Agora que
estamos quase a assistir à inauguração do novo Teatro Ribeiro Conceição, e antes
que alguém falseie os factos e cante loas a quem as não merece na totalidade, tomo
eu a iniciativa de deixar bem expresso neste jornal alguns dados sobre o
desenrolar deste moroso processo, aqui entendido na sua globalidade, ou seja,
desde a sua concepção inicial até ao resultado final, que não terminará com a
conclusão das obras físicas do edifício, como julgo que é evidente para todos
nós.
Como já estou cansado
de assistir a situações de autêntico “roubo” de propriedade intelectual (e da
falta de reconhecimento de méritos de co-autorias) de alguns projectos
culturais estruturantes para Lamego e para a região, tomo hoje a liberdade de
relembrar que este projecto do Teatro Ribeiro Conceição não é de agora e foi efectivamente
iniciado há cerca de 20 anos atrás, conforme adiante descreverei.
A primeira vez
que alguém se manifestou publicamente (que eu tenha conhecimento) sobre este
tema da inevitabilidade de aquisição e recuperação do Teatro, aconteceu há
precisamente 22 anos, quando eu próprio escrevi um artigo sobre o assunto, no
semanário “Voz de Lamego”, corria então o ano de 1985. Nessa altura, discorri
sobre a premente necessidade de se classificar o edifício, de se adquirir o
mesmo pela autarquia e de, posteriormente, se procederem às indispensáveis
obras para a sua requalificação funcional.
Com as eleições
autárquicas de 1985, fui então eleito vereador, tendo ficado com a responsabilidade
do Pelouro da Cultura. Envidei então todos os meus esforços para se iniciar o
processo de aquisição do Teatro, tendo sido o primeiro responsável público a
iniciar, efectivamente, um processo negocial que haveria de dar os seus frutos,
devendo referir também que o meu antecessor no Pelouro, Prof. César Chiquelho, tentou
estabelecer, sem sucesso, os contactos indispensáveis ao despoletar deste
processo.
E lembro-me muito
bem que, não havendo quaisquer verbas municipais disponíveis para o efeito,
consegui junto da Secretaria de Estado da Cultura, então liderada pela Dr.ª
Teresa Patrício Gouveia, o primeiro financiamento indispensável ao bom sucesso
desta intenção, por intermédio de uma associação cultural então criada para o
efeito.
No decorrer
desse mandato (1985/1989) conseguiu-se adquirir uma parte substancial do teatro,
em processo negocial que iria ser continuado (e muito bem) pelos Presidentes da
Câmara que se seguiram, Rui Valadares e José António Santos. Este último, não
só deu seguimento às negociações das parcelas que faltavam adquirir, como
avançou com o concurso e consequente elaboração do projecto de requalificação,
tendo-o ainda candidatado, com todo o sucesso, aos fundos comunitários.
Aliás, foi a
anterior Câmara Municipal que adjudicou esta obra à firma Edifer Construções,
S.A., conforme se pode verificar pela leitura da acta do executivo camarário de
5 de Setembro de 2005, tendo sido assinado o respectivo contrato em 28 de
Setembro do mesmo ano. Só mesmo um inexplicável, inadmissível e nada ético “adiamento”
do processo, no interior dos serviços municipais, fez com que a consignação da
obra se efectivasse já ao tempo do novo executivo.
O actual
executivo adquiriu a última parcela que ainda se encontrava na posse de um dos
primitivos proprietários, e deu o normal seguimento ao processo, o que só pode merecer
a nossa satisfação, embora pense que esta última aquisição poderia ter sido bem
mais vantajosa para as finanças municipais.
Como se pode
verificar, foram muitos os anos, e ainda mais os protagonistas que trabalharam
afincadamente ao longo deste tempo todo para que Lamego obtivesse esta
importante benfeitoria cultural.
Esta Câmara
Municipal foi, neste processo, a que menos teve de se esforçar para o efeito,
tendo apenas dado seguimento ao que vinha de trás. O projecto estava elaborado,
o financiamento comunitário garantido, os procedimentos administrativos
cumpridos. Em todo o caso não deixam de estar também de parabéns, pelo facto de
terem sabido dar continuidade a um projecto estruturante para a cidade e
concelho de Lamego.
Tivessem sabido
fazer o mesmo em relação a outros bons projectos que vinham de trás, do foro
artístico e cultural, e seríamos certamente bem menos críticos do que somos
actualmente.
Portanto, já
sabe, meu caro leitor… Se alguém lhe disser que o projecto de requalificação do
Teatro Ribeiro Conceição se deve exclusivamente a este executivo, esse alguém
estará a faltar à verdade, vá-se lá saber porque razões…!
Sem comentários:
Enviar um comentário