O confrangedor silêncio que se
seguiu à manifestação de 2 de Março (também ela tristemente silenciosa, em nome
de um sofrimento contido dos portugueses) deve obrigar-nos a reflectir sobre o
que está a acontecer neste momento em Portugal:
- Primeiro balbuciaram-se umas
ténues tentativas de menosprezar a quantidade, trazendo à colação argumentos e teorias de densidades humanas por metro quadrado disponível...
Mas as comparações possíveis não
admitem contraditório – estamos perante uma das maiores manifestações de
indignados de que há memória no nosso País.
- Depois ensaiaram-se umas tímidas
considerações em torno da diversidade de interesses dos manifestantes, tentando
iludir a questão e reduzi-la ao facto de que todos os que estiveram na
manifestação pretenderem rumos diversos para o futuro de Portugal...
Mas também aqui o fôlego foi
fraco, porque se houve clareza na intenção unânime de todos os manifestantes,
ela ficou muitíssimo bem expressa nesta manifestação, ainda por cima como uma inequívoca e reforçada ratificação da de 15 de Setembro de 2012.
- Finalmente, optou-se pelo desprezo generalizado e ostensivo, a roçar o silêncio cúmplice, como se a rua não fosse assim tão importante
na vivência e participação democráticas de todos nós...
Mas depois vem-nos à memória casos passados, um pouco por todo o lado, que desmentem esta imprópria opção.
É que as coisas já estão num tal
estado de degradação, o povo já entrou numa fase tal de repulsa contra os
governantes que, das duas uma, – ou Portugal muda imediatamente de rumo, e
altera completamente todo o sistema de organização política e administrativa do
Estado; recusa ser marionete nas mãos de especuladores e usurários; impõe-se e
exige uma Europa solidária que ponha fim a esta espiral vergonhosa de
austeridade contra os fracos; ou temo verdadeiramente que aconteça uma desgraça
ainda maior no nosso País, num futuro que é já amanhã!
Este clamoroso silêncio que se
está a seguir à manifestação dos indignados, soa-me à desconcertante acalmia
que antecede sempre a pior das tempestades...
Agostinho Ribeiro
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