Esperei propositadamente alguns
meses, não me pronunciando publicamente sobre a mudança de logotipo do Museu de Lamego, apenas
para confirmar aquilo que eu já antevia há muito tempo - a indiferença dos
lamecenses sobre assuntos e matérias públicas que lhes dizem respeito é verdadeiramente
deprimente!
Não me refiro, obviamente, a todos os lamecenses. Não digo
que os graus de responsabilidade pela indiferença sejam iguais para todos,
porque não são, mas é extremamente penoso olhar para uma terra como a nossa e
constatar, cada vez mais, a submissão e o silêncio confrangedor perante a
podridão dos procedimentos seguidos em setores de serviço público; perante a
imoralidade dos atos vingativos do poder local vigente; e o “compadrio”
vergonhoso que começa a fazer escola em Lamego. Silêncio esse que mais não faz
do que validar estas vergonhas coletivas…
E que resulta, como não podia
deixar de ser, na mediocridade dos atos de quem pretende afirmar uma posição
que a ética e a moral públicas jamais aceitarão que se afirme!
Vem este introito a propósito de
uma “mudança” feita no logotipo do Museu de Lamego, protagonizada por um senhor
que está à frente dos destinos desta instituição de cultura lamecense em regime
precário de substituição, até à abertura do concurso público, mas que nem por
isso deixa de agir como se fosse diretor no pleno exercício de tais funções,
que não é!
Parece coisa pequena e desprovida de importância, mas na verdade é pelos exemplos das pequenas coisas que podemos avaliar os grandes gestos e as maiores ou menores qualidades dos seus autores...
Parece coisa pequena e desprovida de importância, mas na verdade é pelos exemplos das pequenas coisas que podemos avaliar os grandes gestos e as maiores ou menores qualidades dos seus autores...
O anterior logotipo do Museu de Lamego representava
a sua fachada estilizada, antigo Paço Episcopal de Lamego, transmitindo
assim, de imediato, úteis informações sobre a instituição que simbolizava.
Pela
observação do antigo logotipo as pessoas ficavam logo a saber:
1º - Que o Museu em causa estava
instalado num palácio de traça barroca, pela visualização imediata de um edifício de generosas dimensões e razoável imponência arquitetónica, dando logo a imagem de estarmos perante um museu
dotado de boas condições espaciais, o que lhe afirmava desde logo um estatuto de forte dignidade
institucional;
2º - Que por esse facto, e tendo em conta as associações mentais que logo se estabelecem, se
percebia facilmente que estávamos perante um Museu de Arte Antiga, por causa da natural e
normal associação que todos fazemos de edifícios clássicos antigos, na sua relação com
conteúdos museológicos condicentes com tais realidades;
3º - Que por via destas duas constatações,
que o antigo logotipo de imediato fazia perceber a todos os que o viam, a
cidade de Lamego ficava associada à existência de uma entidade museológica de
grande dimensão e qualidade, a sugerir desde logo, a propriedade de um
património artístico de excelência, como de fato é o acervo do nosso Museu.
Com o novo logotipo, dois
quadrados sobrepostos e desnivelados, que nada dizem ou significam para o conteúdo do
museu que simboliza, não sei que associações mentais e simbólicas se pretendem
alcançar com estes traços supostamente modernos… Não se vislumbra, de imediato, qualquer relação visual e simbólica com o tipo de museu que pretende representar, nem se percebe qualquer lógica relacional com o importante acervo que o mesmo alberga. Tentemos...:
- Numa muito remota e forçada associação a dois cubos de pedra (???), será que se pretende a
valorização da coleção de arqueologia, em auto honorífico elogio, dedicado ao neófito diretor em regime de
substituição, pelo fato de ele ser arqueólogo, dando assim a ideia
completamente errada que o Museu de Lamego é um museu de arqueologia, em vez de um importante museu de arte?
- Numa ainda mais remota associação visual, será algum elogio indireto à
National Geographic Society, pela nítida similitude com o retângulo vazado que
é o símbolo mundialmente conhecido desta prestigiada instituição, dando assim a
ideia errada de que o Museu de Lamego é um museu de história natural, em vez de um importante museu de arte?
- Ou será que não passa, simplesmente, de
uma indigente arbitrariedade sem sentido, produzida por alguém que não tem
competência para o fazer, dada a sua situação diretiva precária, nem possui sequer um mínimo de discernimento para saber que tipo e alcance de atuação lhe está concedida, por via de tais limitações?
É que a alteração de um símbolo
público, de uma instituição pública, que vai perdurar para além da brevidade
das situações precárias de cada um, não pode nem deve ser executada por alguém
que se encontre em regime de substituição. Ainda por cima, produzindo uma
alteração à imagem pública da instituição que serve, sem qualquer discussão pública
adequada, como mandariam as regras da boa conduta de um qualquer dirigente da
administração pública.
Parece, portanto, que a ideia é a
da ânsia de produzir mudança, seja ela qual for, custe o que custar, dê por
onde der, por mais inconsistente e sem sentido prático e simbólico que tal mudança
possa representar.
É pouco, e é burrice. Mas é no que querem que Lamego se transforme...
Pois que tenham bom proveito, que a mim já se me começa a faltar a paciência para estar permanentemente a tentar contrariar tamanha falta de respeito pelos lamecenses, uma vez que uma grande parte destes até parece que apreciam e apoiam a indigência das coisas sem lógica, sem sentido e sem fundamento. Mas com gastos perdulários, como convém, para ajudar este País a enterrar-se ainda mais!
Pois que tenham bom proveito, que a mim já se me começa a faltar a paciência para estar permanentemente a tentar contrariar tamanha falta de respeito pelos lamecenses, uma vez que uma grande parte destes até parece que apreciam e apoiam a indigência das coisas sem lógica, sem sentido e sem fundamento. Mas com gastos perdulários, como convém, para ajudar este País a enterrar-se ainda mais!
Agostinho Ribeiro