quinta-feira, 22 de março de 2007

Verdade e mentira / Mentiras e verdades



Parece que há gente que se não dá muito bem com as verdades…
Acham que mentir contra os adversários, insultando-os e difamando-os, é um direito inalienável de cidadania que lhes assiste, diria mesmo um direito inquestionável, talvez até um dos maiores bens da democracia, mas ouvir as verdades ditas e escritas contra eles próprios, sobretudo porque tais verdades são duras e dolorosas, já constitui um atentado à dignidade e honorabilidade dos próprios, inadmissível de atender no quadro legal actualmente vigente em Portugal.
Disse bem, e vou repetir, para que não subsistam dúvidas nesta minha afirmação – há quem pense que insultar os outros, por via da mentira, é um direito que lhes assiste, mas serem desmascarados, com verdade, fundamentos, argumentação e provas explanadas nessas opiniões que se produzem, já é um atentado à pessoa humana, um acto difamatório, a exigir reparação junto das instâncias competentes.
Fico deveras abismado com o desplante destas pessoas, o seu descaramento inaudito, que os faz pensar que as regras da democracia, nomeadamente as que suportam a liberdade de expressão, apenas podem ser exercitadas por quem lhes é afecto, e não por quem deles discorda, pessoal, profissional, intelectual e politicamente falando... São os “tiques” ditatoriais de quem ainda não percebeu, e provavelmente nunca perceberá, que em democracia não há censura, que apenas as mentiras e as insinuações infundamentadas são difamatórias, e que nunca a verdade poderá ser amordaçada, nem tão-pouco subjugada à mentira.
Como todos já devem ter reparado, eu tento sempre fundamentar o teor das minhas afirmações e explicar devidamente porque razão considero os actos públicos de certas pessoas como não merecedores da minha concordância, alguns mesmo merecendo a minha mais viva reprovação. E tenho a verticalidade de o fazer abertamente, dizendo o que sei e penso em “voz” bem alta, para que não restem dúvidas sobre os destinatários das minhas considerações, nem se permitam erradas interpretações sobre as matérias que merecem a minha atenção.
Há quem não goste? Pois há… Paciência. Que não ajam da forma que agem, que não façam as asneiras que fazem, que não ponham eles em causa a honorabilidade e a respeitabilidade dos outros, para que o mesmo não lhes aconteça também. Sou dos que defendem o princípio que devemos respeitar para sermos respeitados, considerar para sermos considerados, compreender para sermos compreendidos.
Evidentemente que o inverso também é válido. Que ninguém me peça para respeitar quem me não respeita, considerar quem me não considera, compreender quem me não compreende…!
E, sobretudo, que ninguém pense que pode calar as vozes dissonantes com qualquer espécie ou tipo de ameaças, sejam elas quais forem… Esse tempo das ameaças e das atemorizações, seja por que via for, já lá vai e não voltará mais. Perder a noção da realidade das coisas, pensando provavelmente que por tanto afirmar a mentira ela se transformará em verdade, é coisa que já não passa pela cabeça de ninguém, a não ser por quem se julga superior aos outros, e que pensa que os outros são néscios ou mal-formados, ao ponto de não conseguirem perceber as verdadeiras intenções dos actos públicos que se praticam.
Para quem assim pensa, se é que alguém assim pensa, apenas posso dizer que se enganou redondamente. Enganou-se no destinatário e enganou-se na obtenção dos proveitos que julgaria obter com tais atitudes, porque se a opinião pode ter várias faces perante a verdade, a verdade não tem duas faces perante as opiniões que sobre ela podem recair.

Portanto, não deixarei de dizer as verdades, por muito que os outros as tentem transformar em “mentiras”, nem deixarei de desmascarar as mentiras por muito que os mesmos se esforcem em transformá-las em “verdades”.

Agostinho Ribeiro

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