Será inaugurado,
já no próximo dia 23 de Fevereiro, o nosso novo Teatro Ribeiro Conceição, em acto
público e solene a que não irei estar presente, conforme seria meu profundo e
enorme desejo, na qualidade de cidadão lamecense com particulares
responsabilidades pelo processo que esteve na sua origem.
Como muitos dos
meus leitores estarão bem recordados, fui eu que tive a ideia e iniciei este projecto
de transformação do nosso Teatro num verdadeiro centro cultural que permitisse
a todos os lamecenses a fruição, produção e realização de actividades
relacionadas com as artes performativas, já lá vão mais de 20 anos.
Escrevi em 1985
sobre esta necessidade e, logo que assumi as funções de Vice-Presidente da
Câmara de Lamego, nesse mesmo ano, tratei de iniciar as diligências necessárias
para tornar este sonho numa feliz realidade. Um sonho que era meu e de alguns
jovens lamecenses de então, voluntariosos e intervenientes, brilhantes e
inquietos, onde me é grato recordar e destacar, ainda que em registos diversos,
os amigos Adriano Guerra, António Roçado, Fausto, Rui, Jorge e Gervásio Pina, Mendes
Dias, José da Silva Melo, José Meireles, Quim e Fernando Cabral, Rui Quintela, Tó
Rebelo e Custódio Barreto, entre tantos outros que não conseguiria aqui nomear
à exaustão.
Sonho também de
muitos alunos e professores da então Escola do Magistério Primário de Lamego,
que por diversas vezes utilizaram aquele espaço referencial da cultura
lamecense, nas décadas de 70 e 80, lembrando com saudade a professora D.ª Maria
da Soledade de Araújo Correia, carinhosamente tratada por todos nós por D.
Dadinha, mulher de enormes qualidades humanas e profissionais, especialmente
vocacionada para as artes cénicas - era ela a “nossa” encenadora de peças de
teatro da Escola!
Sonho ainda de
personalidades lamecenses fortes e incontornáveis da história cultural de
Lamego, como a do Dr. Claro da Fonseca, que à frente do Grupo Cénico da Escola
Comercial e Industrial de Lamego tanto contribuiu para a vida cultural da nossa
terra, e que também tanto pugnou por esta aspiração e pretensão de todos os
lamecenses.
Quem se lembrar
da “Sopa Juliana” de Ascensão Barbosa e Abreu e Sousa, de “Felizmente há Luar”,
de Luís de Sttau Monteiro, ou de “Fuenteovejuna” de Lope de Vega, ou ainda dos
espectáculos de variedades (quem se esqueceu das diatribes do João Piroco e do
Lourenço, que nos faziam rebolar de tanto riso?), concursos e festivais
musicais realizados por esses jovens lamecenses, a par dos espectáculos de
elevada qualidade que nos vinham de fora, como os da saudosa Companhia de Dança
de Lisboa, entre outras, nesses tempos magníficos de uma Lamego viva e
irrequieta, que não precisava de forasteiros para demonstrar as suas
capacidades realizadoras e genialidades criativas, compreenderá bem este meu
estado de espírito…
A verdade é que
se conseguiu, naquele mandato autárquico de 1985 a 1989, a verdadeira proeza de
se iniciar esse moroso processo de aquisição do imóvel; captar do Estado uma
verba significativa para entrada da compra do Teatro; e criar as condições materiais
e intelectuais para que tal projecto não corresse o risco de ficar pelo
caminho.
Como já tive
também oportunidade de referir, foi bom verificar que os Presidentes da Câmara
que se seguiram, Rui Valadares, José António Santos e Francisco Lopes, souberam
dar a devida continuidade ao projecto, umas vezes de forma mais acertada, outras
de forma menos avisada, mas sempre com o inequívoco objectivo de se chegar ao
ponto de estarmos hoje onde estamos - em vésperas da tão almejada inauguração!
Exige-se um
especial louvor público ao Prof. José António Santos, por razões da mais
elementar justiça, já que foi ele a dar o último impulso e os derradeiros
passos fundamentais à concretização efectiva deste verdadeiro desígnio lamecense.
Depois dele ainda se fez uma asneira negocial, bastante negativa, e
consignou-se a obra que agora se concluiu, o que foi positivo e merece também ser
aqui registado.
É ainda um
imperativo ético recordar a colaboração da lamecense Dr.ª Fernanda Carvalho
que, no seio de uma comissão de acompanhamento ao projecto de arquitectura, e
depois como primeira responsável pelo magnífico projecto que estava a conceber
para este Teatro, (infelizmente desperdiçada pela pungente miopia dos actuais
responsáveis autárquicos), deu um inestimável contributo ao que agora se nos
apresenta como resultado desse labor de muitos lamecenses, que o génio do
arquitecto João Carreira soube interpretar superiormente e a empresa Construções
Edifer S.A. concretizar de forma que me pareceu exemplar.
Sou, portanto,
dos que rejubila genuinamente com esta inauguração, em incontida satisfação por
se ter conseguido, volvidas que foram mais de duas décadas do seu início,
concretizar um objectivo estratégico para Lamego, sempre defendido por quem
quis, quer e sabe colocar esta cidade e este concelho na rota do
desenvolvimento de base cultural, onde as artes do palco, a par da salvaguarda e
valorização do património artístico e edificado, detêm um lugar cimeiro na
afirmação dessa mesma estratégia.
Mas não vou
estar presente na inauguração, porque nenhum dos factos e considerações atrás explanados
me podem fazer esquecer os imperativos de consciência que me ditam a total
impossibilidade de partilhar quaisquer alegrias públicas com um pequeno grupo
de pessoas que, no seu conjunto ou individualmente, mantêm uma postura
criticável e uma atitude persecutória no seu relacionamento social, político e
pessoal, com quem pensa de forma diversa da sua. Ainda por cima atentando, por
diversas vezes, contra a minha honorabilidade de cidadão lamecense com
responsabilidades públicas!
Estes senhores
a que me refiro, e que actualmente detêm as mais altas responsabilidades municipais,
têm agido de má-fé, nomeadamente:
i)
Produzindo recorrentemente actos municipais de
inequívocas e conscientes ilegalidades e irregularidades, a exigir urgente e
inadiável inspecção pelas entidades competentes;
ii)
Faltando à verdade para com todos os lamecenses, na
qualidade de autarcas, dando péssimos exemplos do que deve ser a conduta pública
dos responsáveis políticos;
iii)
Apoiando e aprovando concursos directamente
relacionados com o Teatro que são vergonhosos e eticamente reprováveis, pela ausência
de princípios e regras claras que deveriam subjazer a tais concursos;
iv)
Sendo os responsáveis pela caótica situação financeira
do município lamecense, endividando os cofres municipais sem justificações
válidas nem documentos estratégicos que suportem a maior parte destas opções, ao
arrepio da lei;
v)
Finalmente, pondo em causa a minha dignidade política,
pública e profissional, intentando acções judiciais contra a minha pessoa, e
contra outros, em falaz construção de um processo de vitimização mentirosa.
A verdade é que,
num acto e num momento que muito me diria pessoalmente, e que considero da
maior relevância para Lamego, jamais me conseguiria sentir bem no meio de tal
gente.
Prefiro,
portanto, não ir à inauguração do nosso novo Teatro Ribeiro Conceição!
Agostinho Ribeiro
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