Tenho ouvido
algumas críticas, que hoje pretendo rebater, a propósito da nossa identidade
cultural, na base do postulado de que os defensores da conservação e
preservação do passado são adversários do desenvolvimento e do progresso.
Bem sei que o
não dizem expressamente, mas não se inibem de referir chavões desta natureza,
transformando os mais sensatos defensores do património edificado em obtusos
inimigos da “modernidade” e do bem-estar colectivo.
Ora, eu tentei
demonstrar, precisamente, o contrário, no meu anterior artigo que se referia a
esta temática, em defesa de uma tese que é mais segura na promoção do
desenvolvimento sustentado de uma cidade e região como é, por exemplo, a nossa.
Não tenhamos
ilusões – o futuro de Lamego passa pelo turismo de base cultural, assente no
Douro Património da Humanidade, sem esquecer a componente agrícola, em especial
a vitivinicultura duriense, mas onde cabe, subsidiariamente, a iniciativa
empresarial e industrial de excelência, tanto quanto possível ligada a esse
desígnio global.
Significa isto
que devemos abandonar outras iniciativas, por mais díspares que elas nos possam
parecer, à luz deste desiderato? Não, claro que não. Mas devemos saber
enquadrar todas elas neste processo geral de formatação do futuro para o nosso
concelho. É necessário definir um rumo, ter visão estratégica e saber captar a
adesão das forças vivas, culturais e empresariais da nossa região, com vista à
obtenção do suporte e apoio necessários ao cumprimento de tão difíceis
propósitos.
E depois,
reafirmar o que mil vezes já foi dito – o verdadeiro progresso e
desenvolvimento de uma terra passa, obrigatoriamente, pela integração do
passado, e não pela sua destruição. Por todas as razões que se possam imaginar
e que podemos chamar à colação, uma vez que a nossa primeira e genuína riqueza,
aquela que verdadeiramente nos diferencia e enaltece, é a do nosso riquíssimo
património material e imaterial, constituindo verdadeira estultice não lhe
reconhecer o verdadeiro valor que lhe é intrínseco, até mesmo como factor
positivo e indispensável à promoção do desenvolvimento.
Por isso,
quando me dizem que os defensores do património edificado são, por norma,
demasiado “conservadores” e adversários da causa do desenvolvimento e do progresso,
abate sobre mim a frustração de constatar a terrível ignorância que paira sobre
o espírito de alguns, apostados que estão em tentarem demonstrar o
indemonstrável – que o afã de construir e de fazer “obra” a todo o custo, e à
custa do que mais importa preservar, é a opção certa da modernidade e da
contemporaneidade.
Mas não é. Nem
nunca será!
Um dia
acordaremos deste falso sonho cor-de-rosa, e daremos conta da burla a que fomos
sujeitos, quando verificarmos que, por termos ficado completamente iguais aos
outros (cidade, concelho e região), deixamos de ser o que éramos e deixamos de
ser objecto de interesse pela particularidade e diferença da nossa cultura e do
nosso património. E então talvez nos apercebamos que as mais valias e
benfeitorias que se pretendiam para o nosso bem-estar, eram bem possíveis de
assegurar sem sermos obrigados a recorrer à destruição da nossa “galinha dos
ovos de ouro”.
Espero bem que
nessa altura não seja tarde demais…
Agostinho
Ribeiro
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