Contra o
conhecido ditado popular “grão a grão enche a galinha o papo”, podemos hoje em
dia inventar um outro para Lamego, bem mais apropriado aos tempos que correm: –
“empréstimo a empréstimo vai-nos endividando irreparavelmente esta coligação”.
De facto, mais
uma Assembleia Municipal marcada para a próxima sexta-feira e, como já começa a
ser hábito por parte destes senhores, mais dois (?) empréstimos bancários a estarem
na ordem de trabalhos, para serem aprovados por esta coligação, que não
descansará enquanto não esgotar totalmente as nossas já tão debilitadas finanças
municipais.
Já todos
sabemos que o executivo liderado pelo Eng. Francisco Lopes não vai parar
enquanto não nos endividar completamente e, como tal, não pode deixar os seus
créditos por mãos alheias – mais dois empréstimos, um de 200.000 € e outro de
105.000 € estão na calha, para financiar a requalificação urbana da Av. 5 de
Outubro e Av. Defensores do Douro, respectivamente.
A primeira
grande dúvida que se nos coloca prende-se, desde logo, com o calendário destas
contratações de empréstimos. Então iniciaram-se duas obras municipais sem se terem
garantido previamente os montantes necessários à sua boa execução? Que
competência e que gestão de pacotilha são estas? Ou será que os dinheiros que
estavam destinados a estas obras já foram exauridos noutras despesas não
previstas?
É que não pode
deixar de nos surpreender tanta ligeireza na gestão dos recursos às imprescindíveis
fontes de financiamento! Ou esta falta de habilidade é mesmo propositada, por
razões que nos escapam?
Lança-se a obra
e depois logo se vê… Como o orçamento está empolado para além de todos os
limites do bom senso, da verdade e da legalidade, tudo lhes é permitido fazer…
E quando os deputados municipais da coligação forem confrontados com o papão
das obras paradas a meio, lá irão aprovar mais estes dois empréstimos sem
qualquer interrogação ou discussão, como tem sido hábito até hoje… Pura e
simplesmente inaceitável, se quisermos ser minimamente rigorosos na gestão criteriosa
dos nossos dinheiros públicos!
A segunda
grande dúvida que nos assalta de imediato é a de não conseguirmos saber se
estes senhores da coligação continuam a ser incompetentes na preparação dos
documentos legais que suportam tais propostas ou se pretendem enganar os
deputados municipais, julgando, provavelmente, que não sabemos interpretar os
documentos e mapas que nos apresentam. Opto pela primeira hipótese…
É que na ordem
de trabalhos desta Assembleia vêm referidos apenas os dois empréstimos a que
acabei de aludir, mas no quadro sinóptico que suporta a proposta aparecem três novos
empréstimos (mais um que o referido na ordem de trabalhos) a contratar com uma
entidade bancária, sendo que o terceiro empréstimo é de 2.100.000 € (dois
milhões e cem mil euros), com destino, pasme-se, à mesmíssima obra de requalificação
urbana da Av. 5 de Outubro. Neste quadro sinóptico o empréstimo dos 200.000
euros já não é para a Av. 5 de Outubro, como a ordem de trabalhos nos informa, mas
para a obra de beneficiação da EN226 e da EN2.
Ou seja,
confrontando os dois documentos em causa, ficamos sem saber se a requalificação
da Av. 5 de Outubro está na origem da contratação de mais um empréstimo de
duzentos mil euros ou de um outro de mais de dois milhões de euros! Confuso?
Também eu… Mas a verdade é que as coisas vêm assim mesmo, confusas e
desenquadradas, sabe-se lá porque razões e com que intenções…!
E já agora, não
posso deixar de referir, a talhe de foice, que a requalificação da Av. 5 de
Outubro exigia a construção de uma galeria técnica (como gente amiga e avisada
me tem dito que se faz actualmente em todo o lado), para evitar que um mero
arranjo futuro de tubagem ou cablagem possa obrigar ao rebentamento do piso e
ao condicionamento, sempre indesejável, do trânsito naquela artéria. Para não
falar da redução do estacionamento em frente ao Almedina, que nos parece
completamente despropositado, tendo em conta as já tradicionais dificuldades de
estacionamento nesta via urbana.
Que péssimo
exemplo de desperdício de oportunidade, e consequente má aplicação dos
dinheiros públicos, ainda que todos reconheçamos a necessidade que há em
reparar a nossa avenida. Mas a fobia de querer fazer tudo à pressa para dar a
impressão de muita actividade, dá no que dá – dinheiro que é de todos nós a ser
malbaratado em obras mal concebidas e de duvidosa qualidade técnica.
Certamente
todos estaremos de acordo que as obras têm de se realizar, mas ao fazê-las, ao
menos que se façam como deve ser!
E para concluir
este afã do endividamento sistemático, mas agora directamente apontado aos
nossos bolsos de contribuintes lamecenses, lá está a proposta de manutenção das
Taxas do Imposto sobre Imóveis. Quantos de nós foram surpreendidos com o
pagamento da segunda prestação, neste mês de Setembro?
Mas deixe
estar, caro leitor, que no próximo ano não será melhor…
Agostinho Ribeiro
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