAMUS – Grupo de Amigos do Museu Grão Vasco, o Projecto Património, o Conservatório Regional de Música de Viseu ” Dr. Azeredo Perdigão”, GICAV – Grupo de Intervenção Cultural e Artística de Viseu; IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude – Viseu; o CESAE – Centro de Serviços e Apoio às Empresas; a Escola Profissional de Torredeita; a Escola Secundária de Canas de Senhorim, a Escola Profissional Mariana Seixas, a Escola Profitecla, a Santa Casa da Misericórdia de Viseu, o Cabido da Sé, a Polícia de Segurança Pública – Comando de Viseu, a Associação Comercial do Distrito de Viseu, a Ordem dos Advogados – delegação de Viseu, o Departamento dos Bens Culturais da Diocese de Viseu, o Jornal da Beira, a Fundação INATEL, o Comando distrital da GNR de Viseu, a AIRV – Associação Empresarial da Região de Viseu, o Estabelecimento Prisional de Viseu, o Grupo VISABEIRA, a FNAC Viseu, a Viseu Novo – SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana de Viseu, a Cáritas Diocesana de Viseu, o Arquivo Distrital de Viseu, a Associação Adamastor, o CEAR – Centro de Estudos Aquilino Ribeiro, o TGV – Teatro Grão Vasco da Escola Básica Grão Vasco, a Escola Superior de Educação de Viseu, a Universidade Católica Portuguesa -  Pólo de Viseu, o Instituto Piaget de Viseu, o Teatro Viriato, a Confraria de Saberes e Sabores do Dão, o Grupo “Incógnitus”, o “Shortcutz Xpress Viseu”, e, claro, o Turismo do Centro, o Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Viseu e o próprio Município de Viseu, foram os parceiros em evidência que nos permitiram a manutenção de um calendário de eventos ao longo do ano, de tal forma intenso e proveitoso, que não padeceu de hiatos significativos entre eles.
Não deixamos, evidentemente, de desenvolver todo o trabalho de âmbito museológico menos visível aos olhos da maioria dos cidadãos, trabalho esse criteriosamente distribuído pelos parcos, mas excelentes, recursos humanos que possuímos, nas áreas fundamentais da gestão do nosso inventário e coleções, serviços educativos, monitorização e controlo dos espaços expositivos, investigação, conservação, biblioteca, arquivo e centro de documentação.
 
II
Dois destaques, pela inovação.
 
Permitimo-nos dar agora particular realce a duas iniciativas próprias que muito têm contribuído para a afirmação do Museu, no plano divulgativo. Desde logo, o próprio facto de termos criado esta página do facebook, logo no início do ano, inserindo-nos assim numa estratégia de divulgação com recurso a esta importante rede social, opção que nos tem permitido majorar exponencialmente o alcance das nossas atividades, por chegarmos quase de imediato aos milhares de pessoas que fizeram o favor de ser nossas amigas e, por via disso, ficando automaticamente conhecedoras do que fazemos, quando o fazemos, e com quem o fazemos…
Aproveitando este precioso instrumento de divulgação que agora temos à disposição, entendemos que seria interessante enriquecer esta página com informação credível, mas não excessivamente hermética, sobre muitas obras de arte que o museu possui, mas para as quais raramente olhamos com detalhe e maior profundidade analítica, não dando a devida valia a um património museológico que existe, mas não é fruído por nós. Desta intenção nasceu uma das mais populares “rubricas” da nossa página “facebookiana”, designada por “MGV | Os Dias do Mês”. Trata-se de ilustrar a temática (ou o santo do calendário católico), com uma obra artística do Museu, descrevendo sumariamente a importância do tema (ou a história do santo) e dando informação útil à obra que o ilustra. Assim, conseguimos divulgar um conjunto notável de peças do nosso acervo que, de outra forma, se manteriam relativamente ausentes do nosso conhecimento, ao mesmo tempo que supomos criar incentivos acrescidos a visitarem, e revisitarem, o nosso museu. O alcance destas publicações tem sido verdadeiramente notável, muitas vezes acima dos mil visitantes por obra de arte, o que nos prova bem da recetividade e sucesso que esta iniciativa tem junto dos nossos amigos.
 
Ainda no âmbito dos projetos inovadores, já aqui demos conta do projeto “Virtual in situ”, como o apoio mecenático da Fundação Millennium BCP. Tratou-se de disponibilizar, em todas as salas de exposição permanente do museu, de unidades “touch screen” que reproduzem virtualmente as respetivas salas, com todas as obras expostas, permitindo a todos os visitantes que pretendam obter informação mais rica e detalhada, o possam fazer através de um simples “clique” na referida imagem, obtendo de imediato tal informação.
O recurso às novas tecnologias, suportada em conteúdos que cruzam a fiabilidade técnica e científica da informação à simplicidade vocabular dos textos, para melhor apreensão e interpretação dos mesmos vai ser ainda enriquecido com a disponibilidade de tablets (a preço simbólico), como complemento informativo, colocando também à disposição de todos os que tenham a respetiva aplicação no seu smartphone, o uso de códigos de barras bidimensionais, QR Code.
 
III
Ainda e sempre, os números.
 
Dos valores quantitativos, já aqui demos expressão sumária, na publicação do comentário “O MGV em números – 2014”, abaixo publicado. Mas convém ilustrar um pouco mais esses números, agora que estamos detentores da prestação geral dos Museus e Palácios da Direção Geral do Património Cultural, e que se pode analisar pela leitura da Nota à Imprensa, disponível em http://www.patrimoniocultural.pt/pt/imprensa/notas-de-imprensa/. Bastará, para o efeito, fazer o dowload do texto “Direção-Geral do Património Cultural ultrapassa os 3 milhões e meio de visitantes em 2014”, ali disponibilizado.
Para o Museu Grão Vasco, importa sublinhar que fomos, uma vez mais, o sexto museu que obteve mais visitantes durante o ano, depois dos quatro grandes museus nacionais (Arte Antiga, Coches, Azulejo e Arqueologia, todos localizados em Lisboa) e do singular e único Museu Monográfico de Conímbriga (com a especificidade tipológica que o distingue dos demais). Mas, se em valores absolutos nos situamos neste honroso lugar, em valores relativos e percentuais, podemos constatar que as nossas prestações são ainda mais felizes e conseguidas – fomos o quinto museu que mais subiu em número de visitantes, com mais 11.312, (depois de Arte Antiga, com mais 82.947; Arqueologia, com mais 22.927; Coches, com mais 17.799; e Azulejo, com mais 13.876 visitantes). Percentualmente, fomos o quarto museu que mais cresceu, com 16% (depois de Arte Antiga, 60%, Arqueologia, 29%, e Arte Popular, 24%).

Não menos importante foi o facto de termos registado um aumento de 22 % nas receitas de bilheteira e um aumento considerável de 46 % nas receitas da loja do museu. Esta constatação significa, portanto, que o aumento de visitantes foi mais consistente nas entradas pagas, do que nas entradas gratuitas, e que as políticas que têm vindo a ser definidas para as lojas dos museus, tanto local como nacional, têm dado bons resultados.
 
No cômputo geral, diríamos que nos colocamos mais de cinco vezes acima do crescimento médio dos Museus e Palácios (3% da média nacional, contra 16% do MGV), o que faz do Museu Grão Vasco um contribuinte líquido, francamente positivo, desse crescimento médio, e colocando Viseu no segundo lugar das cidades cujos museus registam os maiores volumes de visitantes, logo a seguir à capital. Esta constatação só nos pode e deve, a todos os viseenses, constituir motivo de orgulho e satisfação, para além do acréscimo de responsabilidade que inevitavelmente recai sobre nós, para o futuro.
 
IV
2015, o ano dos museus para uma sociedade sustentável.
 
Sendo esta a temática para o Dia Internacional dos Museus para 2015, definida pelo ICOM – Conselho Internacional dos Museus, preparámos um conjunto de iniciativas a decorrer na semana correspondente, incluindo a Noite e o Dia dos Museus, no conjunto da programação geral que temos já definida para este ano. Pensamos que será um ano de grandes acontecimentos para esta instituição museológica, estando agendada para breve uma conferência de imprensa, onde daremos conta dos projetos mais significativos que iremos realizar. Manteremos a linha programática definida no ano passado, com validade até 2016, por termos a perceção nítida das mais-valias que estamos a criar e desenvolver, no relacionamento cúmplice estabelecido com a sociedade viseense.
Muito obrigado.

Agostinho Ribeiro
 
* - Publicado na página facebook do Museu Grão Vasco, com o título "A Palavra ao Diretor | 04".