Referi-me, há
duas semanas atrás, à questão do pavilhão multiusos, fazendo questão de realçar
a necessidade de nos ser apresentada uma explicação, tão detalhada quanto
possível, dos custos e da sustentabilidade económica deste projecto.
Como devem
estar recordados, este assunto tinha sido retirado da última ordem de trabalhos
da Assembleia Municipal de Lamego, a pretexto de se analisar tal projecto, com
maior detalhe e pormenor, numa posterior reunião extraordinária que veio a
ocorrer, precisamente, na passada segunda-feira.
Se quem, como
eu, estivesse à espera de receber previamente alguns elementos que nos pudessem
ajudar à construção de uma ideia mais ou menos clara sobre as intenções desta
Câmara, bem poderia ficar sentado pelo resto da sua vida, porque este executivo
demonstra-nos ter a maior das desconsiderações pelos senhores deputados
municipais, incluindo os seus próprios apoiantes políticos, já que nada nos foi
distribuído previamente, talvez com o intuito de protelar ao máximo a
transmissão pública de informação útil à percepção dos negócios que estão sobre
a mesa das intenções municipais.
Em todo o caso,
quer para o projecto do pavilhão multiusos, quer para o projecto de intervenção
no Jardim da República o senhor Presidente da Câmara brindou-nos com mais dois
“mimos” de política baixa, bem rasteira e à sua exacta medida, ao apresentar
ufanamente dois projectos que tinham sido rejeitados pelo anterior presidente
da Câmara, Prof. José António Santos, que nem sequer os colocou à discussão
pública, por entender que não reuniam, ao tempo, quaisquer condições de
qualidade ou de exequibilidade.
Mas lá tivemos
de assistir a mais um número de circo, protagonizado pelo senhor Eng. Francisco
Lopes, para gáudio dos seus incautos apoiantes, que acharam imensa piada ao
facto de se terem exibido dois projectos abandonados, um de 1999 e outro de
2004, como que a tentar explicar, em sugestivos quadros coloridos (não fosse
escapar um ou outro pormenor a algum mais desatento seguidor), que o anterior
executivo também teria hipoteticamente defendido, em tempos, o que agora pretendia
contrariar.
Talvez seja
difícil explicar a determinadas pessoas que projectos abandonados não passam
disso mesmo – de projectos abandonados! Ou seja, projectos que não mereceram
sequer a atenção que os permitisse alcandorar agora à condição de “prova”, seja
lá do que for…
Enfim, deixando
para lá estas matérias circenses, importa sublinhar que o projecto do pavilhão
multiusos que nos foi apresentado reveste-se de grande qualidade
arquitectónica, sobretudo pela solução encontrada para o arranjo urbanístico do
lugar, conferindo-nos a certeza de que é possível encontrar soluções
urbanísticas para a zona da feira, mesmo sem termos necessidade de nos
hipotecarmos com a construção de um pavilhão multiusos, que ainda ninguém
percebeu muito bem para que é que vai servir.
E nesta sessão,
para além de nos ter sido apresentado o projecto arquitectónico, nada do que
verdadeiramente importava saber sobre esta iniciativa municipal nos foi dito –
continuamos sem saber quanto nos vais custar (o senhor Presidente oscilou entre
os 10 e os 14 milhões de euros, com base numa estimativa que eu designaria por
“estimativa a olho”); quanto nos vai custar a sua manutenção (o senhor Presidente
afirmou-nos que dependeria das receitas, ou seja, com mais receitas teremos
menos custos e com menos receitas teremos mais custos…Fantástica dedução!); e
nada nos disse sobre a sustentabilidade das infra-estruturas já existentes em
Lamego, uma vez que esta se assumirá em aberta concorrência ao que já possuímos
construído.
O pavilhão
multiusos vai servir para receber eventos desportivos, em concorrência directa
com o Complexo Desportivo de Lamego e Pavilhão Álvaro Magalhães. Servirá também
para espectáculos de cinema, teatro, música e outras artes cénicas, em directa
concorrência com o Teatro Ribeiro Conceição. E vai servir também para albergar
feiras e eventos similares.
Ou seja, numa
cidade com a dimensão de Lamego, a multiplicação de infra-estruturas como estas
faz-me crer que estaremos com todos os problemas resolvidos, e nada mais nos
restará fazer a não ser duplicar investimentos. Ou gastar 15 milhões de euros
(3 milhões de contos) para albergar a Expodouro, e pouco mais (se não se quiser
inviabilizar as outras infra-estruturas), o que constitui um verdadeiro luxo
que não consigo compreender, numa lógica de interesse público municipal.
Mas a verdade é
que nos parece que este pavilhão, nem com uma população dez vezes superior à
actualmente existente na nossa região poderia ser considerado auto-sustentável,
a fazer fé em realidades próximas da nossa, como é o caso de Viseu, ou até
mesmo em pavilhões de enorme envergadura, como é o caso do Pavilhão Atlântico,
em Lisboa.
Mas em Lamego é
diferente…Aqui o sonho ainda se veste colorido, até ao momento em que passe
para o negro pesadelo. Onde estarão então os responsáveis por esta aventura sem
retorno? A assobiar para o lado, a rir de projectos em boa hora abandonados, ou
nem sequer por cá andarão?
Na próxima
semana debruçar-me-ei sobre a intervenção projectada para o nosso Jardim da
República.
Agostinho Ribeiro
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