Li com muita
atenção a entrevista que o senhor Presidente da Câmara concedeu à “Lamego em
revista”, e onde faz a defesa da construção do pavilhão multiusos em Lamego,
sob o título “Uma oportunidade única para transformar Lamego”.
O enorme volume
de verbas municipais que será canalizado para a construção desta
infra-estrutura exige mais, muito mais, em explicações aos lamecenses, que este
arrazoado demagógico de generalidades, que pouco ou nada nos esclarecem,
omitindo deliberadamente a outra face da moeda, que tem a ver com os custos
efectivos que terão de ser suportados pela Câmara Municipal de Lamego.
A isto chamo eu
enganar as pessoas…
Façamos então as
considerações críticas àquela entrevista, desmontando a argumentação falsa e ardilosa
de que é portadora, tão ao gosto e ao estilo do senhor Presidente da Câmara de
Lamego:
1 - Começa por
nos afirmar que esta infra-estrutura vai “garantir a dinamização social e
económica de Lamego” e que é “uma velha aspiração dos Lamecenses, apresentada
há 10 anos pelo anterior executivo e nunca concretizada”.
Ora acontece
que, para além de não corresponder à verdade esta asserção de que o anterior
executivo tinha a intenção de construir um pavilhão desta natureza e dimensão, este
é um investimento sem nenhum estudo prévio de viabilidade económica e de
sustentabilidade material que possa ser usado para demonstrar a sua utilidade
como garante da tal “dinamização social e económica”.
Em lado algum
se demonstram tais afirmações, com recurso a instrumentos de diagnóstico e planeamento
fundamentais, capazes de o justificar técnica e financeiramente, como se faz em
todo o lado civilizado do mundo.
Continuo sem
perceber o despropósito deste interesse, excessivo e doentio, na construção
deste pavilhão!
2 - Depois
afirma-nos que a sua polivalência irá permitir “receber feiras, eventos
desportivos, concertos e congressos”, e com isso combater a “desertificação” do
centro da cidade.
Desertificação?
Que desertificação? Que se saiba são os bairros antigos (e históricos) da
cidade que estão a ficar desertos e não o centro da cidade! Pelo contrário,
existe um excesso de pressão no centro da cidade que deveria merecer uma correcção
qualificada e adequado acompanhamento, mas em sentido inverso. Vê-se mesmo que,
para este senhor, qualquer argumento serve para enganar os “parolos” de Lamego!
E para receber eventos
desportivos já temos o Pavilhão Álvaro Magalhães e o Complexo Desportivo de
Lamego que, esses sim, deveriam merecer maior atenção do município que a que
actualmente lhes é dispensada.
Quanto aos
concertos e congressos, para quem acaba de concluir um importante investimento
no Teatro Ribeiro Conceição, com 460 lugares disponíveis para esses mesmos
efeitos, num espaço de excelência como é o deste teatro, só pode ser entendido
como mais uma estulta argumentação, desprovida de qualquer razoabilidade, tendo
em conta a realidade de Lamego.
Para concertos
de maior envergadura, volto a sugerir os eventos ao ar livre, porque são,
seguramente, mais realistas, sustentáveis e verdadeiros, que os que a
imaginação megalómana deste presidente consegue produzir…
Como sabemos
muito bem, os grandes eventos que exigem generosas áreas disponíveis para a sua
realização, como grandes feiras e espectáculos de maior vulto, nunca poderão
ser realizados num espaço coberto de 2.410 m2, sendo na maior parte
das vezes realizados tais eventos em espaços condignos e dotados de algumas
infra-estruturas de suporte, mas ao ar
livre!
Basta ver que
nem sequer uma pequena feira, como tem sido a Expodouro, caberia num espaço
daquela dimensão…
3 – O único
aspecto positivo deste projecto tem a ver com a inclusão de um parque de
estacionamento, com capacidade para albergar 210 viaturas o que, como também
sabemos muitíssimo bem, poderia ser construído no mesmo local sem o gasto
absurdo de um pavilhão multiusos associado. Este empreendimento desnecessário
só vai beneficiar, em boa verdade e até demonstração fiável em contrário, os
responsáveis pela sua construção, como a seguir não deixarei de demonstrar.
4 – É que a
maior falsidade argumentativa prende-se com os custos deste projecto. Diz o
senhor Presidente da Câmara que as empresas “Lamego Renova” e “Lamego Convida”
pagarão à Câmara 4.600.000 € pelo direito de superfície do largo da Feira,
durante 30 anos. Diz depois que os custos serão suportados pelo mesmo consórcio
público-privado, incluindo a Câmara, “à semelhança de outras operações que o
Estado Português diariamente lança”.
Era muito bom
que este senhor fosse rigoroso no que diz, e nos esclarecesse devidamente sobre
as operações semelhantes a esta, que o Estado Português lança diariamente… É
que eu conheço muitos consórcios público-privados, em parceria com o Estado
Português, mas nenhum deles é ruinoso e desadequado como este, para o interesse
público, quando comparado em termos relativos e percentuais, tendo em conta a
natureza e a dimensão de tais consórcios.
E isto porque há
uma coisa que ele não diz… O senhor Presidente não diz aos lamecenses, na
entrevista, que a Câmara tem que pagar à empresa “Lamego Convida”, durante
esses mesmos 30 anos, a quantia de 87.000.000 €, para ela poder gerir esta e
outras barbaridades, nem diz que tamanho absurdo de desperdício financeiro foi
aprovado pela coligação que o alcandorou ao poder em Lamego!
E se, por
qualquer motivo, estas verbas não chegarem, a Câmara Municipal de Lamego está
obrigada a cobrir financeiramente todos os gastos que excedam o contratado…
Ele há negócios
fantásticos, não há?
Agostinho Ribeiro
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