quinta-feira, 7 de março de 2013

O Museu de Lamego, (mal) visto pelo Guia Turístico do Douro.




Uma circunstância especial fez-me recordar a péssima sensação que tive ao ler o Guia Turístico do Douro, quando me apercebi da forma nada adequada com que o Museu de Lamego tinha sido tratado naquele roteiro. Devido aos meus diversos afazeres e responsabilidades, fui adiando uma tomada de posição pública sobre o assunto, e confesso que até já estava quase esquecido... quase...
Mas essa circunstância deu-me agora o ímpeto que então me faltou, e como nunca gostei de deixar de dizer o que penso e sinto, enviei esta missiva aos responsáveis pela elaboração deste Roteiro.





Exmos Senhores


Tenho andado a adiar sistematicamente uma imperiosa necessidade que sinto de apresentar a Vossas Excelências os protestos da minha maior indignação pela forma absolutamente redutora e omissa com que trataram o Museu de Lamego no Roteiro do Douro, de Vossa responsabilidade.


Não colocar no texto “Museologia” uma única referência ao Museu que detém o património artístico mais valioso e representativo da região duriense, o único Museu Estatal da Região do Douro, com um acervo de excelência que o coloca ao nível dos restantes museus portugueses mais valiosos para a construção da  identidade cultural portuguesa, é atitude que eu jamais esperaria de quem tem a obrigação estrita de saber o que está a escrever, quando aborda a temática dos museus e da museologia no território duriense.

Perante tamanha omissão, não fazendo valer com o destaque necessário algumas das colecções que são referência nacional e internacional, sem expor a datação de algumas das obras mais significativas do seu espólio, como é o caso das tapeçarias flamengas do século XVI, por acaso “apenas” a maior e melhor colecção de panos de armar renascentista, existente em colecções nacionais; ou não referir que as primeiras obras identificadas de Grão Vasco, o maior pintor do pré-renascimento português se encontram, precisamente, no Museu de Lamego, é coisa que não lembra a ninguém, pelo menos a quem tenha um mínimo de conhecimento sobre o património artístico duriense.

Museu quase centenário, o ÚNICO na região que alberga colecções que estão classificados como Tesouros Nacionais, ainda por cima em maior número que a esmagadora maioria dos museus do Estado Português; objecto de interesse e investigação permanentes, tanto por nacionais como por estrangeiros, sobretudo europeus; sem dúvida o ÚNICO Museu clássico de arte antiga sediado no território duriense; inquestionavelmente um dos museus de arte mais significativos de Portugal... e não merece sequer uma referência no texto do vosso Roteiro, estando apenas contemplado com um texto ilustrativo de uma fotografia da fachada, absolutamente redutor e secundário, se relacionado com a importância que o mesmo possui no panorama museológico local, regional, nacional e internacional.

Para que conste, deixo lavrado este meu profundo desagrado, pela forma nada competente nem profissional com que elaboraram este Roteiro, no que à museologia e ao Museu de Lamego diz respeito.

Com os meus cumprimentos

Agostinho Ribeiro 

segunda-feira, 4 de março de 2013

A calma... antes da tempestade.



O confrangedor silêncio que se seguiu à manifestação de 2 de Março (também ela tristemente silenciosa, em nome de um sofrimento contido dos portugueses) deve obrigar-nos a reflectir sobre o que está a acontecer neste momento em Portugal:

- Primeiro balbuciaram-se umas ténues tentativas de menosprezar a quantidade, trazendo à colação argumentos e teorias de densidades humanas por metro quadrado disponível...
Mas as comparações possíveis não admitem contraditório – estamos perante uma das maiores manifestações de indignados de que há memória no nosso País.

- Depois ensaiaram-se umas tímidas considerações em torno da diversidade de interesses dos manifestantes, tentando iludir a questão e reduzi-la ao facto de que todos os que estiveram na manifestação pretenderem rumos diversos para o futuro de Portugal...
Mas também aqui o fôlego foi fraco, porque se houve clareza na intenção unânime de todos os manifestantes, ela ficou muitíssimo bem expressa nesta manifestação, ainda por cima como uma inequívoca e reforçada ratificação da de 15 de Setembro de 2012.

- Finalmente, optou-se pelo desprezo generalizado e ostensivo, a roçar o silêncio cúmplice, como se a rua não fosse assim tão importante na vivência e participação democráticas de todos nós...
Mas depois vem-nos à memória casos passados, um pouco por todo o lado, que desmentem esta imprópria opção.

É que as coisas já estão num tal estado de degradação, o povo já entrou numa fase tal de repulsa contra os governantes que, das duas uma, – ou Portugal muda imediatamente de rumo, e altera completamente todo o sistema de organização política e administrativa do Estado; recusa ser marionete nas mãos de especuladores e usurários; impõe-se e exige uma Europa solidária que ponha fim a esta espiral vergonhosa de austeridade contra os fracos; ou temo verdadeiramente que aconteça uma desgraça ainda maior no nosso País, num futuro que é já amanhã!

Este clamoroso silêncio que se está a seguir à manifestação dos indignados, soa-me à desconcertante acalmia que antecede sempre a pior das tempestades...

Agostinho Ribeiro