A história é simples e conta-se
em duas penadas, lembrando-me de imediato do velho ditado popular português que
reza assim: “Quem te manda a ti,
sapateiro, tocar o rabecão?”, em sábio aforismo sobre os que pretendem ser
o que não são ou passar pelo que não podem ou (ainda) não sabem ser...
Vem isto a propósito de um texto
que agora se encontra disponível no site da Direcção Regional de Cultura do
Norte, sobre o Museu de Lamego, quase integralmente baseado nas competentes
reflexões do nosso saudoso Dr. Francisco J. Laranjo, mas em lado algum referenciado
como fonte inspiradora do que ali se encontra vertido, o que não deixa de ser
uma indelicadeza, a todos os títulos lamentável...
A omissão das fontes primordiais
de quase tudo o que ali está escrito, permite-nos a ideia de que se pretende
fazer parecer que aquilo saiu da mente de alguém da Direcção Regional de
Cultura do Norte, mas a verdade é que mais não é que o resultado da
investigação cuidada do Dr. Francisco Laranjo, ainda que ali se encontre redigido
por outras palavras... com a mesma semântica.
Um mínimo de cortesia académica
impunha essa explicitação, e se não se podem colocar as referências bibliográficas
no fim do artigo, ou em caixa separada, nada impede que se não fizessem tais
referências no próprio corpo do texto publicado!
A inadequada conduta no uso
indevido das ideias dos outros parece que faz escola nesta Direcção Regional de
Cultura, porque os textos anteriores que lá se encontravam eram da minha
autoria, mas não tinham qualquer referência a esse facto, nem me solicitaram
autorização para tal, como mandam as regras da boa educação e da civilidade,
para além das questões relacionadas com os direitos autorais e o respeito
profissional que a todos devemos considerar.
Perante a minha reclamação
formal, que não mereceu então uma resposta oportuna e atempada (em violação do
Código do Procedimento Administrativo) substituíram-se os textos em causa (claro,
não é conveniente que o nome de Agostinho Ribeiro apareça em lado algum),
resultando na publicação de dois novos textos, certamente elaborados em “excesso
de velocidade”, assimilando à pressa, e com pouco cuidado reflexivo, as
informações lidas das obras de Francisco J. Laranjo.
Para além de algumas irreverências
literárias (o “espólio” do Museu ter sido constituído inicialmente pelo
“espólio” já existente), e outros considerandos de estranha concordância
gramatical, releva o facto muito negativo de conter imprecisões técnicas, bem
como de equívocos históricos, que em nada beneficiam a imagem de rigor do nosso
Museu de Lamego.
Pode parecer, aos olhos dos mais
desatentos, que são questões insignificantes, mas a verdade é que nos
normativos dos inventários museológicos não existe o termo “pintura sobre
tábua” (tábua, tanto pode ser de pedra como de madeira), mas sim “óleo sobre madeira”,
que é uma precisão da matéria sobre o suporte, admitindo-se também o uso do
termo “pintura sobre madeira” ou, para sermos ainda mais precisos, “pintura a
óleo sobre madeira”, aqui já na perspectiva da categoria da obra de arte (pintura),
com a matéria utilizada (óleo), sobre o suporte em que a mesma é produzida
(madeira).
Bastava uma leitura atenta ao
Roteiro do Museu de Lamego...
Quando muito, poderia colocar-se
a referência, em linguagem mais acessível, aos “painéis” de Vasco Fernandes, designação
que se compreenderia melhor pelo “facilitismo” da linguagem utilizada, mas não
a designação “pintura sobre tábua” que, para além de não ser usada em termos
técnicos, por imprecisa e errónea que é, transmite uma impressão geral de menos
valia constitutiva das obras em apreço.
Do mesmo modo, referir que o desenho
dos quatro panos que narram a história de Édipo é da autoria de Bernard van
Orley, informação certamente relevante, e omitir ao mesmo tempo que a mais
emblemática e importante de todas as tapeçarias, A Luta entre os Vícios e as Virtudes, (inadequadamente designada,
no meu entender, por “O Julgamento do Paraíso”)
foi tecida a partir de um debuxo de Jean van Roome, outro dos mais prestigiados
e conhecidos pintores da fábrica bruxelense (sendo esta tapeçaria a que, de
entre todas, se destaca pela sua relevância artística e valor patrimonial), é o
mesmo que publicitar “o” importante e omitir “o mais” importante, o que não me
parece ser uma grande ideia, nem resultar de uma reflexão consistente e aprofundada
sobre o valor do nosso património museológico lamecense...!
Mas onde o desconhecimento das
coisas mais impressiona, no sentido literal do termo, e que traduz bem ao que
pode levar a ânsia de substituir o que existe pelo que se quer que passe a
existir, está na afirmação desastrada de considerar que o “Hospital Novo” de
Lamego era o edifício onde está instalado o Teatro Ribeiro Conceição. Certamente
que essa afirmação resulta da leitura apressada do que o Dr. Francisco Laranjo
refere na sua excelente obra “Lamego Antiga”, deduzindo, mal, que o Hospital
Novo a que ele se referia era o do Rossio lamecense... Mas não, não é. Esse era
o “Velho” Hospital... O “Novo” Hospital a que se referia foi construído no
“cimo de Alvoraçães”, em 1892, como o próprio Dr. Laranjo detalhadamente refere.
Outro, portanto, que não o velho...
Enfim... Seria bom que a Direcção
Regional de Cultura do Norte se apressasse a corrigir os lapsos agora redigidos
e, da próxima vez, a terem um pouco mais de cuidado com o que se escreve,
porque nem todos os lamecenses andam desatentos e indiferentes ao que se passa
por cá, pela nossa terra, e nem todos são assim tão distraídos que não percebam
as incongruências aqui e ali produzidas, em desfavor da verdade e dos méritos
patrimoniais e históricos de Lamego...
Agostinho Ribeiro
Nota - Verifiquei já que alteraram o referido texto, substituindo o "novo" hospital pelo "antigo". Estamos sempre a tempo de corrigir os erros cometidos... embora mudar alguma coisa para que a maior parte fique na mesma nunca foi, nem será, a solução mais adequada, seja para o que for.
Lamego, 29 de Setembro de 2012.
Agostinho Ribeiro
Nota 2 - A coisa vai devagarinho, mas vai... O "espólio" já não foi complementado com o "espólio", mas agora já é com "diversos elementos", seja lá o que isso for...
Lamego, 1 de Outubro de 2012.
Agostinho Ribeiro
Nota - Verifiquei já que alteraram o referido texto, substituindo o "novo" hospital pelo "antigo". Estamos sempre a tempo de corrigir os erros cometidos... embora mudar alguma coisa para que a maior parte fique na mesma nunca foi, nem será, a solução mais adequada, seja para o que for.
Lamego, 29 de Setembro de 2012.
Agostinho Ribeiro
Nota 2 - A coisa vai devagarinho, mas vai... O "espólio" já não foi complementado com o "espólio", mas agora já é com "diversos elementos", seja lá o que isso for...
Lamego, 1 de Outubro de 2012.
Agostinho Ribeiro
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