quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Teatro Ribeiro Conceição.



Agora que estamos quase a assistir à inauguração do novo Teatro Ribeiro Conceição, e antes que alguém falseie os factos e cante loas a quem as não merece na totalidade, tomo eu a iniciativa de deixar bem expresso neste jornal alguns dados sobre o desenrolar deste moroso processo, aqui entendido na sua globalidade, ou seja, desde a sua concepção inicial até ao resultado final, que não terminará com a conclusão das obras físicas do edifício, como julgo que é evidente para todos nós.
Como já estou cansado de assistir a situações de autêntico “roubo” de propriedade intelectual (e da falta de reconhecimento de méritos de co-autorias) de alguns projectos culturais estruturantes para Lamego e para a região, tomo hoje a liberdade de relembrar que este projecto do Teatro Ribeiro Conceição não é de agora e foi efectivamente iniciado há cerca de 20 anos atrás, conforme adiante descreverei.
A primeira vez que alguém se manifestou publicamente (que eu tenha conhecimento) sobre este tema da inevitabilidade de aquisição e recuperação do Teatro, aconteceu há precisamente 22 anos, quando eu próprio escrevi um artigo sobre o assunto, no semanário “Voz de Lamego”, corria então o ano de 1985. Nessa altura, discorri sobre a premente necessidade de se classificar o edifício, de se adquirir o mesmo pela autarquia e de, posteriormente, se procederem às indispensáveis obras para a sua requalificação funcional.
Com as eleições autárquicas de 1985, fui então eleito vereador, tendo ficado com a responsabilidade do Pelouro da Cultura. Envidei então todos os meus esforços para se iniciar o processo de aquisição do Teatro, tendo sido o primeiro responsável público a iniciar, efectivamente, um processo negocial que haveria de dar os seus frutos, devendo referir também que o meu antecessor no Pelouro, Prof. César Chiquelho, tentou estabelecer, sem sucesso, os contactos indispensáveis ao despoletar deste processo.
E lembro-me muito bem que, não havendo quaisquer verbas municipais disponíveis para o efeito, consegui junto da Secretaria de Estado da Cultura, então liderada pela Dr.ª Teresa Patrício Gouveia, o primeiro financiamento indispensável ao bom sucesso desta intenção, por intermédio de uma associação cultural então criada para o efeito.
No decorrer desse mandato (1985/1989) conseguiu-se adquirir uma parte substancial do teatro, em processo negocial que iria ser continuado (e muito bem) pelos Presidentes da Câmara que se seguiram, Rui Valadares e José António Santos. Este último, não só deu seguimento às negociações das parcelas que faltavam adquirir, como avançou com o concurso e consequente elaboração do projecto de requalificação, tendo-o ainda candidatado, com todo o sucesso, aos fundos comunitários.
Aliás, foi a anterior Câmara Municipal que adjudicou esta obra à firma Edifer Construções, S.A., conforme se pode verificar pela leitura da acta do executivo camarário de 5 de Setembro de 2005, tendo sido assinado o respectivo contrato em 28 de Setembro do mesmo ano. Só mesmo um inexplicável, inadmissível e nada ético “adiamento” do processo, no interior dos serviços municipais, fez com que a consignação da obra se efectivasse já ao tempo do novo executivo.
O actual executivo adquiriu a última parcela que ainda se encontrava na posse de um dos primitivos proprietários, e deu o normal seguimento ao processo, o que só pode merecer a nossa satisfação, embora pense que esta última aquisição poderia ter sido bem mais vantajosa para as finanças municipais.
Como se pode verificar, foram muitos os anos, e ainda mais os protagonistas que trabalharam afincadamente ao longo deste tempo todo para que Lamego obtivesse esta importante benfeitoria cultural.
Esta Câmara Municipal foi, neste processo, a que menos teve de se esforçar para o efeito, tendo apenas dado seguimento ao que vinha de trás. O projecto estava elaborado, o financiamento comunitário garantido, os procedimentos administrativos cumpridos. Em todo o caso não deixam de estar também de parabéns, pelo facto de terem sabido dar continuidade a um projecto estruturante para a cidade e concelho de Lamego.
Tivessem sabido fazer o mesmo em relação a outros bons projectos que vinham de trás, do foro artístico e cultural, e seríamos certamente bem menos críticos do que somos actualmente.
Portanto, já sabe, meu caro leitor… Se alguém lhe disser que o projecto de requalificação do Teatro Ribeiro Conceição se deve exclusivamente a este executivo, esse alguém estará a faltar à verdade, vá-se lá saber porque razões…!

Agostinho Ribeiro

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