quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Os falsos argumentos a favor do Pavilhão Multiusos.



Li com muita atenção a entrevista que o senhor Presidente da Câmara concedeu à “Lamego em revista”, e onde faz a defesa da construção do pavilhão multiusos em Lamego, sob o título “Uma oportunidade única para transformar Lamego”.
O enorme volume de verbas municipais que será canalizado para a construção desta infra-estrutura exige mais, muito mais, em explicações aos lamecenses, que este arrazoado demagógico de generalidades, que pouco ou nada nos esclarecem, omitindo deliberadamente a outra face da moeda, que tem a ver com os custos efectivos que terão de ser suportados pela Câmara Municipal de Lamego.
A isto chamo eu enganar as pessoas…
Façamos então as considerações críticas àquela entrevista, desmontando a argumentação falsa e ardilosa de que é portadora, tão ao gosto e ao estilo do senhor Presidente da Câmara de Lamego:

1 - Começa por nos afirmar que esta infra-estrutura vai “garantir a dinamização social e económica de Lamego” e que é “uma velha aspiração dos Lamecenses, apresentada há 10 anos pelo anterior executivo e nunca concretizada”.
Ora acontece que, para além de não corresponder à verdade esta asserção de que o anterior executivo tinha a intenção de construir um pavilhão desta natureza e dimensão, este é um investimento sem nenhum estudo prévio de viabilidade económica e de sustentabilidade material que possa ser usado para demonstrar a sua utilidade como garante da tal “dinamização social e económica”.
Em lado algum se demonstram tais afirmações, com recurso a instrumentos de diagnóstico e planeamento fundamentais, capazes de o justificar técnica e financeiramente, como se faz em todo o lado civilizado do mundo.
Continuo sem perceber o despropósito deste interesse, excessivo e doentio, na construção deste pavilhão!

2 - Depois afirma-nos que a sua polivalência irá permitir “receber feiras, eventos desportivos, concertos e congressos”, e com isso combater a “desertificação” do centro da cidade.
Desertificação? Que desertificação? Que se saiba são os bairros antigos (e históricos) da cidade que estão a ficar desertos e não o centro da cidade! Pelo contrário, existe um excesso de pressão no centro da cidade que deveria merecer uma correcção qualificada e adequado acompanhamento, mas em sentido inverso. Vê-se mesmo que, para este senhor, qualquer argumento serve para enganar os “parolos” de Lamego!
E para receber eventos desportivos já temos o Pavilhão Álvaro Magalhães e o Complexo Desportivo de Lamego que, esses sim, deveriam merecer maior atenção do município que a que actualmente lhes é dispensada.
Quanto aos concertos e congressos, para quem acaba de concluir um importante investimento no Teatro Ribeiro Conceição, com 460 lugares disponíveis para esses mesmos efeitos, num espaço de excelência como é o deste teatro, só pode ser entendido como mais uma estulta argumentação, desprovida de qualquer razoabilidade, tendo em conta a realidade de Lamego.
Para concertos de maior envergadura, volto a sugerir os eventos ao ar livre, porque são, seguramente, mais realistas, sustentáveis e verdadeiros, que os que a imaginação megalómana deste presidente consegue produzir…
Como sabemos muito bem, os grandes eventos que exigem generosas áreas disponíveis para a sua realização, como grandes feiras e espectáculos de maior vulto, nunca poderão ser realizados num espaço coberto de 2.410 m2, sendo na maior parte das vezes realizados tais eventos em espaços condignos e dotados de algumas infra-estruturas de suporte, mas ao ar livre!
Basta ver que nem sequer uma pequena feira, como tem sido a Expodouro, caberia num espaço daquela dimensão…

3 – O único aspecto positivo deste projecto tem a ver com a inclusão de um parque de estacionamento, com capacidade para albergar 210 viaturas o que, como também sabemos muitíssimo bem, poderia ser construído no mesmo local sem o gasto absurdo de um pavilhão multiusos associado. Este empreendimento desnecessário só vai beneficiar, em boa verdade e até demonstração fiável em contrário, os responsáveis pela sua construção, como a seguir não deixarei de demonstrar.

4 – É que a maior falsidade argumentativa prende-se com os custos deste projecto. Diz o senhor Presidente da Câmara que as empresas “Lamego Renova” e “Lamego Convida” pagarão à Câmara 4.600.000 € pelo direito de superfície do largo da Feira, durante 30 anos. Diz depois que os custos serão suportados pelo mesmo consórcio público-privado, incluindo a Câmara, “à semelhança de outras operações que o Estado Português diariamente lança”.
Era muito bom que este senhor fosse rigoroso no que diz, e nos esclarecesse devidamente sobre as operações semelhantes a esta, que o Estado Português lança diariamente… É que eu conheço muitos consórcios público-privados, em parceria com o Estado Português, mas nenhum deles é ruinoso e desadequado como este, para o interesse público, quando comparado em termos relativos e percentuais, tendo em conta a natureza e a dimensão de tais consórcios.
E isto porque há uma coisa que ele não diz… O senhor Presidente não diz aos lamecenses, na entrevista, que a Câmara tem que pagar à empresa “Lamego Convida”, durante esses mesmos 30 anos, a quantia de 87.000.000 €, para ela poder gerir esta e outras barbaridades, nem diz que tamanho absurdo de desperdício financeiro foi aprovado pela coligação que o alcandorou ao poder em Lamego!
E se, por qualquer motivo, estas verbas não chegarem, a Câmara Municipal de Lamego está obrigada a cobrir financeiramente todos os gastos que excedam o contratado…

Ele há negócios fantásticos, não há?

Agostinho Ribeiro

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