Do mesmo modo
que fiz há um ano atrás para 2007, também hoje gostaria de tecer algumas
considerações sobre o que poderá vir a ser, para todos nós, o ano de 2008, no
plano nacional e local, dado que ambas as realidades são indissociáveis para o
nosso bem estar colectivo.
No plano
nacional mantenho a legítima convicção de um país que, pela primeira vez desde
há muitos anos, trilha os caminhos do rigor e da seriedade no controlo das
contas públicas, bem patente na inatacável redução do défice público, a par de
uma tímida, mas consistente e sustentada retoma da actividade económica geral,
que dará frutos muito em breve, a favor do bem estar de todos os portugueses.
Os indicadores têm
vindo a ser crescentemente favoráveis à economia portuguesa, embora os mais
críticos não se cansem de nos alertar para o facto de ainda estarmos muito
longe do que seria desejável, tendo em conta os estruturais atrasos de
Portugal, quando comparados com a maioria dos nossos parceiros europeus.
E se tais
considerações não deixam de fazer algum sentido, lembrando-nos que ainda existe
um longo caminho a percorrer até alcançarmos as metas almejadas, a verdade é
que se não fossem as reformas estruturais que este governo decidiu implementar,
e estaríamos hoje bem mais longe de alcançar tais metas, do que estamos
actualmente, uma vez que a economia portuguesa vai crescer perto dos 2%, no ano
de 2007, com um défice orçamental a ficar abaixo dos 3%. É pouco, mas há seis
anos que não assistíamos a um crescimento tão grande como este que estamos agora
a assistir!
Sem ser propositadamente
exaustivo, diria que as reformas da administração pública, da educação, da
segurança social, da cultura e da presidência portuguesa da União Europeia
constituíram as áreas de intervenção governamental onde os progressos e os
sucessos foram mais evidentes, no decorrer do ano transacto. No lado diametralmente
oposto, o sector da justiça aparenta ser o que menos se alterou com as reformas
introduzidas, não parecendo que tenham suscitado, até ao momento, melhorias
significativas.
Já por várias
vezes me referi à importância fundamental de uma justiça célere e eficaz, tanto
preventiva como correctiva, capaz de honrar permanentemente o Estado
Democrático e de Direito em que vivemos, mas continuamos a assistir, em demasiados
casos que são do conhecimento público, à inoperância e morosidade na sua
aplicação.
O sector da
saúde continua a ser, para mim, uma terrível incógnita, já que ainda não
consegui alcançar os ganhos sociais da reforma encetada, que não vislumbro em lado
algum das regiões mais desfavorecidas do interior do país, embora reconheça que
existia uma premente necessidade em regular e qualificar a prestação dos
serviços médicos assistenciais, que não estavam minimamente garantidos no todo
nacional.
Para 2008, a
aposta na formação e qualificação profissional dos portugueses, a par do
combate sem tréguas ao terrível flagelo do desemprego constituem, e muito bem,
os principais desafios que o governo decidiu assumir como prioritários, na
continuação perseverante do rumo traçado em 2005.
No plano local
já nem vale a pena discorrer com um mínimo de rigor e seriedade porque está mais
que demonstrada a falta destas qualidades para os lados da nossa autarquia. Não
são rigorosos quando manipulam indevidamente os instrumentos de gestão
autárquica, e não são sérios quando faltam ao cumprimento das disposições
legais na sua elaboração, situação que apenas acontece em Lamego, tanto quanto
sabemos, escapando-nos porém as razões desta enorme e continuada impunidade…
Mas para os
lamecenses, o ano de 2008 irá ser bem mais amargo do que seria de supor, já que
será o ano da primeira derrama autárquica, a cobrar pelos máximos previstos na
lei, para afastar ainda mais os potenciais empreendedores de Lamego, que
deveríamos saber captar e fixar; será o ano da continuidade do imposto
municipal sobre imóveis à taxa mais elevada que o município pode estabelecer;
será o ano em que o IRS, na componente municipal, será também cobrado pela taxa
mais elevada que a lei permite; e será o ano do aumento brutal dos serviços de
distribuição de água, do saneamento e da recolha de lixos. Será ainda o ano de
mais endividamento autárquico sem justificação plausível; de mais encargos
assumidos e não pagos num crescendo de arrepiante velocidade; de mais dinheiro
nosso para a empresa Lamego Convida sem que se saiba verdadeiramente da sua razoabilidade
na aplicação de tais verbas, e o rol poderia continuar quase indefinidamente…
E tudo isto a
pretexto das “obras” que se estão ou pretendem realizar em Lamego, numa
desmesurada falta de visão e planeamento, e em intrigante desproporção total
entre o que se faz (ou se pretende fazer) e o que se gasta efectivamente com o
que se faz (ou se diz fazer…).
As obras da Av.
5 de Outubro já podem ser apontadas como um exemplo bem ilustrativo dessa falta
de qualidade, mas paga a peso de ouro; e o caso estranhíssimo do pavilhão
multiusos, obra de vultuoso investimento municipal, sem que tenha sequer o
suporte prévio de um estudo de viabilidade e sustentabilidade económicas, constituem
exemplos paradigmáticos do mau caminho que Lamego está a calcorrear.
O ano de 2008
será o ano em que tudo faremos para clarificar e tornar completamente
transparentes as contas do município lamecense. Para que depois ninguém diga
que não sabia nada do que se estava a passar…
Agostinho Ribeiro
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