Um dos
problemas mais graves com que este país se debate, e que contribui de forma
decisiva para o baixo nível dos nossos índices de desenvolvimento e qualidade
de vida, tem a ver com o culto massificado da irresponsabilidade.
Ora, um país
onde dificilmente se encontram bons exemplos de assunção plena das suas responsabilidades,
tanto no plano geral das profissões exercidas (especialmente no sector público,
pelas obrigações de serviço que lhe são inerentes), como na forma permanente
com que tendemos a “desculpar” os actos de desresponsabilização, dificilmente
pode ter pretensões à obtenção de elevados níveis de produtividade, prestação
de serviços qualificada e, em resultado disto mesmo, na obtenção dos tão
almejados índices de desenvolvimento e qualidade de vida por que todos ansiamos.
A verdade é que
aspiramos por estes padrões, mas pouco ou nada fazemos, nos nossos contributos
pessoais, para que tal aconteça.
Senão vejamos…
Quantos de nós já se sentiu injustiçado, a propósito de um qualquer atendimento
menos educado, seja num serviço público, seja numa empresa privada de porta
aberta ao público, e engoliu em seco, não cuidando de proceder à justa
reclamação a que tem direito?
Quantos de nós
já pensou em qualquer coisa do género “coitado, faz pela vida como os outros o
fariam se estivessem na mesma posição”, a propósito do conhecimento de actos
menos probos, desculpando o indesculpável, abrindo assim a porta à
permissividade completa, perante abusos e desvios do que deve ser a conduta
normal das pessoas, em vez de as denunciar publicamente ou nas instâncias de
direito?
Quantos de nós,
encolhendo os ombros, já pensou que “afinal de contas, são todos iguais…”
esquecendo que ao assim pensar também se está a incluir nesse grupo dos tais “iguais”
que, supostamente, critica, ao invés de se esforçar por discernir os que são
diferentes, penalizando os prevaricadores e premiando os virtuosos?
E as perguntas
poderiam continuar por aí fora, sem parar, num verdadeiro manancial de atitudes
e comportamentos de algum laxismo que nos fazem cúmplices desta generalizada
sensação de irresponsabilidade na sociedade em que vivemos.
Mas a questão é
que a irresponsabilidade é irmã gémea da incompetência, e esta é geradora da
prestação de maus serviços, propiciadora da indiferença e da omissão, e favorecedora
do comodismo fácil, fazendo baixar a fasquia da qualidade e da excelência para
níveis incompatíveis de um país que se quer moderno, europeu e parceiro
igualitário dos mais ricos e desenvolvidos do mundo.
Para não
falarmos, evidentemente, da corrupção generalizada, que é a parente mais
próxima da irresponsabilidade, já que, num universo de generalizada falta de
responsabilidade, em que ninguém assume as consequências dos seus (maus) actos,
o poder da sedução de benesses e do enriquecimento fácil encontra um campo
propício ao seu florescimento, precisamente pela sensação de impunidade que se
gera em seu torno.
Nada disto
seria relevante para a causa pública se não tivesse, precisamente, um resultado
altamente prejudicial para todos nós. É que um mau serviço, incompetente e
corrupto, seguramente irresponsável, não só beneficia injustamente alguns, como
prejudica objectivamente todos os cidadãos, penalizando os que deveriam
usufruir dos seus serviços, numa situação de igualdade e paridade de
tratamento.
É, pois, uma
obrigação de cidadania denunciar todos os casos de irresponsabilidade pública,
obrigar as respectivas instâncias de direito a exercer as suas funções de
fiscalização e avaliação de desempenho; apuramento de responsabilidades aos
prevaricadores; e aplicação das sanções legais aos que não cumprem as regras
estabelecidas.
Porque só assim
estaremos a ser verdadeiros promotores de uma cultura da responsabilidade.
Agostinho
Ribeiro
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