No dia em que
sair este jornal, estará a Assembleia Municipal de Lamego a analisar e a votar
a Prestação de Contas e o Relatório da Gestão Municipal referentes ao ano
económico de 2007.
Nada do que
possa agora escrever será diferente do que já disse em artigos anteriores sobre
as contas municipais, mas agora com a caução competente do Revisor Oficial de Contas
que, por força das disposições legais em vigor, é obrigatório existir nos
municípios que detenham capital a 100% de empresas municipais, como é o nosso
caso.
A Certificação
Legal das Contas, documento fundamental para percebermos a nossa realidade
contabilística e financeira, produzida pelo Revisor, é muito clara no que
concerne aos desvios e irregularidades detectados – nove pontos desta
certificação expressam outras tantas reservas
por desacordo, que o mesmo é dizer que se não cumpre o que a lei estabelece
nos procedimentos contabilísticos do Plano Oficial de Contabilidade das
Autarquias Locais (POCAL).
Acresce a estes
graves incumprimentos mais duas reservas
por limitação do âmbito, que significam, em termos muito simplistas, que
não foram disponibilizados ao Revisor Oficial de Contas as informações mínimas
necessárias para que este pudesse emitir o seu competente parecer sobre as
matérias versadas.
Enfim, tudo
somado, e estamos perante um comportamento inaceitável por parte de quem tem
responsabilidades na gestão da coisa pública, no que parece constituir um
ilegal e impróprio desvirtuamento das contas municipais, em montantes que
ascendem a mais de 4 milhões de euros, a demonstrar e a comprovar
inequivocamente que, afinal, nós tínhamos inteira razão quando, no ano passado,
já alertávamos para as irregularidades que estavam a ser cometidas.
E se esta grave
situação apenas confirma, infelizmente, as certezas que sempre tivemos sobre a
forma irresponsável de actuação do actual poder camarário, um pormenor deve ser
por nós realçado, a merecer a maior das nossas preocupações – os proveitos
decorrentes dos impostos indirectos têm vindo a diminuir a um ritmo alucinante
– de 187.516,66 € em 2005, passou para 96.618,58 em 2006, para se quedar em
2007 nuns parcos 83.319,66 €. Ou seja, em apenas dois anos registou-se uma
quebra de mais de 55%, o que não pode deixar de nos inquietar vivamente.
A preocupação
deve-se ao facto de serem estes os impostos cobrados em função das actividades
económicas e empresariais sediadas no concelho. Daqui se deduz que esta impressionante
redução significa que o tecido empresarial lamecense se está a esvair
paulatinamente, ao contrário do que pretendem fazer crer os actuais
responsáveis autárquicos de Lamego.
As realidades
financeiras contrariam a “fumaça” de uma pretensa actividade empreendedora, que
afinal parece não existir, agravada com os aumentos imorais dos impostos e
taxas municipais que nos estão a penalizar a todos.
São as contas
da nossa preocupação que, para além de serem más, são também indevidamente
manipuladas, para tentar disfarçar o descalabro em que estamos a cair.
Quando batermos
no fundo, quem deveremos responsabilizar por estes desvarios?
Agostinho Ribeiro