quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Alterações à lei eleitoral para as autarquias locais.



Foi aprovada na generalidade, e baixou à Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, a proposta de alteração à lei eleitoral dos municípios, pretendendo-se assim adaptar esta lei às necessidades actuais dos municípios portugueses.
Sempre defendi, e já lá vão mais de vinte anos, que às Câmaras Municipais se deveria dar estatuto idêntico, ou muito próximo, ao do Governo, por entender que deveria existir uma maior harmonização do quadro legal, orgânico, estatutário e funcional dos poderes e órgãos de soberania de raiz democrática e base eleitoral.
Esta minha posição advém do facto de defender que as Câmaras Municipais mais não são que os governos locais do território concelhio, e as respectivas Assembleias Municipais devem ser entendidas como as pequenas Assembleias da República, salvaguardando as evidentes dimensões e as inquestionáveis escalas funcionais e de competências.
Ora, ninguém no seu perfeito juízo advogaria que o Governo da Nação, agora dirigido pelo nosso Primeiro-Ministro José Sócrates, tivesse que ser constituído por membros obrigatoriamente oriundos da Assembleia da República, e muito menos que nesse conjunto de Ministros tivessem que estar incluídos Pedro Santana Lopes, Jerónimo de Sousa, Paulo Portas e Francisco Louçã, ou outros quaisquer que estes entendessem indigitar. Se uma salgalhada destas não faz qualquer sentido no Governo da Nação porque carga de água há-de fazer no Governo Autárquico?
Como sou de opinião que as Câmaras e os Governos assentam na mesma essência fundamental que justifica e dá razão ao regime democrático em que vivemos, não consigo entender as razões que possam ser aduzidas em defesa de uma diferenciação de procedimentos na sua composição.
A minha opinião sempre foi a de que se deveria dar mais poder às Assembleias Municipais, matéria que esta proposta contempla mas apenas de forma muitíssimo mitigada, conferindo ao cidadão vencedor da respectiva lista a competência de convidar para a vereação, com limite de composição baseado no actual figurino, quem muito bem entendesse, submetendo depois o seu programa de governação local, bem como a composição do respectivo órgão, à Assembleia Municipal. Tal e qual como acontece actualmente no Governo nacional, sem tirar nem pôr!
É claro que para esta solução, a Assembleia Municipal deveria ver reforçados os seus poderes e competências para além dos que actualmente possui e dos que supostamente irá possuir, e deveria reunir pelo menos uma vez por mês, para assim ter condições de cumprimento eficaz das suas funções de acompanhamento e fiscalização dos actos autárquicos.
A solução negociada entre os principais partidos de Portugal, PS e PSD, peca por não ir ao âmago das questões fundamentais e apenas possui, em modesto entender, a vantagem de se evitarem no futuro as coligações negativas, em sede de Câmara Municipal, resultantes das vitórias eleitorais obtidas com maiorias relativas.
Tem ainda a enorme vantagem de proibir os Presidentes das Juntas de Freguesia de votarem as Grandes Opções do Plano e Orçamentos, bem como os Relatórios e Contas de Gestão, evitando assim a prática abusiva da chantagem ignóbil que se exercia sobre eles, a propósito destes instrumentos de gestão. Quanto ao mais não me parece nada bem…
De facto, se olharmos com atenção para esta proposta, verificamos que a representatividade das oposições no órgão executivo é gratuito e desprovido de qualquer sentido político e prático – a alternativa deveria ser a de aumentar a capacidade de actuação das Assembleias Municipais e, aí sim, dotar as oposições de melhores condições para o exercício do contraditório político.
Verificamos também que a obrigatoriedade de recrutar vereadores de entre os membros eleitos para a respectiva Assembleia Municipal é redutor e francamente limitador das opções disponíveis – conhecemos imensas personalidades com capacidades técnicas excepcionais que se disponibilizam para trabalhar seriamente seja onde for, mas que não se dispõem a encarar desafios de natureza política em estrito senso, porque não estão na disposição de serem objecto de apreciações menos abonatórias na praça pública, que os actos eleitorais sempre propiciam, infelizmente. Essas, por muito competentes que sejam, nunca poderão fazer parte de um executivo camarário.
Foi o possível, dirão uns. Longe demais, dirão outros.
Para mim foi, essencialmente, uma boa oportunidade perdida!

Agostinho Ribeiro

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Fórum Lamego debate corrupção autárquica e desportiva.



Decorreu no passado sábado um interessante debate sobre a problemática da corrupção autárquica e desportiva, organizado pelo Fórum Lamego e pelo Partido Socialista de Lamego.
A qualidade e a competência dos oradores convidados, personalidades de reconhecido mérito no campo do combate a este verdadeiro flagelo da corrupção, constituíam factores mais que suficientes para se esperar, como de facto aconteceu, duas comunicações em que estas matérias pudessem ser apresentadas e analisadas sem tabus nem condicionalismos que pusessem em causa a independência e o rigor analítico dos seus protagonistas.
Sob a moderação esclarecida do Dr. Gabriel Catarino, Juiz Desembargador, tivemos a oportunidade de escutar as sábias e prudentes palavras da Dr.ª Patrícia Silveira, Coordenadora de Investigação Criminal da Policia Judiciária, e do Dr. Eduardo Dâmaso, Director Adjunto do Jornal Correio da Manhã, um reputado e conceituado jornalista de investigação na área da corrupção e criminalidade, que souberam abordar, com enorme elevação e dignidade, um tema premente e particularmente sensível que aflige toda a sociedade portuguesa.
Considero que esta foi uma excelente oportunidade que Lamego teve de demonstrar ao País que as questões que nos afectam, por mais melindrosas que sejam, são para ser analisadas e discutidas em ambiente de elevada, sadia e desejável reflexão, no sentido de todos contribuirmos para a prevenção de situações que nos possam indiciar actos de corrupção, e para o combate a situações que se enquadrem, objectivamente, nesses contextos.
A questão da prevenção foi, precisamente, um dos aspectos mais enfatizados na esclarecida tese da Dr.ª Patrícia Silveira, que teve a amabilidade de nos alertar para a necessidade de estarmos atentos aos indícios que podem ser aduzidos como potenciadores ou permissíveis a muitos actos de corrupção, no poder local, tendo em conta a experiência desta alta responsável no combate à corrupção nas autarquias portuguesas.
A falta de transparência dos actos de gestão municipal, o recurso excessivo a empresas municipais e a manipulação dos concursos públicos foram apontados como exemplos a reter, e que estão na base de muitos actos de corrupção detectados, assim como a difícil aplicabilidade da justiça que, a par da morosidade do nosso sistema judicial constroem, no seu conjunto, o cadinho original onde a corrupção encontra ambiente propício para o seu surgimento e desenvolvimento.
É claro que os oradores evitaram pronunciar-se sobre casos em concreto, embora aqui e ali tivessem trazido à colação alguns processos que foram ou estão altamente mediatizados pela comunicação social nacional, mas nenhum relacionado com Lamego, dando assim, com tal distanciamento, uma enorme dignidade e independência política ao esforço que desenvolvem neste combate que deve ser, afinal, o combate de todos nós.
Estão de parabéns os promotores desta iniciativa, esperando que se repita na abordagem de outras temáticas que digam respeito e importem a Lamego e ao País, contribuindo assim para a melhoria da qualidade de vida dos portugueses, no seu todo, e não apenas dos que recorrem a meios ética e legalmente reprováveis pelas sociedades civilizadas contemporâneas.

Mas ficaria de mal com a minha própria consciência se não lamentasse aqui a atitude arrogante e grosseira do senhor Presidente da Câmara Municipal de Lamego que, dando uma vez mais uma inequívoca demonstração do seu desprezível carácter, se disponibilizou para prestar mais um mau serviço à comunidade lamecense.
Tendo chegado muito tarde ao encontro, conforme ele próprio afirmou na sua desastrosa e insultuosa intervenção, e desconhecendo o teor das comunicações produzidas, não se inibiu de, em duas penadas, desconsiderar todos os assistentes presentes, desqualificar os membros da mesa e insultar o anterior Presidente da Câmara, produzindo afirmações de uma grosseria inaceitável e que só a imensa paciência e a boa educação da esmagadora maioria dos assistentes permitiu que a mesma continuasse a decorrer sem interrupções nem altercações.
Este forasteiro que caiu de pára-quedas em Lamego, ganhando umas eleições autárquicas devido a uma conjugação política extraordinária que o favoreceu particularmente, arroga-se agora ao direito de por e dispor da vontade de todos os lamecenses e de decidir o que deve ou não ser feito em Lamego, como se fosse o patrão e o dono de todos os que aqui vivem… Descaramento, ousadia e desfaçatez não lhe falta!
Ouvi indignado, mas em silêncio, as palermices ditas por aquele senhor, mas quando me foi permitido tecer também algumas considerações sobre este pertinente assunto da corrupção, tanto este senhor como um ou dois dos seus mais dilectos apaniguados não deixaram de me tentar interromper, ao melhor estilo dos arruaceiros que pensava já não existirem.
Fiquei com a impressão de que o senhor Presidente da Câmara de Lamego foi àquele encontro com o único intuito de se tentar defender de alguma coisa, em inequívoca demonstração de um nervosismo que não deixa de ser estranho e curioso…

Agostinho Ribeiro

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O sítio internet do Município Lamecense.



Sou um visitante normal e assíduo do sítio internet do Município Lamecense, por razões que se prendem com a minha natural curiosidade sobre alguns aspectos relacionados com a vida de Lamego, a que acrescento a necessidade resultante das minhas obrigações políticas locais, que me levam a consultar actas e demais notícias ali apresentadas.
Na sequência destas amiudadas consultas tive oportunidade de verificar que esta Câmara alterou recentemente o desenho gráfico do sítio, supostamente na tentativa de o melhorar, modificando aqui e ali alguns detalhes de menor importância, mas nada acrescentando de significativamente melhor ao que estava contido no anterior. E, sobretudo, continuando a desrespeitar as leis da República Portuguesa, por ausência de publicitação dos documentos fundamentais da gestão municipal, conforme estabelece o artigo 49º da Lei nº 2/2007, de 15 de Janeiro.
Sem me pronunciar sequer sobre a qualidade, ou falta dela, do desenho gráfico que identifica este novo sítio, deter-me-ei apenas em alguns aspectos relacionados com os conteúdos ali vertidos, e que me merecem reparos pela desonestidade intelectual e falta de rigor informativo que o caracterizam, omitindo deliberadamente aspectos fundamentais dos nossos valores patrimoniais e artísticos, por razões que apenas se podem considerar de pacóvio provincianismo e baixa política, como veremos adiante.
Começo por referir que até tenho vergonha do texto introdutório que já vinha do anterior sítio, assinado pelo senhor Presidente da Câmara, texto esse de uma indigência tamanha e de uma falta de nível cultural de bradar aos céus, onde o autor pretende enaltecer Lamego, designando-a como sendo a Florença de Portugal, em ridícula e mais que desadequada e ignorante comparação, resultando num texto repleto de frases feitas e banalidades gratuitas que apenas o faz cair no descrédito, desprestigiando a nossa cidade e o nosso concelho.
Mas o que me leva, fundamentalmente, a escrever este artigo sobre o sítio internet do município lamecense tem a ver com a secção “Património”, onde é demasiado evidente a ausência deliberada da única instituição que simboliza e representa o que de melhor foi produzido e existe em Lamego, em termos artísticos – o Museu de Lamego! A par do Castelo e Cisterna, da nossa vetusta Sé e do emblemático Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, faria todo o sentido a presença do Museu de Lamego, uma das instituições museológicas mais respeitadas e consideradas a nível nacional, mas aqui estranhamente votada ao ostracismo e ao esquecimento, sendo apenas referida, e de passagem, em plano secundaríssimo no sítio onde mais deveria ser divulgada e encomiada…
E porquê? Será pelo facto de os responsáveis pela concepção e realização deste sítio serem tão ignorantes e desprovidos de sensibilidade cultural e artística que não conhecem a importância do acervo do Museu de Lamego? Mas se fosse por causa disso não considerariam os tesouros artísticos que se encontram no museu, embora se deva aqui sublinhar que desconhecem que no Museu de Lamego há mais obras-primas classificadas como “Tesouros Nacionais” que as que se encontram referenciadas naquela secção, o que demonstra alguma atrevida ignorância e a falta de uma mínima e séria investigação sobre o assunto. Bastaria pedir uma simples informação ao Museu de Lamego…
Ou será pelo facto de o seu director ser um adversário político do actual Presidente da Câmara? Se for por causa disso apenas se volta a demonstrar e a comprovar o provincianismo vil e mesquinho de quem não sabe distinguir pessoas das instituições, misturando deliberadamente as coisas e prejudicando irresponsavelmente os interesses colectivos e as entidades que são pertença de todos e não apenas de alguns, por razões de incompatibilidades políticas e retaliações pessoais... Tudo tão baixo e vergonhoso que nem sequer merece qualquer outra adjectivação!
Mas que fique claro a todos os leitores que, se por acaso for esta a razão, então o senhor Presidente da Câmara de Lamego vai ter de deixar de fazer quaisquer referências a muitas outras realizações locais e regionais em que o director do Museu de Lamego foi (ou é) o principal responsável, ou foi um dos seus protagonistas constitutivos, como sejam o processo do Teatro Ribeiro Conceição; a criação da Associação Nacional dos Municípios com Centro Histórico; a captação do Ensino Superior para Lamego; a criação da Biblioteca Municipal de Lamego (então da Fundação Calouste Gulbenkian); a criação da Associação Bienal da Prata de Lamego; a conceptualização do Museu da Região do Douro; a criação do projecto da feira regional Expodouro de Lamego; e até mesmo a designação de Lamego como Capital Cultural do Douro, para só ficarmos nas realizações de maior monta e interesse mediático, circunscritas a Lamego e ao aro mais próximo da nossa região.
É que a ausência do Museu de Lamego no sítio internet do Município de Lamego, em situação de paridade com os outros grandes monumentos e símbolos patrimoniais da nossa cidade é, simplesmente, um vilipêndio contra todos os lamecenses, passados e presentes, que tanto fizeram e fazem para alcandorar Lamego a uma posição cimeira no panorama artístico e patrimonial do nosso País!
Assim se vê a índole dos que actualmente nos desgovernam em Lamego.

Agostinho Ribeiro

P.S. – Já compararam a factura da água com a do mês anterior? Agradeçam este desnecessário e abusivo aumento ao senhor Presidente da Câmara de Lamego e à coligação que o suporta!

Os falsos argumentos a favor do Pavilhão Multiusos.



Li com muita atenção a entrevista que o senhor Presidente da Câmara concedeu à “Lamego em revista”, e onde faz a defesa da construção do pavilhão multiusos em Lamego, sob o título “Uma oportunidade única para transformar Lamego”.
O enorme volume de verbas municipais que será canalizado para a construção desta infra-estrutura exige mais, muito mais, em explicações aos lamecenses, que este arrazoado demagógico de generalidades, que pouco ou nada nos esclarecem, omitindo deliberadamente a outra face da moeda, que tem a ver com os custos efectivos que terão de ser suportados pela Câmara Municipal de Lamego.
A isto chamo eu enganar as pessoas…
Façamos então as considerações críticas àquela entrevista, desmontando a argumentação falsa e ardilosa de que é portadora, tão ao gosto e ao estilo do senhor Presidente da Câmara de Lamego:

1 - Começa por nos afirmar que esta infra-estrutura vai “garantir a dinamização social e económica de Lamego” e que é “uma velha aspiração dos Lamecenses, apresentada há 10 anos pelo anterior executivo e nunca concretizada”.
Ora acontece que, para além de não corresponder à verdade esta asserção de que o anterior executivo tinha a intenção de construir um pavilhão desta natureza e dimensão, este é um investimento sem nenhum estudo prévio de viabilidade económica e de sustentabilidade material que possa ser usado para demonstrar a sua utilidade como garante da tal “dinamização social e económica”.
Em lado algum se demonstram tais afirmações, com recurso a instrumentos de diagnóstico e planeamento fundamentais, capazes de o justificar técnica e financeiramente, como se faz em todo o lado civilizado do mundo.
Continuo sem perceber o despropósito deste interesse, excessivo e doentio, na construção deste pavilhão!

2 - Depois afirma-nos que a sua polivalência irá permitir “receber feiras, eventos desportivos, concertos e congressos”, e com isso combater a “desertificação” do centro da cidade.
Desertificação? Que desertificação? Que se saiba são os bairros antigos (e históricos) da cidade que estão a ficar desertos e não o centro da cidade! Pelo contrário, existe um excesso de pressão no centro da cidade que deveria merecer uma correcção qualificada e adequado acompanhamento, mas em sentido inverso. Vê-se mesmo que, para este senhor, qualquer argumento serve para enganar os “parolos” de Lamego!
E para receber eventos desportivos já temos o Pavilhão Álvaro Magalhães e o Complexo Desportivo de Lamego que, esses sim, deveriam merecer maior atenção do município que a que actualmente lhes é dispensada.
Quanto aos concertos e congressos, para quem acaba de concluir um importante investimento no Teatro Ribeiro Conceição, com 460 lugares disponíveis para esses mesmos efeitos, num espaço de excelência como é o deste teatro, só pode ser entendido como mais uma estulta argumentação, desprovida de qualquer razoabilidade, tendo em conta a realidade de Lamego.
Para concertos de maior envergadura, volto a sugerir os eventos ao ar livre, porque são, seguramente, mais realistas, sustentáveis e verdadeiros, que os que a imaginação megalómana deste presidente consegue produzir…
Como sabemos muito bem, os grandes eventos que exigem generosas áreas disponíveis para a sua realização, como grandes feiras e espectáculos de maior vulto, nunca poderão ser realizados num espaço coberto de 2.410 m2, sendo na maior parte das vezes realizados tais eventos em espaços condignos e dotados de algumas infra-estruturas de suporte, mas ao ar livre!
Basta ver que nem sequer uma pequena feira, como tem sido a Expodouro, caberia num espaço daquela dimensão…

3 – O único aspecto positivo deste projecto tem a ver com a inclusão de um parque de estacionamento, com capacidade para albergar 210 viaturas o que, como também sabemos muitíssimo bem, poderia ser construído no mesmo local sem o gasto absurdo de um pavilhão multiusos associado. Este empreendimento desnecessário só vai beneficiar, em boa verdade e até demonstração fiável em contrário, os responsáveis pela sua construção, como a seguir não deixarei de demonstrar.

4 – É que a maior falsidade argumentativa prende-se com os custos deste projecto. Diz o senhor Presidente da Câmara que as empresas “Lamego Renova” e “Lamego Convida” pagarão à Câmara 4.600.000 € pelo direito de superfície do largo da Feira, durante 30 anos. Diz depois que os custos serão suportados pelo mesmo consórcio público-privado, incluindo a Câmara, “à semelhança de outras operações que o Estado Português diariamente lança”.
Era muito bom que este senhor fosse rigoroso no que diz, e nos esclarecesse devidamente sobre as operações semelhantes a esta, que o Estado Português lança diariamente… É que eu conheço muitos consórcios público-privados, em parceria com o Estado Português, mas nenhum deles é ruinoso e desadequado como este, para o interesse público, quando comparado em termos relativos e percentuais, tendo em conta a natureza e a dimensão de tais consórcios.
E isto porque há uma coisa que ele não diz… O senhor Presidente não diz aos lamecenses, na entrevista, que a Câmara tem que pagar à empresa “Lamego Convida”, durante esses mesmos 30 anos, a quantia de 87.000.000 €, para ela poder gerir esta e outras barbaridades, nem diz que tamanho absurdo de desperdício financeiro foi aprovado pela coligação que o alcandorou ao poder em Lamego!
E se, por qualquer motivo, estas verbas não chegarem, a Câmara Municipal de Lamego está obrigada a cobrir financeiramente todos os gastos que excedam o contratado…

Ele há negócios fantásticos, não há?

Agostinho Ribeiro

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

2008



Do mesmo modo que fiz há um ano atrás para 2007, também hoje gostaria de tecer algumas considerações sobre o que poderá vir a ser, para todos nós, o ano de 2008, no plano nacional e local, dado que ambas as realidades são indissociáveis para o nosso bem estar colectivo.
No plano nacional mantenho a legítima convicção de um país que, pela primeira vez desde há muitos anos, trilha os caminhos do rigor e da seriedade no controlo das contas públicas, bem patente na inatacável redução do défice público, a par de uma tímida, mas consistente e sustentada retoma da actividade económica geral, que dará frutos muito em breve, a favor do bem estar de todos os portugueses.
Os indicadores têm vindo a ser crescentemente favoráveis à economia portuguesa, embora os mais críticos não se cansem de nos alertar para o facto de ainda estarmos muito longe do que seria desejável, tendo em conta os estruturais atrasos de Portugal, quando comparados com a maioria dos nossos parceiros europeus.
E se tais considerações não deixam de fazer algum sentido, lembrando-nos que ainda existe um longo caminho a percorrer até alcançarmos as metas almejadas, a verdade é que se não fossem as reformas estruturais que este governo decidiu implementar, e estaríamos hoje bem mais longe de alcançar tais metas, do que estamos actualmente, uma vez que a economia portuguesa vai crescer perto dos 2%, no ano de 2007, com um défice orçamental a ficar abaixo dos 3%. É pouco, mas há seis anos que não assistíamos a um crescimento tão grande como este que estamos agora a assistir!
Sem ser propositadamente exaustivo, diria que as reformas da administração pública, da educação, da segurança social, da cultura e da presidência portuguesa da União Europeia constituíram as áreas de intervenção governamental onde os progressos e os sucessos foram mais evidentes, no decorrer do ano transacto. No lado diametralmente oposto, o sector da justiça aparenta ser o que menos se alterou com as reformas introduzidas, não parecendo que tenham suscitado, até ao momento, melhorias significativas.
Já por várias vezes me referi à importância fundamental de uma justiça célere e eficaz, tanto preventiva como correctiva, capaz de honrar permanentemente o Estado Democrático e de Direito em que vivemos, mas continuamos a assistir, em demasiados casos que são do conhecimento público, à inoperância e morosidade na sua aplicação.
O sector da saúde continua a ser, para mim, uma terrível incógnita, já que ainda não consegui alcançar os ganhos sociais da reforma encetada, que não vislumbro em lado algum das regiões mais desfavorecidas do interior do país, embora reconheça que existia uma premente necessidade em regular e qualificar a prestação dos serviços médicos assistenciais, que não estavam minimamente garantidos no todo nacional.
Para 2008, a aposta na formação e qualificação profissional dos portugueses, a par do combate sem tréguas ao terrível flagelo do desemprego constituem, e muito bem, os principais desafios que o governo decidiu assumir como prioritários, na continuação perseverante do rumo traçado em 2005.

No plano local já nem vale a pena discorrer com um mínimo de rigor e seriedade porque está mais que demonstrada a falta destas qualidades para os lados da nossa autarquia. Não são rigorosos quando manipulam indevidamente os instrumentos de gestão autárquica, e não são sérios quando faltam ao cumprimento das disposições legais na sua elaboração, situação que apenas acontece em Lamego, tanto quanto sabemos, escapando-nos porém as razões desta enorme e continuada impunidade…
Mas para os lamecenses, o ano de 2008 irá ser bem mais amargo do que seria de supor, já que será o ano da primeira derrama autárquica, a cobrar pelos máximos previstos na lei, para afastar ainda mais os potenciais empreendedores de Lamego, que deveríamos saber captar e fixar; será o ano da continuidade do imposto municipal sobre imóveis à taxa mais elevada que o município pode estabelecer; será o ano em que o IRS, na componente municipal, será também cobrado pela taxa mais elevada que a lei permite; e será o ano do aumento brutal dos serviços de distribuição de água, do saneamento e da recolha de lixos. Será ainda o ano de mais endividamento autárquico sem justificação plausível; de mais encargos assumidos e não pagos num crescendo de arrepiante velocidade; de mais dinheiro nosso para a empresa Lamego Convida sem que se saiba verdadeiramente da sua razoabilidade na aplicação de tais verbas, e o rol poderia continuar quase indefinidamente…
E tudo isto a pretexto das “obras” que se estão ou pretendem realizar em Lamego, numa desmesurada falta de visão e planeamento, e em intrigante desproporção total entre o que se faz (ou se pretende fazer) e o que se gasta efectivamente com o que se faz (ou se diz fazer…).
As obras da Av. 5 de Outubro já podem ser apontadas como um exemplo bem ilustrativo dessa falta de qualidade, mas paga a peso de ouro; e o caso estranhíssimo do pavilhão multiusos, obra de vultuoso investimento municipal, sem que tenha sequer o suporte prévio de um estudo de viabilidade e sustentabilidade económicas, constituem exemplos paradigmáticos do mau caminho que Lamego está a calcorrear.
O ano de 2008 será o ano em que tudo faremos para clarificar e tornar completamente transparentes as contas do município lamecense. Para que depois ninguém diga que não sabia nada do que se estava a passar…

Agostinho Ribeiro