quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Eu cumpri o meu dever de lamecense!




Perante a proposta de deliberação do senhor Presidente da Câmara Municipal de Lamego, propondo que seja ratificado o seu despacho, datado de 17 de novembro de 2012, no qual adjudicou à firma Francisco Pereira Marinho e Irmãos, S.A., a obra de “Requalificação do Espaço Público do Eixo Barroco”, pelo custo de 2.562.308,15 € (dois milhões, quinhentos e sessenta e dois mil, trezentos e oito euros e quinze cêntimos), acrescido de IVA à taxa em vigor, eu cumpri o meu dever de lamecense, votando contra!

A proposta foi, no entanto, aprovada por maioria, com os votos a favor do senhor Presidente da Câmara Municipal e dos senhores Vereadores da Coligação PSD-CDS, e o meu voto contra, com a seguinte declaração de voto:
“Voto contra esta proposta de ratificação, em primeiro lugar e desde logo porque o senhor Presidente da Câmara não honrou a sua palavra quando se comprometeu a realizar um teste rodoviário na zona de intervenção deste projecto, anulando temporariamente a circulação na Rotunda do Soldado Desconhecido, para verificação dos efeitos que iria provocar a sua hipotética suspensão definitiva. Dado que a obra já foi adjudicada, tal ensaio deixa de ter qualquer pertinência ou sentido de oportunidade.
Em segundo lugar esta decisão não nos refere nem esclarece se tal obra possui já, ou não, a aprovação formal da candidatura ao QREN, porque as informações obtidas sobre esta matéria apontam para o facto de tal candidatura aos fundos comunitários ainda não estar desbloqueada.
Finalmente, e mais importante que tudo o resto, voto contra por considerar que a presente obra é um verdadeiro “crime” de lesa património contra a cidade de Lamego e contra todos os lamecenses que se revêem nesta imagem de marca de altíssima qualidade urbana, a exigir apenas melhorias no que toca ao seu mobiliário constitutivo e rede de infra-estruturas de saneamento básico, mas jamais alterando profundamente a fisionomia geral do belíssimo desenho e configuração existentes, como agora se pretende fazer. Mantêm-se,  portanto, todas as dúvidas sobre a bondade das alterações propostas, nos termos já enunciados anteriormente, ou seja, não melhorando, do ponto de vista estético, a beleza existente, sedimentada e historicamente datada, e que é a “marca” primordial de grande impacto turístico nacional e internacional do nosso lindíssimo centro histórico de Lamego; não resolve, antes prejudica, a circulação rodoviária no coração da cidade, por estreitamento despropositado da via e anulação da escapatória rodoviária que a Rotunda do Soldado Desconhecido propiciava, sem que ainda exista uma alternativa válida à circulação no centro histórico (a tão necessária quanto permanentemente adiada circular externa, que tarda em ser concluída); e destrói, finalmente, uma componente importantíssima da história urbanística da nossa cidade, retirando-lhe identidade e singularidade, transformando o identitário centro histórico de Lamego num espaço público banal, por igual ou parecido a tantos outros que vemos pulularem por tantas outras cidades portuguesas. Trocar a singularidade pela vulgaridade não me parece ser a melhor opção para Lamego, e muito menos nos tempos difíceis que correm actualmente.
A dupla avenida do centro histórico de Lamego é a imagem de marca patrimonial e urbanística da nossa cidade, e devia ser respeitada até como preito de homenagem aos nossos antecessores e figuras ilustres da nossa terra, que tanto engrandeceram e melhoraram a nossa vetusta cidade de Lamego, sem com isso a endividarem abstrusamente, como acontece hoje em dia.
Daqui a razão do meu voto contra.”

Para memória futura, porque quero deixar aos vindouros a certeza de que houve, pelo menos, um lamecense na Câmara Municipal de Lamego que foi contra o "crime" de lesa património cometido no centro histórico da nossa cidade.

Agostinho Ribeiro

1 comentário:

  1. Muito bem, Agostinho! Estiveste ao teu nível e de acordo com os teus princípios, demonstrando a coragem que sempre tiveste para enfrentar os obstáculos. Essa tua coragem e frontalidade foram, aliás, usadas por outros para tentarem atingir os seus fins...
    Quanto à questão da obra agora aprovada, vem na sequência daquilo que os lamecenses, na sua maioria decidiram ao escolher para os governar pessoas que, naturalmente, pelo seu afastamento emocional não estarão sensíveis aos argumentos válidos que invocas por troca com inetresses e vulgaridades embrulhadas em modernismo parolo...
    Um abraço solidário.

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