terça-feira, 25 de setembro de 2012

Vale a pena tocar assim o rabecão...?






A história é simples e conta-se em duas penadas, lembrando-me de imediato do velho ditado popular português que reza assim: “Quem te manda a ti, sapateiro, tocar o rabecão?”, em sábio aforismo sobre os que pretendem ser o que não são ou passar pelo que não podem ou (ainda) não sabem ser...

Vem isto a propósito de um texto que agora se encontra disponível no site da Direcção Regional de Cultura do Norte, sobre o Museu de Lamego, quase integralmente baseado nas competentes reflexões do nosso saudoso Dr. Francisco J. Laranjo, mas em lado algum referenciado como fonte inspiradora do que ali se encontra vertido, o que não deixa de ser uma indelicadeza, a todos os títulos lamentável...
A omissão das fontes primordiais de quase tudo o que ali está escrito, permite-nos a ideia de que se pretende fazer parecer que aquilo saiu da mente de alguém da Direcção Regional de Cultura do Norte, mas a verdade é que mais não é que o resultado da investigação cuidada do Dr. Francisco Laranjo, ainda que ali se encontre redigido por outras palavras... com a mesma semântica.
Um mínimo de cortesia académica impunha essa explicitação, e se não se podem colocar as referências bibliográficas no fim do artigo, ou em caixa separada, nada impede que se não fizessem tais referências no próprio corpo do texto publicado!

A inadequada conduta no uso indevido das ideias dos outros parece que faz escola nesta Direcção Regional de Cultura, porque os textos anteriores que lá se encontravam eram da minha autoria, mas não tinham qualquer referência a esse facto, nem me solicitaram autorização para tal, como mandam as regras da boa educação e da civilidade, para além das questões relacionadas com os direitos autorais e o respeito profissional que a todos devemos considerar.

Perante a minha reclamação formal, que não mereceu então uma resposta oportuna e atempada (em violação do Código do Procedimento Administrativo) substituíram-se os textos em causa (claro, não é conveniente que o nome de Agostinho Ribeiro apareça em lado algum), resultando na publicação de dois novos textos, certamente elaborados em “excesso de velocidade”, assimilando à pressa, e com pouco cuidado reflexivo, as informações lidas das obras de Francisco J. Laranjo.
Para além de algumas irreverências literárias (o “espólio” do Museu ter sido constituído inicialmente pelo “espólio” já existente), e outros considerandos de estranha concordância gramatical, releva o facto muito negativo de conter imprecisões técnicas, bem como de equívocos históricos, que em nada beneficiam a imagem de rigor do nosso Museu de Lamego.

Pode parecer, aos olhos dos mais desatentos, que são questões insignificantes, mas a verdade é que nos normativos dos inventários museológicos não existe o termo “pintura sobre tábua” (tábua, tanto pode ser de pedra como de madeira), mas sim “óleo sobre madeira”, que é uma precisão da matéria sobre o suporte, admitindo-se também o uso do termo “pintura sobre madeira” ou, para sermos ainda mais precisos, “pintura a óleo sobre madeira”, aqui já na perspectiva da categoria da obra de arte (pintura), com a matéria utilizada (óleo), sobre o suporte em que a mesma é produzida (madeira).
Bastava uma leitura atenta ao Roteiro do Museu de Lamego...
Quando muito, poderia colocar-se a referência, em linguagem mais acessível, aos “painéis” de Vasco Fernandes, designação que se compreenderia melhor pelo “facilitismo” da linguagem utilizada, mas não a designação “pintura sobre tábua” que, para além de não ser usada em termos técnicos, por imprecisa e errónea que é, transmite uma impressão geral de menos valia constitutiva das obras em apreço.
Do mesmo modo, referir que o desenho dos quatro panos que narram a história de Édipo é da autoria de Bernard van Orley, informação certamente relevante, e omitir ao mesmo tempo que a mais emblemática e importante de todas as tapeçarias, A Luta entre os Vícios e as Virtudes, (inadequadamente designada, no meu entender, por “O Julgamento do Paraíso”) foi tecida a partir de um debuxo de Jean van Roome, outro dos mais prestigiados e conhecidos pintores da fábrica bruxelense (sendo esta tapeçaria a que, de entre todas, se destaca pela sua relevância artística e valor patrimonial), é o mesmo que publicitar “o” importante e omitir “o mais” importante, o que não me parece ser uma grande ideia, nem resultar de uma reflexão consistente e aprofundada sobre o valor do nosso património museológico lamecense...!

Mas onde o desconhecimento das coisas mais impressiona, no sentido literal do termo, e que traduz bem ao que pode levar a ânsia de substituir o que existe pelo que se quer que passe a existir, está na afirmação desastrada de considerar que o “Hospital Novo” de Lamego era o edifício onde está instalado o Teatro Ribeiro Conceição. Certamente que essa afirmação resulta da leitura apressada do que o Dr. Francisco Laranjo refere na sua excelente obra “Lamego Antiga”, deduzindo, mal, que o Hospital Novo a que ele se referia era o do Rossio lamecense... Mas não, não é. Esse era o “Velho” Hospital... O “Novo” Hospital a que se referia foi construído no “cimo de Alvoraçães”, em 1892, como o próprio Dr. Laranjo detalhadamente refere. Outro, portanto, que não o velho...

Enfim... Seria bom que a Direcção Regional de Cultura do Norte se apressasse a corrigir os lapsos agora redigidos e, da próxima vez, a terem um pouco mais de cuidado com o que se escreve, porque nem todos os lamecenses andam desatentos e indiferentes ao que se passa por cá, pela nossa terra, e nem todos são assim tão distraídos que não percebam as incongruências aqui e ali produzidas, em desfavor da verdade e dos méritos patrimoniais e históricos de Lamego...

Agostinho Ribeiro

Nota - Verifiquei já que alteraram o referido texto, substituindo o "novo" hospital pelo "antigo". Estamos sempre a tempo de corrigir os erros cometidos... embora mudar alguma coisa para que a maior parte fique na mesma nunca foi, nem será, a solução mais adequada, seja para o que for.
Lamego, 29 de Setembro de 2012.

Agostinho Ribeiro

Nota 2 - A coisa vai devagarinho, mas vai... O "espólio" já não foi complementado com o "espólio", mas agora já é com "diversos elementos", seja lá o que isso for...
Lamego, 1 de Outubro de 2012.

Agostinho Ribeiro

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