quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Com o devido respeito (2).



Conforme deixei expresso no meu artigo anterior, partilho hoje com os leitores a descrição de algumas das matérias que os Senhores Vereadores do Partido Socialista gostariam de ver analisadas, e tratadas com maior transparência e detalhe, em sede de executivo camarário.
Entre muitos outros assuntos, e sem prejuízo de ainda vir a referir os restantes nos próximos artigos, tomo a liberdade de destacar hoje os seguintes:
a) A apresentação da auditoria feita à contabilidade da Câmara, pela empresa Price Waterhouse Auditors.
O atraso na entrega deste relatório é tanto mais estranho quanto foi o actual executivo que o solicitou, alegando por largos meses que o anterior Presidente tinha deixado a Câmara num estado calamitoso, no que se refere às contas municipais, o que parece ser frontalmente desmentido por esta auditoria independente.
Afinal, parece que o relatório aponta para os mesmos resultados expressos na Conta de Gerência de 2005, aprovada por unanimidade, tanto na Câmara, como na Assembleia Municipal de Lamego.
Mas o uso de artifícios dilatórios, porque expressamente ilegais no que concerne a auditorias, permite-nos considerar que o cumprimento das leis não é, decididamente, o forte deste novo poder autárquico. Será que este incumprimento sistemático da lei serviu para manter o falso “estigma” sobre o anterior Presidente, acerca das contas municipais?
Pergunto-me por quanto tempo mais continuará a ser rentável tamanha impunidade…

b) A apresentação de documentos referentes a requisições externas, de despesa e contabilísticas, emitidas pela autarquia, bem como a apresentação dos despachos em que se decidiu a aquisição de bens e serviços, desde 1 de Novembro de 2005, e onde se refiram os procedimentos legais utilizados pela autarquia. Ainda e da mesma forma no que se refere à contratação das obras públicas, desde a data atrás referida.
É estranho, mesmo muito estranho, tantas renitências em fornecer estas informações, com o detalhe necessário. E quanto mais tempo se demoram a dar respostas, em sede própria que é o executivo camarário, maiores suspeições de não cumprimento dos procedimentos legais recaem sobre os seus directos responsáveis. É que a falta de informação e denegação de apresentação da respectiva documentação, em tempo oportuno, sendo já uma ilegalidade intolerável, constitui também um forte indício da prática de ilícitos, a merecer particular atenção a quem recai o dever de pugnar pela manutenção do nosso Estado de Direito.

c) A apresentação das decisões de abertura de concursos para admissão de pessoal ou de oferta pública de emprego, bem como a apresentação de documentos referentes à contratação de alguns membros do gabinete de apoio pessoal ao Presidente da Câmara.
Estes assuntos são de extremo melindre, e devem ser tratados, e respondidos, com a celeridade que os mesmos merecem. O silêncio, a omissão e a indiferença, nestes particulares temas do pessoal e das equipes políticas, apenas potenciam a sensação do compadrio político, no primeiro caso, e de irregularidades insanáveis, no segundo. Umas e outras nada abonatórias do bom nome que a instituição municipal nos deve merecer.

d) Informação das razões que levaram à suspensão das obras da Praça 15 de Março, ampliação dos Cemitérios de Santa Cruz e da Cruz Alta, de recuperação e ampliação da Escola de Mazes e do não agendamento de outros processos de beneficiação e requalificação, nomeadamente das avenidas 5 de Outubro, Afonso Henriques e Egas Moniz, dos parques de estacionamento do Desterro e da Quinta de Santo António, ou ainda do projecto da zona industrial de Várzea de Abrunhais.
Estas são matérias de muita importância para Lamego, e onde os avanços e recuos do actual poder autárquico, em que as considerações de natureza técnica se misturam com considerações políticas descabidas, a par dos “complexos” ainda não resolvidos deste executivo, por ter de dar continuidade a projectos que já vinham de trás, leva-nos a pensar que muito mais que os superiores interesses de Lamego, estão a ser patenteados os interesses políticos do grupo que se encontra, actualmente, no poder.

Apresentei, neste breve apontamento, quatro áreas distintas que importam a todos os lamecenses. A saber, matérias referentes às contas públicas municipais, metodologia e processos usados na aquisição de bens e serviços, processos de contratação de pessoal técnico e de apoio político e, finalmente, de obras públicas de interesse concelhio.
Seria bom que, no lugar próprio e nos momentos certos, no cumprimento estrito das leis e no respeito pelos direitos da oposição democrática, estas e outras matérias tivessem o tratamento que merecem.

Agostinho Ribeiro

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