Acabei de receber um
extraordinário convite, assinado pelo senhor Presidente da Câmara Municipal de
Lamego e pelo senhor Presidente da Assembleia Municipal de Lamego para que me
associe “à homenagem pública que no próximo dia 5 de Outubro – Dia da Implantação da República – será
dedicada aos antigos presidentes destes órgãos autárquicos, que exerceram
funções desde 1910”.
E o convite continua: “Na
qualidade de familiar de uma das personalidades homenageadas, muito honraria o
Município de Lamego a presença de V. Ex.ª e da família no programa de
comemorações que visa reconhecer o trabalho desenvolvido por estes autarcas”.
Para além do caricato do convite,
em que, por acaso, o meu “familiar de uma das personalidades homenageadas” sou
eu próprio, por ter sido, esporadicamente, Presidente da Câmara Municipal de
Lamego nos idos de 1989 (o que dá bem conta da forma propositadamente impessoal
com que pretendem “homenagear os autarcas lamecenses”, no que à minha pessoas
diz respeito), sobreleva o facto de estarmos perante um fingimento na forma
tentada, que em nada prestigia a República, como a seguir tentarei explanar...
Isto porque o que mais me
impressiona, é que o senhor Presidente da Assembleia Municipal de Lamego assine
este convite, que também me é endereçado, depois de ter, há bem pouco tempo e
em sede da própria Assembleia Municipal, feito aprovar (pasme-se), uma moção de
censura contra a minha pessoa, em nome da coligação PSD/CDS-PP, assumindo
vergonhosamente um acto eticamente reprovável e politicamente descabido em
qualquer país democrático do MUNDO, ao personalizar um ataque feroz a um
autarca eleito democraticamente, pelo simples facto de este ter manifestado a
sua opinião crítica sobre um assunto, e procedimentos institucionais menos
probos com ele relacionados, de relevância local e regional, em termos
públicos...
Como impressiona também que seja
o senhor Presidente da Câmara Municipal de Lamego a endereçar-me tal convite,
depois de ter intentado já três processos judiciais contra a minha pessoa, por
supostos crimes de difamação (até agora com resultados de arquivação e
absolvição), em tentativas continuadas de vergonhosa instrumentalização
política da Justiça, quando todos sabemos que apenas tenho afirmado, no campo
da batalha e do contraditório políticos, verdades límpidas e transparentes,
para além de devidamente comprovadas, sobre actos reprováveis de gestão municipal, que o mesmo é dizer, da res pública...
Actos desta natureza, pela
inoportunidade temporal, num tempo em que a esmagadora maioria dos portugueses,
e também dos lamecenses, necessitam de ver os seus políticos preocupados com
assuntos bem mais sérios e graves que cerimónias de homenagem a quem apenas
cumpriu, em cada momento, o seu dever de cidadania e, sobretudo, pela enorme
desfaçatez política que demonstram possuir os seus subscritores, tentando com
este acto, talvez, um branqueamento solene e público sobre tudo o que está a
acontecer em Lamego, só pode merecer uma atitude e uma resposta da minha parte
– não!
Não estarei presente em tal
cerimónia, que para mim me soa a um hino de suprema hipocrisia.
Considero que ser homenageado por
pessoas que têm demonstrado profundo desprezo pelos valores fundamentais de um
Estado Democrático e de Direito, comprovadamente exercido sobre a minha pessoa,
onde a expressão da livre opinião, responsável e fundamentada, constitui pedra
basilar da sua própria existência, só pode merecer o nosso distanciamento e
recusa ...!
Não podemos desrespeitar os
outros, em concreto e num determinado momento, porque serve os nossos desígnios
políticos, e a seguir fazermos de conta que somos pessoas abstractamente
respeitadoras dos outros, quando nos convém e dá jeito.
Ou vice versa porque, nestes
casos, a ordem dos factores é arbitrária.
Agostinho Ribeiro
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