segunda-feira, 11 de junho de 2012

O crime do “eixo barroco” da cidade de Lamego.






O que se está a preparar para fazer no centro histórico de Lamego, as chamadas obras de “requalificação” do designado “eixo barroco”, é um verdadeiro crime contra o património lamecense, uma vez que vai alterar profundamente a imagem de marca da cidade, de uma forma absolutamente contrária ao que está sedimentado no nosso imaginário colectivo, desafiando todas as leis da gestão pública e do bom senso que deve presidir a tais decisões políticas que lhe estão subjacentes.
Os nossos antepassados construíram obra nova onde não havia nada, embelezando e enriquecendo a cidade, de tal forma que as belezas edificadas haveriam de proporcionar a singularidade e a autenticidade de cada período em que tais obras ocorreram, fazendo de Lamego uma cidade de excepção, precisamente porque ainda vai mantendo alguns traços do seu passado (que nos deveria orgulhar a todos), conferindo-lhe essa autenticidade e genuinidade dos centros urbanos repletos de história e de identidade que a diferencia de todas as outras cidades portuguesas.
Agora, parecemos apostados em destruir o que resta de belo e único, construído pelos nossos antepassados, a pretexto de uma modernidade serôdia e completamente inexplicável, mas que é feita com a passiva complacência e conivência de todos nós, lamecenses...!

Mas eu pretendo excluir-me do que considero uma verdadeira vergonha colectiva lamecense, redigindo estes meus escritos de análise crítica, para memória futura...

O que se vai fazer no "eixo barroco" é quase o mesmo que deitar abaixo a Sé de Lamego e, no mesmo local, construir uma moderna Igreja ao estilo da Santíssima Trindade, em Fátima. Com a diferença fundamental de que em Fátima não destruíram a Basílica primitiva, e antes se optou por construir uma nova Igreja onde não havia nada preexistente, uma atitude correcta e inteligente, ao contrário do que vai suceder em Lamego, já que se preparam para destruir completamente um dos maiores símbolos visuais da nossa cidade – o nosso centro histórico – a pretexto de necessidades de planeamento e embelezamento urbanísticos, muito mal explicados e absolutamente nada demonstrados, e que poderiam ser facilmente resolvidas com muito menos dinheiro e muita mais eficácia executória!
A ideia de se destruírem, vá-se lá saber porquê, todos os símbolos que são imagens de marca de Lamego, não é nova... Quem se não lembra da recente polémica em torno da pretensa destruição do nosso Jardim da República? Ou a construção do inexplicável Pavilhão Multiusos onde apenas deveria existir uma área descoberta multifuncional? A questão, como se percebe facilmente, é a mesma e detém os mesmo contornos constitutivos... Ou seja, não se consegue alcançar nem em termos de investimento de dinheiros públicos, nem em termos de mais valias objectivas para a cidade de Lamego!
Eu já não consigo perceber os lamecenses, sobretudo os que “gritam” e “clamam” aqui d’el rei porque um novo hospital que se constrói de raiz (obra nova) não tem as camas necessárias para o cumprimento das suas funções, mas que se calam, vergonhosamente silenciosos, perante o esvaziamento do nosso Tribunal e a despromoção do nosso Museu (os outros dois serviços públicos relevantes da cidade, para além do CTOE), bem como das malfeitorias que nos têm vindo a fazer localmente. Ainda gostaria de entender as lógicas mentais que os levam a ter atitudes de complacência por quem tanto mal lhes (nos) faz, defendendo o indefensável e proclamando as capacidades de gestores que endividam, contínua e permanentemente, o nosso concelho e encaram isso como sendo “normal”... Simplesmente inexplicável!
Se todo este dinheiro, que tanta falta nos faz e que tanta ajuda faria aos próprios lamecenses, servisse para requalificar as edificações degradadas dos nossos bairros históricos, ainda se compreenderia, mas ser aplicado da forma como está a ser, é que já não se percebe de jeito nenhum.

Numa reunião do executivo camarário, foi-me prometido pelo senhor Presidente da Câmara que se iria fazer uma experiência ao modelo de circulação rodoviária que resultará do novo figurino, ou seja, obrigando o trânsito a circular na cidade como se a Rotunda do Soldado Desconhecido não existisse. Achei muito bem que este teste fosse feito durante algum tempo, para que todos os lamecenses pudessem avaliar os impactos desta proposta. Até hoje... será que tal ensaio ainda vai acontecer?

E tudo isto vai decorrendo com o silêncio conivente de todos nós...
Mas eu, não!

Agostinho Ribeiro

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