quinta-feira, 27 de julho de 2006

Ainda a Bienal da Prata



 Darei hoje por concluída, da minha parte, quaisquer referências de natureza pública, política e pessoal, à questão relacionada com a Bienal da Prata.
É necessário que os aspectos mais relevantes relacionados com esta questão sejam analisados com algum detalhe, para que não subsistam dúvidas sobre as razões e os fundamentos que fazem mover o Senhor Presidente da Câmara contra a minha pessoa, e contra um dos eventos mais importantes e mediáticos que em Lamego alguma vez se produziu.
Na acta já referida por mim no anterior artigo, da reunião do executivo de 4 de Julho de 2006, o Senhor Presidente “exige que o senhor Dr. Agostinho Ribeiro proceda a um desmentido das suas afirmações ou não aceitará que este evento, que pretende hostilizar a Câmara Municipal e promover pessoal e politicamente os seus promotores, seja apoiado com dinheiros públicos”.
Vamos por partes… O Senhor Presidente quer que eu desminta uma coisa que ele próprio admite ter acontecido, o que não deixa de ser hilariante. O grave é que tenta escamotear e deturpar a verdade para conseguir alcançar o seu objectivo que é, nem mais nem menos, que o de tentar (mas só mesmo tentar porque não conseguirá atingir os seus deploráveis objectivos) denegrir a minha imagem pública.
Depois, em tom ostensivamente ameaçador, refere que não aceitará que este evento da Bienal da Prata seja apoiado com dinheiros públicos… Aqui é que as coisas começam a ficar seriamente complicadas, uma vez que esta atitude configura um pretenso abuso de poder, uma vez que pretende interferir em matéria que não é da sua competência, nem tão pouco se encontra sob a sua esfera de actuação.
Mas quem é o Senhor Presidente para se arvorar em defensor dos dinheiros públicos, que nem sequer são geridos por ele, quando os mesmos dinheiros e bens públicos que estão sob a sua alçada têm vindo a ser esbanjados e delapidados em viagens sem sentido, tanto dele, como de alguns senhores vereadores, mal aplicados em demasiadas situações, como em deslocações e remunerações de pessoal do seu próprio gabinete, de forma absolutamente ilegal, para já não falar do extraordinário sentido de responsabilidade, ou falta dele, de alguém que até deixa a viatura municipal ser roubada numa situação tão estranha e invulgar, que ainda teremos de ser melhor esclarecidos sobre tão anómalo acontecimento?
Afirma depois que o evento pretende hostilizar a Câmara Municipal e promover pessoal e politicamente os seus promotores. Extraordinária esta reflexão, sobretudo pelas consequências que daqui já adivinhamos para o futuro de Lamego. Um evento que pretende colocar Lamego no topo das referências culturais e artísticas, durante um determinado período de tempo é, para o Senhor Presidente, uma hostilização à sua pessoa.
Imagino o Senhor Presidente da Câmara do Porto a dizer que não queria lá a Casa da Música, porque isso era promover o Arquitecto Rem Koolhaas ou, aqui bem mais próximo, o Senhor Presidente da Câmara Municipal do Peso da Régua vir agora dizer que não quer a sede do Museu do Douro na sua terra porque isso é apenas uma forma de promover o Prof. Gaspar Martins Pereira. Salvemos as respectivas e criteriosas distâncias mas deixem-me dizer que o princípio é o mesmo.
Ridículo, não é? Tão mesquinhamente ridículo que até nos obriga a pensar onde estará o sentido da elevação, do bom senso e da prudente contenção em alguém que, mais que ninguém, os deveria possuir e exercitar continuamente.
Será que vamos ter fogo de artifício nas próximas festas em honra de Nossa Senhora dos Remédios, ou a promoção do pirotécnico responsável vai levar o Senhor Presidente da Câmara a não admitir que o mesmo aconteça, pela sombra mediática que, porventura, lhe fará?
Mas como as coisas são o que são e a Câmara Municipal de Lamego é sócia da Associação Bienal da Prata, embora o actual poder não tenha, até este momento, acarinhado este evento, não posso, nem quero, ser responsável pela não realização seja do que for, desde que tenha a certeza que o mesmo é bom para o prestígio e engrandecimento de Lamego.
Por esta razão, demiti-me já do cargo de director da Associação Bienal da Prata, por manifesta e total incompatibilidade pessoal, e de princípios, com o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lamego, de uma forma que já me é completamente incontornável e intransponível.

Agostinho Ribeiro

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