quinta-feira, 15 de março de 2007

A nossa identidade cultural (2)



Tenho ouvido algumas críticas, que hoje pretendo rebater, a propósito da nossa identidade cultural, na base do postulado de que os defensores da conservação e preservação do passado são adversários do desenvolvimento e do progresso.
Bem sei que o não dizem expressamente, mas não se inibem de referir chavões desta natureza, transformando os mais sensatos defensores do património edificado em obtusos inimigos da “modernidade” e do bem-estar colectivo.
Ora, eu tentei demonstrar, precisamente, o contrário, no meu anterior artigo que se referia a esta temática, em defesa de uma tese que é mais segura na promoção do desenvolvimento sustentado de uma cidade e região como é, por exemplo, a nossa.
Não tenhamos ilusões – o futuro de Lamego passa pelo turismo de base cultural, assente no Douro Património da Humanidade, sem esquecer a componente agrícola, em especial a vitivinicultura duriense, mas onde cabe, subsidiariamente, a iniciativa empresarial e industrial de excelência, tanto quanto possível ligada a esse desígnio global.
Significa isto que devemos abandonar outras iniciativas, por mais díspares que elas nos possam parecer, à luz deste desiderato? Não, claro que não. Mas devemos saber enquadrar todas elas neste processo geral de formatação do futuro para o nosso concelho. É necessário definir um rumo, ter visão estratégica e saber captar a adesão das forças vivas, culturais e empresariais da nossa região, com vista à obtenção do suporte e apoio necessários ao cumprimento de tão difíceis propósitos.
E depois, reafirmar o que mil vezes já foi dito – o verdadeiro progresso e desenvolvimento de uma terra passa, obrigatoriamente, pela integração do passado, e não pela sua destruição. Por todas as razões que se possam imaginar e que podemos chamar à colação, uma vez que a nossa primeira e genuína riqueza, aquela que verdadeiramente nos diferencia e enaltece, é a do nosso riquíssimo património material e imaterial, constituindo verdadeira estultice não lhe reconhecer o verdadeiro valor que lhe é intrínseco, até mesmo como factor positivo e indispensável à promoção do desenvolvimento.
Por isso, quando me dizem que os defensores do património edificado são, por norma, demasiado “conservadores” e adversários da causa do desenvolvimento e do progresso, abate sobre mim a frustração de constatar a terrível ignorância que paira sobre o espírito de alguns, apostados que estão em tentarem demonstrar o indemonstrável – que o afã de construir e de fazer “obra” a todo o custo, e à custa do que mais importa preservar, é a opção certa da modernidade e da contemporaneidade.
Mas não é. Nem nunca será!

Um dia acordaremos deste falso sonho cor-de-rosa, e daremos conta da burla a que fomos sujeitos, quando verificarmos que, por termos ficado completamente iguais aos outros (cidade, concelho e região), deixamos de ser o que éramos e deixamos de ser objecto de interesse pela particularidade e diferença da nossa cultura e do nosso património. E então talvez nos apercebamos que as mais valias e benfeitorias que se pretendiam para o nosso bem-estar, eram bem possíveis de assegurar sem sermos obrigados a recorrer à destruição da nossa “galinha dos ovos de ouro”.
Espero bem que nessa altura não seja tarde demais…

Agostinho Ribeiro

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