segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Obrigado pelo convite... mas declino!





Acabei de receber um extraordinário convite, assinado pelo senhor Presidente da Câmara Municipal de Lamego e pelo senhor Presidente da Assembleia Municipal de Lamego para que me associe “à homenagem pública que no próximo dia 5 de Outubro – Dia da Implantação da República – será dedicada aos antigos presidentes destes órgãos autárquicos, que exerceram funções desde 1910”.
E o convite continua: “Na qualidade de familiar de uma das personalidades homenageadas, muito honraria o Município de Lamego a presença de V. Ex.ª e da família no programa de comemorações que visa reconhecer o trabalho desenvolvido por estes autarcas”.

Para além do caricato do convite, em que, por acaso, o meu “familiar de uma das personalidades homenageadas” sou eu próprio, por ter sido, esporadicamente, Presidente da Câmara Municipal de Lamego nos idos de 1989 (o que dá bem conta da forma propositadamente impessoal com que pretendem “homenagear os autarcas lamecenses”, no que à minha pessoas diz respeito), sobreleva o facto de estarmos perante um fingimento na forma tentada, que em nada prestigia a República, como a seguir tentarei explanar...

Isto porque o que mais me impressiona, é que o senhor Presidente da Assembleia Municipal de Lamego assine este convite, que também me é endereçado, depois de ter, há bem pouco tempo e em sede da própria Assembleia Municipal, feito aprovar (pasme-se), uma moção de censura contra a minha pessoa, em nome da coligação PSD/CDS-PP, assumindo vergonhosamente um acto eticamente reprovável e politicamente descabido em qualquer país democrático do MUNDO, ao personalizar um ataque feroz a um autarca eleito democraticamente, pelo simples facto de este ter manifestado a sua opinião crítica sobre um assunto, e procedimentos institucionais menos probos com ele relacionados, de relevância local e regional, em termos públicos...

Como impressiona também que seja o senhor Presidente da Câmara Municipal de Lamego a endereçar-me tal convite, depois de ter intentado já três processos judiciais contra a minha pessoa, por supostos crimes de difamação (até agora com resultados de arquivação e absolvição), em tentativas continuadas de vergonhosa instrumentalização política da Justiça, quando todos sabemos que apenas tenho afirmado, no campo da batalha e do contraditório políticos, verdades límpidas e transparentes, para além de devidamente comprovadas, sobre actos reprováveis de gestão  municipal, que o mesmo é dizer, da res pública...

Actos desta natureza, pela inoportunidade temporal, num tempo em que a esmagadora maioria dos portugueses, e também dos lamecenses, necessitam de ver os seus políticos preocupados com assuntos bem mais sérios e graves que cerimónias de homenagem a quem apenas cumpriu, em cada momento, o seu dever de cidadania e, sobretudo, pela enorme desfaçatez política que demonstram possuir os seus subscritores, tentando com este acto, talvez, um branqueamento solene e público sobre tudo o que está a acontecer em Lamego, só pode merecer uma atitude e uma resposta da minha parte – não!

Não estarei presente em tal cerimónia, que para mim me soa a um hino de suprema hipocrisia.
Considero que ser homenageado por pessoas que têm demonstrado profundo desprezo pelos valores fundamentais de um Estado Democrático e de Direito, comprovadamente exercido sobre a minha pessoa, onde a expressão da livre opinião, responsável e fundamentada, constitui pedra basilar da sua própria existência, só pode merecer o nosso distanciamento e recusa ...!

Não podemos desrespeitar os outros, em concreto e num determinado momento, porque serve os nossos desígnios políticos, e a seguir fazermos de conta que somos pessoas abstractamente respeitadoras dos outros, quando nos convém e dá jeito.
Ou vice versa porque, nestes casos, a ordem dos factores é arbitrária.

Agostinho Ribeiro

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