quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Ao que isto chegou!



Infelizmente, e pela segunda vez consecutiva, não pude estar presente na sessão da Assembleia Municipal de Lamego, por razões profissionais, e por isso não tive oportunidade de levantar algumas questões relacionadas com as finanças municipais, na sua articulação com as obras que se estão a realizar na nossa cidade.
E isto porque, como já começa a ser habitual em cada sessão da Assembleia, lá veio mais um pedido de autorização para um empréstimo bancário, desta vez de mais dois milhões e cem mil euros, para beneficiação da EN226 e da EN2, em Lamego.
Os defensores deste executivo dirão que para se fazerem obras é preciso dinheiro e, portanto, há que arranjá-lo, mesmo que tal “arranjo” seja o de recorrer sistematicamente a empréstimos que hipotecam irremediavelmente o futuro de Lamego. Este argumento, enganador como nenhum outro, demonstra-nos até onde pode ir a irresponsabilidade destes senhores, mas estou em crer que lhes haveremos de exigir respostas e soluções à falência das finanças municipais, quando não houver dinheiro nem sequer para honrar as despesas correntes obrigatórias do município lamecense.
Nessa altura, tudo farei para ver os actuais responsáveis, e seus dilectos defensores, a explicar devidamente aos lamecenses como e onde se irão arranjar tais recursos financeiros, e gostarei também de ver se assumirão, publica e pessoalmente, a respectiva quota parte de responsabilidade na má gestão que hoje tão heroicamente defendem…
É que se a lei os obrigasse a serem pessoalmente solidários na assunção dos custos decorrentes de uma má gestão, talvez esta euforia dos excessos da despesa fossem bem mais contidos do que são actualmente!
Para que se perceba bem o logro argumentativo, começaremos por dizer que os empréstimos provenientes do anterior executivo (o mais antigo contraído em 1991 e o mais recente em 2004), orçavam em cerca de quatro milhões e oitocentos mil euros, contraídos ao longo de 14 anos. Em 2006 e 2007 ou seja, em apenas dois anos, os empréstimos aumentaram em cerca de sete milhões e seiscentos mil euros, para se cifrarem actualmente na ordem dos 12 milhões de euros contratados.
Significa isto que, em dois anos, quase que se triplicou a dívida pública municipal que, não esqueçamos, é uma dívida de todos nós, a ser liquidada nos próximos 20 anos.
Para quem pense que estes empréstimos servem exclusivamente para pagar obras, como refere a “propaganda”, sempre diremos que é precisamente nas despesas de capital que os compromissos por pagar mais têm aumentado no corrente ano – já são actualmente 17 milhões de euros, para a “módica” quantia de mais de 21 milhões de euros de compromissos totais por pagar, pelo menos contabilizados até 18 de Setembro deste ano.
E como temos provas documentais da existência de facturação com data de meados de 2006, mas cujo processamento contabilístico apenas se efectuou em 2007, é de admitir que tais compromissos por pagar sejam bem superiores aos considerados nos documentos legais. Basta que estejam a fazer o mesmo que já fizeram o ano passado…
E se a esta já colossal dívida (porque de uma verdadeira e insofismável dívida se trata) acrescentarmos a alteração contratual existente entre a Câmara e a empresa Lamego Convida, que veio dilatar de 20 para 30 anos o prazo de validade do direito de superfície (dos terrenos e imóveis onde se pretende construir o megalómano pavilhão multiusos e os anexos ao edifício da Câmara Municipal), bem como mais que quadruplicar os encargos totais no decorrer desses mesmos 30 anos, podemos fazer uma ideia do que vai acontecer à Câmara de Lamego, já a partir do próximo ano!
Isto tudo porque, há um ano atrás, estes “extraordinários gestores” devem-se ter enganado nas contas que fizeram, e pensaram que cerca de 18 milhões de euros chegariam para os seus imprudentes devaneios, mas agora chegaram à conclusão que afinal seriam necessários perto de 87 milhões de euros para fazer a mesma coisa que há um ano atrás “apenas” custava 17 milhões!
Não, caro leitor, não estou enganado nas contas, e talvez me explique melhor se me referir em contos, à maneira antiga… Estes senhores pensavam que faziam a “festa” do pavilhão multiusos e quejandos com cerca de 3 milhões e quatrocentos mil contos, para chegarem à conclusão, um ano depois, que afinal vão precisar de mais 14 milhões de contos para fazerem a dita cuja “festa”, num total de 17 milhões e quatrocentos mil contos!
O que, ou quem, se vai beneficiar com tanto dinheiro à custa dos lamecenses, não sei, mas quem vai ter de o pagar até ao último tostão, isso aposto que seremos todos nós…
Que indecente legado vão deixar estes senhores aos nossos filhos… Que tristeza e pobreza de gestão, que desrespeita os mais elementares procedimentos éticos em matéria de dívidas que se reflectem nas gerações vindouras…
Em suma, numa Câmara que este ano não terá receitas superiores a 20 milhões de euros, mas que vai ter despesas correntes na ordem dos 14 milhões, e possui já compromissos por pagar de perto de 22 milhões; numa Câmara que, com este último empréstimo, esgotou seguramente a sua capacidade de endividamento, mas que aumenta desavergonhadamente os seus compromissos financeiros futuros com uma empresa municipal de necessidade e interesse mais que duvidosos, é lícito perguntar se os seus directos responsáveis assumirão integralmente os custos resultantes de tamanho despautério.
Ah…Por causa das obras… Dessas famigeradas obras que tudo desculpam e justificam!
Na próxima semana escreverei sobre essa falácia!

Agostinho Ribeiro

Sem comentários:

Enviar um comentário