quinta-feira, 15 de junho de 2006

Por uma cultura da responsabilidade



Um dos problemas mais graves com que este país se debate, e que contribui de forma decisiva para o baixo nível dos nossos índices de desenvolvimento e qualidade de vida, tem a ver com o culto massificado da irresponsabilidade.
Ora, um país onde dificilmente se encontram bons exemplos de assunção plena das suas responsabilidades, tanto no plano geral das profissões exercidas (especialmente no sector público, pelas obrigações de serviço que lhe são inerentes), como na forma permanente com que tendemos a “desculpar” os actos de desresponsabilização, dificilmente pode ter pretensões à obtenção de elevados níveis de produtividade, prestação de serviços qualificada e, em resultado disto mesmo, na obtenção dos tão almejados índices de desenvolvimento e qualidade de vida por que todos ansiamos.
A verdade é que aspiramos por estes padrões, mas pouco ou nada fazemos, nos nossos contributos pessoais, para que tal aconteça.
Senão vejamos… Quantos de nós já se sentiu injustiçado, a propósito de um qualquer atendimento menos educado, seja num serviço público, seja numa empresa privada de porta aberta ao público, e engoliu em seco, não cuidando de proceder à justa reclamação a que tem direito?
Quantos de nós já pensou em qualquer coisa do género “coitado, faz pela vida como os outros o fariam se estivessem na mesma posição”, a propósito do conhecimento de actos menos probos, desculpando o indesculpável, abrindo assim a porta à permissividade completa, perante abusos e desvios do que deve ser a conduta normal das pessoas, em vez de as denunciar publicamente ou nas instâncias de direito?
Quantos de nós, encolhendo os ombros, já pensou que “afinal de contas, são todos iguais…” esquecendo que ao assim pensar também se está a incluir nesse grupo dos tais “iguais” que, supostamente, critica, ao invés de se esforçar por discernir os que são diferentes, penalizando os prevaricadores e premiando os virtuosos?
E as perguntas poderiam continuar por aí fora, sem parar, num verdadeiro manancial de atitudes e comportamentos de algum laxismo que nos fazem cúmplices desta generalizada sensação de irresponsabilidade na sociedade em que vivemos.
Mas a questão é que a irresponsabilidade é irmã gémea da incompetência, e esta é geradora da prestação de maus serviços, propiciadora da indiferença e da omissão, e favorecedora do comodismo fácil, fazendo baixar a fasquia da qualidade e da excelência para níveis incompatíveis de um país que se quer moderno, europeu e parceiro igualitário dos mais ricos e desenvolvidos do mundo.
Para não falarmos, evidentemente, da corrupção generalizada, que é a parente mais próxima da irresponsabilidade, já que, num universo de generalizada falta de responsabilidade, em que ninguém assume as consequências dos seus (maus) actos, o poder da sedução de benesses e do enriquecimento fácil encontra um campo propício ao seu florescimento, precisamente pela sensação de impunidade que se gera em seu torno.
Nada disto seria relevante para a causa pública se não tivesse, precisamente, um resultado altamente prejudicial para todos nós. É que um mau serviço, incompetente e corrupto, seguramente irresponsável, não só beneficia injustamente alguns, como prejudica objectivamente todos os cidadãos, penalizando os que deveriam usufruir dos seus serviços, numa situação de igualdade e paridade de tratamento.
É, pois, uma obrigação de cidadania denunciar todos os casos de irresponsabilidade pública, obrigar as respectivas instâncias de direito a exercer as suas funções de fiscalização e avaliação de desempenho; apuramento de responsabilidades aos prevaricadores; e aplicação das sanções legais aos que não cumprem as regras estabelecidas.
Porque só assim estaremos a ser verdadeiros promotores de uma cultura da responsabilidade.

Agostinho Ribeiro

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