domingo, 5 de fevereiro de 2012

Museus em Portugal, que futuro? (2)



Dando continuidade ao tema tratado no artigo anterior, a propósito do rumo que está a ser traçado para os museus do Estado, e na sequência do meu entendimento sobre as enormes dificuldades práticas com que os mesmos se debatem, tentarei agora referir alguns dos aspetos mais importantes que ilustram e sustentam estas minhas considerações.
 Os primeiros e grandes problemas com que os museus de debatem atualmente prendem-se com a desorçamentação sistemática que têm sofrido nos últimos anos, e com as políticas nada transparentes que estão a ser desenvolvidas por quem pouco ou nada entende de museus, mas a quem é dado um poder e um protagonismo inexplicáveis, pelo menos à luz do que seria normal e razoável conceber.
Na falta de lógicas claras e transparentes para explicar estes verdadeiros mistérios da natureza humana, foge-nos sempre o pensamento para razões distantes das realidades do próprio setor museológico, entrevendo outras lógicas e outras motivações bem arredadas do mundo e das problemáticas dos museus e da museologia em Portugal.
 E isto para não referirmos o gravíssimo retrocesso institucional que estamos a assistir quanto à questão da autonomia gestionária dos nossos museus, cada vez mais próximos de estruturas sem qualquer margem de manobra ou capacidade própria para poder exercer a sua função de entidades de cultura no seio das comunidades que servem.
A estes retrocessos de duvidosa eficácia economicista, e de nenhuns resultados funcionais, somam-se as intenções em transferir museus do Estado para as direcções regionais de cultura ou autarquias, sem qualquer regra, critério ou fundamento válido, minimamente reconhecidos como estruturantes para a vida dos museus.
Mais grave ainda é o fato destas possíveis transferências estarem a ser tratadas sem ser auscultada a opinião geral dos profissionais do sector, isolando cirurgicamente o director de cada museu considerado e criando enormes constrangimentos ao bom desempenho das funções museológicas de cada entidade hipoteticamente abrangida por tal medida.
Tudo isto sem que se expliquem e percebam quaisquer benefícios para os acervos respetivos; vantagens para o público visitante; melhorias para os profissionais envolvidos; ou mais valias consistentes para as comunidades onde tais museus estão inseridos.
E, o que é ainda mais lamentável, este “programa estrutural e sub-reptício” está a ser implementado em sentido precisamente contrário ao discurso e programas políticos que todos os partidos possuem para o sector dos museus, sublinhando o irónico da questão nos designados partidos do aro do poder, que têm vindo a proclamar sistematicamente uma coisa e a deixar que algumas das suas irresponsáveis chefias façam outra, completamente contrária ao que proclamam.
E que não se pense que estas condicionantes operacionais apenas afetam os museus do Estado, já que sendo este o responsável por uma lei que estrutura e suporta a Rede Portuguesa de Museus, é precisamente o mesmo (Estado) que se mostra incapaz de assegurar a manutenção de um corpo técnico extremamente competente, com provas dadas e excelentes resultados obtidos até este momento. Esta pequena e esforçada equipa, que vem coordenando as múltiplas atividades da Rede, vai ser destruída num abrir e fechar de olhos, correndo-se agora o risco de desbaratar uma experiência adquirida ao longo de anos de intenso trabalho, a favor de uma sólida e consistente estruturação sistémica dos museus portuguesas de diversas  tutelas e tipologias.
Estou convencido que ainda se poderá inverter esta situação, para bem desta rede museológica e do nosso património cultural, em boa verdade o mais inovador e abrangente dos projetos museológicos da recente história da museologia em Portugal.
Sou dos que acredita que o Secretário de Estado da Cultura, tendo herdado um jogo tristemente “viciado”, será ainda capaz de pôr travão a este rumo suicidário para onde alguns estão a empurrar os museus portugueses, permitindo e promovendo a discussão e análise fundamentada destas questões, em sede do Conselho Nacional de Cultura e em reuniões profissionais e sectoriais com os principais responsáveis da área (diretores de museus do Estado e da Rede Portuguesa de Museus, APOM, ICOM e ARP).
Saibamos nós, nos tempos que correm, aplicar os nossos conhecimentos e a nossa capacidade empreendedora na qualificação e melhoria real do panorama museológico nacional, em vez de despender esforços e os parcos recursos disponíveis a fazer asneiras, piorando o que está mal e a estragar, pura e simplesmente, o que está bem.

Agostinho Ribeiro

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