sexta-feira, 17 de maio de 2013

Adenda ao "Breve ensaio..."


Se o facto de se não ter ainda aberto concursos públicos para as direcções intermédias das entidades museológicas tuteladas pelas direcções regionais de cultura, (que eu critiquei duramente no meu artigo anterior, exemplificando com o meu próprio caso profissional), se deveu a uma orientação estratégica de transparência e rigor em que se privilegiou primeiro a resolução legal dos concursos para as direcções superiores, para só depois se resolverem os processos concursais das direcções intermédias, então eu devo reconhecer aqui que não tive razão na minha indignação manifestada na parte I do meu último artigo, "Breve ensaio sobre a desonestidade política e intelectual".
Isto porque não posso deixar de concordar com o princípio que agora percebo ter sido definido e implementado, e que subscrevo inteiramente, como não pode deixar de ser subscrito por qualquer pessoa de bem, lamentando apenas que o mesmo não tenha sido suficientemente publicitado e divulgado, para todos percebermos o que se estava a passar.
A falta de informação útil sobre estas matérias é, pois, a única razão que agora se me impõe protestar, em defesa de um erro de análise por mim produzido, precisamente por não se ter dado ao conhecimento público que esta estratégia procedimental estava a ser devidamente implementada.

Como é meu timbre, quando me apercebo que não fui justo na apreciação que faço, assumo o erro e peço que mo relevem apenas porque foi, neste caso concreto, proferido com base na ausência de informação devida e adequada sobre as razões que têm levado a tanto atraso nestes procedimentos concursais.
Obrigado

Agostinho Ribeiro

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Breve ensaio sobre a desonestidade política e intelectual *.


I

Passados que foram 10 meses sobre a minha substituição na direção do Museu de Lamego, substituição essa que se mantém atualmente apenas porque em Portugal o compadrio político é aceite como “coisa” normal e natural, em vez de ser repudiada e rejeitada por todos, como ato pestilento que de facto é, ainda que ao coberto da lei propositadamente assim elaborada para o permitir;
E passados que também foram 7 meses sobre o tempo em que o imprescindível concurso público para a direção do Museu de Lamego já deveria ter ocorrido, e que ainda não ocorreu apenas porque em Portugal as situações de “favor” parecem sempre prevalecer sobre a preocupação pelo integral cumprimento da lei, na parte imparcial e exigente em que a mesma se encontra formatada;
E ainda passados que foram já 4 meses do tempo em que a mesma lei ainda vai admitindo a imoralidade das prorrogações de prazos por razões extraordinárias que se não vislumbram, nem em lado algum são enunciadas, e que portanto não deveriam constituir entrave para que os princípios fundamentais ínsitos na Constituição da República Portuguesa se afirmem, se respeitem e se cumpram na sua plenitude;
Ou seja, passado este tempo todo em que estamos sujeitos ao exercício de um poder legalmente precário e moralmente indigno, começamos agora a estar em condições de tecer algumas considerações políticas sobre a natureza e o caráter dos serviços e pessoas responsáveis pela gestão da mais importante e emblemática instituição de arte e cultura de Lamego, e de toda a região duriense, pelo protagonismo missionário, ou falta dele, que se pode perceber no exercício de tais funções.
II
Desde 4 de agosto de 2012 até ao presente dia algumas alterações se verificaram na vida desta instituição, sendo que a maioria das que se verificaram foram pequenas em tudo, sobretudo porque nos demonstram a diminuta dimensão dos objetivos globais que se pretendem atingir; a ausência de uma estratégia adequada e dimensionada para a grandeza da entidade cultural que se serve; e finalmente pela mesquinhez dos atos técnicos produzidos com nenhuma outra intenção que não seja a de omitir o passado recente da instituição, em atropelo descarado aos valores da moral, da ética e da seriedade públicas.
Em suma, uma completa e total desonestidade política e intelectual, que deveria obrigar à demissão de quem a concebe e executa, e à vergonha de quem a apoia e suporta, direta ou indiretamente, por ação ou omissão.
Assistimos, portanto, no Museu de Lamego, à consumação de uma postura fortemente criticável, quando analisada de todos os pontos de vista possíveis (técnico, científico, gestionário, político e deontológico), com o conforto indecoroso do apoio que a Direção Regional de Cultura do Norte lhe concede, ao admitirem ambas (mesmo depois das oportunas reclamações formais por mim apresentadas), que os textos sobre o Museu de Lamego constantes nos sites tanto da Direção Regional de Cultura do Norte como do próprio Museu de Lamego, estejam redigidos de forma a omitir propositadamente o verdadeiro autor intelectual dos primeiros e a escamotear propositadamente as duas últimas décadas de vida do Museu de Lamego, no que ao segundo diz respeito.
Quanto ao primeiro caso, já eu tinha alertado para esta grosseira ausência de honestidade intelectual, por intermédio de um escrito meu, publicado neste mesmo blogue (Vale a pena tocar assim o rabecão…?, de 25 de setembro de 2012) e em resultado do qual, para além de uma pequena correção em abono da verdade histórica, nada mais aconteceu que pudesse colmatar a grave falha de natureza intelectual e científica de se não evidenciarem as fontes inspiradoras de tal texto, a saber, os textos públicos de investigação sobre história local, produzidos pelo saudoso Dr. Francisco J. Laranjo.
Já quanto ao texto que podemos encontrar no site do Museu de Lamego, onde a História desta instituição de cultura se transfigura desonestamente numa história (redutora e parcelar) das obras no edifício, da responsabilidade da antiga Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, para assim se omitir deliberadamente a verdadeira História do Museu de Lamego dos últimos 20 anos da sua existência, traduz de novo a mesquinhez e a desorientação de quem, estando ao serviço de uma entidade pública, não lhe é conferido qualquer direito arbitrário de censurar, por omissão consciente e assumida, seja que período for da sua história e da sua quase secular existência.
III
Já em matéria de substância programática, o que se vai adivinhando pela interpretação dos indícios materiais que se descortinam, apenas nos pode suscitar imensas preocupações, desde logo pela quase completa ausência de informação sólida sobre o que se pretende para os próximo anos desta instituição, apenas percetível pelo ocorrido até ao momento, através de iniciativas sem qualquer ligação estratégica à comunidade onde o Museu se insere, muitas delas sem qualquer ligação lógica à própria entidade museológica que as recebe. Tudo isto numa completa ausência de planeamento visível que não seja o do casuístico e banal aproveitamento de ofertas díspares e desgarradas, que vão fazendo a redutora programação do Museu de Lamego, salvaguardadas as sempre honrosas exceções que, como é evidente, também existem.
Isto para não aprofundarmos a total irresponsabilidade cometida num dos últimos eventos realizados no Museu de Lamego que, pela gravidade do ato, apenas deveria ter como consequência, em modesto entender, o afastamento imediato de quem aceitou e promoveu a sua realização. Refiro-me, concretamente, ao evento “Há noite no Museu”, que alguns cidadãos alcandoraram a uma “excelente” iniciativa, mas que não passa de um ato absolutamente negligente e irresponsável, para quem percebe um mínimo de regras de segurança a serem cumpridas em qualquer museu.
Ainda em matéria de natureza programática, começa a perceber-se que o investimento técnico e financeiro feito pelo Estado Português, nos últimos anos, ao promover a elaboração de um excelente projeto de ampliação e requalificação do Museu de Lamego, pronto para ser executado, será deitado ao lixo e substituído pelo arranjo pontual da porta principal, benefício certamente importante, mas que apenas pretende desviar a atenção dos lamecenses e visitantes do nosso Museu. Ao procederem assim, sem quaisquer explicações públicas, obliteram conscientemente a premente e imperiosa necessidade de se proceder à obra geral, que verdadeiramente importa (e onde o arranjo da porta principal também está incluído), a favor de uma inexpressiva e irrelevante parcela do muito que há a fazer neste Museu, no que à sua requalificação física interessa evidenciar.
Significa isto que, ao tentarem reduzir as necessárias intervenções de obra no Museu de Lamego a arranjos de uma porta, eventualmente à pintura de algumas fachadas e à execução de pequenos benefícios dispersos pelo edifício, os atuais responsáveis pelo Museu de Lamego mais não estão a fazer que a tentar desviar a atenção das pessoas, de forma que me parece muito desleal, em especial aos lamecenses, por pretenderem transmitir a falsa ideia de que estão a realizar o que é necessário quando, em boa verdade, nada mais estão a fazer do que a esconder o abandono de um projeto que é fundamental e imprescindível que se realize no nosso Museu. Mais que não fosse, até por uma questão de igualdade de tratamento e consideração, perante o que já foi realizado noutros Museus do Estado.
Esta incomensurável deslealdade política, produzida por quem deveria ser, sempre e em qualquer circunstância, leal aos princípios éticos e deontológicos dos cargos e funções que exercem, obriga agora a que se declare publicamente a manutenção ou abandono de tal desiderato museológico e museográfico, e o silêncio envergonhado  que sobre esta matéria tem sido patenteado até ao momento não deveria ser aceite pacificamente pelos cidadãos que são, em última análise, os contribuintes líquidos para a sustentabilidade remuneratória destes responsáveis, nos cargos que ocupam por decisão exclusivamente política. Pelo menos até ao momento!
IV
Que pena o Senhor Secretário de Estado da Cultura não ter oportunidade de ler este e outros escritos que, um pouco por todo o lado, vão sendo levados ao conhecimento público sobre os desmandos e a falta de sentido de serviço público que alguns dos que ele nomeia e sustenta em lugares de chefia vão dando mostras de produzir;
Que pena o Senhor Secretário de Estado da Cultura não ter tido ainda a oportunidade de se debruçar, ouvindo as várias e diferentes sensibilidades dos profissionais e dirigentes do sector do património e dos museus, sobre o inqualificável rumo que o sector da cultura portuguesa, no que a alguns museus diz respeito, está a tomar;
Que pena o Senhor Secretário de Estado da Cultura não poder dispor de um pouquinho do seu (certamente precioso) tempo, para tentar perceber o que se passa em alguns dos museus que tutela, e que já foram orgulhosos símbolos de um Portugal de cultura solidária e territorialmente equilibrada, justo para com as diversas comunidades que o constituem, mas que agora não passam de meros instrumentos ao serviço de um Portugal miserabilista e sectário, elitista, centrado em Lisboa e pouco mais, porque no restante é deixado ao sabor das arbitrariedades de quem pouco ou nada percebe e sente no que diga respeito ao real valor cultural, institucional e simbólico, das entidades que estão a gerir.
Que pena… Talvez então se percebesse melhor que quem tem o poder de alterar as coisas não se deve ficar pelo simples lamento retórico sobre a situação existente, quando a reconhecemos deficitária, mas sim tudo fazer para que ela se altere efetivamente para melhor!
Agostinho Ribeiro
*((Este artigo é escrito por mim na qualidade de Vereador do Partido Socialista na Câmara Municipal de Lamego, e diz respeito a uma entidade pública instalada na cidade de Lamego, dirigida atualmente por responsáveis nomeados pelo poder político, ainda não sufragados por qualquer concurso público que lhes confira o mérito de o serem por competência estritamente profissional. A circunstância de ter sido afastado da direção do Museu de Lamego por razões também políticas (política ideológica e política cultural), que nada têm a ver com questões de competência ou mérito profissionais, reforça e aprofunda o sentido político deste texto)).