quinta-feira, 27 de março de 2014

“Museus: as coleções criam conexões” *



I

Que conexões conseguimos criar?

Encontramo-nos na fase final do processo de contatos com as diversas entidades públicas e privadas da cidade e região de Viseu.
Grosso modo, estes contatos serviram para uma apresentação informal de cumprimentos, como mandam as regras da boa educação institucional, e do protocolo que prezamos respeitar, para além de procedermos à análise mais circunstanciada da situação existente nas relações bilaterais que vamos mantendo com cada uma destas entidades.
O resultado não podia ser mais positivo, uma vez que se traduziu em mais de três dezenas de contatos estabelecidos, tomando consciência de que muitas destas importantes parcerias assentaram em planos informais e avulsos de colaboração, e que agora entendemos necessário que se valorizem e revitalizem, através da assinatura de protocolos específicos, com o intuito de regulamentar e normalizar tais relações.
Aliás, no ano em que o ICOM, Conselho Internacional dos Museus, estabelece como tema central das comemorações do Dia Internacional dos Museus e, por extensão, como temática fulcral do ano que corre, a lúcida constatação de que “as coleções criam conexões”, nada melhor que dar amplitude concetual a esta legenda, e projetar tais relações, ou conexões, no grande desiderato funcional que vai muito para além do sentido, mais contido, que damos às relações promovidas pelo acervo museológico, “tout court”, de que somos fiéis depositários.
E é aqui que voltamos sempre à pergunta primeira, na certeza de nunca a sabermos responder integralmente – para que serve um museu? Neste caso concreto, para que serve o nosso Museu, se para além de (salva)guardar um património artístico de eleição, não procura permanentemente dar visibilidade a tais coleções e, por via dessa procura, não contribui para o enriquecimento individual e coletivo da sociedade que serve…?


II

Que sentido tem sermos mais do que somos?

A questão é sempre pertinente. Se o sentido utilitário das coleções, no plano da mera fruição hedonística, transporta consigo uma parte essencial da razão de ser do museu, ou melhor, das coleções que fazem o museu, então será sempre importante não nos esquecermos que as coleções a todos servem, porque a todos toca, de forma mais intelectualizada ou mais sensorial, consoante o que sabemos e o que somos, nos planos da mundividência em que cada um de nós se situa… A todos, não por igual, porque todos somos indivíduos diferenciados, na igualdade de sermos humanos, mas de forma desigual, porque devemos perceber que esse tal direito a ser diferente é, ou deve ser, intrínseco à nossa construção do bem social comum!
“Museus – as coleções criam conexões”… Num convite para o olhar atento ao cartaz destas comemorações, verificamos quanta riqueza de conceitos, de valores, de comportamentos, de descobertas, de atitudes, de resultados, nós podemos encontrar ao olhar para uma peça, para uma coleção, ou até mesmo para alguém que, ao nosso lado, as olha também com o seu olhar especial de ser, precisamente, igual a nós no direito de olhar, e diferente do nosso, no direito de as interpretar e fruir segundo os padrões que lhe serão próprios!
Portanto, a 18 de maio, mas também e tanto no antes, como no depois, o nosso Museu Grão Vasco continuará a criar conexões, por reforço às existentes, e continuará a construir novas parcerias e relações, através das quais pretendemos atingir maiores e mais diversificados públicos, precisamente porque cada instituição ou entidade representam e significam diferentes beneficiários na fruição do nosso magnífico património artístico.
Que permanentemente convidamos a (re)visitar…!
Obrigado.

Agostinho Ribeiro

* Texto retirado da página facebook do Museu Grão Vasco, intitulado A Palavra ao Diretor | 02.