quinta-feira, 20 de março de 2008

Os Museus devem ser como as empresas?



Numa grande entrevista que tive a oportunidade e o gosto de conceder ao Jornal do Centro, de Viseu, a propósito das minhas novas funções directivas no Museu de Grão Vasco, foi abordada a interessante questão de se saber se os museus contemporâneos devem ou não ser e agir como as empresas privadas.
Vivemos num tempo de liberalismo selvagem, onde tudo é passível de ser privatizado e onde nos “vendem” constantemente a ideia de que a iniciativa privada faz mais e melhor que os serviços públicos, mesmo em áreas cuja sensibilidade e importância estratégica aconselhariam alguma reserva nessa “fobia” das privatizações. Ora, eu não concordo nada com esta asserção…
Sectores fundamentais, como a educação, a saúde, a justiça, a defesa e a salvaguarda do nosso património, entre outros, estão hoje sob forte pressão e interesse da iniciativa privada mas, em modesto entender, jamais poderão cumprir integralmente as suas missões se forem completamente privatizados, porque tais desígnios estratégicos nunca poderão ser reduzidos a uma mera contabilidade, em última análise, do “deve e haver” financeiro, tão cara à esmagadora maioria das empresas privadas, independentemente das áreas onde as mesmas se movimentam.
Mas é claro que não discordo da importantíssima e mais que necessária função supletiva da iniciativa privada, mesmo nos sectores fundamentais de responsabilidade estatal.
Por isto mesmo referi que não gostaria de ver os museus transformados em empresas, sem prejuízo de entender que eles devem ser geridos como se de empresas se tratassem, no sentido de saberem promover a rentabilização adequada dos seus recursos técnicos, humanos e financeiros. De facto, os museus do Instituto dos Museus e da Conservação, como os restantes serviços públicos do Estado, vivem dos dinheiros que são de todos nós, pagos com os nossos impostos e, como tal, devem ser criteriosos, eficazes e equilibrados na sua gestão e aplicação.
As máximas empresariais da economia, eficiência e eficácia dos métodos e procedimentos operativos devem também ser apanágio dos museus, mas jamais se devem perder de vista os grandes objectivos missionários que fazem a distinção entre uma entidade pública, como é o caso especial dos museus, e uma empresa privada, por muito que esta se preocupe e importe com questões de natureza social ou cultural.
Os museus devem, portanto, ser entendidos como estruturas fundamentais para a salvaguarda, valorização e divulgação do nosso património histórico e artístico, ajudando à formação das pessoas para uma cidadania esclarecida e culta, não deixando de usar e aplicar os métodos empresariais, em tudo o que não contradiga esses desígnios fundamentais que os caracterizam e identificam.
Os museus devem, portanto, ser tendencialmente geridos como se de empresas se tratassem, mas jamais se devem confundir com elas!

Agostinho Ribeiro

quinta-feira, 6 de março de 2008

“Vemos, ouvimos e lemos…”



Em Lamego, aproximam-se os tempos da verdade e os tempos em que tudo se tornará mais claro e preciso para todos nós…
Vemos coisas a acontecer sem qualquer base consistente que nos explique as verdadeiras razões de tais acontecimentos, por supérfluos e abusivamente dispendiosos com que eles se nos apresentam, na maior parte dos casos. O pretexto são as obras do nosso erróneo contentamento, e o mote o falso dinamismo que elas pretendem representar!
Mas parece que fazemos de conta que não é nada connosco…

Ouvimos aqui e ali as vozes tímidas e murmuradas do descontentamento e da denúncia encoberta, assustadas e temerosas pelas possíveis represálias a que estão sujeitos, em receios que julgávamos ter deixado de existir, já lá vão mais de trinta anos…
Mas parece que fazemos de conta que não é nada connosco…

Lemos o que se escreve, de bom e de mau, a favor e contra. Temos consciência clara do que se passa na nossa terra!
Sabemos dos bajuladores subservientes e desprovidos de coluna vertical, sempre a cantar loas a quem pouco as merece, e do mau serviço que nos prestam, pela falsidade das razões e da ardilosa argumentação que nos apresentam e com que nos tentam enganar todos os dias.
E dos maus críticos, que também os há, por ausência de suporte e seriedade nas afirmações que produzem. E dos bons, claro está, por rigorosos e consistentes nas suas alegações, sem contraditório à altura, face à seriedade e veracidade dos factos e argumentos apresentados.

Não podemos, portanto, ignorar…!

E quando toda a verdade vier ao de cima, como não poderá deixar de ocorrer em breve, nenhum dos directos e indirectos responsáveis pelo actual estado de coisas poderá alegar desconhecimento das situações, ou ignorância dos actos praticados, sejam eles quais forem, como se de pequenos “Pilatos” se tratassem, lavando as mãos da sujidade que criaram, alimentaram e ajudaram a desenvolver.
Mesmo que por confortável e tranquilizadora omissão!

Que nenhum deles venha dizer, depois…”Ai é? Nem sabia… acredite que nem fazia a mais pálida ideia do que se estava a passar…!?”

Como nos confidencia Sophia de Mello Breyner, na sua magnífica “cantata de paz”, “vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar…”
Ou podemos?

Agostinho Ribeiro