Decorreu no
passado sábado um interessante debate sobre a problemática da corrupção
autárquica e desportiva, organizado pelo Fórum Lamego e pelo Partido Socialista
de Lamego.
A qualidade e a
competência dos oradores convidados, personalidades de reconhecido mérito no
campo do combate a este verdadeiro flagelo da corrupção, constituíam factores
mais que suficientes para se esperar, como de facto aconteceu, duas
comunicações em que estas matérias pudessem ser apresentadas e analisadas sem
tabus nem condicionalismos que pusessem em causa a independência e o rigor analítico
dos seus protagonistas.
Sob a moderação
esclarecida do Dr. Gabriel Catarino, Juiz Desembargador, tivemos a oportunidade
de escutar as sábias e prudentes palavras da Dr.ª Patrícia Silveira,
Coordenadora de Investigação Criminal da Policia Judiciária, e do Dr. Eduardo
Dâmaso, Director Adjunto do Jornal Correio da Manhã, um reputado e conceituado jornalista
de investigação na área da corrupção e criminalidade, que souberam abordar, com
enorme elevação e dignidade, um tema premente e particularmente sensível que
aflige toda a sociedade portuguesa.
Considero que
esta foi uma excelente oportunidade que Lamego teve de demonstrar ao País que
as questões que nos afectam, por mais melindrosas que sejam, são para ser
analisadas e discutidas em ambiente de elevada, sadia e desejável reflexão, no
sentido de todos contribuirmos para a prevenção de situações que nos possam
indiciar actos de corrupção, e para o combate a situações que se enquadrem,
objectivamente, nesses contextos.
A questão da
prevenção foi, precisamente, um dos aspectos mais enfatizados na esclarecida
tese da Dr.ª Patrícia Silveira, que teve a amabilidade de nos alertar para a
necessidade de estarmos atentos aos indícios que podem ser aduzidos como
potenciadores ou permissíveis a muitos actos de corrupção, no poder local, tendo
em conta a experiência desta alta responsável no combate à corrupção nas
autarquias portuguesas.
A falta de
transparência dos actos de gestão municipal, o recurso excessivo a empresas
municipais e a manipulação dos concursos públicos foram apontados como exemplos
a reter, e que estão na base de muitos actos de corrupção detectados, assim
como a difícil aplicabilidade da justiça que, a par da morosidade do nosso
sistema judicial constroem, no seu conjunto, o cadinho original onde a
corrupção encontra ambiente propício para o seu surgimento e desenvolvimento.
É claro que os
oradores evitaram pronunciar-se sobre casos em concreto, embora aqui e ali
tivessem trazido à colação alguns processos que foram ou estão altamente
mediatizados pela comunicação social nacional, mas nenhum relacionado com
Lamego, dando assim, com tal distanciamento, uma enorme dignidade e
independência política ao esforço que desenvolvem neste combate que deve ser,
afinal, o combate de todos nós.
Estão de
parabéns os promotores desta iniciativa, esperando que se repita na abordagem
de outras temáticas que digam respeito e importem a Lamego e ao País, contribuindo
assim para a melhoria da qualidade de vida dos portugueses, no seu todo, e não
apenas dos que recorrem a meios ética e legalmente reprováveis pelas sociedades
civilizadas contemporâneas.
Mas ficaria de
mal com a minha própria consciência se não lamentasse aqui a atitude arrogante
e grosseira do senhor Presidente da Câmara Municipal de Lamego que, dando uma
vez mais uma inequívoca demonstração do seu desprezível carácter, se
disponibilizou para prestar mais um mau serviço à comunidade lamecense.
Tendo chegado
muito tarde ao encontro, conforme ele próprio afirmou na sua desastrosa e
insultuosa intervenção, e desconhecendo o teor das comunicações produzidas, não
se inibiu de, em duas penadas, desconsiderar todos os assistentes presentes,
desqualificar os membros da mesa e insultar o anterior Presidente da Câmara,
produzindo afirmações de uma grosseria inaceitável e que só a imensa paciência
e a boa educação da esmagadora maioria dos assistentes permitiu que a mesma continuasse
a decorrer sem interrupções nem altercações.
Este forasteiro
que caiu de pára-quedas em Lamego, ganhando umas eleições autárquicas devido a
uma conjugação política extraordinária que o favoreceu particularmente, arroga-se
agora ao direito de por e dispor da vontade de todos os lamecenses e de decidir
o que deve ou não ser feito em Lamego, como se fosse o patrão e o dono de todos
os que aqui vivem… Descaramento, ousadia e desfaçatez não lhe falta!
Ouvi indignado,
mas em silêncio, as palermices ditas por aquele senhor, mas quando me foi
permitido tecer também algumas considerações sobre este pertinente assunto da
corrupção, tanto este senhor como um ou dois dos seus mais dilectos apaniguados
não deixaram de me tentar interromper, ao melhor estilo dos arruaceiros que
pensava já não existirem.
Fiquei com a
impressão de que o senhor Presidente da Câmara de Lamego foi àquele encontro com
o único intuito de se tentar defender de alguma coisa, em inequívoca
demonstração de um nervosismo que não deixa de ser estranho e curioso…
Agostinho Ribeiro
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