Numa grande entrevista
que tive a oportunidade e o gosto de conceder ao Jornal do Centro, de Viseu, a
propósito das minhas novas funções directivas no Museu de Grão Vasco, foi
abordada a interessante questão de se saber se os museus contemporâneos devem
ou não ser e agir como as empresas privadas.
Vivemos num
tempo de liberalismo selvagem, onde tudo é passível de ser privatizado e onde
nos “vendem” constantemente a ideia de que a iniciativa privada faz mais e
melhor que os serviços públicos, mesmo em áreas cuja sensibilidade e
importância estratégica aconselhariam alguma reserva nessa “fobia” das
privatizações. Ora, eu não concordo nada com esta asserção…
Sectores
fundamentais, como a educação, a saúde, a justiça, a defesa e a salvaguarda do
nosso património, entre outros, estão hoje sob forte pressão e interesse da
iniciativa privada mas, em modesto entender, jamais poderão cumprir
integralmente as suas missões se forem completamente privatizados, porque tais
desígnios estratégicos nunca poderão ser reduzidos a uma mera contabilidade, em
última análise, do “deve e haver” financeiro, tão cara à esmagadora maioria das
empresas privadas, independentemente das áreas onde as mesmas se movimentam.
Mas é claro que
não discordo da importantíssima e mais que necessária função supletiva da
iniciativa privada, mesmo nos sectores fundamentais de responsabilidade
estatal.
Por isto mesmo referi
que não gostaria de ver os museus transformados em empresas, sem prejuízo de
entender que eles devem ser geridos como se de empresas se tratassem, no
sentido de saberem promover a rentabilização adequada dos seus recursos técnicos,
humanos e financeiros. De facto, os museus do Instituto dos Museus e da
Conservação, como os restantes serviços públicos do Estado, vivem dos dinheiros
que são de todos nós, pagos com os nossos impostos e, como tal, devem ser
criteriosos, eficazes e equilibrados na sua gestão e aplicação.
As máximas
empresariais da economia, eficiência e eficácia dos métodos e procedimentos
operativos devem também ser apanágio dos museus, mas jamais se devem perder de
vista os grandes objectivos missionários que fazem a distinção entre uma
entidade pública, como é o caso especial dos museus, e uma empresa privada, por
muito que esta se preocupe e importe com questões de natureza social ou
cultural.
Os museus
devem, portanto, ser entendidos como estruturas fundamentais para a salvaguarda,
valorização e divulgação do nosso património histórico e artístico, ajudando à
formação das pessoas para uma cidadania esclarecida e culta, não deixando de
usar e aplicar os métodos empresariais, em tudo o que não contradiga esses
desígnios fundamentais que os caracterizam e identificam.
Os museus
devem, portanto, ser tendencialmente geridos como se de empresas se tratassem,
mas jamais se devem confundir com elas!
Agostinho Ribeiro
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