quinta-feira, 8 de junho de 2006

Questões de ética e de moralidade



Cada vez me convenço mais que as pessoas mal-formadas têm por hábito colocar nos outros os seus próprios defeitos. Se são ladrões, têm tendência para considerar que todos os outros também o são. Se são trafulhas, nada de problemas de consciência porque todos os outros são trafulhas também. Se não cumprem as suas obrigações profissionais, de serviço público ou de obrigações fiscais, nem pensar em crises de consciência, porque têm sempre a desculpa de que não serão os únicos nessa situação… E assim por diante.
Esquecem-se apenas de um pequeno detalhe – é que efectivamente nem todos são como eles e, portanto, não agem nem pensam segundo os padrões de vilania que lhes são próprios, da baixeza de intenções que os caracteriza e na permanente falta de princípios éticos e morais que os norteia em todos os actos que praticam. De facto, nem se apercebem que este mundo não é composto apenas por gente do seu próprio calibre…
É triste vê-los em alarves exibições de pretensiosismo moralizador, tantas vezes com a complacência de gente verdadeiramente boa, mas seguramente enganada, que lhes transmitem o à vontade de poderem fazer e dizer tudo o que lhes vem à cabeça, sem recear responsabilidades pelos actos de verdadeira má-fé que vão cometendo contra os seus eventuais e incómodos adversários.
Ética, para estes senhores, é uma palavra sem qualquer sentido útil. Moral é uma “coisa” esquisita que alguém inventou apenas para os contrariar nas suas mais torpes e vis intenções de prejudicarem os outros, para seu próprio benefício.
É claro que tudo isto só é possível num país onde a Justiça, quando solicitada a intervir, tarda em se fazer cumprir, gerando a sensação de impunidade completa a quem não tem nenhum pudor em insultar outrem, mas nunca deixando o direito a ser ressarcido, de imediato, a quem é injustamente insultado. É nesta base, e com o conhecimento claro desta realidade, que os prevaricadores se movimentam, aproveitando as fragilidades de um sistema que se coloca a jeito de tais facilidades prevaricadoras…
E é assim que se instala a confusão entre o público e o privado, perante a passividade de todos, sobretudo dos que têm a obrigação de zelar pela salvaguarda do Estado de Direito, que ainda somos, admitindo-se com toda a ligeireza o uso abusivo dos bens públicos para benefício privado, tentando dar a ideia, aos mais desprevenidos, que a coisa pública é, afinal, coisa própria, e que o seu uso ilegítimo não passa de um direito particular para quem desempenha um cargo público.
Mas a verdade legal não é essa, constituindo grave atropelo, não só às Leis da República, mas também à ética profissional que nos deve nortear; e o dever moral também o não é, resultando na maior das injustiças que pode haver numa sociedade moderna, de valores e princípios normativos de conduta colectiva – a de nos permitir adivinhar que nem todos os cidadãos são iguais perante todos e perante a Lei!
Percebo que as pessoas mal-formadas coloquem deliberadamente nos outros os defeitos que lhe são próprios. Afinal, por alguma razão serão isso mesmo, mal-formadas, no sentido, evidentemente, intelectual e comportamental do termo.
É como um cão (que me desculpe este nobre animal, tão amigo do homem) que, se por acaso pensasse, pensaria que um ser humano, ao expor as suas ideias ou ao manifestar as suas opiniões legítimas estivesse apenas, e tão-somente, a ladrar…

Agostinho Ribeiro

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