quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Dois apontamentos.



O primeiro apontamento que desejo partilhar com os meus caros leitores é de interesse local e tem a ver com o que se está a construir na Av. Dr. Alfredo de Sousa, no lugar da antiga esplanada “4 estações”.
Lembro-me que há perto de 20 anos, quando foi construída a infra-estrutura de suporte à anterior esplanada, os responsáveis políticos de então (eu incluído) tivemos o cuidado de evitar que se construísse naquele local uma edificação de excessivas dimensões, para que se desvirtuasse ao mínimo a beleza da nossa sala de visitas. Optou-se então por uma estrutura o mais leve possível, ainda que esteticamente tivesse sido discutível, mas capaz de ser retirada do lugar a qualquer momento, sem esforço de maior, minimizando-se assim os custos do prejuízo causado ao ambiente de “passeio público”, que a avenida tão bem revela, ou de “picadeiro”, como carinhosamente lhe chamam muitos lamecenses.
Agora, para grande consternação de muitos de nós, assistimos à construção de um imóvel pesadíssimo, em ferro e cimento, de enormes dimensões (que mal cabe entre as árvores do lugar), com todo o aspecto de uma imobilidade titânica completamente desenquadrada e desrespeitadora das características ambientais da nossa avenida.
A isto chamo eu “regressão”!
Que abuso o destes senhores, que nem se dão ao trabalho de indagar junto dos lamecenses se porventura estarão de acordo com este tipo de construção naquele local, no que considero ser um verdadeiro atentado de lesa-património à nossa bela avenida central.
Recordo aqui que esta é mais uma obra dos mesmos que já se preparavam para destruir completamente o nosso Jardim da República, em atitude de completo autismo e desconsideração pelas mais valias patrimoniais de Lamego.
E isto para não falarmos no desleixo que grassa pelas bandas da autarquia… Este desleixo exasperante que classifica muito bem os seus responsáveis. Há mais de um mês que as festas terminaram, mas os ferros de suporte à iluminação ainda se encontram montados ao longo da avenida, com ar de negligente abandono, para desespero dos turistas que demandam a cidade nesta época do ano, e que não podem sequer tirar uma fotografia decente ao Santuário dos Remédios.
Vê-se bem que tudo isto é o resultado de um protagonismo meão de quem não é de cá, não vive cá, nem faz tenções de cá viver algum dia, pouco ou nada se importando com a qualidade, tipicidade e singularidade de vida na nossa vetusta e bela cidade.

A outra consideração que aqui quero deixar expressa é de dimensão nacional e prende-se com a atitude do Dr. Pedro Santana Lopes, quando decidiu dar por terminada uma entrevista à SIC, após ter sido interrompido por um “directo” noticioso que fazia a cobertura da chegada de José Mourinho a Portugal.
A importância deste acontecimento pode ser aquilatada pelo tratamento humorístico que se lhe seguiu, já que tanto o programa “Contra Informação” como o programa do “Gato Fedorento” se referiu ao assunto. Estas referências foram elaboradas em termos de “graçola”, certamente, não deixando de enunciar uma crítica mitigada à conduta daquele canal televisivo, embora sem a clareza e a distinção necessárias entre quem agiu correctamente e quem não teve o indispensável discernimento para o fazer.
Um ou outro comentário lateral, por parte dos sectores ditos “sérios” da nossa comunicação social e comentadores políticos de serviço, e nada mais me parece que haja a registar na abordagem mediática ao assunto, demonstrando-se assim a enorme fragilidade e alguns complexos de natureza ideológica que atravessam as nossas elites jornalísticas.
E no entanto, se atentarmos bem ao comportamento daquele canal televisivo, facilmente concluiremos pela extraordinária mediocridade que atravessa o nosso país, no que respeita às prioridades noticiosas e à completa inversão (e subversão) de valores que esta mesma atitude denota, de tal forma vergonhosa para todos nós que chega ao cúmulo de se interromper uma conversa com um ex-primeiro-ministro de Portugal (aprecie-se ou não o estilo e a pessoa), a propósito de um processo político eleitoral referente ao maior partido da oposição (goste-se ou não do partido), um dos pilares da nossa democracia representativa, para nos “brindarem” com umas imagens, sem qualquer conteúdo noticioso relevante, de um treinador de futebol acabado de chegar ao aeroporto da Portela.
Ainda que o treinador seja excelente, e um orgulho nacional, isto é pura e simplesmente inadmissível!
Fez muitíssimo bem o Dr. Santana Lopes em ter tomado a atitude que tomou! Tivessem todos os políticos a coragem que ele teve perante a comunicação social, e talvez a classe política fosse mais respeitada do que é actualmente.

Agostinho Ribeiro

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