quinta-feira, 1 de junho de 2006

Uma empresa pública municipal para Lamego



O Município lamecense aprovou, com os votos da maioria, a constituição de uma empresa municipal, cujo objectivo será o de assumir a responsabilidade de gerir um sem número de valências que, como se encontra expresso no respectivo objecto, passam pela “implementação, construção, gestão e exploração das áreas de desenvolvimento urbano prioritárias, de equipamentos públicos culturais, desportivos, turísticos e de lazer, de edifícios de interesse municipal, de requalificação urbana e ambiental, de habitação social, de vias municipais, de estruturas de apoio aos transportes rodoviários e a realização de projectos de desenvolvimento e inovação empresarial…”
Se bem que concordemos com o princípio de recorrer a empresas municipais, para suprir algumas lacunas e incapacidades de gestão, pela natureza própria das suas características muito especializadas, que as Câmaras não saberão fazer da melhor forma, não podemos estar mais em desacordo quando se aproveita tal desiderato para se encaixar nessas empresas quase tudo o que é competência do município.
De facto, se analisarmos com atenção o alcance do objecto expresso nos seus estatutos, reparamos que pouco fica de fora desta empresa pública, em áreas relevantes, obrigando-nos a questionar sobre o próprio futuro da Câmara Municipal de Lamego, quando a empresa estiver a funcionar em pleno. Duplicaremos funções, serviços, pessoal…? Com que custos acrescidos aos cofres municipais?
E se não houver duplicação, que fazer então ao pessoal que já está na Câmara? Fica onde está sem qualquer ocupação, ou reformulam-se as suas atribuições? Transitam para a nova empresa e, se sim, com que estatuto específico para cada uma das categorias correspondentes?
Sem querer aborrecer os leitores com questões de maior pormenor, não podemos deixar de criticar a defesa deste tipo tão generalista de empresa, com o argumento de que se trata de um projecto mais ambicioso que o projecto inicial de reduzir a mesma empresa, apenas e tão-somente, à gestão do futuro equipamento cultural de Lamego, conhecido por Teatro Ribeiro Conceição.
Ora a verdade é que a especialização é sempre mais ambiciosa que a generalização, e os sectores de ponta da actividade produtiva, seja ela tecnológica, de produção de conteúdos e actividades, ou outra qualquer, são sempre de serviços e empresas especializados e nunca de serviços generalistas.
Por isso não se percebe a opção defendida pela maioria que governa o município lamecense. Ao optar por uma solução tão diversificada e generalista está a ser, de facto, menos ambiciosa que a sua circunscrição ao objecto da gestão do Teatro Ribeiro Conceição. Mas pior que isto é o facto de estar a admitir um aumento, de forma irresponsável, dos eventuais custos de funcionamento da empresa, sem que se vislumbrem benefícios comprovados, à partida, das vantagens deste modelo.
É que o estudo de viabilidade e sustentabilidade que lhe está subjacente remete exclusivamente para a análise da realidade “Teatro”, e de mais nenhum outro equipamento público, sendo completamente descabido extrapolar tais resultados para um universo tão alargado como é agora o desta empresa. Não faz sentido em termos de gestão, está errado na perspectiva metodológica e é eticamente perigoso, pelos efeitos perversos que pode gerar na opinião pública.
Esperemos apenas, para não dar de vez o golpe final a esta tão inadequada opção empresarial, que se escolham gestores à altura dos mais importantes sectores que o objecto da empresa contempla, porque se, ao contrário, forem nomeadas pessoas sem qualificação e sem formação em gestão, simplesmente porque apoiaram o actual poder autárquico, estaremos a colocar Lamego ao nível dos piores exemplos da incompetência e do compadrio político. Estou certo que não se chegará a tanto…

P.S. – Já esperava alguma reacção ao meu primeiro artigo e, portanto, não me surpreende o teor vagamente acintoso e maledicente da mesma, ao melhor estilo do discurso vazio a que já estamos habituados por parte dos seus autores. Não há meio de discutirem ideias e projectos, apenas sabem atacar as pessoas…
Reeditam palavras gastas, reafirmam ideias feitas e têm a petulância de fazer ameaças veladas, à boa maneira dos pequeninos e pseudo intelectuais provincianos, com tiques de ditadores e manias de importância. Está-lhes na massa do sangue, faz parte da sua natureza e sobre isso nada há a fazer.
E são peritos na manipulação desavergonhada das ideias dos que não pensam nem agem como eles, truncando as afirmações produzidas para enganar os leitores mais desprevenidos. Funciona bem durante algum tempo, mas não funcionará sempre dessa maneira… As pessoas hão-de cansar-se de tanta pouca-vergonha e falta de consideração pelos outros.
Mas sempre podemos adiantar algo ao que disseram, para bom exemplo das práticas pessoais e da moralidade que deve haver no uso das coisas públicas. Eu fiz-me fotografar no meu local de trabalho, no escrupuloso cumprimento das normas regulamentares existentes e em pleno direito das minhas prerrogativas legais, com toda a transparência do acto produzido. Não enganei ninguém, não roubei o Estado que sirvo, nem tentei vender gato por lebre.
Mas há outras coisas que eu não fiz. Por exemplo, não usei os dinheiros públicos que me estão confiados, para promoção da minha imagem pessoal, fazendo comprar publicidade em algum jornal não cumpridor das suas responsabilidades legais, para depois poder vir a beneficiar da parcialidade e falta de isenção desse mesmo pretenso órgão de comunicação social irregular.

Agostinho Ribeiro

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