Dando
continuidade ao tema tratado no artigo anterior, a propósito do rumo que está a
ser traçado para os museus do Estado, e na sequência do meu entendimento sobre
as enormes dificuldades práticas com que os mesmos se debatem, tentarei agora
referir alguns dos aspetos mais importantes que ilustram e sustentam estas
minhas considerações.
Os primeiros e grandes problemas com que
os museus de debatem atualmente prendem-se com a desorçamentação sistemática
que têm sofrido nos últimos anos, e com as políticas nada transparentes que
estão a ser desenvolvidas por quem pouco ou nada entende de museus, mas a quem
é dado um poder e um protagonismo inexplicáveis, pelo menos à luz do que seria
normal e razoável conceber.
Na falta de
lógicas claras e transparentes para explicar estes verdadeiros mistérios da
natureza humana, foge-nos sempre o pensamento para razões distantes das
realidades do próprio setor museológico, entrevendo outras lógicas e outras
motivações bem arredadas do mundo e das problemáticas dos museus e da
museologia em Portugal.
E isto para não referirmos o gravíssimo
retrocesso institucional que estamos a assistir quanto à questão da autonomia
gestionária dos nossos museus, cada vez mais próximos de estruturas sem
qualquer margem de manobra ou capacidade própria para poder exercer a sua
função de entidades de cultura no seio das comunidades que servem.
A estes
retrocessos de duvidosa eficácia economicista, e de nenhuns resultados
funcionais, somam-se as intenções em transferir museus do Estado para as
direcções regionais de cultura ou autarquias, sem qualquer regra, critério ou
fundamento válido, minimamente reconhecidos como estruturantes para a vida dos
museus.
Mais grave
ainda é o fato destas possíveis transferências estarem a ser tratadas sem ser
auscultada a opinião geral dos profissionais do sector, isolando cirurgicamente
o director de cada museu considerado e criando enormes constrangimentos ao bom
desempenho das funções museológicas de cada entidade hipoteticamente abrangida
por tal medida.
Tudo isto sem
que se expliquem e percebam quaisquer benefícios para os acervos respetivos;
vantagens para o público visitante; melhorias para os profissionais envolvidos;
ou mais valias consistentes para as comunidades onde tais museus estão
inseridos.
E, o que é
ainda mais lamentável, este “programa estrutural e sub-reptício” está a ser
implementado em sentido precisamente contrário ao discurso e programas
políticos que todos os partidos possuem para o sector dos museus, sublinhando o
irónico da questão nos designados partidos do aro do poder, que têm vindo a
proclamar sistematicamente uma coisa e a deixar que algumas das suas
irresponsáveis chefias façam outra, completamente contrária ao que proclamam.
E que não se
pense que estas condicionantes operacionais apenas afetam os museus do Estado,
já que sendo este o responsável por uma lei que estrutura e suporta a Rede
Portuguesa de Museus, é precisamente o mesmo (Estado) que se mostra incapaz de
assegurar a manutenção de um corpo técnico extremamente competente, com provas
dadas e excelentes resultados obtidos até este momento. Esta pequena e
esforçada equipa, que vem coordenando as múltiplas atividades da Rede, vai ser
destruída num abrir e fechar de olhos, correndo-se agora o risco de desbaratar
uma experiência adquirida ao longo de anos de intenso trabalho, a favor de uma
sólida e consistente estruturação sistémica dos museus portuguesas de
diversas tutelas e tipologias.
Estou
convencido que ainda se poderá inverter esta situação, para bem desta rede
museológica e do nosso património cultural, em boa verdade o mais inovador e
abrangente dos projetos museológicos da recente história da museologia em
Portugal.
Sou dos que
acredita que o Secretário de Estado da Cultura, tendo herdado um jogo tristemente
“viciado”, será ainda capaz de pôr travão a este rumo suicidário para onde
alguns estão a empurrar os museus portugueses, permitindo e promovendo a
discussão e análise fundamentada destas questões, em sede do Conselho Nacional
de Cultura e em reuniões profissionais e sectoriais com os principais
responsáveis da área (diretores de museus do Estado e da Rede Portuguesa de
Museus, APOM, ICOM e ARP).
Saibamos nós,
nos tempos que correm, aplicar os nossos conhecimentos e a nossa capacidade
empreendedora na qualificação e melhoria real do panorama museológico nacional,
em vez de despender esforços e os parcos recursos disponíveis a fazer asneiras,
piorando o que está mal e a estragar, pura e simplesmente, o que está bem.
Agostinho
Ribeiro
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