Tenho
acompanhado com alguma atenção o interessante programa de entretenimento e de
cultura, coordenado pela jornalista Maria Elisa, e que dá pelo nome cujo título
hoje perfilho.
Serei,
provavelmente, como todos os portugueses, ao pensar que alguns dos nomes
seleccionados para figurarem na lista dos 10 maiores portugueses de sempre, nem
sequer deveriam figurar na lista dos cem mais, quanto mais na lista dos dez
mais…
Mas como em
tudo o que é relativo, e pressupõe um juízo de valor, os que eu possa pensar
que estão a mais naquela lista, não serão, objectivamente, os mesmos que outros
pensarão, concordando comigo em abstracto (alguns não deveriam estar naquela
lista) mas discordando se passássemos ao concreto (não este nem aquele, mas sim
estoutro ou aqueloutro).
Sendo assim,
não me deterei nas personagens que penso não serem merecedoras de tal honraria,
mas sim nas três personagens que, estando na lista, poderão, em modesto
entender, alcandorarem-se a tão digno galardão nacionalista – o de ser o maior
português de sempre, em função do que sabemos e conhecemos de cada um destes
ilustres portugueses, sem cairmos na tentação de os julgar sumariamente, à luz
dos valores e da moral vigentes, e portanto fora do contexto histórico,
politico e social em que as mesmas personagens se movimentaram.
E reduzo a
“minha” selecção a apenas três figuras ilustres, por pensar que não valerá a
pena dissociar a escolha final da personagem dos momentos mais importantes e
emblemáticos que caracterizam e identificam a história da nação portuguesa,
aliada ao que poderíamos designar por “síntese essencial” da grandeza da alma
lusa. Quero com isto dizer que vale a pena aliarmos a figura que seleccionarmos
ao acontecimento histórico português que seja verdadeiramente único no mundo, e
não a uma mais ou menos evidente replicação do que também estava a acontecer
noutros quadrantes geográficos.
Os momentos são
dois – a fundação da nacionalidade, por um lado, e a génese dos descobrimentos
e da expansão portuguesa, por outro –; e a síntese é uma, na forma literária
que há-de perdurar para sempre como o mais sublime cântico ao génio português.
De facto,
nenhum outro momento da nossa história se pode comparar, em ineditismo, visão estratégica
e singularidade na liderança, ao momento da nossa fundação, com D. Afonso
Henriques, e à ambição descobridora do nosso Infante D. Henrique, que
catapultou para sempre, na História Universal, o nome de Portugal.
Do mesmo modo
ninguém, como Luís de Camões, soube glorificar a gesta e o génio de ser
português, nessa obra maior da literatura universal que dá pelo nome de “Os
Lusíadas”, a par de uma vida intensa, plena de momentos altos e baixos, de
grandezas e misérias que é, também ela, a síntese vivida da diáspora lusitana.
Fundamento,
portanto, as minhas opções na originalidade e ineditismo dos respectivos
protagonistas:
- Portugal tem grandes
reis, governantes e estadistas, mas nenhum teve o mérito de batalhar e tudo
fazer para a construção de um reino que foi, precisamente, o primeiro reino com
fronteiras definidas, na Europa de então. Estávamos no séc. XII.
- Portugal tem
grandes visionários, gente da ciência e da investigação, dos saberes e da ânsia
descobridora de coisas novas, mas nenhum foi capaz de dar ao Mundo novos mundos,
conforme hoje o vemos e percebemos. Estávamos no séc. XV.
- Portugal tem
grandes poetas, artistas, escritores e criadores, mas nenhum levou tão longe e
tão alto este orgulho incontido de quem, sabendo o que sabemos da nossa
História e das nossas gentes, nos soube cantar em letras que o tempo jamais
apagará. Estávamos no séc. XVI.
Precisamos
agora de olhar com maior profundidade e conhecimento para os exemplos destes
portugueses, não só os que figuram na lista dos dez maiores de sempre, mas em
todos os que foram seleccionados, e tudo fazer para sermos merecedores desta
plêiade imensa de ilustres portugueses, fazendo pelo nosso país o melhor que
soubermos fazer, e assim contribuirmos para o engrandecimento e desenvolvimento
de Portugal.
E como dou
importância ao pioneirismo, à tenacidade e à capacidade de visão, o meu voto
vai para aquele português que foi de tal modo importante que, sem ele, nem
mesmo Portugal existiria – D. Afonso Henriques, o fundador da nossa
nacionalidade.
Agostinho
Ribeiro
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