quinta-feira, 12 de julho de 2007

De sonho colorido a negro pesadelo…



Referi-me, há duas semanas atrás, à questão do pavilhão multiusos, fazendo questão de realçar a necessidade de nos ser apresentada uma explicação, tão detalhada quanto possível, dos custos e da sustentabilidade económica deste projecto.
Como devem estar recordados, este assunto tinha sido retirado da última ordem de trabalhos da Assembleia Municipal de Lamego, a pretexto de se analisar tal projecto, com maior detalhe e pormenor, numa posterior reunião extraordinária que veio a ocorrer, precisamente, na passada segunda-feira.
Se quem, como eu, estivesse à espera de receber previamente alguns elementos que nos pudessem ajudar à construção de uma ideia mais ou menos clara sobre as intenções desta Câmara, bem poderia ficar sentado pelo resto da sua vida, porque este executivo demonstra-nos ter a maior das desconsiderações pelos senhores deputados municipais, incluindo os seus próprios apoiantes políticos, já que nada nos foi distribuído previamente, talvez com o intuito de protelar ao máximo a transmissão pública de informação útil à percepção dos negócios que estão sobre a mesa das intenções municipais.
Em todo o caso, quer para o projecto do pavilhão multiusos, quer para o projecto de intervenção no Jardim da República o senhor Presidente da Câmara brindou-nos com mais dois “mimos” de política baixa, bem rasteira e à sua exacta medida, ao apresentar ufanamente dois projectos que tinham sido rejeitados pelo anterior presidente da Câmara, Prof. José António Santos, que nem sequer os colocou à discussão pública, por entender que não reuniam, ao tempo, quaisquer condições de qualidade ou de exequibilidade.
Mas lá tivemos de assistir a mais um número de circo, protagonizado pelo senhor Eng. Francisco Lopes, para gáudio dos seus incautos apoiantes, que acharam imensa piada ao facto de se terem exibido dois projectos abandonados, um de 1999 e outro de 2004, como que a tentar explicar, em sugestivos quadros coloridos (não fosse escapar um ou outro pormenor a algum mais desatento seguidor), que o anterior executivo também teria hipoteticamente defendido, em tempos, o que agora pretendia contrariar.
Talvez seja difícil explicar a determinadas pessoas que projectos abandonados não passam disso mesmo – de projectos abandonados! Ou seja, projectos que não mereceram sequer a atenção que os permitisse alcandorar agora à condição de “prova”, seja lá do que for…
Enfim, deixando para lá estas matérias circenses, importa sublinhar que o projecto do pavilhão multiusos que nos foi apresentado reveste-se de grande qualidade arquitectónica, sobretudo pela solução encontrada para o arranjo urbanístico do lugar, conferindo-nos a certeza de que é possível encontrar soluções urbanísticas para a zona da feira, mesmo sem termos necessidade de nos hipotecarmos com a construção de um pavilhão multiusos, que ainda ninguém percebeu muito bem para que é que vai servir.
E nesta sessão, para além de nos ter sido apresentado o projecto arquitectónico, nada do que verdadeiramente importava saber sobre esta iniciativa municipal nos foi dito – continuamos sem saber quanto nos vais custar (o senhor Presidente oscilou entre os 10 e os 14 milhões de euros, com base numa estimativa que eu designaria por “estimativa a olho”); quanto nos vai custar a sua manutenção (o senhor Presidente afirmou-nos que dependeria das receitas, ou seja, com mais receitas teremos menos custos e com menos receitas teremos mais custos…Fantástica dedução!); e nada nos disse sobre a sustentabilidade das infra-estruturas já existentes em Lamego, uma vez que esta se assumirá em aberta concorrência ao que já possuímos construído.
O pavilhão multiusos vai servir para receber eventos desportivos, em concorrência directa com o Complexo Desportivo de Lamego e Pavilhão Álvaro Magalhães. Servirá também para espectáculos de cinema, teatro, música e outras artes cénicas, em directa concorrência com o Teatro Ribeiro Conceição. E vai servir também para albergar feiras e eventos similares.
Ou seja, numa cidade com a dimensão de Lamego, a multiplicação de infra-estruturas como estas faz-me crer que estaremos com todos os problemas resolvidos, e nada mais nos restará fazer a não ser duplicar investimentos. Ou gastar 15 milhões de euros (3 milhões de contos) para albergar a Expodouro, e pouco mais (se não se quiser inviabilizar as outras infra-estruturas), o que constitui um verdadeiro luxo que não consigo compreender, numa lógica de interesse público municipal.
Mas a verdade é que nos parece que este pavilhão, nem com uma população dez vezes superior à actualmente existente na nossa região poderia ser considerado auto-sustentável, a fazer fé em realidades próximas da nossa, como é o caso de Viseu, ou até mesmo em pavilhões de enorme envergadura, como é o caso do Pavilhão Atlântico, em Lisboa.
Mas em Lamego é diferente…Aqui o sonho ainda se veste colorido, até ao momento em que passe para o negro pesadelo. Onde estarão então os responsáveis por esta aventura sem retorno? A assobiar para o lado, a rir de projectos em boa hora abandonados, ou nem sequer por cá andarão?
Na próxima semana debruçar-me-ei sobre a intervenção projectada para o nosso Jardim da República.

Agostinho Ribeiro

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